Um bom argumento em favor da independência dos bancos centrais não tem nada a ver com o dogma liberal, mas sim com a boa e sã desconfiança. Antes, é óbvio, políticos a governar do que generais, ou padres. Mas quanto menos poderes eles tiverem, melhor. Sarkozy bem pode berrar contra o BCE, mas Deus nos livre de uma vitória sua nessa quixotesca batalha.
Foi ele também que teve a luminosa ideia de cortar os fundos europeus aos países que tivessem taxas fiscais inferiores à média europeia - essa parece que já abandonada, pelo menos por agora.
É mais ou menos evidente para quem não esteja de má-fé que os problemas da França têm pouco a ver com as taxas de juro - com as mesmas taxas, a Alemanha, ou a Espanha (para citar só dois), têm um crescimento bastante razoável, pela razão simples que fizeram as reformas que tinham de fazer (poucas e tarde, mas isso só demonstra a necessidade das reformas, mesmo parciais).
Sarkozy - que de resto penso ser de longe a melhor escolha para França - devia começar por arrumar a casa, antes de atirar a culpa para os vizinhos.
Um outro argumento é a inutilidade: alguém acredita que Portugal ganhou com as desvalorizações constantes, o crawling peg, e a inflação a 36%? Eu não.
30.7.07
Serviço Público - Discos
3 CDs 3 pérolas de Frank Sinatra pela módica quantia de €12,45 é uma pechincha, ao alcance de todas as bolsas, todas, mesmo as que não são bolsas.
Numa Valentim de Carvalho perto de si.
Frank Sinatra, The Platinum Collection (The Best of the Capitol Recordings), EMI 7243 8 64765 2 4
Numa Valentim de Carvalho perto de si.
Frank Sinatra, The Platinum Collection (The Best of the Capitol Recordings), EMI 7243 8 64765 2 4
Passeios a pé
Em Bujumbura (Buja, daqui em diante), as regras de segurança eram severas. Não podíamos, por exemplo, atravessar uma rua da largura da Marginal a pé: tinha que ser de carro. As regras não eram estúpidas, antes pelo contrário, faziam sentido; mas por vezes não as respeitava.
A que mais infrigi era a da manhã: acontecia-me frequentemente ir passear para as margens do lago, quando havia dois riscos - os hipopótamos, e aquilo a que localmente se chamava "assaillants". Sempre me levantei cedo, e as margens do lago eram, a essa hora, de uma beleza irresistível.
Se quanto aos assaltantes as estatísticas eram escassas - provavelmente por falta de assaltados - já os relatórios de ataques por hipopótamos, ou incidentes com eles, abundavam.
A temperatura era fresca, quase fria, e a luz vertiginosa, de tão límpida, clara, cristalina. As montanhas do outro lado libertavam-se, pouco a pouco, dos farrapos de nuvens que a condensação, de uma forma anárquica e incompreensível (mas com um resultado invariavelmente belo) deixava nos inúmeros desfiladeiros que as entrecortavam. Pareciam bocados de algodão numa árvore de Natal, o que não deixava de me surpreender, num país do qual o Pai Natal estava tão visivelmente ausente.
Eu ia passear, lamentando não poder ter uma máquina fotográfica, com os sentidos alerta, todos: os hipopótamos correm a velocidades alucinantes mal se sentem separados da água, os assaillants não deixavam de ser um risco, e os próprios colegas tão-pouco - um dia um deles viu o meu carro ali parado, vazio, e quase lançava um alarme antes de falar comigo pela rádio.
Era um dos meus momentos favoritos do dia: não havia vivalma, o cenário era belo de morrer, com as abruptas montanhas do lado zairense, as espraiadas costas do lado burundês, a "clandestinidade", o prazer simples, claro, evidente, que andar é.
Hoje não havia animais selvagens, as praias estavam cheias de gente, a adrenalina estava ausente, coitada, mas o prazer de passear no Paredão num fim de uma tarde de verão era o mesmo.
A que mais infrigi era a da manhã: acontecia-me frequentemente ir passear para as margens do lago, quando havia dois riscos - os hipopótamos, e aquilo a que localmente se chamava "assaillants". Sempre me levantei cedo, e as margens do lago eram, a essa hora, de uma beleza irresistível.
Se quanto aos assaltantes as estatísticas eram escassas - provavelmente por falta de assaltados - já os relatórios de ataques por hipopótamos, ou incidentes com eles, abundavam.
A temperatura era fresca, quase fria, e a luz vertiginosa, de tão límpida, clara, cristalina. As montanhas do outro lado libertavam-se, pouco a pouco, dos farrapos de nuvens que a condensação, de uma forma anárquica e incompreensível (mas com um resultado invariavelmente belo) deixava nos inúmeros desfiladeiros que as entrecortavam. Pareciam bocados de algodão numa árvore de Natal, o que não deixava de me surpreender, num país do qual o Pai Natal estava tão visivelmente ausente.
Eu ia passear, lamentando não poder ter uma máquina fotográfica, com os sentidos alerta, todos: os hipopótamos correm a velocidades alucinantes mal se sentem separados da água, os assaillants não deixavam de ser um risco, e os próprios colegas tão-pouco - um dia um deles viu o meu carro ali parado, vazio, e quase lançava um alarme antes de falar comigo pela rádio.
Era um dos meus momentos favoritos do dia: não havia vivalma, o cenário era belo de morrer, com as abruptas montanhas do lado zairense, as espraiadas costas do lado burundês, a "clandestinidade", o prazer simples, claro, evidente, que andar é.
Hoje não havia animais selvagens, as praias estavam cheias de gente, a adrenalina estava ausente, coitada, mas o prazer de passear no Paredão num fim de uma tarde de verão era o mesmo.
29.7.07
Tabu Ley
O som é horrivel, mas a) há compensações, e b) como acabar uma série sobre música congolesa (na sua maioria) e não mencionar Tabu Ley?
Kaful Mayi
Assembla Lela
Kaful Mayi
Assembla Lela
Sam Mangwana
Para terminar esta série, duas canções do pai deles todos (enfim, um dos pais de alguns dos músicos do Congo...), Sam Mangwana: Maria Tebbo e Bana Ba Cameroon
Papa Wemba
Um dia fui assistir a um concerto de Papa Wemba, em Kinshasa. Estava marcado para as dez da noite; começou à uma e meia da manhã, o que não foi considerado muito mau, pelos mais conhecedores. O pior foi que ele só cantou meia hora, e foi-se embora, indiferente aos encores.
O homem canta como um deus, e comporta-se como um rufia.
O homem canta como um deus, e comporta-se como um rufia.
Il faut être moderne
Recentemente, o o nosso Primeiro e moderno Ministro apresentou, como prova da modernidade de Portugal, a recente aprovação da lei do aborto.
Hoje, no Público (não consegui encontrar o link para a notícia), vejo que se chega a esperar 10 anos, 10, por uma operação de oftalmologia, na região de saúde do Norte, e que há 11,547 pedidos de consulta com mais de um ano.
Talvez fosse de imitar o Ministério da Justiça, e colocar hospitais no Second Life.
Hoje, no Público (não consegui encontrar o link para a notícia), vejo que se chega a esperar 10 anos, 10, por uma operação de oftalmologia, na região de saúde do Norte, e que há 11,547 pedidos de consulta com mais de um ano.
