31.10.08

Retrato com rejeição e loiça lavada

Sou um homem regrado, simples. Alguns, eu sei, dizem nas minhas costas que sou simplório e obtuso. Eu não acho. Mas enfim, cada um tem direito a ter a sua opinião. Gosto de lavar a loiça de manhã, quando me levanto, antes do duche; e é assim que os meus dias começam, todos: a loiça da véspera, um duche (que demora em média doze, treze minutos, raramente mais ou menos), a barba, o desodorizante, o pequeno almoço: uma tigela de cereais, um café com duas colheres de açúcar, uma peça de fruta.

Depois visto-me: camisa branca, calças cinzento escuro no inverno, beige claro no verão, sapatos pretos de tipo inglês (conheço pessoas que vão trabalhar de sapatos castanhos, ou de mocassins. Acho um hábito criticável, apesar de não dizer nada), blazer azul. Tenho dois blazers e duas calças de cada um dos tipos acima mencionados, que alterno diariamente. E tenho cinco camisas brancas, uma por dia. Tenho igualmente cinco gravatas, mas isso não é importante, porque raramente as sujo. Ao sábado levo a roupa à lavandaria (menos o blazer e as gravatas, naturalmente); engraxo os sapatos - em casa, claro, custa-me gastar dois euros com uma coisa que apesar de tão simples dá tanto prazer.

Às sextas-feiras bebo uma ginginha e vou jantar à Casa do Alentejo: são ambas na rua das Portas de Santo Antão, o que é prático - tanto mais que não moro muito longe. Posso ir e voltar a pé, poupando assim o dinheiro do autocarro ou, melhor ainda, do táxi. Tenho poucos amigos, e, fora do serviço evito os colegas (às vezes parece-me que eles também me evitam, mas não tenho a certeza). De resto, a minha vida é, como disse, simples, ordenada. Gosto de ler - tenho os livros todos de Margarida Rebelo Pinto, por exemplo; já tentei ler os de outra autora, chamada Mafalda Ivo Cruz (porque é que toda a gente tem três nomes, no nosso país? Eu não: assino sempre com dois, o primeiro e o último. Ninguém tem nada que saber quem é a minha família), mas não consegui: achei as frases demasiado curtas e as ideias impenetráveis. Também gosto de música: os Beatles, Elton John, Britney Spears. Não gosto muito daqueles cantores a que os pseudo-intelectuais do nosso país chamam "pimbas": as melodias são agradáveis, mas as alusões são picantes demais. Não gosto. Ainda por cima ficam-me no ouvido dias e dias, não consigo cantarolar outra coisa. É por isso que não os oiço por querer. Só sem querer.

Sempre foi assim, desde que os meus pais morreram num acidente de aviação. O avião caiu, e eu fiquei com a casa e com o dinheiro do seguro (para além da herança, claro. Os meus pais eram muito poupados, guardavam muito dinheiro porque, diziam-me sempre, "pode acontecer qualquer coisa"). Ainda não se sabe se foi uma bomba ou uma avaria. Para a companhia era importante, porque aparentemente os valores das indemnizações são diferentes. Acabaram por nos dar um valor intermédio, mas eu não prestei muita atenção; de qualquer maneira era muito dinheiro. Ao princípio fiquei triste, mas agora, com o passar dos anos, já não penso nisso. Excepto quando os colegas troçam de mim, no serviço: a verdade é que não preciso de trabalhar, tenho que chegue até ao fim dos meus dias. Mas em casa aborreço-me, apesar dos livros e da música.

Uma vez houve uma mudança: conheci uma rapariga alemã. Estávamos os dois no eléctrico (às vezes gosto de passear nos eléctricos de Lisboa. São bonitos por dentro e por fora e abanam tanto que parece que têm vida, ou que estão a dançar sozinhos - se bem toda a gente dance também, dentro deles). Ela começou a olhar para mim, saiu na mesma paragem que eu e perguntou-me qualquer coisa - uma informação, ou o nome de uma rua, não me lembro.

Na verdade não me lembro nada de como é que A. veio parar a minha casa, mas lembro-me de como veio para o meu quarto: a lâmpada do quarto dela fundiu-se (isto é o que ela me disse, ainda hoje me pergunto se ela não terá feito de propósito - apesar de não saber como se faz para fundir uma lâmpada). Bateu-me à porta mas entrou imediatamente e viu-me a masturbar-me (é com uma certa vergonha que reconheço: masturbo-me todos os dias, antes de adormecer). Sorriu e perguntou-me:
- Do you need help? (Falávamos em inglês).

Como podem imaginar fiquei extremamente embaraçado; mas ela despiu-se num ápice e veio para a cama comigo. Não foi a minha primeira experiência sexual - já tinha tido duas namoradas, e de vez em quando (muito raramente, esclareço) visito uma prostituta do Cais do Sodré (sempre a mesma, uma rapariga jovem e muito magra, mas que tem a vantagem, sobre outras que também experimentei, de não falar muito. Desconfio que se droga, mas não me importo: uso sempre uma protecção). Os meus namoros - não gosto de dizer "relações", como eles dizem lá no serviço - nunca duraram muito tempo: as namoradas foram-se embora ao fim de meia-dúzia de meses.

Mas A. era diferente de tudo o que eu conhecia e imaginara, até a encontrar. Parecia-se mais com um filme pornográfico que fui ver uma vez: punha-se por cima de mim, chupava-me o ..., desafiava-me a fazer aquilo fora da cama. Às vezes até me acordava só para fazer sexo. Comecei a chegar tarde ao trabalho e a andar com olheiras; os meus colegas descobriram tudo porque um dia apareci com uma marca de dentada no pescoço: A. tinha-me mordido com mais força do que o habitual e deixou uma marca. Toda a gente se riu de mim, claro. Mas eu deixei-os rir e fiz de conta que não ouvia.

As minhas zangas com A. começaram muito depressa, por causa da loiça: ela não se importava nada de deixar a loiça por lavar, e muitas vezes dizia-me:
- Forget the dishes, come and f... me.
Mas eu não gostava de sair de casa com a loiça suja e fazia-lhe ouvidos de mercador. Ela passou a vir para a cozinha comigo e a fazer-me coisas enquanto eu tentava lavar, secar, arrumar. Claro que era impossível; fartei-me de partir copos - o que a fazia rir a bandeiras despregadas, e a mim me preocupava, não fosse ela cortar-se. De modo acabávamos sempre em cima da mesa, ou às vezes mesmo no duche. Ela ensaboava-me e eu excitava-me de uma maneira que era impossível resistir. Mas com aquilo ensaboado demora mais tempo e ela, claro, achava muito melhor (eu também. Para o fim já estava a gostar, e até me estava a habituar àquela vida sem regras).

Mas a verdade é que um dia, sem eu mesmo saber porquê, comecei a lavar a loiça à noite, antes de ir para a cama. A. riu-se imenso, e perguntou-me a razão. Mas eu não sabia, pronto. Comecei a ter vontade de lavar a loiça à noite, enquanto ela via filmes na televisão. Era loira, e eu às vezes ia espreitar-lhe os cabelos que caíam pelas costas do sofá. Quando ela se apercebia da minha presença chamava-me, mas eu mostrava-lhe as mãos molhadas e cheias de detergente e voltava para a cozinha.

Um dia cheguei a casa e vi logo que ela se tinha ido embora. Em cima da cama estava um bocado de papel que dizia: "A loiça lava-se de manhã. Adeus". Assim, em português e sem um único erro. Nem sabia que ela falava português. Só se alguém lhe escreveu aquilo, não sei. Ao princípio fiquei triste; mas pouco depois recomecei a minha rotina habitual, e agora só penso nela todos os dias antes de adormecer.

