Auto-exilado de mim próprio percorro as ruas da cidade. Não é uma cidade só: são muitas. E não é só hoje: é todos os dias. Visto de fora, sou como as cidades que percorro: bairros bonitos, outros feios, nalgumas há uma greve dos homens do lixo, noutras os jardineiros esmeraram-se. Há ruas de todos os tamanhos e feitios, umas largas outras estreitas, alcatroadas ou meros carreiros de areia, umas sem fim à vista outras sem saída. Em todas os semáforos foram regulados por um tipo meio bêbedo. Desconheço se é o mesmo para todas ou se todas escolheram um que se parece com os demais. Talvez haja características específicas necessárias para regular semáforos e por isso as cidades escolhem gajos iguais ou parecidos. Por vezes uma casa abre-me a porta e eu entro. Fico um bocadinho, mais ou menos longo e logo saio. Comecei muito cedo a vaguear pelas ruas sozinho e agora a vista de uma lareira, uma mesa de jantar, uma estante com livros, uma mulher deitada numa cama assusta-me. Volto ao frio, ao vento? Sim. Mas também ao sol, ao doce afago de um nascer do dia sem ninguém ao meu lado senão a perspectiva do dia. Os meus dias são compostos por uma sucessão de minutos, a minha vida por uma sucessão de dias. Não se iludam, porém: sei muito bem para onde vou. Só não sei como lá chegar, mas isso é outra história. O acaso encarregar-se-á de me lá levar. Entretanto, vou desenhando os mapas das cidades por onde passo. Podem sempre ser úteis para alguém. Ou para mim, quando este exílio for substituído pelo seguinte.
31.12.22
30.12.22
Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 30-12-2022
A modernidade e eu
A minha geração bem pode limpar as mãos à parede com o mundo que deixa à seguinte. Podemos - e devemos - ralhar, gritar, insurgirmo-nos contra a cultura woke. Mas fomos nós quem a formatou. Falhadas as ideologias dos colectivismos do século vinte, acreditámos na liberdade como valor absoluto. Às novas gerações, a única rebelião possível é lutar contra essa liberdade. Demos ouvidos a Rimbaud: somos "absolutamente modernos". Não lhes resta senão ser anti-modernos, voltar à censura e ao cancelamento (como faziam os vitorianos com o sexo, por exemplo). Matámos os deuses: eles ressuscitaram com redobrado vigor, multiplicaram-se, compartimentaram-se em múltiplas capelinhas. Fizemos da Razão o pilar central das nossas mundovisões: não lhes resta outra porta que a do pensamento mágico.
Isto dito, continuo a subscrever todos os valores que me formataram. Por nada deste mundo trocaria a minha Liberdade (assim mesmo, em caixa alta). Lutei para a ter; agora luto para a manter.
O zeitgeist é um cilindro compressor. Vejo muita gente da minha idade ceder-lhe ("il faut être absolument moderne", lembram-se?) Resistir-lhe é quixotesco? Talvez. Mas não lhe resistir é trágico. Prefiro morrer de pé levado pelas asas de um moinho a morrer cilindrado por um rolo compressor pilotado por um "acordado" cego, surdo e intoxicado de "bondade", Quem resistiu às sereias dos colectivismos tem a obrigação de resistir à do colectivo.
29.12.22
Palácios, pessoas
Vida - breve definição
É como se estivesses a esvaziar o oceano com um balde. A maré baixa e pensas que conseguiste. Mas logo a seguir volta a subir e apercebes-te do logro. Não páras o balde mas agora já não tens ilusões.
Isto supondo que aprendeste à primeira.
