30.1.05

Estratégia

Quando me zango com o meu banco - o que acontece por vezes, e aconteceria muitas mais se aquilo fosse um banco e não, como é, uma casa de prego disfarçada - digo-lhe que não mudarei nunca para outro banco porque eles são todos iguais.

Aí está uma estratégia que se poderia aplicar aos políticos - com uma diferença fundamental: é que para o meu "banco", ter-me como cliente é uma punição; para um partido ter-me como eleitor não.

Factum

Um dia terás, penso, que escrever páginas inteiras, páginas luminosas, de palavras diluídas em água do mar, palavras que murmuram nas praias ao cair da noite, palavras que correm com as nuvens, deslizam com o vento e empurram as embarcações de vela - ou delas saiem, cintilantes, leves, alegres como o teu sorriso.

Vejo-te por vezes nessas palavras, com essas palavras, com elas te beijo, te amo.

Com elas te falarei das noites de lua cheia, ou das areias de certas praias que percorri, nas noites de lua cheia.


Serviço Público / Restaurantes

Ia-me esquecendo: o Skipper, na Marina de Cascais, claro.

Dias - II

Há dias assim, dias que começam com três horas no mar que valem por trezentas na terra, dias em que o sol aquece por fora e a atmosfera agradável do Skipper (e a sua abençoada picanha) por dentro, dias em que queria ter-te aqui comigo, na nossa mesa, a que tem a carta do Mediterrâneo, lembras-te?, dias de cantar laudas ao mar, à luz, ao sol e a quem teve, pela primeira vez, a ideia de atar um bocado de pano a um pau e assim fazer andar um barco pela água.

Serviço público / Filmes

"Closer / Perto demais": hesito entre classificá-lo como "uma merda" ou "uma grande merda". opto pela primeira hipótese: a Julia Roberts vale tudo, salva tudo.

Desafio

Desafio-te: qual de nós dois amará mais, melhor, mais tempo, o outro? Qual de nós dois será o primeiro a dizer "adeus"? Ou "boa noite, dorme bem"?

Pois,

ainda falta muito para a noite acabar. Ainda mais falta para ela começar.

O que deveríamos...

...fazer agora, amor, era aquilo que sempre fizémos: olhar para as palavras, que se esbatem lentamente nas margens dos nossos corpos, silenciosamente, e contá-las, como quem conta estrelas, ou sonhos, para dormir. Deveríamos olhar-nos, se olhos ainda tivéssemos, e perguntar-nos que fazem elas ali, essas palavras, essas vagas que na praia da tua e da minha pele se desfazem; deveríamos calá-las - as mãos não ouvem, nem o desejo.

Et après?

Et après, que se passe-t-il ? Après le désert, je veux dire, après les brûlures, après le silence d’une brève nuit, après le silence tout court?

Va savoir. Va savoir pourquoi je ne t'ai pas connu, pourquoi j'aurais tant aimé t'avoir aimé, pourquoi le silence des mots n'a jamais été remplacé par les mots du silence, pourquoi l'image ne pars pas, avec la lune, la lumière du jour, le paquebot plein de promesses?

Va savoir. Va savoir pourquoi mes mains cherchent encore dans le froid, dans la nuit, dans le futur, dans le souvenir d'une journée sans vent, ou - pire encore - dans le souvenir d'un vent sans journée?

Va savoir. Va savoir ce qui viendra après.

Futuro passado

Pensarei em ti, um dia, no passado: escreverei então a dor, a solidão, o bom que foi amar-te e por ti ter sido amado; lembrar-me-ei dos momentos que passámos juntos, e sofrerei decerto ao pensar nos que passámos separados; ouvirei Leonard Cohen, Miles Davis, ou um disco do Lou Reed chamado Magic and Loss, de que gosto particularmente; depois, aperceber-me-ei que todas as dores são iguais, e que estou igualmente farto delas todas.

Dias

Há dias assim: dias em que a tua ausência tem a força de um banco de nevoeiro, em que pensar em ti é como tocar um bloco de granito, um pedaço de terra, dias em que gostaria que o meu país mudasse, dias em que pudesse aprender a não pensar nos outros, em ti, no mar.