Uma proposta irrecusável

Hoje ouvi o Dr. Manuel Frasquilho, PCA da APL, dizer "que não era preciso procurar outros concessionários porque estava satisfeito com a Liscont". O argumento é lamentável e o Dr. Frasquilho demasiado inteligente para acreditar nele. Inacreditável é ele pensar que pode apresentar argumentos como este, que as pessoas o vão aceitar. Ou pensam que somos estúpidos ou - mais verosimilmente - não sabem para que lado se voltar.

As pessoas e não só: "PGR pode abrir inquérito sobre terminal de Alcântara".

30.10.08

8412...

...and counting.

301008/1850

Terminal de Contentores de Alcântara

O excelente artigo do eng. José Manuel Cerejeira a que já fiz referência noutros posts pode ser lido aqui na íntegra.

É imprescindível lê-lo, para se perceber que a oposição ao projecto não vem apenas de leigos que querem "esplanadas" e "marinas de iates". Também há grandes especialistas que se lhe opõem.

(Via Atlântico)

Terminal de Contentores de Alcântara

Lisboa: Porto nega que alargamento de terminal de contentores crie muralha de aço frente ao rio

29 de Outubro de 2008, 18:08

Lisboa, 29 Out (Lusa) -- A Administração do Porto de Lisboa (APL) garantiu hoje que o alargamento do terminal de contentores de Alcântara não vai criar uma barreira entre cidade e rio, afirmando que é necessário para responder às necessidades portuárias da capital. Da Capital?

"Só podemos responder ao mercado com condições operacionais e físicas", argumentou, referindo que Resposta: é preciso pensar o crescimento do Porto de Lisboa numa lógica ibérica, prevendo uma "plataforma integrada" dos portos atlânticos e mediterrânicos da Península. Um dos objectivos da ampliação do terminal é servir de plataforma de transbordo para a península ibérica. Será pedir demais, que quem governa exponha claramente o conjunto dos dados de um projecto, em vez de sonegar informação? Porque sentirá a APL esta necessidade de calar os pormenores (e se não tem sido esta movimentação, os pormaiores) deste projecto?

Em relação às preocupações manifestadas pela oposição camarária quanto ao aparecimento de uma "muralha de aço" de contentores em Alcântara, o presidente da APL contrapôs que serão demolidos edifícios que já não cumprem funções portuárias com alturas entre os "15 e 17 metros", mais do que a cota de nove metros máximos resultante do empilhamento de contentores. Edifícios esses que foram deixados apodrecer para poderem ser deitados abaixo sem problemas.

Frisou que o alargamento previsto será feito "sem crescimento de qualquer barreira visual" com a acumulação de contentores, acrescentando que a ligação ferroviária subterrânea prevista no projecto vai permitir a redução de "mil camiões TIR" por dia a circular por Lisboa e que será reforçado o transporte de contentores pelo rio em barcaças, com cada embarcação a permitir levar o que teria de ser carregado em cerca de 40 camiões. Os comboios e as barcaças vão escoar os contentores sem necessidade de os parquear? Então para que serve toda a área de parque prevista no plano?

Com a ligação ferroviária subterrânea à Linha de Cintura -- a que passará a estar ligada também a linha de Cascais, também subterraneamente -, os dois comboios diários que escoam contentores poderão passar a quinze por dia, destacou. Muito bem. Criamos um probema que nao existe e de que não precisamos, atiramos-lhe com uma pipa de massa para cima e hey, presto! fica resolvido (enfim, sempre são seis anos - se forem seis anos - de obras).

Em termos de investimento futuro, a APL prevê gastar cerca de 220 milhões de euros, 142 milhões dos quais até 2013, enquanto a concessionária do terminal, a Liscont, gastaria 226 milhões, 146 até 2013. A perspectiva de lucro é de um aumento de "mais de cem por cento", com os actuais 3,7 milhões de euros por ano actuais a passarem a 8,6 milhões. Esse é o lucro da APL. Falta mencionar o da Liscont. Lucros esses obtidos à custa da imposibilidade de usufruirmos o Rio numa área nobre da cidade até 2042.

Há algum estudo feito sobre outras utilizações para aquela área? Investimentos, proveitos, externalidades?

Respondendo a uma questão levantada pelo presidente da autarquia, António Costa (PS), Manuel Frasquilho rejeitou a possibilidade de o terminal de contentores passar para outro local: no Poço do Bispo não há condições de navegabilidade para navios de maior porte, enquanto na Trafaria (margem Sul), "as acessibilidades actuais são um caos", para além de ser preciso um "estudo hidrográfico sério" para avaliar a profundeza do leito do Tejo. As acessabilidades actuais da Trafaria são "um caos". Em Alcântara é preciso construí-las de raiz. Há alguma comparação de custos? Se sim, porque não no-la mostram? Se não, porquê?

Manuel Frasquilho referiu ainda que o projecto da APL prevê uma requalificação do largo frente à Estação Marítima de Alcântara e a manutenção do espaço das Docas tal como está. Após 6 anos de obras num ponto nevrálgico da cidade (assumindo que são seis anos, coisa de que o historial das nossas obras públicas obriga a desconfiar - tal como dos custos anunciados, aliás). Seria também bom que nos explicasse o que vai acontecer às embarcações de recreio que lá estão, e cuja coabitação com barcaças e navios SSS me parece utópica. (short sea shipping)

Via Notícias do Sapo.pt

Quem se mete com a Mota-Engil leva*

Estivadores ameaçam Sousa Tavares por causa do alargamento do terminal de contentores

-

* Comentário anónimo numa caixa


Daqui.

E o resto é paisagem?

"E o resto é paisagem? PÚBLICO - 30.10.2008, Miguel Gaspar

Noutros tempos era costume dizer-se que "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem". Mas nos tempos que correm esse adágio já não faz grande sentido. A qualidade de vida na capital e boa parte da respectiva área metropolitana é hoje inferior à que se pode usufruir em inúmeros municípios situados naquilo a que outrora se chamava "província". E mesmo o direito à paisagem parece longe de estar garantido aos lisboetas. É o que ocorre dizer a propósito do projecto de ampliação do terminal de contentores do porto de Lisboa, cuja cedência até 2042, sem concurso público, a uma empresa dirigida por um antigo ministro socialista, Jorge Coelho, levanta as maiores reservas: soube-se esta semana, através do Sol, que está a analisada pelo Tribunal de Contas e já se sabia que tem a oposição de todos os partidos e movimentos representados na Assembleia Municipal de Lisboa -exceptuando, claro, o PS.

Um dos problemas em toda esta história é não se saber muito bem do que se está a falar. O Governo, por exemplo, diz que compensará os cidadãos pela parte de rio que lhe vai retirar, mas não diz aonde. Nem esclarece exactamente qual o impacte sobre a paisagem, limitando-se a afirmar que será "limitado". O presidente da autarquia afinou por este diapasão, dando o aval do município ao projecto, e joga por isso boa parte da sua legitimidade nesta questão, que promete ser um dos temas centrais da campanha autárquica.

Mas no meio de toda esta intensificação, sabe-se que falamos da triplicação da área de armazenamento de contentores naquela que é uma das raras zonas lúdicas com ligação ao rio nesta cidade - um muro de contentores de 12 a 15 metros ao longo de 1500 metros. Esta maravilha do regime implica o fim da zona das docas e um corte brutal na zona de aproximadamente quatro quilómetros, entre Alcântara e a Torre de Belém. Uma área perto da água que precisava de equipamentos decentes, comuns para qualquer munícipe de Cascais ou de Oeiras, e não de ser encurtada em um quilómetro e meio.