Talvez fosse de imitar o Ministério da Justiça, e colocar hospitais no Second Life.
Steeleye Span
Em Gibraltar havia um bar frequentado pelos soldados ingleses, que na altura eram inúmeros. Tinha um bouncer árabe, imperial (já por aqui falei deles, bar e árabe, há tempos, lá para trás).
Um dia, um dos soldados, que costumava levar uma guitarra e tocar no meio de uma inacreditável algazarra (o bar estava sempre cheio) tocou uma canção da qual gostei muito.
Disse-me que era dos Steeleye Span, e aconselhou-me dois discos deles: "All Around My Hat" e "Below the salt". Não me falou em Maddy Prior - deve ter considerado, justamente, que eu a encontraria sozinho.
All Around My Hat
Padstow
Cam Ye O'er Frae France
Um dia, um dos soldados, que costumava levar uma guitarra e tocar no meio de uma inacreditável algazarra (o bar estava sempre cheio) tocou uma canção da qual gostei muito.
Disse-me que era dos Steeleye Span, e aconselhou-me dois discos deles: "All Around My Hat" e "Below the salt". Não me falou em Maddy Prior - deve ter considerado, justamente, que eu a encontraria sozinho.
All Around My Hat
Padstow
Cam Ye O'er Frae France
28.7.07
Dias
Há dias que se salvam por cinco minutos de felicidade (ou ilusão, para os mais cépticos). Quantos minutos como esses serão necessários para "salvar" uma vida?
Contas
Quando se diz "Aborto custa x à Madeira" (ou seja a quem for) não esquecer de deduzir dos custos o montante dos incentivos à natalidade.
Adivinha
"dont le gouvernement erratique et dangereux se caractérise par une pensée rétrograde et fondamentaliste qui ne laisse pas de place à l'analyse rationnelle".
Quem disse isto, sobre quem?
Resp.: Raul Castro, esse farol do pensamento político moderno, racional e pragmático, sobre Bush.
Quem disse isto, sobre quem?
Resp.: Raul Castro, esse farol do pensamento político moderno, racional e pragmático, sobre Bush.
Pesadelos
O pesadelos são o método que a natureza inventou para nos impedir de nos esquecermos de nós, mesmo quando dormimos.
Retrato imaginário
Uma mistura de comprimidos e tubos, da qual o desejo estava, finalmente, ausente.
Tractor, Cognac
O filme passa-se lá atrás. Concentrado, guias o teu tractor, consciente da tua inutilidade, da tua solidão.
La Chaux-de-Fonds, janela
A neve parece desenhada à mão, como a tristeza da cidade, tão imóvel, tão parada, tão deserta.
Mastros em Las Palmas
O fim de tarde escureceu. Aproximava-se um aguaceiro. Só nos mastros, inúmeros, havia sol.
A rapariga no mercado de Plainpalais
Não me convences, com esse olhar. És demasiado séria para ser verdadeira; e eu não serei nunca capaz de tanta verdade.
Justine
«How is it that you are so much one of us and yet... you are not? (...) You are a mental refugee, of course, being Irish, but you miss our 'angoisse'».
Lawrence Durrell, "Justine".
A Irlanda é aquilo que Portugal será, se e quando quiser ser mais do que um país de "refugiados mentais".
Lawrence Durrell, "Justine".
A Irlanda é aquilo que Portugal será, se e quando quiser ser mais do que um país de "refugiados mentais".
Não, querida....
- F... a noite toda não vai resolver nada, nunca resolveu nada, nunca começou ou acabou fosse o que fosse. É uma consequência, só.
- A melhor de todas, ou a única boa?
- A melhor de todas, ou a única boa?
27.7.07
Cioran e os gelados Santini
"Somos uns farsantes", dizia Cioran. "Sobrevivemos aos nossos problemas". Se o grande moralista vivesse em Cascais formularia o silogismo de outra maneira. Qualquer coisa que pusesse em relação os problemas e os Gelados Santini.
Experimentem (e é só um exemplo) uma mistura de Torrone, Caramelo e Limão - não há problema, aflição, dificuldade que lhe resista.
Experimentem (e é só um exemplo) uma mistura de Torrone, Caramelo e Limão - não há problema, aflição, dificuldade que lhe resista.
"Uma ampla operação terrorista"
Não é só o Público, coitado, que tem gralhas, erros e asneiras de bradar aos céus. O Correio da Manhã também:
"A ETA voltou a sofrer ontem um pesado revés ao perder o número três da sua estrutura durante uma ampla operação terrorista realizada pela polícia francesa com a colaboração das autoridades espanholas."
"A ETA voltou a sofrer ontem um pesado revés ao perder o número três da sua estrutura durante uma ampla operação terrorista realizada pela polícia francesa com a colaboração das autoridades espanholas."
Tudo acontece
Por uma vez, estou de acordo com Alberto João Jardim.
Pode estar-se a favor da legalização do aborto, mas ser contra o facto de eles serem feitos em hospitais públicos, que já não chegam para aquilo que têm realmente de fazer - tratar quem está doente. Nem a gravidez é uma doença, nem o aborto um tratamento.
Adenda - "O aborto no SNS não foi referendado
Vale a pena lembrar de vez em quando que o Alberto João Jardim não tem poderes para proibir o aborto na Madeira. Quem o quiser fazer em clínicas privadas é livre de o fazer. O que o Alberto João Jardim está a contestar é o aborto nos serviços públicos de saúde da região autónoma. O aborto nos serviços públicos de saúde não foi referendado. O que foi referendado foi a despenalização do aborto."
Pode estar-se a favor da legalização do aborto, mas ser contra o facto de eles serem feitos em hospitais públicos, que já não chegam para aquilo que têm realmente de fazer - tratar quem está doente. Nem a gravidez é uma doença, nem o aborto um tratamento.
Adenda - "O aborto no SNS não foi referendado
Vale a pena lembrar de vez em quando que o Alberto João Jardim não tem poderes para proibir o aborto na Madeira. Quem o quiser fazer em clínicas privadas é livre de o fazer. O que o Alberto João Jardim está a contestar é o aborto nos serviços públicos de saúde da região autónoma. O aborto nos serviços públicos de saúde não foi referendado. O que foi referendado foi a despenalização do aborto."
26.7.07
Um post objectivo
Por razões que me parecem límpidas, consensuais, claras e aceites por todos, acho que a vela é a actividade mais bonita que existe.
Esta fotografia nem sequer é a melhor que conheço dos Skiffs 18' - se o Júlio Quirino estivesse no Grand Prix da Dinamarca teria feito dezenas de imagens como esta:
que, devo reconhecê-lo, é uma das minhas fotografias de 18' favoritas, de longe, porque é perfeita e porque é em Cascais.
No MY Image, o site do Philippe Schiller e do Loris von Siebenthal, há belíssimas imagens de vela - digo isto apesar de ser amigo do Philippe e do Loris, não por ser amigo deles, claro.
E isto, no You Tube:
Lindo, não é? Eu ainda não me fartei destas imagens, porque só as vi cerca de 339 vezes (refiro-me, claro, à sequência completa, não a estes míseros 90").