Há dias assim: dias em que me apetece pensar dos políticos o que penso dos padres, das freiras ou da minha primeira chucha.

Dias de ténue melancolia , tão bem definidos neste blog.

Serviço público / Bares

O Blueswing, em Cascais.

29.1.05

Dia Triste

Não há vento nem para apagar uma vela.

28.1.05

Aviso de busca

Procura-se: amor irrefutável. Deve andar por aí perdido há muitos anos, quem sabe. As descrições são contraditórias: ora alto ora baixo, loiro, moreno, ruivo, de olhos verdes, azuis ou negros, vá saber-se. Responde, ou já respondeu, a vários nomes, e já foi visto em diversos continentes: Europa, África, América Latina. Nada garante contudo que não more na porta ao lado, que não esteja no escritório, no cinema, no ginásio do bairro, que não frequente o mesmo café.

Alvíssaras a quem o trouxer de volta.

Dúvida - III

Não sei qual delas, mas ou a esperança ou a perseverança acabará por ganhar.

26.1.05

Diálogos possíveis

- Não sei separar-me delas.
- Mas sabes fazê-las separar-se de ti.
- É verdade. E depois fico triste, verdadeiramente triste.
- Claro - ninguém gosta de não ser desejado.

25.1.05

Noitiário

Às vezes passava as noites a escrever, e a sonhar: quando acordava de um sonho escrevia-o, quando acabava de escrever sonhava-o outra vez.

Diário

Naquele dia, antes de ir para casa, comprou um bonsaï. Gostava de ver aquelas arvores minúsculas, torturadas, atadas, cortadas, moldadas por forças que desconheciam, sobreviver - tantas vezes - a quem lhes fazia aquilo tudo.

Depois comprou uma garrafa de whisky, um CD e uma tesoura para moldar o bonsaï à sua maneira. Começou por lhe cortar os ramos baixos - "nada de diversões antes de atingirmos o objectivo", disse-lhe enquanto cortava os ramos inferiores, já demasiado espessos. Aplicou-se metodicamente à tarefa.

Depois pensou nela - que falta que lhe faziam as diversões, e os objectivos. Pensou nela metodicamente, como tudo o que fazia: começou pelos pés, subiu até ao ventre (onde se atardou um pouco; pensou que começava por baixo, sempre). Olhou em volta: dois barcos, um cabide barato e um estore japonês - não é muito, para quem tem as tuas aspirações. Felizmente, na secretária, o bonsaï trazia-lhe a terra, a força, a persistência. "Vou chamar-lhe Winston", pensou, antes de cair no sono, ou da varanda.

Acordou no dia seguinte, meio morto, num jardim. Lembrou-se que ela partiria hoje para Creta. Ainda correu, mas diversas queimaduras, e um estado geral de entorpecimento, impediram-no de a encontrar.

Nunca mais a viu, se bem que se lembre perfeitamente dos seus óculos, dos seus olhos, do seu nariz e dos seios, que mal tinha aflorado. Era americana, filha, irmã, ou futura mãe de um Winston. Não lhe tinha visto os pés, as coxas, a púbis - só as mãos, a face, os cabelos castanhos claros que lhe ocultavam o olho direito em diagonal, e que, abundantes, prometiam a sensualidade que só os cabelos compridos sabem ter. Começara por cima, desta vez, e as coisas deram erradas.

Não é contudo nela que pensa quando baptiza e corta o bonsaï. É em ti, na persistência do teu sorriso, na interminável extensão do teu ventre, no inescrutável enigma do teu sorriso, na inexplicável atracção que por mim sentes.

"Qué vaya, mano. Um bonsaï não é um vulcão, coño. Diz-lhe adeus, parte, vai-te antes que comecem a descobrir que não és mais do que uma pequena e desajeitada coisa, rodeada de mar, de mastros, de rumos desconhecidos, de bonsaïs trocistas. Não és feito para isto. Vai dormir. Vai calar-te."

24.1.05

Passa palavra

Um amigo, companheiro de vinhos e camarada de navegações, faz uma exposição dos seus quadros.

Vão ver, e passem palavra.