Vamos ao contexto? O contexto é que há anos o alfacinha ouve dizer que as mudanças a introduzir na zona ribeirinha da cidade representarão mais zonas de lazer perto do rio. O primeiro projecto a ser conhecido vai exactamente na direcção contrária. Em vez de apostar na qualificação de uma zona que pode ser valorizada turisticamente ou para o bem dos cidadãos, zás!, faz-se um armazém. Dou de barato esta ideia algo deprimente de que um "armazém" pode ser uma grande obra de regime. E leio por cima de tudo isto que, de acordo com o Tribunal de Contas, a área de armazenamento actual está subaproveitada. Então para quê investir numa empreitada destas dimensões?

Já sei: vêm aí os apóstolos do progresso declarando que obras como esta são vitais para o desenvolvimento do país. O próprio primeiro-ministro diz que, com o afundamento da linha férrea que atravessa a Avenida 24 de Julho, vai-se acabar com um estrangulamento à mobilidade da capital. Eu sei que sou pouco entendido nestas coisas dos contentores - mas podem explicar-me como é que triplicar a capacidade de armazenamento de contentores em Alcântara contribui para aliviar Alcântara?

O que fica claro é então isto. Numa cidade em crise absoluta, cujo município parece não ter programa, políticas ou discurso, em que os prejuízos colossais das empresas municipais não coíbem os respectivos gestores de comportamentos como os apontados no caso Gebalis, não é possível admitir que o maior investimento previsto pelo Estado para Lisboa vá no sentido da diminuição dos direitos dos munícipes, em favor de um projecto de utilidade muito pouco clara. Nesta cidade, pelos vistos, os cidadão são só paisagem. É uma marca de provincianismo.

Jornalista (miguel.gaspar@publico.pt) " (Via Fórum da Cidadania)

Aqui fica um artigo lapidar de Miguel Gaspar, do Público de hoje. Negritos  e sublinhados meus. A verdade é que nem o Governo nem a APL informaram as pessoas do que planeavam fazer. E a palhaçada da "apresentação" do projecto pela APL à CML, ontem, não passa de isso mesmo: uma palhaçada. Querem convencer-nos que a CML não sabia o que se estava a passar? Por amor de Deus! Tenham vergonha na cara.

A verdade é que a política neste país está cada vez mais aviltada, mais indigna, mais asquerosa, mais desavergonhada. Com que cara é que uma pessoa que foi eleita para "devolver o Rio à cidade" apresenta hoje um projecto destes?

Choque de civilizações

"Miguel Sousa Tavares pertence à associação cívica que está contra o projecto, o que fez com que fosse insultado à entrada pelos estivadores." (Via Corta Fitas)

Estivadores? Quem não os conhecer que os compre. Qualquer pessoa que se faça insultar por estivadores merece, a priori e, em 99,9999999% dos casos a posteriori a nossa simpatia e o nosso respeito: tem, de certeza, razão.

Quando os contentores apareceram, um "grupo" de estivadores era constituído por 12 pessoas. Como para o tráfego contentorizado 3 estivadores chegam (por grupo), eles jogavam aos dados para ver quem ia para casa (isto é, nove pessoas) - recebendo, claro, salário e horas extraordinárias e tudo que os que tinham perdido ao jogo e tinham que trabalhar recebiam (verdade seja dita que muitos deles tinham um segundo emprego - ou, melhor ainda, integravam vários "grupos"). Não sei como é que isto evoluiu - mas sei que durou anos. Os estivadores, é verdade, são uma máfia em qualqer parte do mundo. Em Portugal têm a vantagem acrescida de ter uma lei do trabalho que impede um mínimo de justiça.

Eu quero! - Not 4 Sail!

«Quero que Lisboa seja um cidade portuária e, pelo que tenho interpretado, a maioria nesta Câmara quer que Lisboa continue a ser uma cidade portuária. Eu não quero um porto só com uma marina de iates ou com um terminal de contentores mas um porto que fortaleça a base económica da cidade», afirma, peremptório, António Costa (Via Porta do Vento).

Infelizmente para ele o Dr. António Costa está no lugar em que está para executar a vontade das pessoas, e não para lhes impôr a sua. A APL, a Câmara Municipal de Lisboa e o Governo (os tradicionais inimigos da frente ribeirinha de Lisboa, como diz Miguel Sousa Tavares) tentaram uma manobra sorrateira, a qual não funcionou.

Agora, optam pela força; cabe-nos a nós todos, Lisboetas e Portugueses, impedi-los de obter com o método dos Hunos o que não conseguiram fazer à socapa.

Antes de dizer que não quer um porto só com uma marina seria bom, ou pelo menos democrático (que isto da democracia às vezes é aborrecido), explicar-nos o que entende por um porto "só" com uma marina de iates, ou "só" com um terminal de contentores. Actualmente, o Porto de Lisboa é constituído pelos seguintes terminais:

Carga
- Contentores de Alcântara
- Multipurpose de Lisboa
- Contentores de Santa Apolónia
- Multiusos do Beato
- Granéis alimentares do Beato
- Multiusos do Poço Bispo
- Alhandra (Iberol)
- Alhandra (Cimpor)
- Granéis alimentares da Trafaria
- Granéis alimentares de Palença
- Seixal (actualmente desactivado)
- Barreiro
- Líquidos da Banática
- Líquidos do Porto Brandão
- Líquidos do Porto dos Buchos
- Marítimo de Porto Brandão
- Granéis líquidos do Barreiro
- Cais avançado de Alcântara

Cruzeiros
- Rocha Conde de Óbidos
- Alcântara
- Santa Apolónia

Docas de recreio
- Alcântara
- Belém
- Bom Sucesso
- Santo Amaro

Se a Doca do Espanhol for dedicada à Náutica de Recreio (que é a ocupação ideal para aquele espaço) e o Cais da Rocha do Conde de Óbidos e Alcântara continuarem a ser aquilo que são e sempre foram (excelentes terminais de Cruzeiros) o Porto de Lisboa fica transformado "numa marina de iates"? Sinceramente, não me parece (já agora: um pólo de náutica de recreio não se reduz a "uma marina de iates").

Diz ainda o Dr. António Costa (entre parênteses, já era tempo de ouvirmos o que ele tem para dizer a este respeito; muito obrigado):

"António Costa sublinhou que a demolição de edifícios da Administração do Porto de Lisboa em Alcântara, bem como o aumento da capacidade de escoamento do terminal de contentores prevista do projecto vão impedir a criação de uma «muralha de aço» entre a cidade e o rio Tejo."

Olhem para esta fotografia e digam-me se os contentores "impedem a criação de uma muralha de aço":


Sinceramente: parece-me que não impedem, antes bem pelo contrário.

A CML e o Governo insistem muito nas inegáveis vantagens que vai trazer a ligação da linha de Cascais à linha da Cintura. Mas para fazer isso é preciso triplicar a capacidade do terminal de contentores? Não, não é.

Há muita, mas mesmo muita falácia na argumentação da APL, da CML e do Governo. Assinem e divulguem a petição: é a única forma de fazermos frente à muralha de aço. Isto não é um assunto de especialistas: toca-nos a todos, sem excepção. O dinheiro que ali vai ser dilapidado é de todos nós, não é do Dr. António Costa nem da APL.

Lisboa não está à venda!

Lisboa, Elevador da Glória

Castelo de S. Jorge, Lisboa

Castelo de S. Jorge, Lisboa

Castelo de S. Jorge, Lisboa

Uma pequena nota autobiográfica...

