2.8.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 02-08-2023

Não sei bem por onde começar, portanto mais vale começar pelo princípio. Foi há umas semanas. Durante a conversa para o relatório, o J. W. perguntou-e se havia alguns pontos moles no convés. Disse-lhe que não. O «meu» P. sendo o P., no dia seguinte descobri uma pequena deslaminação no convés. Decidi não tratar do assunto: para começar não havia ningém disponível (sabia-o devido às pesquisas para o traveller), em segundo lugar porque era pequena e em terceiro já tinha suficientes bolas no ar; de nada serviria juntar mais uma. Agora com o lazybag e o rigger em andamento e Agosto à porta voltei ao tema. Por muito que se pense que uma deslaminação de quinze centímetros de diâmetro não é muito, que o espantoso é não haver mais num barco com quarenta anos e que não é coisa realmente difícil de se tratar a verdade é que é uma surpresa completamente dispensável. Para dizer o menos, porque o que me vai na vontade de dizer é muito pior. «Não se pode deixar para depois?», perguntar-me-ão. Não, não pode. Hoje tem quinze centímetros, amanhã terá vinte e depois de amanhã custará dez vezes mais. Se alguém imaginar a vontade que tenho de ver este bote a navegar, refit terminado, relatório para o seguro feito, inspecção para o registo e tutti quanti ganha um prémio nobel da capacidade imaginativa.

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Amanhã vou de novo a Lisboa buscar o reboque para trazer o BP. Vou cair em cheio nas jornadas dos francisquinhos, mas como vou andar por vias periféricas creio que conseguirei evitar o pior. Isto se do pior excluirmos os preços dos bilhetes e - aposto - dos táxis. «If it weren't for bad luck / I would have no luck at all», lembras-te?

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Trabalho na página web do bote. Prefiro dez deslaminações a uma sessão de trabalho para escolher fotografias e textos e ordem dos menus e o raio que o parta. E prefiro um dia de navegação a cinquenta de cada um dos outros. Infelizmente, sem eles não posso ter dias de mar.

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Não resisti e fui à Copa (del Rey, para quem está fora destas coisas). O clube está a abarrotar, os barcos todos alinhados e todos lindos, o ambiente impecável. Até agora a Copa para mim tem sido a Cantina cheia de gente à noite - quando digo cheia de gente, quero dizer isso mesmo. Ontem não cabia uma mosca até quarenta metros para fora da porta. Hoje fui ao cerne do acontecimento. Como tudo isto me parece distante e como tudo isto me parece tão parte de mim. Vivi alguns dos momentos mais exaltantes da minha vida quando organizava regatas. A adrenalina é um excelente fixador de memórias não é?

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Não se trata propriamente de detestar comentar a actualidade. Trata-se de detestar a actualidade, o que é muito diferente.

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Cada vez que como um figo - ou uma breba, por maioria de razão - a minha relação com a botânica, já de si péssima, piora. Imaginar que aquilo não é uma fruta e sim um conjunto de frutas desafia a minha credibilidade. 

PS - prefiro as brebas (ou brevas?) porque são menos doces do que os figos. Mais uma coisa que devo a Palma: aprender o que são brevas.

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