Resposta

Felizmente, as suas previsões não se concretizaram. O comboio não descarrilou na linha nº4 - descarrilou contudo mais tarde, já ele tinha chegado, jantado, e sentido por ela o desejo crescer. Fora esperá-lo à estação: no meio de toda aquela gente sentiu-se perdida, diluída. Muitos esperavam o mesmo comboio, muitos (ou muitas) esperavam o mesmo "ele". "Estou farta de esperar", pensou. "Tinha prometido a mim mesma que nunca mais cairia na armadilha da ausência, esse falso refúgio."

Contudo lá estava ela outra vez, à espera, na linha nº4, claro, a única que conhecia naquela estação. Quando viu o comboio entrar teve a percepção nítida que não pararia a tempo, e continuaria pela cidade dentro, tal como desejava senti-lo dentro dela.

Foram para casa preparar o jantar. Ouviram música, dançaram e fizeram o primeiro amor de pé, ao som de um “slow” qualquer. Depois deitaram-se. Mas ela não dormiu: "este comboio descarrilou", pensou, "este comboio vai descarrilar, hoje, amanhã ou depois."

Levantou-se, vestiu-se, e foi para um bar no Cais Sodré beber whiskies e tentar marinheiros bêbados. Quando chegou a casa ele já lá não estava.

23.1.05

Pynchon

Para quem gosta de Thomas Pynchon: um site apropriado.

Empresários

Todos os empresários são perfectionistas. Os bons empresários são aqueles que sabem tudo não é sempre perfeito, e que apesar disso o mundo continua.

Diálogos possíveis

- Até onde se pode ir de barco à vela?
- Até à felicidade.

Pareceres

Li recentemente um editorial do Público no qual se falava da enorme quantidade de pareceres que o Estado consome em Portugal, e do desperdício que eles representam.

Passei hoje o dia metido num congresso, e percebi o porquê de tantos pareceres: somos muito bons a fazer diagnósticos e muito maus a tomar as medidas geralmente correctoras e dolorosas que eles exigem; é portanto natural que façamos muito do que fazemos bem, e pouco do que fazemos mal.

22.1.05

Comparaison n'est pas raison

Os políticos portugueses, quando acusados de incompetência, ou incapacidade, defendem-se dizendo que não são muito piores do que os seus congéneres europeus. É verdade. Mas que outro país, europeu ou não, agracia os seus cidadãos - simultaneamente - com Albertos Joões Jardins, Luises Filipes Menezes, Narcisos Mirandas (et j'en passe) - e, gigantesca cereja no minúsculo bolo, ainda os obriga a escolher entre Santana Lopes e José Sócrates?

Dúvida - II

Que será pior? Ser atrasado mental, ou "adiantado" mental?

Diálogos possíveis

- O teu Don Vivo está cada vez pior!
- Isso é indubitavelmente verdade. Mas devias ver a prodigiosa subida do meu score no FreeCell...

Vingança

Pode não se gostar da vingança, mas forçoso é reconhecer que sem ela o mundo seria muito pior.

Diálogos possíveis

- Sou claustrófobo.
- Afectivo?

(Com, e para, a M. H.)

21.1.05

Sugestão

Um título no DN de hoje (ou se calhar sub-título, não o encontrei no site do jornal) indica "a casa e o carro" como os grandes objectos do desejo de compras dos portugueses. Se comprassem um mobile home satisfaziam as duas necessidades ao mesmo tempo, e ainda poupavam dinheiro.

20.1.05

Leituras diferentes

Dizer que não sou grande fan da Microsoft é um understatement dos grandes; mas da leitura deste post faço uma dedução completamente diferente da de Nuno Guerreiro: dos comentários não se pode, parece-me, deduzir que o autor "[foi] impiedosamente mastigado pelas rodas dentadas de uma burocracia “deslocalizada”".

Antes pelo contrário: a atenção dada pela empresa ao post é surpreendente. (E o adjectivo "deslocalizado" está a mais, mas isso é outra história). A importância que mega-empresas como a Microsoft, a Vodafone e muitas outras dão a estes fait divers é a confirmação da mudança do centro de poder nas empresas do accionista para o cliente que, apesar de já estar estabelecida não deixa de ser recente, e agradável. E que alguns sectores da economia portuguesa bem podiam adaptar, claro (e não me refiro só á Banca).