(são tão raras, neste blog):



O M/V "RIO CUANZA" à descarga no mar da Palha. Foi neste navio que dei a volta ao mundo, numa viagem que me fez passar pelo Canal do Panamá, Estreito de Malaca (ou de Sumatra, para eles), Suez, Bósforo, Gibraltar. A volta acabou em New Orleans, mas eu ainda voltei para trás e só desembarquei em Lisboa, nove meses depois de ter começado, em Mobile, Alabama.

Nessa altura ainda não havia o terminal de granéis sólidos alimentares da Trafaria e os graneleiros eram descarregados ao largo, com gruas flutuantes. Os contentores não são a única carga movimentada em Lisboa. Se não houver tantos contentores o porto não acaba, como se pode ver aqui.

Sobreposições

Sobreposições

Sobreposições

29.10.08

S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9

Ténis, Parede


S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9


S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9


S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9


Sobreposições



Uma pequeno, muito pequeno, mas legítimo orgulho: as sobreposições foram todas feitas na máquina. Na altura essas coisas davam-nos gozo. Hoje também.

S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9

S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9

S. João, Arraial popular, Carnaxide 1978/9

Coro

Estoril (?)

Estoril, 1978


Algarve, 1978


M/V "ALTAIR", ao largo da Namíbia, 1977/8

La Chaux-de-Fonds, 1979

Porto, 1978/79

Sintra (Lagoa Azul) 1979

Genève, 2000 ou 2001

Genève, 2000 ou 2001

Lisboa, 1979

Genève, 2000 ou 2001

Ao largo da costa espanhola, 1983

Lisboa, 1979

Perto da Lagoa de Albufeira, 1979

Sobreposições

Estoril, 1978


Genève, 2000 ou 2001

4685...

...and counting.


(Com um pedido de autorização à Luísa)

291008/1500

Volvo Ocean Race

E agora, coisas verdadeiramente importantes:

"At 0355GMT Ericsson 4 reached 565 nautical miles in the previous 24 hour period, breaking the existing record by two miles, but that figure increased at 0755 GMT to 589nm and by 1145h GMT this had further increased to 590.5nm. At the point of writing, no other boat in the fleet had broken this record, which is still awaiting ratification from the World Speed Racing Council."

É só fazer as contas: 24,6'. Vinte e quatro vírgula seis nós de média em 24 horas.

Terminal de Contentores de Alcântara

Palavras para quê?

Extracto do Relatório 19/2007 do Tribunal de Contas. Pág. 16. Pode ser consultado aqui (mas não se fiquem pela pág. 16. O relatório é uma maravilha. E este também, já agora):

"Para além do Terminal do Seixal que está sem actividade desde Maio de 2005, os terminais com taxas de utilização das suas infra-estruturas mais baixas são: o Terminal de Contentores de Santa Apolónia (44%), o Terminal de Contentores de Alcântara (59%) e o Terminal de Granéis Alimentares de Palença (58%)." (Sublinhados meus).

Assinem e divulguem a petição. Hoje, na 1ª página do Diário Económico, vinha esta chamada para um artigo da pág. 28:

"Mota-Engil começa obras em Alcântara apesar da contestação política

A empresa vai para o terreno já este ano, começando pelas demolições dos edifícios sem uso".

A estratégia da socapa falhou, agora vão querer avançar em força. Temos que parar este absurdo revoltante!

(Quantos mais e mais depressa assinarmos mais depressa eu mudo de tema, prometo).

Terminal de Contentores de Alcântara

Sobre esta publicidade

Ficam aqui os comunicados dos comerciantes das Docas:

«Caros amigos,

Se quiserem ver o link da apresentação do Governo e a partir dai fazerem uma impressão da apresentação; é uma verdadeira caixa de surpresas em termos de dados e contradições!

Comentários:

1. Pretende embrulhar transporte de pessoas da linha de Cascais com transporte de mercadorias, numa manobra que já conhecemos e não deveremos alimentar. Em todo o caso como referência cabe destacar a incongruência do slide 9 em que se vê que em 8 anos (de 2000 a 2007) o número de passageiros do comboio de cascais desce cerca de 20% e agora, por artes mágicas prevêem que nos próximos 10 anos suba 39%!


2. Em termos de transporte de contentores ensaiam a cartada da redução do trafego rodoviario. No entanto basta fazer contas com base nos dados de slide 11 para ver que o TRANSPORTE RODOVIARIO AUMENTA 62% (actual: 78% x 340.000 TEU/ano=265.000 TEU ano por rodovia. Futura: 43% x 1.000.000 TEU/ano = 430.000 TEU ano por rodovia), TUDO A SAIR DE ALCÂNTARA!!!!
Para nós este ponto é crucial e digno de artigos em imprensa por si só.


3. Em termos de investimento só nesta apresentação fica logo claro que só relativamente a parte de Contentores o encargo do Estado/APL/Refer é de €121,7 milhões Slide 10: investimento total 348,4 milhões Slide 12: investimento concessionario 226,7 milhões


4. No comunicado de Liscont refere que não pagarão taxas de actividade portuaria nas zonas onde haje intervenção. Segundo o slide 10 parece haver intervenção em pelo menos 50% da area. Quer isto dizer que metade da movimentação estará isenta de taxas???

5. Fica também claro desta apresentação que o objectivo principal logístico não a cidade de Lisboa (beneficiando assim dum encurtamento das distâncias como refere comunicado Liscont) mas sim a ligação às plataformas logísticas de Poceirão (margem SUL!!!), Bobadela e Castanheira do Ribatejo. Vamos descarregar contentores no centro de Lisboa, para os transportar para a periferia!!!
Mais uma incongruência com comunicado Liscont.

Outras notas:

A)Comunicado Liscont refere no ponto 1 que actividade portuaria é responsável por 140.000 empregos. No slide 2 "só" são 38.000. Mesmo assim um exagero que seria necessario fundamentar sobretudo à luz da pregunta: se não se fizer alargamento quantos desses 38.000 empregos se perderão ou quantos novos serão criados?

B) Assim de repente esta apresentação refere investimentos de 420 milhões para além dos do terminal!!! (slides 4+9)
...»

Via O Carmo e a Trindade

Uma ou duas perguntas prévias, antes de uma análise da apresentação mais detalhada: foram feitos estudos comparando esta opção com outras utilizações da zona de Alcântara? Não. É preciso ampliar o terminal de contentores para ligar a Linha de Cascais à Linha da Cintura? Não. Estando a zona de barcaças onde está, é possível manter os barcos de recreio onde estão? É uma coabitação que me parece muito complicada.

Doação

Não tenho nada para dar, querida: um pouco de mar, duas ou três piadas que por vezes acertam, um livro ou dois que a memória reteve, meia-dúzia de palavras que nem as viagens nem o tempo engoliram... Nada. Posso quando muito dar-me a mim, lembras-te: «Não sei mentir. Como sou me dou. E como és te recebo, ligeira, “inagotable y pura”»?

28.10.08

If you say so

"Aprende com o teu inimigo

Se não é um milenar provérbio chinês, devia ser. E se esta história da ampliação do porto de contentores de Alcântara não é um negócio duvidoso, bem que parece. Não é que a colecção de monumentos em busca de pedestais do costume – de Helena Roseta a Miguel Sousa Tavares – mereça, por si só, grande crédito. Nem é que qualquer empresa que dê guarida a um ex-político deva ser votada automaticamente ao ostracismo. Mas tudo aquilo cheira a madeirização da política nacional: a confusão entre o privado e o público, a amizade alcandorada a factor crucial nos negócios, a visão dos concursos públicos como empecilhos a evitar, o desprezo altaneiro pelo que possa ser o interesse público, a utilização do deus Progresso como caução para tudo e mais alguma coisa. Na Madeira os amigalhaços fluem da administração pública para empresas interessadas em concessões atribuídas pelo governo? Na Madeira os negócios portuários andam submersos em opacas brumas? Na Madeira tudo se faz às escuras e tudo tem vencedores antecipados? Olhem bem para este caso e vejam lá se não estamos cada vez mais perto do arquipélago do soba Jardim
.
"

Vendée Globe

O Vendée Globe visto por um dos melhores meteorologistas do mundo.

