9.12.20

Diário de Bordos - Lisboa, 09-12-2020

Chama-se French Arth (os franceses e o inglês...), é um cantinho de Paris em Lisboa, fica na rua de S. Bento e é um sítio porreiro para se vir beber um demi Ricard ao fim do dia, uma prática que os nossos amigos gauleses designam por apéro. A rua, aliás - ou pelo menos este bocado dela - está cheio de galicismos: a padaria da esquina - Ceres - é francófona e macacos me mordam se não tem o melhor pão que comprei até hoje nesta cidade. Os franceses têm meia dúzia de defeitos e metade disso em qualidades; mas cada uma destas vale por três daqueles, de maneira o saldo é largamente positivo. Já o bar à frente da padaria é um attrape-couillons e ignoro se é francês. Compensa o talho da outra esquina, português até à medula e fantástico de bom. Isto está tudo ligado.

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Amizade facebookiana com ---. Já tentara há algum tempo, mas tocou ocupado. Desta vez a iniciativa funcionou, se bem o impulso inicial não fosse esse. É das pessoas que mais me entusiasma na PLP (Paisagem literária portugesa). Não sabe tudo, não estudou filosofia, antropologia ou outras coisas terminadas em ia, gosta de rir, é alegre e leve - pelo menos no pouco que vi. Se não me engano, conhecemo-nos de dois jantares. Souberam-me a pouco, mas agora fica a balança equilibrada: vou poder ler os seus posts quotidianamente, o que é bom como ouvir um motor fora-de-borda arrancar à primeira ou descer a rua do Alecrim num dia de sol (de bicicleta, claro. A pé é um bocadinho longo).

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Tenho dois casacos de pele (pequenos, femininos) e uma série de artigos para mesa para vender. Não faço a mais pequena ideia de como fazer, mas em tempo de maré baixa não se olha a pequenas ideias. Aprende-se, é tudo. E depressa, se faz favor. De modo já sabem: se quiserem um (ou dois) casacos de peles e artigos [adenda: de boa qualidade] para uma mesa chic, basta dizerem. Abro às nove da manhã.  

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O P. - ou melhor, o que o vai reanimar - deu hoje sinais de vida. Gosto muito de Lisboa, mas quero ir depressa para Palma (se bem tenha de reconhecer que não é  única razão).

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A minha pobre, pequena e frágil camioneta está demasiado carregada. Tenho de alijar carga, mas de momento tenho tudo demasiado bem peado. Não sei o que fazer e quando é assim o melhor é não fazer nada. Ficar quieto num igloo (à frente da lareira, não?) e esperar que algo mexa, que uma das peias folgue, que um rumo me apareça como nossa Senhora aos pastorinhos; mas sem sopas de cavalo cansado, coisa que detesto. Para cavalo cansado basto eu, não preciso de sopas. (Verdade seja dita, tão pouco preciso de virgens ou de pastorinhos, mas isso é outra história.)

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Jantar com a T. A. Conhecemo-nos no Snob: já nos seguíamos no FB, um dia faço um post - eram duas da manhã, pelo menos - e ela interpela-me da mesa ao lado. É a segunda vez que isto me acontece. A primeira foi na Martinica, no Marin, com o R. Mas esse eu sabia que estava por aquelas bandas. Encontrar uma «amiga facebookiana» desconhecida no Snob às duas ou três da manhã é outra loiça. Mais uma prova de que o Facebook é melhor do que pior. Isto é, mais vale tê-lo do que não o ter. 

Apesar da porcaria desta censura. Ainda não me calhou, mas não sei o que farei se um dia me quiser calar. Esta sensação de dependência é abominável. Se sair, não o poderei substituir. Os conteúdos são fáceis de gerir: bloquear, desamigar e deixar de seguir, por ordem decrescente de remédio. Mas saber que de certa forma estou a ser cúmplice de uma empresa que censura quem não alinha no discurso oficial repugna-me. Nunca gostei de me calar, não é agora que vou começar a aceitá-lo facilmente. 

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