28.12.22
Breve apologia do solipsismo
O mundo exterior aborrece-me. É monótono na melhor das hipóteses e maçador na maioria das vezes. Prefiro olhar para dentro. "Nada do que é humano me é estranho." Já fui quase tudo e o que falta serei. Basta esperar. Interagir com o real é como jogar ténis à parede. Já comigo há um jogador do outro lado da rede. O mundo exterior é como o recreio de uma escola: vazio é feio e cheio barulhento. Refugio-me em mim, onde tudo se alterna ou baralha ou mistura ou acontece simultaneamente. Tenho em mim toda a ordem e toda a desordem do mundo. Quando vejo vejo-me, quando sou olhado não sou visto. Tal como Sísifo subia pedras eu levanto paredes e logo a seguir destruo-as. Não escrevo, escrevo-me. Não vivo, vivo-me. Não morro.
27.12.22
Tempo, espera
25.12.22
Grande angular
Bastar-te-ia talvez saberes enquadrar a vida, escolheres a focal correcta para cada momento. Seria fácil olhares pelo visor e veres a quantidade certa de vida, toda a que nele cabe a cada instante. Infelizmente não sabes. Apanha-la toda de uma vez só, engasgas-te, cospes metade, engoles a outra metade meio por mastigar.
Agora, aguardas tranquilamente que este cansaço tenebroso se aligeire e volte a ser do bom, do que te larga quando te deitas. Esquece o zoom. Deixa tudo para a grande angular.
Maldito cansaço
24.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 24-12-2022
23.12.22
Recheio, ano
O mundo e eu
Todos nascemos com uma ideia fixa: fazer uma sociedade com o mundo chamada O Mundo e Eu, Sociedade Ilimitada. Nem sempre funciona, é forçoso reconhecer. Às vezes há falências (felizmente poucas), outras (a maioria) a sociedade tevela-se bastante limitada e nalgumas, raras, os sócios começam a lutar desde muito cedo e nunca mais acabam, até à morte de um deles (é sempre o mesmo).
McGiver e eu
22.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 21-12-2022
20.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 20-12-2022
19.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 19-12-2022
18.12.22
Embrulha
Diário de Bordos - Lisboa, 18-12-2022
Acordei tarde e com uma ligeiríssima Menière a chatear-me. Pequeno-almoço rápido, de pé na cozinha e viemos para o hipermercado fazer compras para um jantar que o A. dá logo à noite. Resultado: estou no café a beber imperiais, esperando que o Menière se vá embora e o A. me encontre, qualquer das duas coisas o mais depressa possível, senhor. Às vezes digo, meio na brincadeira, que sou um troglodita. Nestes supermercados vejo que não é meio na brincadeira: é totalmente a sério. Odeio estes espaços cheios de objectos que não identifico, pessoas que não conheço, vendedores sempre ocupados, barulhos cacofónicos, mulheres gordas e feias, com filhos birrentos pelas mãos, meios de pressão que não controlo.
Quando vou a uma mercearia e o homem põe mais do que aquilo que eu peço, digo-lhe educadamente para tirar o que está a mais e pronto, fica o assunto resolvido. Aqui não: tudo está feito para que um tipo compre o dobro do que precisa, desde a iluminação à cor das saias das empregadas.
Dêem-me mercearias de bairro, mercados municipais, a loja de ferragens do Luís, a livraria da Caroline ou da Ana. Em troca, prometo deixar de dizer meio na brincadeira e assumir, completamente a sério: sou um troglodita.
(A meu lado senta-se uma senhora que não é gorda nem feia e não tem crianças. Muito gosta a realidade de me desmascarar.)
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Uma relação é feita para que cada um dos dois (polis, só para o duche) possa ser o que é. É um encontro de liberdades. Se não se puder ser o que se é, se se tiver de restringir a cada instante, deixa de ser uma relação. Não preciso sequer de invocar a minha idade: nenhuma é boa para se viver o que não se quer viver.
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Agradabilíssima cerveja à beira Tejo. No regresso passámos pelo meu SCARLETT, todo arranjado e bonito. Uma das viagens mais bonitas que fiz: trazê-lo de St. Malo para Lisboa, sozinho. Na Roca hesitei em seguir para as Canárias. Não o fiz e não perco muito tempo (não perco tempo nenhum) a perguntar-me como teria sido a minha vida se não tivesse entrado em Lisboa. Limito-me a vivê-la, às vezes a revivê-la e ficamos por aqui, querida vida. Prefiro uma vida vivida a mil imaginadas.
