5.7.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 05-07-2023

Queixarmo-nos constantemente cansa; tal como dizer «estou cansado». Felizmente não cansa apenas quem o diz: quem o ouve também se farta. É pena partilhada, por assim dizer. Passo portanto para as boas notícias: o traveller não vai voar à primeira cambadela. Nem à segunda. Vai ser preciso trocá-lo antes de irmos para as Caraíbas, mas até lá vai aguentar-se como um grande. E o próximo leva a mesma contraplaca, que já está feita e bem feita. Outra boa notícia: creio que não haverá mais obstáculos entre mim e o BP (M/V BABY PANDA, de seu nome completo). Agora é questão de o pôr a trabalhar sem levar muitos tiros.

A expressão é um plágio, confesso-o aqui apesar de saber que o seu autor nunca sonhará sequer que tenho um blogue. E se soubesse teria de aprender português. Telefonei ao Mauro recentemente para saber como estava o barco dele a funcionar em Tarragona. «Levei um tiro», respondeu. «Quem to deu?» «A bandeira polaca». «Meu irmão de armas...» suspirei mas não lhe disse. Ele optou por continuar, eu por regressar à espanhola. Vamos ver. Até agora, parece-me que a espingarda que lhe deu o tiro tinha menos chumbo do que a que mo deu a mim, mas isso é sempre assim: o jardim do vizinho tem a relva mais verde e as galinhas maiores, toda a gente sabe. Para nós ficam reservados os calibres maiores, as galinhas mais magras e a relva mais amarela.

De maneira sexta de madrugada lá estou a caminho do aeroporto, sexta à noite durmo em Roses e sábado de manhã venho por aí fora até Blanes, sozinho como vim ao mundo. O azul salgado e eu e o barulho de um motor atrás. A ideia é vir devagar para não gastar muito combustível. E para fazer durar...

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Ontem à tarde comprei um maço de cigarros. Já foi quase todo. Ao mesmo tempo, continuo esta entrada - começada no Lo Divino - no P. Soma de mais um menos um é igual a zero, diz a álgebra. Não sou assim tão pessimista. Escrever no P. vale mais do que um: hierbas secas no fim de um braço direito quase sem dores (e sem analgésicos), os salmos de Orlande de Lassus, a ideia de que não tarda o P. estará habitável... As parcelas da soma não estão correctas. Claro que se fizesse uma fotografia de como isto está quem a visse pensaria que não percebo nada de álgebra. Não entro nessa discussão. A minha álgebra é melhor do que a tua pela razão simples e inexpugável de que é minha.

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Mudo para as Vésperas do Rachmaninov. Quero ouvir uma coisa que conheço. Estou farto de descobertas. Amanhã de manhã tenho o Enver. Vai acabar o traveller e começar a pintura do convés. Para a semana tenho o J. W. e o Dimitri. A porta fecha-se. Tenho é não sei quantos dedos entalados, mas isso é outra história. Há cinco anos que não vivia aqui, onde espero viver os próximos cinco. Ou dez. Ou vinte. O único senão são os livros, coitados, Sem mim não dormem.

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