Finalmente

Os blogs entram definitivamente no mainstream. Tal como no resto da imprensa e da produção escrita, o nível geral era baixo, com algumas excepções (o Don Vivo não sendo, infelizmente, uma delas). Mas com coisas destas a indigência política junta-se a nós. E não tive acesso a este, provavelmente semelhante.

Até que enfim!

PS - Enviei um comentário (por mail) a este último blog. A ideia inicial era reproduzir mais ou menos o post acima, mas ao ser escrito foi evoluindo:

"Caro Sr. António José Seguro,

O problema dos blogs de políticos é que tornam a tão mal nomeada blogosfera igual (mais igual, se preferir) à “outra” esfera. Num país em que a escolha é entre Sócrates e Santana, há-de convir que se trata de uma “normalização” dispensável. Tendo vivido mais de metade da minha vida adulta no estrangeiro (principalmente Europa e África) sei que a tão badalada má qualidade dos políticos portugueses não é exclusiva, infelizmente. Mas enfim, é cá que votamos, é cá que sofremos os resultados das incompetências, compadrios, conservadorismos de esquerda e de direita...

Escrevo isto, e apercebo-me que não tenho razão: devemos saudar a entrada na blogosfera dos políticos - que outro meio me permitiria dirigir-me a si tão directa, tão imediatamente?

Melhores cumprimentos,"


(O texto foi ligeiramente editado)

Tristeza, espanto?

É assim que aquilo que em França passa por um jornal de referência fala de Bush e de Condoleezza Rice. Meu Deus, se falam assim destes dois, que termos utilizarão para falar de Chirac, do inefável Arnaud de Montbourg, do indescrítivel Jack Lang, de Martine Aubry, autora dessa maravilha da economia voodoo que é a lei das 35 horas?

19.1.05

Má consciência

Incluindo António Mexia no seu Governo, José Sócrates aliviaria muita da má consciência que vou ter se votar nele.

18.1.05

Vida: uma receita

A receita é simples: põem-se num caldeirão meia dúzia de estrelas, uma desenfreada capacidade de sonhar, umas cervejas, uma garrafa de vinho tinto Haut Marbuzet (1996 de preferência, se faz favor, obrigado), uma furiosa vontade de trabalhar e outra de amar ou ser amado, algumas mulheres bonitas (e outras feias), a ideia básica e irrefutável que amanhã será melhor do que hoje e pior do que depois de amanhã; cobre-se com água do mar. Deixa-se apurar durante uma boa parte do tempo. No momento de servir, chamam-se bancos, burocratas, administradores diversos e os chatos, todos. A coisa esturrica. Antes que queime completamente avisam-se os amigos, abre-se uma garrafa de champagne, faz-se um filho ou dois e serve-se, no Lago Tanganika, em Cape Town, num bistrot parisiense, num pub londrino, em plena Gulf Stream, numa paisagem gelada do Extremo Oriente russo, num dia de calma podre no Oceano Atlântico, numa tasca de Lisboa, na praia do Guincho, na serra de Sintra, num daqueles sítios do Zaire nos quais somos obrigados a reconhecer a profunda e fundamental incoerência de Deus, nos teus olhos, no Canal de Panamá, ao largo de Istambul, em Al Iskandiriah, numa estrada da Patagónia, nas Tobago Kays.

Deixa-se arrefecer lentamente - se necessário, soprar com os alíseos, com a nortada, com o meltem, com um sudoeste na Gasconha, com a tramontana, com as tuas mãos nas minhas costas, com um passeio ao longo do Rift, com um whisky ao pôr do sol, com o choro de uma criança que nasce ou o riso de outra que cresce, com uma evacuação de urgência debaixo de fogo, com uma festa à vida num planalto do Burundi, com uma cena de pancadaria num porto do Mar Negro, com os cânticos de Hildegarde von Bingen, a 2ª sinfonia de Mahler, o trompete de Miles Davis, os madrigais de Gesualdo, com os poemas de Pedro Támen ou um romance do Thomas Pynchon, uma lagosta grelhada numa praia das Grenadines.