Oiça um bom conselho
17.12.22
Até amanhã
Qualquer coisa se me escapa das células todas do corpo. Não sei o que é mas sei porquê: para dar lugar ao sono. Talvez seja o dia, os restos do dia, o pó. Não sei. Mas à medida que vai saindo o meu corpo esvazia-se e dá lugar à noite, à benevolenta e apaziguante sonolência com que me despeço de mim.
Até amanhã, eu.
Eles
Estou no rés-do-chão da Ler Devagar a beber devagar, sonhar devagar, divagar devagar, devanear devagar, passar o tempo devagar. Há treze anos tive um escritório aqui, não no rés-do-chão mas no último piso da máquina. Foi o escritório mais bonito que jamais tive e o melhor também, de certos pontos de vista. Escuso-me a enumerá-los; espero que não se importem. Estou também a memoriar devagar; nada de pressas nem de precisões inúteis. O escritório mais bonito, o projecto mais bonito, um ano bonito. Talvez um dos melhores, sim. Não sei. Foi há tanto tempo.
Deixo o tempo fluir devagar. Vou buscar um livro, penso que no fundo tenho sorte: a minha solidão é superficial. No fundo (o outro fundo, aquele que conta) não estou sozinho. Nunca tinha pensado nisto: solidão superficial, vogar sozinho por cima da vida verdadeira, parte de um cardume que se manifesta em pirâmide, em cima despovoada, a base sólida. Vou provavelmente passar o Natal sozinho, mas isso pouco me afecta. Não é o primeiro, não será o último. O Natal é um dia como os outros a quem alguém um dia decidiu atribuir qualidades diferentes. Basta um tipo alhear-se dessas qualidades e "Natal sozinho" perde toda a carga emocional que tem à vista desarmada. Basta um tipo alhear-se da superfície para não se preocupar com o fundo. Eles estão lá. Que se vejam no dia a dia ou não, que se oiçam por vezes gritar ou não se oiçam de todo, eles estão lá. Eles.
(Este texto é dedicado a Eles.)
11.12.22
Cachecol cinzento
Pronto, o cachecol cinzento lá saiu do armário outra vez. Aquilo entrou na minha vida desde que a minha vida começou, ainda eu não sabia que estava no começo da vida e dela nunca mais saiu. Há coisas que vêm para ficar, como a Toyota, as constipações e o cachecol cinzento. Aquilo já é tão parte de mim que não chega sequer a ser uma coisa, é quase uma pessoa, uma parte de mim que de vez em quando vem à luz do dia, como se o Sol andasse desregulado e só aparecesse quando lhe dá na gana e não quando a gravidade e a grandiosa mecânica celeste lhe dizem que deve aparecer.
Quando não está cá fora porque é Inverno e eu estou constipado o cachecol fica no armário, na gaveta da roupa de mar / Inverno, apesar de eu não o usar no mar. (Não o quero estragar.) Ou seja, no Verão vejo-o menos. Só vejo o Sol, de quem ele é, de certa forma, irmão.
10.12.22
Refúgios - editado (Re-re-reedição)
Elogio do desenraizamento (Roupa velha)
É preciso reconhecer, contraramente a tudo o que tenho vindo a escrever desde que iniciei este blogue, que sou um desenraizado e o serei sempre. Escrevo isto em vésperas de ter uma coisa pela qual anseio há anos: um apartamento em Lisboa (este, em prémio, vem com uma flor dentro); mas escrevo isto, também, em Palma, numa praça anódina, igual a milhares de outras por essa cidade fora. Resolvi experimentar um café que não conhecia e o resultado não foi brilhante. O vinho é bom, acabo de passar duas horas a ouvir um concerto com alunos de escolas de música - alguns francamente bons - penso que não tarda estarei nesse porto seguro que é o Bar Rita, bar que tem nome de amor antigo e irmã de sempre - e percebo que por mais que faça nunca deixarei de ser daqui, de Genebra, de dezenas de lugares onde vivi. (Vivi tem aqui o sentido de «viver», independentemente do tempo que neles passei.) A pertença, sobre a qual tanto escrevo e na qual tanto penso, é um fenómeno «complexo não-linear» que nada tem a ver com o tempo. Ou tem pouco, talvez. Não «sou de onde estou», é verdade. Tenho raízes. Mas levo-as comigo para onde quer que vá. Agora estou em Palma como poderia estar em Lisboa, em Mértola, em Genebra ou no mar. Não sou de onde estou, mas sou de onde posso ser. De onde as minhas raízes se sentem bem, seja isso onde for.