"Le Vendée par le «Sorcier»"

O último a saber

"Lisboa: Administração do Porto apresenta ampliação de contentores à Câmara", na quarta-feira que vem. A CML ainda não estava a par, coitada. Não tem sequer vindo a acompanhar o projecto, não sabia, ninguém lhe disse nada.

Há aqui qualquer coisa que me escapa, mas eu não sei bem qual é.

Como Miguel Sousa Tavares muito bem disse, a frente ribeirinha de Lisboa tem três inimigos clássicos: a APL, a CML e o Governo. Nem sempre estão juntos - já houve lutas homéricas entre a Câmara e a APL, por exemplo. Mas quando estão os três de conluio, é terrível.

Terminal de Contentores de Alcântara


A Liscont apresenta hoje um anúncio de página inteira no Público onde procura defender a construção do super-terminal de contentores em frente das Docas de Alcântara, assim como a concessão que lhe foi conferida pela Autoridade do Porto de Lisboa até 2042. Todos os pontos de vista esbarram com uma evidência: o super-terminal afasta irremediavelmente o rio da cidade, tapando-o com um muro de contentores.


No Público, no Jornal de Negócios e no Diário Económico. Parece-me que o primeiro objectivo da APL já não foi atingido: a saber, fazer a ampliação à revelia da cidade, e do país. Só por trazer para a luz do dia um debate que deve ser feito na praça pública esta iniciativa deve ser apoiada: Lisboa é das pessoas. Mais contentores, não!

O problema pode ser formulado assim: a área de Alcântara tem vantagens competitivas em termos europeus (e mundiais) para um determinado conjunto de actividades (cruzeiros, náutica de recreio, lazer) as quais geram empregos, geram impostos, contribuem para o desenvolvimento da economia nacional e permitem o usufruto do rio pela população e pelos turistas, sem grandes investimentos públicos, sem grandes obras, sem grandes perturbações. E uma entidade sem mandato para tal quer transformá-la numa medíocre (porque feita num local que não é apropriado, rodeado de malha urbana e sem possibilidades de expansão; e porque vai ter impactos negativos no urbanismo e no usufruto da cidade pelos seus habitantes e visitantes), inútil (segundo o Tribunal de Contas) e relativamente efémera (segundo o próprio Governo) plataforma de transbordo de contentores, o que requer um sorvedouro de fundos públicos, obriga a uma concessão longuíssima, impede o acesso ao rio e nos obriga a suportar seis ou oito anos de obras num ponto nevrálgico da cidade.

1223...

...and counting.

(281007/1333)

Silêncios, outros

Curiosamente, os sectores tão preocupados com o silêncio de Manuela Fereira Leite não manifestam igual preocupação com o silêncio de António Costa em relação à ampliação do terminal de contentores de Alcântara.

Uma boa notícia

No meio desta catástrofe maior pela qual estamos a passar soa estranho (mas é agradável, bastante agradável) dar com uma boa notícia, uma proposta do Governo correcta, certa, inteligente: "Privados vão gerir edifícios históricos abandonados".

Silêncios

Uma das coisas que me tem admirado, nesta triste história do terminal de contentores, é o silêncio da Câmara Municipal de Lisboa - que foi eleita, recorde-se, tendo incluído nas suas promessas de campanha devolver o Rio a Lisboa.

Mas depois apercebo-me que não é só sobre Alcântara que a CML está calada. Na realidade, António Costa como presidente da Câmara é um pétard molhado; não é de espantar que agora se cale.

Ver aqui, aqui, aqui.

Porquê?

Qualquer dia vai ser preciso chegar ao porquê, eu sei. Tenho as minhas hipóteses e estou a verificá-las.

Uma coisa se pode garantir desde já: não é por estupidez. Nem o ministro nigeriano (cf. post abaixo) nem os nossos decisores são estúpidos.

27.10.08

Uma história africana

Há vinte e poucos anos um Ministro das Obras Públicas Nigeriano decidiu (provavelmente com algumas "ajudas" motivacionais, mas isso é outra história) que era preciso construir uma rede de auto-estradas na Nigéria. Fizeram-se os planos, calcularam-se as necessidades - e o Ministro encomendou o cimento necessário. Isto nada teria de excepcional se o nosso (salvo seja, deles) ministro não tivesse encomendado todo o cimento ao mesmo tempo. Todo. Simultaneamente. Chegaram assim ao porto de Lagos (o deles, não nosso) alguns milhões de toneladas de cimento.

É evidente que não havia instalações portuárias para escoar aquele cimento todo e a situação tornou-se absolutamente caótica: os navios chegavam a ficar dois, três anos (não é lapso - anos) à espera de vez para descarregar; quando chegavam ao cais o cimento tinha solidificado e era preciso parti-lo aos bocados, com aquelas infernais máquinas que se usam para as obras nas estradas e fazem um barulho arrepiante (claro que esse cimento depois não servia para nada se não para deitar fora); com a quantidade de navios que estavam à espera desenvolveu-se uma pirataria sofisticada, muito bem armada (os lucros eram garantidos). Outra consequência foi a subida do custo do frete - com metade da frota mundial de graneleiros imobilizada na Nigéria (e, claro, a receber demurrages absolutamente delirantes - esta é para um ou outro técnico que me leia), o preço do frete disparou para alturas astronómicas.

Quando se pensa nesta história, pensa-se sobretudo nas consequências - o porto congestionado; os navios fundeados eram tantos que parecia que uma cidade tinha nascido do mar; na marinha, ter estado em Lagos tornou-se quase um grau, e aqueles de entre nós que o podiam dizer adquiriam imediatamente estatuto de heróis.

«LISBOA É DAS PESSOAS. MAIS CONTENTORES NÃO!» - II

Notícias da frente A sala estava "composta", a audiência distinta. Miguel Sousa Tavares falou bastante bem, foi estimulante e motivador - o mesmo se passou, de resto, com os outros oradores. Mas o que me siderou foi ficar a saber que - e digo isto com pinças porque ainda não verifiquei a informação - o Tribunal de Contas considera ter Lisboa espaço suficiente para contentores e não precisar de mais. E fiquei também a saber que o Governo já reconheceu publicamente aquilo que até agora se dizia apenas à boca pequena: o horizonte de vida útil desta ampliação é limitado. Não consegui perceber se é Lisboa se é Portugal. Mas a ser qualquer destas opções verdade - e eu preciso realmente de verificar isto - então o caso ainda é mais trágico, mais absurdo, mais indigno. De qualquer forma, mesmo que seja necessário mais espaço, Alcântara NÃO É O LUGAR INDICADO.
A petição está aqui: por favor assinem e divulguem (se estiverem de acordo, claro). É preciso agir. Como MST disse, os três principais inimigos da Frente Ribeirinha de Lisboa são a APL, a CML e o Governo.

«LISBOA É DAS PESSOAS. MAIS CONTENTORES NÃO!»




Caro(a) Amigo(a)

Na sequência do anúncio do Governo em querer alargar a concessão do terminal de contentores em Alcântara por mais 27 anos à Liscont e da vontade de triplicar a actual actividade portuária de 350.000 contentores/ano para 1milhão, e o que isso significará em termos de impacto visual e físico na frente ribeirinha, é lançada hoje, às 19h30, na 'Doca de Santo', em Alcântara, a petição «LISBOA É DAS PESSOAS. MAIS CONTENTORES NÃO! ».