Já agora, só para terminar, uma fotografia do 18' com foilers do Philippe:
E esta, feita pelo Philippe, do 18' do Thomas Jundt, o outro 18' com foilers de Genève:
Para não se ficar com a impressão que a vela se resume aos 18', ficam aqui alguns minutos de 60' multicascos na brisa:
Outro video que já vi cerca de 400 vezes, mas do qual não consigo cansar-me:
Esta fotografia nem sequer é a melhor que conheço dos Skiffs 18' - se o Júlio Quirino estivesse no Grand Prix da Dinamarca teria feito dezenas de imagens como esta:
que, devo reconhecê-lo, é uma das minhas fotografias de 18' favoritas, de longe, porque é perfeita e porque é em Cascais.
No MY Image, o site do Philippe Schiller e do Loris von Siebenthal, há belíssimas imagens de vela - digo isto apesar de ser amigo do Philippe e do Loris, não por ser amigo deles, claro.
E isto, no You Tube:
Lindo, não é? Eu ainda não me fartei destas imagens, porque só as vi cerca de 339 vezes (refiro-me, claro, à sequência completa, não a estes míseros 90").
Já agora, só para terminar, uma fotografia do 18' com foilers do Philippe:
E esta, feita pelo Philippe, do 18' do Thomas Jundt, o outro 18' com foilers de Genève:
Para não se ficar com a impressão que a vela se resume aos 18', ficam aqui alguns minutos de 60' multicascos na brisa:
Outro video que já vi cerca de 400 vezes, mas do qual não consigo cansar-me:
25.7.07
Beam me to the other side of the pond, Scotty
"Franck Cammas a traversé l'Atlantique nord en moins de cent heures"
Espero que a moda dos recordes passe depressa. Mas é impossível não reconhecer que isto é emocionante.
Aqui em inglês, e aqui em francês.
Espero que a moda dos recordes passe depressa. Mas é impossível não reconhecer que isto é emocionante.
Aqui em inglês, e aqui em francês.
Uma previsão errada
Ao contrário do que previ, a America's Cup vai continuar em Valência.
Uma outra notícia interessante é que Russell Coutts vai liderar o desafio de Larry Ellison (Oracle / BMW - enfim, é uma notícia, não é uma surpresa). A ver qual o impacto disto na World Sailing League, a competição que Russell Coutts lançou em parceria com a João Lagos para competir com a America's Cup.
Uma outra notícia interessante é que Russell Coutts vai liderar o desafio de Larry Ellison (Oracle / BMW - enfim, é uma notícia, não é uma surpresa). A ver qual o impacto disto na World Sailing League, a competição que Russell Coutts lançou em parceria com a João Lagos para competir com a America's Cup.
24.7.07
Semântica e saúde
Ainda o ranking da OMS: os indicadores da saúde podem ser bons. O Serviço de Saúde não tem muito de serviço, e o que tem não é bom.
Rankings
Portugal tem, diz a OMS, o 12º melhor serviço de saúde do mundo. Eu não sei se o tempo de espera nos hospitais é um dos critérios, mas se for o nosso ranking vai de certeza melhorar: "Mulheres que querem fazer um aborto têm que ser atendidas em cinco dias, quando uma consulta de ginecologia pode demorar meses"
Metempsicose
As pessoas que acreditam na metempsicose são simplemente doentes que aspiram, compreensivelmente, a um corpo em boa forma.
23.7.07
Queda
Quando caía, ele tinha por hábito amparar-se no Verbo, ou na verba. Um dia ambos lhe faltaram.
Mudança de preconceitos
Estes últimos dias têm sido ricos em trocas de preconceitos, ou aprendizagens, se se preferir.
Hoje tocou a vez ao género do bonito, e simples, substantivo "tesão". Cresci (e pratiquei) à sombra da ideia - falsa - que "tesão", tal como "aluvião", é feminino. Não é. É masculino (claro!, dirão alguns, prescientes. Claro? Claro porquê?).
Devo esta descoberta à Filigraana, autora de um dos melhores blogues (espero que ela me perdoe) da esfera deles, o Terapia Metatísica.
Hoje tocou a vez ao género do bonito, e simples, substantivo "tesão". Cresci (e pratiquei) à sombra da ideia - falsa - que "tesão", tal como "aluvião", é feminino. Não é. É masculino (claro!, dirão alguns, prescientes. Claro? Claro porquê?).
Devo esta descoberta à Filigraana, autora de um dos melhores blogues (espero que ela me perdoe) da esfera deles, o Terapia Metatísica.
As dúvidas e a terapia das dúvidas
Dúvidas há muitas, e tratamentos para elas também, claro - menos, porque algumas são boas, não precisam de ser "tratadas".
Mas há um tipo de dúvidas, um só, para o qual só há um tratamento, um único: o salmo "Blessed is the Man" das Vésperas de Rachmaninov.
Pode continuar-se com os Canticles of Ecstasy, de Hildegarde von Bingen e terminar com os Chants de la Liturgie Slavonne, pelos Monges Benedictinos de Chevetogne. É minha convicção que Deus não existe - mas é pena, porque se sem existir inspira obras destas, como seria se existisse?
Tenebrae, de Carlo Gesualdo (voz off: que sabia o destino a dar às dúvidas...)
Mas há um tipo de dúvidas, um só, para o qual só há um tratamento, um único: o salmo "Blessed is the Man" das Vésperas de Rachmaninov.
Pode continuar-se com os Canticles of Ecstasy, de Hildegarde von Bingen e terminar com os Chants de la Liturgie Slavonne, pelos Monges Benedictinos de Chevetogne. É minha convicção que Deus não existe - mas é pena, porque se sem existir inspira obras destas, como seria se existisse?
Tenebrae, de Carlo Gesualdo (voz off: que sabia o destino a dar às dúvidas...)
22.7.07
Sonho em modo naïf
Estás num aeroporto, e só há duas portas de embarque. Não sabes para onde vão. Algumas pessoas escolhem a primeira, e quando a porta se abre tu vês um avião bonito, rutilante; as hospedeiras têm fardas dos anos 50, 60, 70, e recebem-te a cantar os grandes hits desses anos. Tu hesitas: o avião que se entrevê pela outra porta não inspira muita confiança. Os pilotos estão cobertos de óleo, a trabalhar um nos motores e o outro nos instrumentos de navegação. As hospedeiras estão vestidas da forma mais díspare possível, a música uma cacofonia ininteligível.
Esperas muito tempo, hesitas, perguntas-te, perguntas a quem passa - o aeroporto não tem balcão de informações. Na realidade não tem nada, apercebes-te agora, excepto aquelas duas portas.
Os anúncios sucedem-se - "Última chamada para o vôo ....", ou "....." - a um ritmo estonteante, mas continuas a não saber para onde vão os aviões. É sempre a última chamada, sempre, e os altifalantes debitam os anúncios sem interrupção. É agora. É agora. É agora. As pessoas entram, umas numa das portas, outras na outra.
A certa altura vês uma passageira - bonita, sorridente, mais ou menos da tua idade, ir decidida para uma das portas, e sentes-te tentado a segui-la. Em cima da porta acende-se um letreiro: "Passado". Os passageiros do outro avião não são assim, tão bonitos, confidentes, seguros de si. "O passado é acolhedor", pensas. "Hipnotizante".
No outro avião, cujas formas não distingues muito bem, toda a gente trabalha, toda a gente está, agora, coberta de óleo e a utilizar as ferramentas mais estranhas. É por ele que optas, finalmente: este é muito bonito, mas não sai dali, nunca descola. "E não vim para este aeroporto para ficar parado", pensas. Uma luz acende-se por cima da outra porta: "Futuro".