(Palma, 12-06-2021)
Mitos, «ciência»
Que a humanidade precisa de mitos para se manter é coisa fácil de aceitar. Basta olharmos para trás e ver como eles se têm sucedido - quase sempre (mas não só) vestidos de ornamentadas roupagens religiosas. O que torna aborrecidos os mitos da era moderna é terem deixado essas roupas religiosas. Agora, vestem-se de «ciência» (aspas porque cito).
9.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 09-12-2022
Ontem comprei um bloco-notas e uma esferográfica nua loja chamada Flying Tiger ou coisa que o valha. Já a conheço de Palma, entrei ali para comprar qualquer coisa um par de vezes. A de Lisboa é igual, naturalmente. Vendem de tudo e mais alguma coisa, desde que seja bricabraque e possa ser vendido a preços de bricabraque. Parecem versões bonitas, arejadas e limpas de lojas chinesas. De modo escrevo no meu novo bloco com a minha nova esferográfica, que não o é. É uma lapiseira. Não faz mal. A um euro perdoo-lhe a metamorfose, que de resto é apenas devida à minha falta de atenção. Bem me pareceu, mas como ligo pouco ao que me parece, sempre liguei, enganei-me. Acontece-me sempre que me esqueço de pensar no que me parece. É assim há muitos anos e será assim pelos que me restam. De pouco serve afligir-me.
Diga o que disser, preciso de três meses em qualquer sítio para conhecer as minhas redondezas. Hoje foi a vez de um talho chamado Edgar e Luís. Fui lá a conselho da supra-mencionada senhora da Mercearia Criativa. À primeira vista parece-me estar num talho suíço ou alemão. Não tenho a certeza de que a qualidade da carne supere em muito a do meu bem-amado talho O Naco, na rua dos Poiais de S. Bento, mas estou aberto a provas. A verdade é que está muito mais perto e só isso a um bom ponto a favor. Isto acontece-me em todo o lado: exploro as redondezas muito devagar, passo a passo, como um cego de bengala num passeio cheio de trotinetes. Tem vantagens e desvantagens, mas tem sobretudo uma característica já ali mencionada: não vai mudar. Não se pode dizer que já me tenha aceitado, mas uma coisa é certa: aprendi a viver comigo.
Só por isso, os sessenta e cinco anos que levo ao lombo valem o seu peso em ouro, incenso e mirra.
8.12.22
Diário de Bordos - Lisboa, 08-12-2022 - II
Apanhei duas vezes o eléctrico. Por acaso (no sentido em que nem olhei para o número dos ditos) era o 28, que in illo tempore eu aconselhava aos meus amigos como tendo o trajecto mais bonito de Lisboa. Hoje não me preocupo muito com o percurso: basta-me ir para onde não estou, mais depressa do que indo a pé. Como os sítios onde não estou são muitos mais do que aquele onde estou, que é só um, um eléctrico que pára numa paragem ao meu lado parece-me uma boa opção. Uma opção inevitável, por assim dizer. De maneira lá vou eu para Campo de Ourique, levado por esse grande rio chamado Lisboa, parte sólida dessoutro chamado Tejo.
