10.6.24

Pele, corpo, tempo

O meu corpo é uma associação de membros e órgãos que não se entendem lá muito bem. Tento coordená-los e eles insistem em ir cada um para seu lado. É só graças aos tendões e às articulações que se mantêm juntos.

E à pele, claro, essa pele que tu habitas e teces pacientemente, todos os dias, todo o dia. À noite aplicas-te: fazes-me dela o relvado que os teus dedos escavam, percorrem, exploram, cada um deles em forma de ponto de interrogação. Essa pele que te ofereço, expectante, mantém-me inteiro, uno. É tua. 

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Abrigo-me debaixo desta manta de retalhos: retalhos debaixo de outros, outros que és tu, mesma pele, mesmos dedos, mesmo frio, mesma hesitação. As vastas planícies da pele oferecem-se-te, horizontes embrenhados um no outro. Vastas planícies: até onde a vista alcança. Até onde o tempo chega. 

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O tempo é um comboio que vai inventando paragens à medida que avança. 

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