Mal entras perguntam-te "qual a ferramenta que conheces?" Inicialmente estranhas a familiaridade, depois vês que é a norma. Cada passageiro tem uma ferramenta diferente. Escolhes uma, a hospedeira põe-ta nas mãos e diz "se essa não servir experimenta outra. Até logo" e desaparece.
Estás sozinho no avião.
A coisa continua, sempre mais ou menos assim, até ao momento em que o nosso passageiro descobre que não, não está sozinho. Nesse momento o avião descola e ele apercebe-se que os pilotos são cegos: é ele que tem de pilotar o avião. Atrás dele as instruções sucedem-se, contraditórias, confusas, indecifráveis.
Pouco a pouco o avião vai-se esvaziando. Ficam duas ou três pessoas, apenas, poucas para um avião que estava tão cheio ao princípio. Continuas aos comandos, etc. O avião há-de chegar, se bem não saibas quando - pelo menos, sabes onde, e é isso o mais importante.
Esperas muito tempo, hesitas, perguntas-te, perguntas a quem passa - o aeroporto não tem balcão de informações. Na realidade não tem nada, apercebes-te agora, excepto aquelas duas portas.
Os anúncios sucedem-se - "Última chamada para o vôo ....", ou "....." - a um ritmo estonteante, mas continuas a não saber para onde vão os aviões. É sempre a última chamada, sempre, e os altifalantes debitam os anúncios sem interrupção. É agora. É agora. É agora. As pessoas entram, umas numa das portas, outras na outra.
A certa altura vês uma passageira - bonita, sorridente, mais ou menos da tua idade, ir decidida para uma das portas, e sentes-te tentado a segui-la. Em cima da porta acende-se um letreiro: "Passado". Os passageiros do outro avião não são assim, tão bonitos, confidentes, seguros de si. "O passado é acolhedor", pensas. "Hipnotizante".
No outro avião, cujas formas não distingues muito bem, toda a gente trabalha, toda a gente está, agora, coberta de óleo e a utilizar as ferramentas mais estranhas. É por ele que optas, finalmente: este é muito bonito, mas não sai dali, nunca descola. "E não vim para este aeroporto para ficar parado", pensas. Uma luz acende-se por cima da outra porta: "Futuro".
Mal entras perguntam-te "qual a ferramenta que conheces?" Inicialmente estranhas a familiaridade, depois vês que é a norma. Cada passageiro tem uma ferramenta diferente. Escolhes uma, a hospedeira põe-ta nas mãos e diz "se essa não servir experimenta outra. Até logo" e desaparece.
Estás sozinho no avião.
A coisa continua, sempre mais ou menos assim, até ao momento em que o nosso passageiro descobre que não, não está sozinho. Nesse momento o avião descola e ele apercebe-se que os pilotos são cegos: é ele que tem de pilotar o avião. Atrás dele as instruções sucedem-se, contraditórias, confusas, indecifráveis.
Pouco a pouco o avião vai-se esvaziando. Ficam duas ou três pessoas, apenas, poucas para um avião que estava tão cheio ao princípio. Continuas aos comandos, etc. O avião há-de chegar, se bem não saibas quando - pelo menos, sabes onde, e é isso o mais importante.
Hit the road, Jack
Há poucos políticos franceses respeitáveis; e poucos são, parece-me, mais desprezíveis que Jack Lang.
Este video ajuda a perceber porquê.
Este video ajuda a perceber porquê.
21.7.07
Verdade, e consequências
Não sou, já aqui o tenho dito, grande adepto das "verdades", aquelas que se "dizem" ou "não se gostam de ouvir". Geralmente não passam de opiniões, discordantes, críticas ou simplesmente erróneas, sobre aquilo que somos ou fazemos - regra geral emitidas por quem, por uma série de razões invariavelmente falaciosas, acha que tem o direito (ou, pior ainda, o "dever") de nos dizer aquilo "que pensa", como se tivesse dados, razões ou legitimidade para pensar seja o que for sobre nós.
Gosto da verdade no sentido, por exemplo, de inteiro, como em "para ser grande, sê inteiro / nada teu exagera ou exclui". É a única válida, penosas que sejam as consequências.
"Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza" (Montesquieu, in Elogio da Sinceridade, ed. Fenda, 2005).
"Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive."
Gosto da verdade no sentido, por exemplo, de inteiro, como em "para ser grande, sê inteiro / nada teu exagera ou exclui". É a única válida, penosas que sejam as consequências.
"Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza" (Montesquieu, in Elogio da Sinceridade, ed. Fenda, 2005).
"Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive."
Mal parado
"Constâncio diz que incumprimento está contido
Isto, apesar de o crédito mal parado estar no valor mais alto de sempre."
Não, não se refere ao Estado português. Nesse caso, seria "Débito mal parado".
Isto, apesar de o crédito mal parado estar no valor mais alto de sempre."
Não, não se refere ao Estado português. Nesse caso, seria "Débito mal parado".
17.7.07
Jantar
Excelentes hipóteses mal passadas, temperadas por umas perspectivas bastante animadoras e regadas com um genuíno interesse tinto.
14.7.07
Quelimane
Por causa de um blog chamado Ana de Amsterdam encontrei Quelimane. E neste último encontrei uma fotografia do Refeba, com umas coberturas em betão que não existiam na altura.
Já aqui devo ter contado a história, mas quatro anos permitem repetições: eu teria 9 ou 10 anos, e fui beber uma Coca-Cola ao Refeba (Reis, Fernandes e Baptista, para os íntimos). A Coca veio acompanhada de um pratinho de camarões cozidos, coisa que me encheu de satisfação, claro. Acabado o pratinho, chamei o empregado e pedi outro.
De dentro do café sai não sei se o Reis, se o Fernandes, se o Baptista e diz-me "olha lá, pá, tu pensas que o pratinho de camarões veio para a mesa por causa da tua Coca-Cola?" Eu disse-lhe que "sim", intimidado. "Pois fica sabendo que não foi. Foi por causa dos whiskies que o teu pai aqui bebe à noite. E um pratinho de camarões chega! Se quiseres, dou-te amendoins".
Em Zalala um dos colegas do meu pai nos whiskies do Refeba tinha uma casa. Como gostava de copos e de bares, o rés-do-chão era um bar, com mesas, balcão e tudo - e a casa chamava-se "O Bar do Zé".
Um dia entrou uma família chegada direitinha da "Metrópole", e sentou-se a uma mesa. Por acaso o Zé estava atrás do balcão, e perguntou-lhes o que queriam beber.
"Uma Coca-Cola para o menino, uma cerveja para o papá e um sumo de laranja para a mamã [provavelmente, pouco importa]". O Zé levou as coisas todas para a mesa, a família deliciou-se com tudo, o bar era tão bonito, quem diria, num sítio destes - até que pediu a conta.
"Não há conta nenhuma", retorquiu o Zé, "isto não é um bar, é a minha casa e tenho muito prazer em oferecer-lhes as bebidas".