Nunca chega, por mais que se faça.

Um post nombrilista (ou "umbiguista"?)

Random
You are a Random cat! Also known as an alley cat
or a mutt. You aren't given to high-falutin'
ways, but you're accessible and popular.
People love you for who you are, not what you
are.


What breed of cat are you?
brought to you by Quizilla. Última escala: Rititi.

PS - não é o post que é nombrilista (ou "umbiguista"? Ou "estúpido", só?); sou eu que estou cansado. Boa razão para elevar o nível médio do Don Vivo.

15.1.05

Serviço Público / Restaurantes

Évora

Taberna Típica Quarta-Feira, rua do Inverno 16-18, Tel. 266 707 530.
Fecha ao domingo. Infelizmente.

Diálogos possíveis

- A verdade é que estou apaixonado - disse ele.
- Claro, - respondeu ela. - Resta saber por quem, e por quanto tempo.

14.1.05

Diálogos possíveis

- Um dia que começa contigo ao lado é outro dia.
- Todos os dias são outro dia.

13.1.05

Serviço público / CDs

"Wagner e Venezia", Uri Caine Ensemble, W & W 910 013-2

12.1.05

Similitudes

A psicanálise parece-se com a burocracia: para justificar a sua própria existência procura sempre a maneira mais complicada de explicar qualquer coisa.

Pedagogia

Muito melhor do que dar dinheiro a um filho para corrigir os seus erros, é dar-lho para que ele não os cometa.

Um conselho

Não exportes a tua dor, ninguém a quer. Nem a alegria, de resto: ambas interessam muito pouco a muitos poucos.

Serviço Público / Livros

(Não tenho os livros comigo, não posso portanto dar todos os pormenores):

- "Everything is Illuminated", Jonathan Safran Foer;
- "Atonement", Ian McEwan;
- "The Human Stain", Philip Roth;
- "Disgrace" e "Elizabeth Costello", J. M. Coetzee;
- "Le Chercheur d'Or", "Terra Amata", "Onitsha", J. M. G. Le Clézio
- "Ivresse de la Métamorphose", "Le Joueur d'Échecs", "Amok", Stefan Zweig

11.1.05

Reciprocidade

A vontade de votar PS é grande, muito grande, sobretudo para barrar o caminho ao populismo e à mediocridade em Portugal - mas será que daqui a quatro anos os socialistas votarão no PSD só para afastar o Sócrates?

Função Pública

Ontem ouvi a Sra. Helena Roseta falar na televisão. A experiência é confrangedora; eles de facto não aprendem. Para a Sra. Arquitecta, a prioridade é o crescimento, não é "a Função Pública". Claro que saber como se pode crescer sem cortar (entre muitas outras coisas) na "Função Pública", papão uno e indivísivel, que tanto jeito dá a todos, ela não explicou.

E tão pouco disse uma coisa que deve estar podre de saber: é que o peso excessivo dos funcionários não se manifesta só directamente através, por exemplo, dos custos salariais. Há um outro efeito, muito mais pernicioso se bem que indirecto: é que a única forma de um funcionário inútil justificar o seu posto de trabalho é dizer que não. Dizendo que sim, não só ninguém dá por ele como ainda por cima reforça, pensa correctamente, a ideia mais do que justa que ele não está ali a fazer nada.

10.1.05

Viagens

À partida a ideia é gira, mas depois aparece um pouco enganadora: dos Estados Unidos, por exemplo, só conheço duas cidades, tal como da Rússia.



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(Via Fora do Mundo)

9.1.05

Um vida

Se um dia eu escrevesse a minha autobiografia, o título seria "À espera". Que azar, eu que tanto detesto esperar.

"Vem, vamos embora,
que esperar não é saber.
Quem sabe faz a hora,
não espera acontecer"

dizia uma das raras canções "de intervenção" de que jamais gostei (é de um brasileiro chamado Geraldo Vandré).

Serviço público / CDs

"Travellin' in Soul Time", Mal Waldron (piano), Jeanne Lee(voz), Toru Tenda(flauta), BVHaast CD9701.