Esta petição é uma iniciativa de um grupo de cidadãos liderados por Miguel Sousa Tavares, à qual o Fórum Cidadania Lx tem todo o orgulho em associar-se, por entender que o que está em causa é um grave atentado à cidade de Lisboa.

Por favor, subscreva e divulgue a petição «LISBOA É DAS PESSOAS. MAIS CONTENTORES NÃO! », em:

http://www.gopetition.com/online/22835.html


Com os melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Júlio Amorim e Virgílio Marques

(Via Atlântico).

Assine, divulgue e inclua no seu blog ou no seu site, se tiver um. Não podemos deixar passar um erro destes.

60' IMOCA

Uma imagem 360º da cabine de um 60' IMOCA.

26.10.08

Terminal de Contentores de Alcântara

Puxo para a frente um debate que começou no Corta-Fitas e que me parece extremamente importante e necessário. As minhas respostas seguem a azul:

Olá Luis. Segue a minha resposta ao seu ultimo post do corta-fitas. Então seguindo a lógica dos “pontos”, gostaria também se salientar alguns que considero essenciais:

Primeiro ponto – Relativo à pouca informação e “secretismo” do caso. Assumo efectivamente que a questão tem sido tratada com algum sigilo, o que é criticável à luz do interesse público do projecto. Não tentando desculpar ou justificar a postura da APL e do Governo (não é essa de todo a minha intenção) penso que, em parte, esta atitude é justificada pelo medo de que a situação seja deturpada (como está a ser) e que a discussão seja conduzida para o campo da emoção e dos argumentos fáceis, inviabilizando um projecto de extremo interesse nacional. Assim, o Luis certamente concordará que a opinião pública é extremamente sensível a argumentos que consegue assimilar facilmente: Coelho na Mota-Engil; “muralha de contentores!”, “mandem o terminal rio acima e vamos é reabilitar a zona fazendo um terminal de cruzeiros!”, “mandem os contentores para Setúbal”). Por outro lado, os argumentos técnicos são extremamente difíceis de transmitir, tendo uma permeabilidade reduzidíssima na opinião pública. Veja por exemplo a discussão acerca do malfadado aeroporto: ao longo de todo o período de discussão o que contou foi um “acto de fé” do governo na Ota, até que uma decisão técnica (que nunca foi explicada, porque é difícil explicar engenharia nos media!) inverteu todo o processo. No caso de Alcântara parece que a questão do silêncio se justifica também por um receio de confrontar argumentos “populistas e demagógicos” com a questão técnica, que é o que verdadeiramente deve contar! Não concordo com a postura do governo, mas de certa forma compreendo-a. Não compreendo, não aceito e refuto vigorosamente este argumento - que é, para mim, repito e sublinho, o mais importante de todos.
- Primo, por uma questão de princípio: opções desta magnitude devem ser - sempre e sem excepção - tomadas colectivamente;
-Secundo, porque o de se "enganar" é o primeiro de todos os direitos democráticos: um erro cometido por decisão democrática é preferível a uma decisão certa tomada por um organismo qualquer que não foi eleito e não dispõe de mandato para tal. É, se quiser, o equivalente político daquele princípio jurídico que diz "mais vale um culpado livre do que um inocente na cadeia";
- Tertio, por questões de que a Ota é um magnífico exemplo: há muito mais probabilidades de se encontrar uma alternativa correcta se houver um debate público - o público não é só constituído por leigos nas diferentes matérias;
- Quarto: não é verdade que "as razões técnicas da Ota nunca foram explicadas".
- Quinto, porque este assunto não é só técnico, é também político;
- Sexto, porque o "populismo e a demagogia" não estão só do lado dos que se opõem ao projecto - e são muito mais facilmente detectáveis quando as diferentes alternativas são postas em cima da mesa podendo comparar-se claramente os custos, vantagens e desvantagens de cada uma delas;
- Septimo, por um motivo que o AFF exemplifica muito bem ali em baixo: os técnicos - como qualquer outro responsável - precisam de checks and balances.

Parece que este governo não aprendeu nada com a Ota! (Ou então aprendeu, e ainda é pior...)

Vivi vinte anos na Suíça, e posso garantir-lhe que o argumento de que algumas questões são demasiado técnicas para ser submetidas ao escrutínio público não se aguenta dez segundos. Basta lá ir... (e por favor, por favor, não me diga que os suíços são diferentes, que os portugueses etc. e tal);


Segundo ponto – Relativo à importância estratégica de Alcântara. O terminal de Alcântara, assumindo que se destina a tráfego Deep-Sea, só pode ser situado ali ou na Trafaria e nunca mais a montante (por exemplo Sta. Apolónia) pois os fundos são insuficientes (são necessários 16 metros de profundidade) e o custo das dragagens incomportável - É provavelmente verdade. Não só o das dragagens como o da manutenção dos fundos. Mas penso que essas coisas devem ser comparadas com números, e não com adjectivos. A nível nacional apenas Sines tem condições semelhantes. Dada a vocação maioritariamente de transhipment (transbordo de contentores de barcos que seguem diferentes rotas) - afinal o destino da carga é o transhipment ou é doméstica? (desculpe a pergunta. É retórica. Todos sabemos que o objectivo da APL é tornar Lisboa um grande porto de transhipment, basicamente porque é a única forma que tem de se perenizar); e as más acessibilidades que (ainda) tem, considero que este porto por si, e no curto prazo, não será suficiente para garantir a movimentação de contentores deep-sea gerada por Portugal e por parte da Estremadura espanhola - Considera? Baseado em que estudos? Quanto custa, a ampliação do Porto de Sines? Quanto às acessibilidades de Sines: vão ter que ser construídas, de qualquer forma, como sabe (é por isso que diz "ainda"). Quando é que o Terminal de Alcântara estará saturado? . Assim será importante ter uma alternativa, ou seja, o Porto de Lisboa! Parece-me uma forma um pouco rápida de saltar para a conclusão, não acha? A APL manda fazer dois estudos - um já publicado, outro em discussão técnica - que recomendam, ambos, a construção num determinado local. Mas esses estudos, encomendados a entidades que se presume competentes (se o não forem, porque é que a APL lhes encomendou os estudos?) não são tidos nem achados - foram encomendados para quê? Dentro de Lisboa a alternativa a Alcântara consiste num terminal na Trafaria, que nunca estaria pronto em tempo útil, (falta de acesso ferroviário, passagem para a margem norte, construção de um terminal de raiz) e teria um custo muito superior (mais de 2 a 3 vezes!) os 200 milhões de Alcântara. Vê como a demagogia não está só num lado? E os proveitos de Alcântara, se for utilizado para outras coisas? Não contam? Escamoteiam-se? E o custo da construção de um terminal de cruzeiros em Santa Apolónia? Não se contabiliza? Adicionalmente, a situação de Lisboa é muito mais vantajosa que Sines, pois mais de 70% dos contentores transportados destinam-se à zona a Norte do Tejo, sendo mesmo a maioria destinada à Grande Lisboa. O custo do transporte de Sines penaliza grandemente a competitividade. a) Acredita sinceramente que o custo adicional de 150 km por terra é assim tão penalizante? b) A carga que desembarca em Rotterdam é toda para Rotterdam? E a de Singapura, também? E a de Hong-Kong? E Felixstowe? Esse argumento, desculpe-me, não colhe. É demagógico e populista.