Não há lugar no mundo, nem tempo, em que tenha sido mais triste, mais infeliz, que tenha odiado mais do que o Colégio Paulo VI. Nele estive do 1º ao 4º ano do Liceu - e só guardo uma coisa boa, uma: o amor pelo Português que o director do Colégio, o Padre Tiago, me transmitiu, apesar das reguadas (com uma palmatória de pau-preto) e das bambuzadas (uma pequena vara de bambu cuja "alcunha" esqueci, com a qual nos batia nos braços e nas coxas até ficarem roxos e cavados). A certa altura comecei a pôr lenços nos antebraços para amortecer as pancadas - até ao dia em que, inevitavelmente, ele os descobriu. Odiava aquele colégio, e acho que nunca recuperei desse ódio.
Uma vez averbei uma vitória, só uma: fui para o estrado ler uma redacção que devia ter feito em casa - e no papel não havia uma palavra escrita, uma que fosse. A certa altura reparei que o Padre Tiago percebera - mas continuei, e ele não me pediu para ver as folhas de onde eu estava a "ler".
Já aqui devo ter contado a história, mas quatro anos permitem repetições: eu teria 9 ou 10 anos, e fui beber uma Coca-Cola ao Refeba (Reis, Fernandes e Baptista, para os íntimos). A Coca veio acompanhada de um pratinho de camarões cozidos, coisa que me encheu de satisfação, claro. Acabado o pratinho, chamei o empregado e pedi outro.
De dentro do café sai não sei se o Reis, se o Fernandes, se o Baptista e diz-me "olha lá, pá, tu pensas que o pratinho de camarões veio para a mesa por causa da tua Coca-Cola?" Eu disse-lhe que "sim", intimidado. "Pois fica sabendo que não foi. Foi por causa dos whiskies que o teu pai aqui bebe à noite. E um pratinho de camarões chega! Se quiseres, dou-te amendoins".
Em Zalala um dos colegas do meu pai nos whiskies do Refeba tinha uma casa. Como gostava de copos e de bares, o rés-do-chão era um bar, com mesas, balcão e tudo - e a casa chamava-se "O Bar do Zé".
Um dia entrou uma família chegada direitinha da "Metrópole", e sentou-se a uma mesa. Por acaso o Zé estava atrás do balcão, e perguntou-lhes o que queriam beber.
"Uma Coca-Cola para o menino, uma cerveja para o papá e um sumo de laranja para a mamã [provavelmente, pouco importa]". O Zé levou as coisas todas para a mesa, a família deliciou-se com tudo, o bar era tão bonito, quem diria, num sítio destes - até que pediu a conta.
"Não há conta nenhuma", retorquiu o Zé, "isto não é um bar, é a minha casa e tenho muito prazer em oferecer-lhes as bebidas".
Não há lugar no mundo, nem tempo, em que tenha sido mais triste, mais infeliz, que tenha odiado mais do que o Colégio Paulo VI. Nele estive do 1º ao 4º ano do Liceu - e só guardo uma coisa boa, uma: o amor pelo Português que o director do Colégio, o Padre Tiago, me transmitiu, apesar das reguadas (com uma palmatória de pau-preto) e das bambuzadas (uma pequena vara de bambu cuja "alcunha" esqueci, com a qual nos batia nos braços e nas coxas até ficarem roxos e cavados). A certa altura comecei a pôr lenços nos antebraços para amortecer as pancadas - até ao dia em que, inevitavelmente, ele os descobriu. Odiava aquele colégio, e acho que nunca recuperei desse ódio.
Uma vez averbei uma vitória, só uma: fui para o estrado ler uma redacção que devia ter feito em casa - e no papel não havia uma palavra escrita, uma que fosse. A certa altura reparei que o Padre Tiago percebera - mas continuei, e ele não me pediu para ver as folhas de onde eu estava a "ler".
Meta - Semântica
No post abaixo utilizei a palavra "malicioso". Porque é que "perspicaz" tem quase sempre o mesmo significado?
Jantar improvisado
A ideia inicial era fazer uma coisa simples, sã, ligeira. O corpo, porém, que ultimamente me anda a trair com as mais diversas maleitas e estranhos objectos não merece tal.
Que se f... o corpo. E foi um festival:
- Uma lata de feijão frade;
- Um pimento devidamente grelhado, pelado e cortado aos bocadinhos;
- Um pepino igualmente aos cubos pequenos (mas cru);
- Uma cebola (idem);
- Dois alhos fritos com pele e posteriormente dela libertos;
- Carne de porco e vitela picada, frita em lume forte até dourar, polvilhada com coentros e cominhos secos, noz moscada, pimentão doce e ervas de provença, amaciada em lume brando com vinho tinto, regada com óleo de sésamo para terminar.
Tudo isto aconchegado numa colheraça de Harissa caseira, azeite, vinagre, sal e pimenta.
Para a próxima vez: olvidar o chouriço e as ervas de provença, incluir salsa fresca na carne, sumo de limão no conjunto. Allah u Aqbar, viva a fusão.
Nota: as receitas do Don Vivo têm uma, e uma só, função: permitir-me reproduzi-las. Nunca pensei, nunca pensarei que os meus jantares, improvisados ou não, interessem seja quem fôr - e muito menos que as receitas são comestíveis.
Que se f... o corpo. E foi um festival:
- Uma lata de feijão frade;
- Um pimento devidamente grelhado, pelado e cortado aos bocadinhos;
- Um pepino igualmente aos cubos pequenos (mas cru);
- Uma cebola (idem);
- Dois alhos fritos com pele e posteriormente dela libertos;
- Carne de porco e vitela picada, frita em lume forte até dourar, polvilhada com coentros e cominhos secos, noz moscada, pimentão doce e ervas de provença, amaciada em lume brando com vinho tinto, regada com óleo de sésamo para terminar.
Tudo isto aconchegado numa colheraça de Harissa caseira, azeite, vinagre, sal e pimenta.
Para a próxima vez: olvidar o chouriço e as ervas de provença, incluir salsa fresca na carne, sumo de limão no conjunto. Allah u Aqbar, viva a fusão.
Nota: as receitas do Don Vivo têm uma, e uma só, função: permitir-me reproduzi-las. Nunca pensei, nunca pensarei que os meus jantares, improvisados ou não, interessem seja quem fôr - e muito menos que as receitas são comestíveis.
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Receitas
Preconceitos
É impossível viver sem preconceitos e aprender se nos agarrarmos a eles. Nada mais agradável, portanto, do que ver uma das nossas ideias feitas demolidas pelo aríete da realidade, bem manejado - e substituída por outra, claro -.
Foi o que me aconteceu em Salvador, num restaurante cujo nome não tenho aqui mas que em breve aqui estará. O tema dessa construtiva demolição de paradigmas foi o café.
Até aqui defendia que é impossível fazer-se um bom café só com Arábica: fica aguado, sem corpo nem alma, saboroso como uma senhora muito bonita mas burra.
Não é verdade: que o deus do café seja louvado, bebi em Salvador o melhor café da minha vida (os mais maliciosos dos meus amigos diriam que isto é um understatement. Seja). 100% Arábica. Com a torrefacção no ponto exacto, precisa ao segundo e ao milésimo de grau.
- Levei um ano a procurar este café - disse-me o dono do restaurante, um senhor que num outro planeta foi comerciante de café em Angola.
- E eu uma vida a encontrá-lo - respondi.
Os melhores preconceitos duram anos e vão abaixo com uma chávena de café.