Jeanne Lee é uma das melhores cantoras de Jazz de sempre. Qualquer disco dela ou com ela é recomendável.

7.1.05

Natureza Humana

O que é que os nossos reis apreciaram mais - a Conquista ou a Reconquista? Esta última, suponho.

Serviço Público / Restaurantes

Lisboa

Pescaria - um excelente restaurante para peixe.
Cais da Ribeira Nova, Armazém B, Porta 18/19 (Cais do Sodré, do lado do rio, na zona onde era antigamente o mercado do peixe).
213 463 588

Nariz de Vinho Tinto - um dos melhores restaurantes de comida tradicional portuguesa que conheço em Lisboa.
Rua do Conde 75 (Lapa) 213 953 035. Fecha às segundas.


Genève

La Bourlingue - O nome diz tudo.
9, ruelle du Couchant (Rive). 022 735 1100

Chez Marius - um pequeno e excelente Bar à Vins que também serve refeições, com uma lista pequena mas excelente.
9, place des Augustins - 022 320 6239

Le Thé - mais um restaurante que o é sem o ser: é uma casa de chá onde ao meio dia se pode petiscar chinês. Minúscula, também, e excelente, também - tanto a casa de chá, com uma variedade de chás de fazer empalidecer o mais chinês dos clientes, como a cozinha. E ainda vendem acessórios: chaleiras, chávenas, etc.
65 rue des Bains - 022 329 0616

La Gazelle d'Or - Já lá não vou há muito tempo. Na altura, um dos melhores etíopes da cidade.
55, rue de Lyon - 022 340 3350

Café-Restaurant du Lac, Nernier (em França, perto de Genève). Nernier é uma aldeiazinha à beira do lago, muito bonita, que vale a pena ir visitar.
+33 4 50 72 80 52 (telefonando da Suiça)


Paris (XVème)

Chez Papa - especialidades do Sudoeste, aberto até tarde.
101, rue de la Croix Nivert. 01 48 28 31 88

Café du Commerce - uma bonita e clássica brasserie parisiense, que conheci graças a uma amiga querida, a quem aqui deixo a minha mais eterna gratidão, e não só.
51, rue du Commerce. 01 45 75 03 27


Cascais / Estoril

Enoteca - boa comida, boa música, bons vinhos e bom serviço. Que pedir mais?
Rua Nova da Alfarrobeira, 14, Cascais. 214 822 328

Refúgio - um excelente chinês, caseiro, barato e não muito longe de outro excelente chinês (o Mandarim, no Casino) menos caseiro e mais caro.
Rua Maestro Lacerda, 16, Estoril. 214 663 966

Visconde da Luz - cozinha tradicional portuguesa com um serviço tradicional português e a simpatia e o brio tradicionais portugueses.
Jardim Visconde da Luz. 214 847 410


Uma lista subjectiva, forçosamente subjectiva; a continuar, dada a vocação de serviço público que de repente acometeu o Don Vivo, coitado.

Uma pergunta

A grande objecção que tenho contra os blogs, já aqui o disse uma vez, é a falta de pudor - sobretudo, claro, os que como o Don Vivo têm uma irremediável e congénita tendência para se debruçar sobre o mundo interior (passe o manifesto exagero, no que me respeita) dos seus autores. Não seria possível fazer um blog póstumo?

5.1.05

Serviço Público / Livros

François Ansermet e Pierre Magistretti, " A Chacun son Cerveau - Plasticité neuronal et inconscient", ed. Odile Jacob, Paris, 2004.

O título deixa pressupôr que todos nós, eu incluido, temos um cérebro; apesar desse pequeno lapso, recomendo o livro a todos os que se interessam - mas só a quem se interessa - por neurobiologia e psicanálise. Trata-se de uma tentativa (mais uma?), de validação das teses psicanalíticas pela neurobiologia. De passagem, inclui também alguns lacanismos - tant qu'à faire....

Nao sou especialista de nenhuma das disciplinas e antes de formar opinião sobre a tese do livro - a saber, que graças à "plasticidade neuronal" as representações se inscrevem nos circuitos neuronais com tanta intensidade como se de percepções se tratassem - gostaria de ler uma ou outra refutação.