Terceiro ponto – Relativamente à questão urbanística. Não discuto que a frente ribeirinha ganharia mais com outros usos. Não discuto também que um terminal deste tipo traz necessariamente tráfego de pesados. Mais uma vez o que defendo é uma questão de prioridades estratégicas – um país sem indústria e sem forma de escoar a sua produção empobrece, por muitas esplanadas que nele sejam construídas…! A alternativa não são só esplanadas. A náutica de recreio gera benefícios que não são desprezíveis - e faz tanto pela indústria nacional como um terminal de contentores. Talvez mesmo mais, se calhar. Além de que toda a sua argumentação está baseada num tráfego inbound. Porque é que agora de repente se fala em "escoar a produção" nacional? Lisboa é a melhor localização para "escoar a produção nacional"? . Efectivamente o novo terminal de cruzeiros poderia passar para Alcântara… Desculpe: em Alcântara ele não seria novo. Já lá está só que Alcântara não poderia passar para Santa Apolónia, pois os navios de cruzeiros, apesar de serem incrivelmente altos, não necessitam de tanta profundidade (têm calados muito inferiores). Assim, a criação de um terminal de cruzeiros em Alcântara impediria a existência (no curo e médio prazo) de um terminal deep-sea em Lisboa, com as desvantagens para o país que já referi. Da mesma forma gostaria de salientar que o projecto actual não trará constrangimentos visuais adicionais, pois apenas uma pequena parcela do cais será prolongada, em termos longitudinais, e num local actualmente escondido por edifícios degradados. Isso não é verdade, pois como sabe a Doca do Espanhol terá que ser utilizada para o transhipment, e aí o impacto visual é ainda maior e muito pior do que o da plataforma. E os edifícios degradados que lá estão - e que foram deixados degradar pela APL com um objectivo muito claro - podem ser reconvertidos, ou recosntruídos mantendo a volumetria.

Atrevo-me a acrescentar que em minha opinião (chamem-me criminoso se quiserem!) um projecto verdadeiramente bem conseguido para o terminal de contentores deveria considerar o aterro da Doca do Espanhol (existem inúmeras docas em Lisboa assoreadas e sub-aproveitadas) criando-se um terminal dotado de boas condições de operação. Não lhe chamo criminoso... Esse plano (que já esteve em cima da mesa, como provavelmente sabe), é um delírio - é a prova de que os técnicos têm absolutamente de estar sujeitos ao escrutínio público. Isso nasceu na cabeça de um Folamour dos contentores. Aterrar uma infrastrutura que está em pleno uso, que é perfeita para um determinado fim - só não o é mais porque a APL não quer, como também provavelmente sabe, deixar desenvolver-se ali um pólo de náutica de recreio, com medo de depois não ter lugar para os contentores - para lhe pôr contentores em cima?????? Por amor de Deus! E quando estivesse saturado, o que se faria? Deitar-se-iam os prédios de Alcântara abaixo e entrar-se-ia pela terra dentro? Prolongar-se-ia até ao Terreiro do Paço? Acredito que esta alternativa obviamente nem foi discutida dadas as posições reaccionárias que desencadearia. Essa alternativa é tão delirante, tão absurda, tão ridícula, tão doentia, tão inimaginavel, tão inconcebível, tão pouco inteligente, tão cega que mal foi posta em cima da mesa foi retirada. Não foi por reaccionarismo. Foi porque ainda há résteas de bom-senso neste país. Saliente-se também que este projecto vai permitir melhorar muito a questão do atravessamento ferroviário em Alcântara, fazendo os comboios de mercadorias passarem sobre a rodovia, em túnel. Perdoe-me a exclamação: que maravilha! Nós criamos um problema que não existia, mas não se preocupem porque vamos gastar uma pipa de massa a resolvê-lo! E se não o criassem, como seria? Alcântara ficaria mais pobre por não ter um túnel ferroviário para escoar contentores? (Túnel esse, aliás, construído em cima de um caneiro e por baixo da Doca do Espanhol. Quando se viu a beleza que foram as obras do metro no Terreiro do Paço, esfria-se um bocado, não acha?)

Quarto ponto – Sobre a prorrogação do contrato existente. A Mota-Engil é certamente uma empresa de grande influência, tendo nos seus quadros vários membros de ex-governos e deputados (de pelos menos 3 cores partidárias). O argumento do favorecimento tem de ser mais sustentado do que baseando-nos apenas numa constatação de quem é o CEO! Esse é mais um argumento em favor de uma discussão pública, aberta e transparente - no qual pudéssemos ficar a saber melhor o que se passou com a Tertir, por exemplo. A transparência não é só boa de per si, é-o sem dúvida - mas também é a melhor solução para que os governantes (os deste e os dos outros partidos) não possam ser acusados de coisas que Deus sabe eles não fazem, nunca fizeram, credo!

O terminal de Alcântara está saturado, isso é inquestionável, e necessita de obras - não é inquestionável. está saturado se nele decidirmos manter os contentores. Se aquele espaço for atribuido a outras actividades não está saturado. Para se realizarem essas obras hoje existem duas alternativas: resgatar a concessão e proceder a um concurso público - o que implicaria pagar à Liscont uma verba correspondente ao que iria lucrar pelo direito que tem de explorar aquele espaço até 2015 - ou em alternativa negociar a prorrogação do contrato existente de forma a que a actual concessionária faça os investimento necessários, mediante o aumento do número de anos de exploração concedidos. Mais uma vez, não é verdade - pode fazer-se um concurso público para a construção de um terminal na Trafaria enquanto este está em actividade. Pode chegar-se à conclusão que é melhor mandar os contentores para Sines. E pode, sim, chegar-se à conclusão, que sim, é melhor ampliar o terminal de Alcântara - mas com uma argumentação baseada em estudos (já existem dois) e não em factos "inquestionáveis", com uma argumentação que tenha em conta todos os custos do projecto e não só aqueles que interessam, com uma argumentação sólida, pública e transparente - o que não é o caso. Foi adoptada a segunda alternativa, que me parece perfeitamente legal, mesmo face ao decreto-lei de 1994, que restringe a duração INICIAL do contrato a 30 anos, não sendo esta disposição aplicável a posteriores prorrogações justificadas com base no interesse público. A este respeito desafio-o e ver qual a duração real de concessão dos terminais de contentores do norte da Europa (existem casos de operadores com contratos de 60 anos), fruto do intenso crescimento e modernização desse negócio, que impõe investimentos constantes. A priori não tenho nada contra um período de concessão alargado: é óbvio que o investidor necessita de recuperar o investimento. Mas não ali. Estamos a hipotecar uma área nobre da cidade.

Nos portos do norte da Europa que conheço, as infrastruturas semelhantes à Doca do Espanhol foram atribuídas à náutica de recreio, e os terminais de contentores construídos nas periferias. Porquê?


A terceira alternativa, esperar por 2015 para realizar novo concurso que inclua as obra, parece-me a mais disparatada pois implica manter o terminal num ponto de saturação, com as péssimas acessibilidades que agora tem, durante mais 7 anos. Não é verdade: nada impede de se lançar agora um concurso para outro terminal. Ou utilizar esse prazo para lançar a construção da Trafaria, ou para se optar por Sines - daqui a sete anos já as acessibilidades a Sines deverão estar concluídas. E para se irem preparando outros usos para a Doca do Espanhol e para Alcântara.

O que penso é que a Liscont e o Governo deveriam explicara adequadamente estes factos às pessoas, que tendem a ser mais sensíveis as questões do urbanismo da (sua!?) cidade do que ao interesse nacional de um negócio (feio!) que não conhecem. Não é a Liscont e o Governo: é a APL e o Governo. A APL sempre foi um estado dentro do Estado, beneficiando justamente do facto de a maioria das pessoas desconhecer o negócio portuário. Esse stato quo em que acabar. A APL tem que habituar-se a prestar contas.