Antigamente conhecia os condutores dos eléctricos por wattmen. Parece que a designação correcta é guarda-freios. Gosto mais da designação inglesa: o homem dos watts, da potência. O guarda-freios controla os travões. Preciosistas: sei muito bem que controlar travões é a mesma coisa do que controlar os watts. Em termos práticos. Simbolicamente é o oposto e continuarei a preferir a designação da minha por assim dizer urgência.
Inevitavelmente penso nas vírgulas: os portugueses gostam delas e de freios. Eu não gosto. Prefiro watts e potência ininterrupta, seja por virgulas seja por passageiros curiosos que se mantêm mesmo atrás do wattman a ver como se conduz aquilo. (Já sei onde é o apito. É no botão encarnado à direita do tablier.) E frases corridas, escorreitas, em forma como um atleta para os cem metros barreiras. Um dia conseguirei, tal como hoje me mantive atrás do homem, separado de mim por uma folha de plástico devida sem dúvida às alterações climáticas.
Desço na primeira paragem de Campo de Ourique. O vinho é muito melhor. As cidades são a forma que Deus encontrou de replicar o paraíso na Terra.
Diário de Bordos - Lisboa, 08-12-2022
Só me apetece não me apetecer nada e tenho sorte: não me apetece nada. Na parte do dia em que ainda me apetecia qualquer coisa também tive sorte: apetecia-me um bom almoço e saiu-me na rifa um excelente, no Sabores de Goa. Agora não me apetece nada e o que tenho é pouco, muito pouco, quase nada: uma taça de vinho (ainda não provei) numa cervejaria do Camões, aposto que não é grande coisa, quase nada. Apesar de gostar desta cervejaria, note-se éum daqueles clássicos que agora ascenderam à categoria de resistentes. Mas não é o que me apeteceria, se me apetecesse ter vontade de qualquer coisa: o Vertigo, o Fábulas, lugares assim, fechados pela "pandemia" (aspas para) ou pelos "turistas" ou, mais prosaicamente, por causa desta estúpida propensão que as cidades têm para mudar, como se fossem pessoas ou obra de pessoas.
De modo estou assim, sem apetências e sem destino, sem vontades e sem eus a chatear-me. O vinho é medíocre mas não tão mau como esperava e o eu que agora carrego é transparente, mal se nota na paisagem: a luz verde de uma farmácia à direita, o encarnado do semáforo à esquerda, a cidade vem direitinha contra mim e eu aqui sentado não lhe ligo nenhuma.
Mentira: de vez em quando levanto os olhos para a fauna da cervejaria, penso que devia ter trazido a máquina fotográfica, que não devia ter perdido as canetas, que devia ter o bloco-notas comigo e assim só teria de pedir uma esferográfica ao empregado (um senhor baixinho e com um enorme sentido de humor) em vez de escrever no telefone, penso que escrever no telefone tem algumas vantagens, penso na cidade na qual vagueio e da qual faço parte como um quisto (maligno ou benigno? Não sei) faz parte de um corpo, bebo o vinho a um ritmo vertiginosamente lento, troco uma chalaça com o empregado baixinho e piadético, deixo-me ir no lento caudal de uma tarde involuntária.
6.12.22
TPC
Preguiça, opiniões
Tenho opiniões muito firmes sobre poucas coisas e pouco firmes sobre a maioria dos temas.
Simples questão de preguiça: construir uma opinião exige muito trabalho e leva imenso tempo.
4.12.22
Gralhas, escrever
Escrever escorreito é um objectivo tão risível como viver escorreito, amar ou sequer pensar. Ele há gralhas em todo o lado.
Felizes cicatrizes
A vastidão do frio não tem fim. Nunca nos encontramos nele, por mais edredões que ponhamos por cima de nós, por mais amores que estendamos por baixo. O frio é uma vasta planície deserta sem fim à vista. Ela era uma luz nesse deserto, uma fogueira, um fogo, um afogueamento, um nascer do sol, uma espada em cujo rasto eu me queimava. Ainda hoje tenho as cicatrizes desse lume. Felizes cicatrizes.