Mas é inegável que o livro está bem escrito, claro, perceptível, as hipóteses bem sustentadas. Estou a perceber tudo.

A BA do dia

A boa acção de hoje foi ter ido almoçar ao restaurante "O Aldeão" (Largo de S. Pedro, 54 - 57, Faro, Tel. 289 823 339).

É verdade que fui eu o beneficiário, o único beneficiário - mas quem se vai importar com um pormenor desses?

Uma recomendação especial para as Migas de Bacalhau com Couve. Fizeram-me pensar numa peça de jazz: distinguem-se cada um dos componentes, e o conjunto é melhor do que a soma deles.

O serviço foi impecável, e o preço também. Estou grato, e lamento não poder fazer BAs destas todos os dias.

3.1.05

Serviço público / Vinho

Château Haut-Marbuzet 1995, 1996, 1997 (foram as colheitas bebidas até agora).

"Um bom vinho é aquele que me faz dar um salto na cadeira" , dizia, clarividente e rigoroso (sem ironia), um crítico de vinhos inglês, claro. O Château Haut-Marbuzet foi o que me fez dar os maiores saltos, a cada prova repetidos.

("Prova" é um manifesto eufemismo, ou exagero, conforme preferir).

Semântica, etimologia et al.

Sinopse e sinapse terão alguma raiz comum?

A excepção e a lógica

a) Aqueles que me conhecem sabem que sou um homem frugal, austero, um verdadeiro estóico dos tempos modernos, pouco dado aos prazeres, sejam eles quais forem - excepto, claro, os da mortificação, do sofrimento, da auto-flagelação;

b) Quem segue o Don Vivo sabe que sou pouco dado a links.

Hoje, por motivos incompreensíveis e totalmente subjectivos, abro uma excepção a estas duas normas, e aqui deixo um caminho.

Ou serão duas excepções?

Se ao menos

Da televisão francesa: "Jacques Chirac observou hoje um minuto de silêncio em memória das vítimas do maremoto".

Não poderia ser um ano?

Sina

No Público de hoje: "Sociedades estáveis tendem a desenvolver grupos de interesse especial focalizados na acção redistributiva para si próprios, cujo efeito é o de entravarem a inovação tecnológica e o crescimento económico.

É decerto sina minha, ter que andar sempre à cabeçada com esses (enfim, alguns desses) grupos.

E continua: "Na realidade, há os grupos que se conseguem organizar de forma eficaz e que beneficiam de rendas e benesses especiais, enquanto há outros que permanecem latentes ou por não terem voz ou por não terem instrumentos eficazes de pressão política." Eu confirmo, se bem que grupo só o seja informal, ou assincrónico...

No Economist,

esse arauto do capitalismo desenfreado, do neo-que horror!-liberalismo (se fosse só do "velho" liberalismo, seria melhor?), um magnífico artigo de opinião de Tony Blair, que nos ajuda a confirmar a ideia que é um grande homem de estado, quase ao nível de Margaret Thatcher.

Espera-se com bastante interesse, claro, a resposta construtiva dos anti-mundialistas, anti-G 8, anti-capitalistas, anti-racistas, pró-Mugabe e pró-Eduardo dos Santos.

2.1.05

Almoço improvisado - Batatas com queijo fundido

O ponto de partida foi um refogado, de echalotas em manteiga - não é pior que o azeite, e sempre muda um bocadinho. Quando as ditas estavam douradas, juntei-lhes o tomate cortado aos bocadinhos, uma quantidade boa de rosmaninho fresco, pimenta e sal. Como o tomate não era muito, não esperei muito até tudo estar seco outra vez; juntei então as batatas cozidas e cortadas aos bocados. Subi o lume, até aí fraquinho. Antes de o apagar (ou seja, quando as batatas estavam, elas também, douradas) um bocado de Tilsit seco e rapado foi servir de elemento unificador, três ou quatro minutos até fundir.

Se não tiver Tilsit, o Queijo da Ilha substitui-lo-á eficazmente.

Bom apetite.