16.5.21

Atitudes, minorias e inteligência

(Vamos começar por assumir que há só dois lados nesta crise. Não há. São mais. Mas vamos simplificar para depois podermos exagerar, como aconselhava o fundador do Economist - para quem não sabe, durante muitos anos o melhor jornal do mundo. Agora está ilegível.)

Uma das coisas curiosas desta crise é haver em cada um dos lados pessoas inteligentes a queixarem-se de que não compreendem como pode haver pessoas igualmente inteligentes no outro campo. Eu tenho a sorte de não ser muito inteligente (e o azar de não ser esperto, mas isso é outra coisa) mas ter amigos e familiares próximos que o são. Ou seja: conheço bem os mecanismos do QI elevados e ninguém se admira por eu estar do lado da barreira em que estou: os de um lado acham normal que um burro não acredite no "método científico" (aspas porque cito uma das inteligências que inspira este post e pensa que quem duvida da narrativa está ao nível dos indígenas de Bali antes da chegada da Margaret Mead); do "meu" lado ninguém se preocupa com isso, porque se supõe - com uma certa razão - que quem é céptico tem pelo menos a capacidade intelectual que duvidar exige.

Duvidar, não acreditar no que parece evidente, ver para lá das aparências, perguntar-se se jornalistas, governantes dizem a verdade, toda a verdade e só a verdade não exige, verdade seja dita, mais capacidades cognitivas do que o contrário. Exige uma atitude diferente, é tudo.

E essa não tem nada a ver com a inteligência. Aposto que Galileu, Einstein, Max Planck, Newton, Mendel  tinham opositores com um QI igual ao deles. Simplesmente não acreditaram no que viam, no que lhes diziam ou no que queriam que eles acreditassem.

(O facto de o progresso da ciência vir das minorias não implica, naturalmente, que estas tenham sempre razão. Mas isso fica para depois.)

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