Duas ou três coisas, antes de terminar:
a) Sou um profissional da náutica de recreio, e o meu negócio beneficiaria grandemente com a presença de um porto de contentores em Lisboa. Intuitivamente, contudo, parece-me que a melhor solução para Portugal seria Sines. A questão não é portanto defender a minha capelinha, mas sim o que me parece melhor para o nosso país;

b) A náutica de recreio assusta as pessoas, porque pensam que se trata de meia-dúzia de ricos a gozar a vida num iate, rodeados de loiras platinadas em bikini. Não é verdade: a náutica de recreio é uma indústria que gera emprego e benefícios, já não é a actividade marginal que era há 30 anos; esses benefícios começam a estar quantificados, em França, no Reino Unido e em todos os países nos quais tem uma expressão importante. Deve ser tida em conta na utilização das áreas portuárias, ao mesmo título que os outros segmentos da marinha mercante.

Cordialmente,

Luis Serpa


Cumprimentos,
AFF

Adenda

Resumindo:
- De um ponto de vista económico, não me parece que as contas tenham sido bem feitas, porque não integram todos os componentes;
- De um ponto de vista técnico, não me parece que Alcântara seja "inquestionável", porque há estudos que apontam para a Trafaria. Desconheço se os há que comparem as opções Sines versus Lisboa. Se não há, devia haver; se há, deviam ser publicados e integrados no debate;
- De um ponto de vista estético, parece-me inquestionável - é uma aberração;
- De um ponto de vista urbanístico, idem.

Há matéria suficiente para se repensar a questão.

Confirmação

A ideia de que os portugueses "lá fora" são melhores do que "cá dentro" tem vindo a ser confirmada com a presidência de Durão Barroso. Tivesse ele sido tão bom cá como o está a ser lá.

Terminal de Contentores de Alcântara

Todos à Doca de Santo

A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante vai implicar a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo.

Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado.

O Tribunal de Contas em relatório de Setembro de 2007 sublinhava que a Administração do Porto de Lisboa (APL) é líder no movimento de carga contentorizada em Portugal, e apresenta desafogadas capacidades instaladas e disponíveis, para fazer face a eventuais crescimentos do movimento de contentores.

A prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara até 2042 que o Governo pretende concretizar neste momento com o Decreto-Lei n.º 188/2008, de 23 de Setembro, e que prevê a triplicação da sua capacidade afigura-se assim completamente incompreensível, desnecessária, e inaceitável para mais sem concurso público como é a pretensão presente.

Apesar da lei prever 30 anos para a duração máxima das concessões, com esta prorrogação a duração desta concessão será na prática, de 57 anos, o que, tal como o Tribunal de Contas sublinha, impede os benefícios da livre concorrência por encerrar o mercado por períodos de tempo excessivamente longos.

Com esta decisão do Governo perde a Cidade de Lisboa, perdem os cofres públicos, perde o sistema portuário nacional, no fundo perdem os portugueses.

Esta situação é inaceitável. Convidam-se todos os amantes de Lisboa a participarem numa acção de apresentação de um conjunto de acções de contestação na próxima 2ª feira, dia 27 pelas 19.30H na Doca de Santo, promovida por um conjunto de personalidades lisboetas.


Via Atlântico

25.10.08

¡No pasarán!

«Uma parede de aço desceu sobre a cidade».

A opinião pública começa, finalmente, finalmente, a ser alertada para o inqualificável aburdo que é a ampliação do terminal de contentores de Alcântara.

Neste artigo, António Costa ("António Costa: novo nó de Alcântara é «positivo»") faz afirmações que não são verdade:

- Não se trata de duplicar mas de triplicar. Não é anódino.
- Não é um "rearranjo do terminal existente". Isto não é propriamente um "rearranjo": "A intervenção Portuária, por sua vez, consiste na ampliação, reorganização e reapetrechamento do terminal de contentores de Alcântara com vista a atingir uma capacidade de um milhão de TEUs (um TEU equivale a um contentor de 20 pés) por ano [actualmente tem 350,000].

A intervenção integra ainda o melhoramento das acessibilidades marítimas, a criação de uma zona de acostagem e operação de barcaças, a construção de uma ligação ferroviária desnivelada entre o terminal e a Linha de Cintura e um feixe de mercadorias (doca seca)
, rondando o investimento os 348,4 milhões de euros."

E não fala de outras: alguém nos diz o que vai acontecer às embarcações de recreio que estão amarradas na Doca do Espanhol (ou de Alcântara, para os leigos)?


(Via Duro das Lamentações).

ASAE automóveis

Pergunto a mim mesmo como reagiriam os lisboetas se se aplicasse ao estacionamento selvagem a ferocidade com que a ASAE nos protege das bolas de Berlim na praia, dos criminosos charutos avulsos e de outras coisas perigosíssimas para a saúde.

Já agora, porque não incluir também no âmbito da ASAE os cocós de cão, os buracos no passeio e tudo o que aqui está tão bem descrito?

Talvez assim deixassem de ter tempo para idiotices e começassem a tornar esta cidade (e outras, o texto da Rititi tem comentários do Porto que o confirmam) mais habitável.

Sans nom / non


Montreux, Suiça - III


Montreux, Suiça - II


Bern, Suiça - II


Bern, Suiça


Montreux, Suiça

24.10.08

Sequência

Então é assim: começa-se por dizer que se quer uma música leve, nada que nos faça pensar, e muito menos ouvir. Escolhe-se o primeiro disco da Bruni (ainda não ouvi os outros) e de repentemente a música acaba; depois decide-se continuar na música feminina, e ouve-se Angelique Ionatos (de um dos meus discos favoritos, o que estou a ouvir. Infelizmente, não consigo pôr o video). Depois continua-se com Pietra Montecorvino. Então é assim: pensar é melhor.

Então é assim.


Pietra Montecorvino:


Angelique Ionatos:

O nosso umbigo

O narcisismo nacional tem duas formas de se manifestar e só na aparência se opõem. Uma consiste em reconduzir tudo a Portugal: "olha, esta laranja caíu da árvore", diz alguém. Resposta: "pois, só neste país é que se deixam as laranjas cair desta maneira. Ninguém toma conta de nada". "Tens razão, é um país de incompetentes". "É. Falta-nos..." e segue-se uma lista das coisas que nos faltam, à qual se segue a dos defeitos todos que temos.

A outra parece precisamente o contrário: "No aeroporto de Lisboa perdem-se muitas malas", lê-se no jornal. "Sim, mas havias de ver Madrid"; ou "Lisboa inunda ao fim de 20 minutos de chuva - ora, se fosse em Berlim teriam bastado 15. E aqui pelo menos temos sol, logo a seguir"; e segue-se uma lista das vantagens incomparáveis, únicas, de se viver "neste país".

A distribuição destes métodos pelas diferentes classes sócio-económicas é particular: na metade superior da curva coabitam, na inferior só há o primeiro. São as duas igualmente irritantes, mas não sei bem qual é mais.

Notre Dame - II


Notre Dame



...
Vôa, cavalo, galopa mais,
trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
para onde tendem as catedrais.

...

Reinaldo Ferreira
Cavalo de várias cores

Pico



A ilha do Pico, vista do S/Y "INDOMÁVEL".

PS - esta fotografia já aqui foi posta, creio. As minhas desculpas.

A Marca Amarela



No AQUARELLE tinha um pintor hiper-realista a bordo. Este foi o nosso desenho na muralha da Horta.