Adenda: o Restaurante chama-se Camafeu de Oxossi, e fica na Praça Cayru, nº 250 (é o Mercado Modelo), 1º andar, Salvador.
Foi o que me aconteceu em Salvador, num restaurante cujo nome não tenho aqui mas que em breve aqui estará. O tema dessa construtiva demolição de paradigmas foi o café.
Até aqui defendia que é impossível fazer-se um bom café só com Arábica: fica aguado, sem corpo nem alma, saboroso como uma senhora muito bonita mas burra.
Não é verdade: que o deus do café seja louvado, bebi em Salvador o melhor café da minha vida (os mais maliciosos dos meus amigos diriam que isto é um understatement. Seja). 100% Arábica. Com a torrefacção no ponto exacto, precisa ao segundo e ao milésimo de grau.
- Levei um ano a procurar este café - disse-me o dono do restaurante, um senhor que num outro planeta foi comerciante de café em Angola.
- E eu uma vida a encontrá-lo - respondi.
Os melhores preconceitos duram anos e vão abaixo com uma chávena de café.
Adenda: o Restaurante chama-se Camafeu de Oxossi, e fica na Praça Cayru, nº 250 (é o Mercado Modelo), 1º andar, Salvador.
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Restaurantes Salvador
Lides domésticas
As mulheres foram agraciadas pela tradição com a responsabilidade das lides domésticas (alguns diriam "pela natureza", mas a natureza, neste caso, parece-me irrelevante: a verdade é que conseguimos ignorá-la, ou ultrapassá-la, num grande número de domínios, portanto neste tal seria igualmente possível).
Eu, que as acho (às lides, claro) das actividades mais prazenteiras, apaziguantes e libertadoras que existem (com a notória, reivindicada e peremptória excepção da passagem a ferro) não percebo
a) porque passam elas (as mulheres) um tempo e uma energia infinitos a tentar partilhar connosco tão agradáveis tarefas; e,
b) porque há tantos homens que não aceitam essas generosas propostas.
Eu, que as acho (às lides, claro) das actividades mais prazenteiras, apaziguantes e libertadoras que existem (com a notória, reivindicada e peremptória excepção da passagem a ferro) não percebo
a) porque passam elas (as mulheres) um tempo e uma energia infinitos a tentar partilhar connosco tão agradáveis tarefas; e,
b) porque há tantos homens que não aceitam essas generosas propostas.
9.7.07
Serviço Público - Restaurantes
Não é só um dos melhores restaurantes de Salvador - é um dos melhores onde já comi.
Chama-se Paraíso Tropical (aqui, a crítica do Guia 4 Rodas), é na R. Edgar Loureiro, 98-B (Cabula), S. Salvador da Bahia, Telefone: 3384-7464. Um magnífico jantar para dois (admito que acompanhado a água), custou o equivalente a 45 euros. Os pratos, de inspiração local mas elaborados, criativos, sofisticados, são uma interminável mistura de sabores, todos melhores uns do que os outros. O serviço é impecável, sorridente, atento - aliás, como é de norma neste país. Tudo isto num quadro simples e bonito.
Chama-se Paraíso Tropical (aqui, a crítica do Guia 4 Rodas), é na R. Edgar Loureiro, 98-B (Cabula), S. Salvador da Bahia, Telefone: 3384-7464. Um magnífico jantar para dois (admito que acompanhado a água), custou o equivalente a 45 euros. Os pratos, de inspiração local mas elaborados, criativos, sofisticados, são uma interminável mistura de sabores, todos melhores uns do que os outros. O serviço é impecável, sorridente, atento - aliás, como é de norma neste país. Tudo isto num quadro simples e bonito.
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Restaurantes Salvador
8.7.07
"O corpo é um bem escasso"
"Mas o corpo é um bem escasso. Gasta-se frequentemente sem darmos por isso, esgota-se de ano para ano como um risco de areia..."
Talvez, mas é também um ignóbil ditador, vingativo - e ingrato, o que é pior. A quem, ainda por cima, não se pode dizer "bem feito!", ou "tomara fosse mais escasso ainda".
Talvez, mas é também um ignóbil ditador, vingativo - e ingrato, o que é pior. A quem, ainda por cima, não se pode dizer "bem feito!", ou "tomara fosse mais escasso ainda".
7.7.07
Noite da Benção
I
Resisto ao primeiro miúdo, que me pede dinheiro à saída do táxi; resisto ao segundo, um bom bocado mais velho; não resisto à terceira, uma senhora andrajosa que aparenta trinta e poucos anos - deve ter vinte - e que não me pede dinheiro: pede-me de comer e que lhe compre comida para a filha, que tem, diz ela, cinco meses.
Levei-a à barraca dos churrascos primeiro, e à farmácia depois. Comprou leite para bebé, farinha, biscoitos para ela (mais tarde viria a oferecer-me um) - mas o que me convenceu da qualidade da sua história foram as fraldas. Os leites e as farinhas ainda podem ser usados para outras coisas; fraldas não.
II
Lembro-me do meu filho Tomás, que em Moçambique chorava quando me ouvia dizer aos miúdos da rua que não lhes dava dinheiro; e de uma vez no Rio, há trinta anos, quando um puto me roubou o bife do prato. Eu comia numa esplanada e ele passou a correr e, com uma precisão notável, levou-me o bife. "Leva também as batatas", gritei-lhe. Ia sendo linchado pelos outros clientes, porque estava a "incentivar o crime".
Era a época do Pasquim, o melhor jornal satírico que me foi dado ler - "Volta, Negão, abandonei o menor" foi uma das primeiras primeiras páginas que lhe vi, numa época em que o "menor abandonado" era o tema de todos os jornais "sérios", etc..
III
Uma boa metáfora do Brasil, de hoje e de ontem e de sempre, suspeito: ao lado de um homem-estátua, impecavelmente maquilhado de "gentleman" - chapéu de coco, fraque, polainas - uma banda frenética de adolescentes dança hip hop, tão depressa que dá tonturas.
IV
Pela primeira vez desde que cheguei estou em modo "trópicos": tensão, proteger as costas, avaliar permanentemente as pessoas com quem me vou cruzar e afastar-me delas, sempre, prever caminhos de fuga ou de protecção, olhar constantemente para os lados, mão esquerda no bolso a proteger a carteira, mão direita fora, livre, ouvidos atentos, hiper-sensibilidade geral. Há muito tempo que não estava assim. A adrenalina é uma droga boa.
V
É a festa da Benção. É como jogar no casino: uma pessoa sabe que vai perder, só não sabe quanto, ou quando.
Resisto ao primeiro miúdo, que me pede dinheiro à saída do táxi; resisto ao segundo, um bom bocado mais velho; não resisto à terceira, uma senhora andrajosa que aparenta trinta e poucos anos - deve ter vinte - e que não me pede dinheiro: pede-me de comer e que lhe compre comida para a filha, que tem, diz ela, cinco meses.
Levei-a à barraca dos churrascos primeiro, e à farmácia depois. Comprou leite para bebé, farinha, biscoitos para ela (mais tarde viria a oferecer-me um) - mas o que me convenceu da qualidade da sua história foram as fraldas. Os leites e as farinhas ainda podem ser usados para outras coisas; fraldas não.
