8.7.23

Diário de Bordos - Blanes, Catalunha, Espanha, 08-07-2023

Querido diário: tu sabes. Quanto mais cheios os dias mais vazio tu ficas. É uam injustiça. Devia ser ao contrário. Mas não é.

Bom, enfim, posso tentar resumir: ontem obtive o NIE. O processo foi simples e rápido, se dele excluirmos os quarenta minutos de comboio para Rubí e outros tantos de regresso a Barcelona. Depois foi a viagem para Roses, que desta vez me pareceu menos chata - apanhei um comboio mais lento e em contrapartida safei-me de uma das camionetas. Conversa simpática com a dona da Roses Nautic, onde chegámos à conclusão de que o grande culpado disto tudo foi o azar. Fui dormir a um desses «hotéis» abomináveis em que tudo se passa por intermédio do telefone. Vi uma pessoa porque a porta do meu quarto não abria e o homem chegou esbaforido. Afinal era só preciso empurrar com força. Fui jantar a uma tasca na qual lamentei não ser ainda mais surdo. Completamente surdo. Os espanhóis até para falarem consigo próprios gritam, aposto.

Acordei descansado, dormido de A a Z. Tenho o maldito NIE na carteira, dinheiro na conta, a viagem da Suécia a precisar-se, a neta quase a nascer, o BP à minha espera - na verdade acabei por ser eu a esperar por ele, mas isso é irrelevante - e cada vez menos dores no ombro direito. Esperar que um estaleiro ou uma empresa de charter entreguem um barco no prazo é como querer que a Virgem Maria participe numa orgia. A resposta é não, ponto. Vá lá que a espera não foi longa: saí uma hora e meia mais tarde do que o previsto, o que é razoável. Vinha mentalmente preparado para ter de passar mais uma noite naquele poço de mau-gosto, vulgaridade, banalidade e quinquilharia.

A viagem de Roses para Blanes correu magnificamente. O bote é uma maravilha. Três horas e um cagagésimo para fazer pouco mais de quarenta milhas. O casco passa na vaga como o meu olhar pelos seios desnudos de uma jovem na praia. Quase quatorze nós de média, vinte e seis litros de combustível. Verdade que tive de reduzir bastante porque à tarde entrou a térmica e nem as minhas costas nem o BP gostamos de ter a impressão de estar a ser esmagados por uma horda de elefantes tailandeses. Cheguei exausto, claro, mas antes de me deitar fui tratar de mim, depois fui ao chandler (felizmente estava fechado quando cheguei. Se estivesse aberto não teria desculpa. Assim tive a oportunidade de comer num mexicano um dos almoços mais indescritivelmente maus da minha vida. É que não era só um mau mexicano. Era mau tout court.)

Deitei-me, não dormi praticamente nada porque quero guardar-me para a noite, dei um passeio por Blanes porque fui comprar um creme «pós-sol». Gosto muito mais de Blanes do que de Roses, que não passa de um buraco para turistas igual a todos os buracos desses que há no mundo e agora preparo-me para ir jantar e dormir.

Espero que aprecies o esforço que fiz para te contar estas coisas todas. As tensões e distensões destes dois dias mereciam mais, mas fica para depois. 

PS - Espera, esqueci-me de te dizer: amanhã tenho um dia de folga. Uma reunião com o Marc e avião para Palma. Não é maravilhoso? É.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.