II
Lembro-me do meu filho Tomás, que em Moçambique chorava quando me ouvia dizer aos miúdos da rua que não lhes dava dinheiro; e de uma vez no Rio, há trinta anos, quando um puto me roubou o bife do prato. Eu comia numa esplanada e ele passou a correr e, com uma precisão notável, levou-me o bife. "Leva também as batatas", gritei-lhe. Ia sendo linchado pelos outros clientes, porque estava a "incentivar o crime".
Era a época do Pasquim, o melhor jornal satírico que me foi dado ler - "Volta, Negão, abandonei o menor" foi uma das primeiras primeiras páginas que lhe vi, numa época em que o "menor abandonado" era o tema de todos os jornais "sérios", etc..
III
Uma boa metáfora do Brasil, de hoje e de ontem e de sempre, suspeito: ao lado de um homem-estátua, impecavelmente maquilhado de "gentleman" - chapéu de coco, fraque, polainas - uma banda frenética de adolescentes dança hip hop, tão depressa que dá tonturas.
IV
Pela primeira vez desde que cheguei estou em modo "trópicos": tensão, proteger as costas, avaliar permanentemente as pessoas com quem me vou cruzar e afastar-me delas, sempre, prever caminhos de fuga ou de protecção, olhar constantemente para os lados, mão esquerda no bolso a proteger a carteira, mão direita fora, livre, ouvidos atentos, hiper-sensibilidade geral. Há muito tempo que não estava assim. A adrenalina é uma droga boa.
V
É a festa da Benção. É como jogar no casino: uma pessoa sabe que vai perder, só não sabe quanto, ou quando.
Serviço Público - Vinhos
Eugénio de Almeida, Branco, 2006
Um vinho redondo, cheio, mas leve e picante, cor clara, espuma, um ataque agradável, nada agressivo. Mas o melhor é o fim de boca, revigorante, estimulante.
Um grande vinho (provado num grande cenário).
Um vinho redondo, cheio, mas leve e picante, cor clara, espuma, um ataque agradável, nada agressivo. Mas o melhor é o fim de boca, revigorante, estimulante.
Um grande vinho (provado num grande cenário).
Luta de classes
Audis, BMWs, Mercedes e Porsches - o parque automóvel de Cascais é indiscutivelmente bom, mas um bocadinho limitado. Sera que "eles" não têm imaginação?
Adenda - também passou um Hummer, amarelo torrado. É melhor quando não têm.
Adenda - também passou um Hummer, amarelo torrado. É melhor quando não têm.
Corrupção
Um desses inquéritos da net, desta vez no excelente, e útil, O Carmo e a Trindade põe a corrupção em primeiro lugar ex-aequo dos problemas a resolver em Lisboa - o outro par do ex-aequo sendo o estacionamento.
Este é sem dúvida um problema grave que Lisboa tem de resolver - mas a verdade é que não é muito complicado: basta pôr as entidades competentes a multar, e instalar meios físicos nos sítios mais delicados. É um problema que centenas de cidades por essa Europa fora resolveram - algumas, é certo, lamentando a posteriori a fonte de receitas que perderam com as multas, porque instalaram demasiados pilaretes, ou frades, ou blocos de cimento, ou fosse lá o que fosse.
Já a corrupção me deixa um bocadinho mais céptico: o problema da corrupção em Portugal não é havê-la em excesso, é ela ser insuficiente. Tudo seria muito mais simples se a única motivação dos nossos queridos funcionários das Câmaras, Institutos, Administrações, que sais-je, para impedir, pôr obstáculos, exercer o seu minúsculo poder no seu minúsculo quintal, dizer que não e apresentar exigências absurdas fosse o dinheiro.
Infelizmente não é. Uma vez fui skipper de um catamaran que esteve quase três anos parado para obter uma licença de charter. Uma embarcação de 60' parada durante quase três anos tem custos desmedidos - aos quais há que adicionar as exigências tolas, absurdas, algumas inclusivé perigosas feitas pelo Instituto encarregue dessas coisas.
Teria sido muito mais barato, muito melhor para o armador, para o país, para toda a gente, o funcionário deixar-se corromper - mesmo uma pequena porcentagem do dinheiro que se perdeu naquela operação teria representado um excelente complemento ao salário do senhor. Mas não: ele era incorruptível, e fez aquilo tudo por razões que ainda hoje, anos passados, me são dolorosamente obscuras.
Que bom seria, se todos os funcionários fossem corruptíveis - para eles, e para nós, desgraçados empresários à mercê de meia-dúzia de aluados que nem pelo dinheiro se interessam; (enfim, interessar, interessam: eles gostam imenso de nos fazer perder imenso dinheiro, mas isso é outra história. - Será?)
A corrupção generalizada - ou a sua ausência generalizada - são situações nas quais é fácil trabalhar; agora esta espécie de mistura nem carne nem peixe em que vivemos não. E como é mais fácil, mais rápido, mais gratificante generalizar a corrupção do que acabar com ela, eu proponho que se lute não pelo fim da corrupção, mas pela sua generalização.
Este é sem dúvida um problema grave que Lisboa tem de resolver - mas a verdade é que não é muito complicado: basta pôr as entidades competentes a multar, e instalar meios físicos nos sítios mais delicados. É um problema que centenas de cidades por essa Europa fora resolveram - algumas, é certo, lamentando a posteriori a fonte de receitas que perderam com as multas, porque instalaram demasiados pilaretes, ou frades, ou blocos de cimento, ou fosse lá o que fosse.
Já a corrupção me deixa um bocadinho mais céptico: o problema da corrupção em Portugal não é havê-la em excesso, é ela ser insuficiente. Tudo seria muito mais simples se a única motivação dos nossos queridos funcionários das Câmaras, Institutos, Administrações, que sais-je, para impedir, pôr obstáculos, exercer o seu minúsculo poder no seu minúsculo quintal, dizer que não e apresentar exigências absurdas fosse o dinheiro.
Infelizmente não é. Uma vez fui skipper de um catamaran que esteve quase três anos parado para obter uma licença de charter. Uma embarcação de 60' parada durante quase três anos tem custos desmedidos - aos quais há que adicionar as exigências tolas, absurdas, algumas inclusivé perigosas feitas pelo Instituto encarregue dessas coisas.
Teria sido muito mais barato, muito melhor para o armador, para o país, para toda a gente, o funcionário deixar-se corromper - mesmo uma pequena porcentagem do dinheiro que se perdeu naquela operação teria representado um excelente complemento ao salário do senhor. Mas não: ele era incorruptível, e fez aquilo tudo por razões que ainda hoje, anos passados, me são dolorosamente obscuras.
Que bom seria, se todos os funcionários fossem corruptíveis - para eles, e para nós, desgraçados empresários à mercê de meia-dúzia de aluados que nem pelo dinheiro se interessam; (enfim, interessar, interessam: eles gostam imenso de nos fazer perder imenso dinheiro, mas isso é outra história. - Será?)
A corrupção generalizada - ou a sua ausência generalizada - são situações nas quais é fácil trabalhar; agora esta espécie de mistura nem carne nem peixe em que vivemos não. E como é mais fácil, mais rápido, mais gratificante generalizar a corrupção do que acabar com ela, eu proponho que se lute não pelo fim da corrupção, mas pela sua generalização.
6.7.07
Mendigagem
As noites de terça-feira são, na Baía, noites de "Benção": festa nas ruas da cidade velha, petiscos, música e - claro - mendigos, muitos mendigos, hordas deles.
Em geral não dou dinheiro, porque tenho pouco, e porque me aborrece dar dinheiro quando mo vêm pedir de mão esticada. Só dou massa quando estou a ser enganado, bem enganado, com uma bela história, bem construída, um sorriso de esguelha, daqueles que dizem "será que estás a engolir a minha história?", um olhar à Marlon Brando nos seus melhores momentos.
Aí sim, dou dinheiro, porque o talento deve ser recompensado.
Em geral não dou dinheiro, porque tenho pouco, e porque me aborrece dar dinheiro quando mo vêm pedir de mão esticada. Só dou massa quando estou a ser enganado, bem enganado, com uma bela história, bem construída, um sorriso de esguelha, daqueles que dizem "será que estás a engolir a minha história?", um olhar à Marlon Brando nos seus melhores momentos.
Aí sim, dou dinheiro, porque o talento deve ser recompensado.
Semântica e economia
Notícia no Público:
"Ao nível das incompatibilidades na propriedade da farmácia, que serão reforçadas, o decreto estipula "a impossibilidade de cada proprietário deter mais de quatro farmácias".
O título desta notícia é:
"Liberalização da propriedade das farmácias aprovada hoje em Conselho de Ministros."
Ou eu muito me engano, ou há aqui um erro de semântica. Ou de economia, não sei.
"Ao nível das incompatibilidades na propriedade da farmácia, que serão reforçadas, o decreto estipula "a impossibilidade de cada proprietário deter mais de quatro farmácias".
O título desta notícia é:
"Liberalização da propriedade das farmácias aprovada hoje em Conselho de Ministros."
Ou eu muito me engano, ou há aqui um erro de semântica. Ou de economia, não sei.
5.7.07
3.7.07
32 America's Cup
O Alinghi ganhou a 32ª America's Cup. Por vezes pergunto-me se algum outro desporto poderia ter uma America's Cup, e por vezes a resposta é "não".
Pode pensar-se o que se quiser de Bertarelli; eu tenho por ele uma admiração sem limites. É notável, brilhante, sublime, a maneira como geriu a sua participação na Taça e como fez face ao desaire que foi a saída de Russell Coutts. Ainda me lembro, aquando da primeira participação da Suiça na Taça, das troças e das bocas sobre "um pequeno país que nem costa marítima tem" pretender participar numa regata que, por exemplo, o Reino Unido nunca ganhou.
Resta saber onde será a 33ª. Por mim, aposto no Dubai. Vamos a ver.
Pode pensar-se o que se quiser de Bertarelli; eu tenho por ele uma admiração sem limites. É notável, brilhante, sublime, a maneira como geriu a sua participação na Taça e como fez face ao desaire que foi a saída de Russell Coutts. Ainda me lembro, aquando da primeira participação da Suiça na Taça, das troças e das bocas sobre "um pequeno país que nem costa marítima tem" pretender participar numa regata que, por exemplo, o Reino Unido nunca ganhou.
Resta saber onde será a 33ª. Por mim, aposto no Dubai. Vamos a ver.
S. Salvador da Baía
Cheguei e chove. ¡Qué vaya la lluvia!. Chuva nos trópicos não é chuva, é uma benção (ou uma piada, às vezes).
Os pequenos ditadores, ou "Desculpe, mas não pode..."
Uma vez trabalhei numa empresa cujo director em Durban tinha a alcunha de Piccolo Dittatore (a empresa era italiana, se bem que a sede fosse em Genève). Nunca o conheci pessoalmente - falei com ele duas ou três vezes ao telefone, e gostei da maneira rápida, profissional e seca com que ele resolvia os mais variados problemas - era tão bom nisso que depois se demitiu da empresa para montar e dirigir o desafio sul-africano à America's Cup (cada vez que penso que a África do Sul já o fez, e Portugal ainda não, tenho uma pontada de dor que me asfixia durante trinta minutos, pelo menos). Enfim, passemos.
Vem isto a propósito de um post do Júlio Quirino no seu Ferrugens (um blog excelente para quem gosta de vela, e de fotografia, de passagem seja dito). O Júlio não o diz, mas as 300 embarcações que ele menciona no post incluem vários Perini (não encontrei um bom link), o Maltese Falcon, que é a mais espectacular, mais fascinantemente bonita coisa recentemente saída de um estaleiro (Perini, por sinal), vários maxis, etc. - (as nossas autoridades passam a vida a falar dos 16 milhões de euros que custou o evento; para terem uma medida de comparação, esse deve ser o preço do mais pequeno dos Perini). Acrescente-se que 300 barcos daqueles significam 4 ou 5 mil pessoas, ligeiramente mais do que os 1500 do nosso Campeonato.
E tudo isto para que meia dúzia de palermas, armados em Pequenos Ditadores (mas sem um décimo da metade de um terço da classe do original), possam arejar os seus desprezíveis (e a maioria das vezes desprezados) egos e mostrar às pessoas "quem manda".
Que o diabo os arrebanhe todos e os carregue daqui para fora o mais depressa possível.
Vem isto a propósito de um post do Júlio Quirino no seu Ferrugens (um blog excelente para quem gosta de vela, e de fotografia, de passagem seja dito). O Júlio não o diz, mas as 300 embarcações que ele menciona no post incluem vários Perini (não encontrei um bom link), o Maltese Falcon, que é a mais espectacular, mais fascinantemente bonita coisa recentemente saída de um estaleiro (Perini, por sinal), vários maxis, etc. - (as nossas autoridades passam a vida a falar dos 16 milhões de euros que custou o evento; para terem uma medida de comparação, esse deve ser o preço do mais pequeno dos Perini). Acrescente-se que 300 barcos daqueles significam 4 ou 5 mil pessoas, ligeiramente mais do que os 1500 do nosso Campeonato.
E tudo isto para que meia dúzia de palermas, armados em Pequenos Ditadores (mas sem um décimo da metade de um terço da classe do original), possam arejar os seus desprezíveis (e a maioria das vezes desprezados) egos e mostrar às pessoas "quem manda".
Que o diabo os arrebanhe todos e os carregue daqui para fora o mais depressa possível.
2.7.07
Semântica e amor
És a minha última conquista - não porque és a mais recente, mas porque depois de ti não houve, não haverá, mais ninguém.
Vida, vidas
As vidas organizam-se, é sabido, em torno de vários eixos, vectores, plataformas, chamem-lhes o que quiserem. Em Setembro faço 50 anos, e vou, seja Deus louvado, celebrá-los. Esta vida - terá sido realmente uma vida? - vai espelhar-se em torno destes temas:
- O mar;
- As viagens;
- O prazer;
- Os afectos;
- A arte.
O programa é, há que reconhecê-lo, banal. O resto não.
- O mar;
- As viagens;
- O prazer;
- Os afectos;
- A arte.
O programa é, há que reconhecê-lo, banal. O resto não.
1.7.07
Excesso de bagagem (emocional)
Excesso de bagagem emocional é quando se põe um disco, e em vez de ouvir a música é a memória que nos enche de recordações.
Se calhar não é mais do que um problema de idade, ou de presente.
Se calhar não é mais do que um problema de idade, ou de presente.
Gratidão
Ela dependia de mim, totalmente. Eu era, só agora o reconheço, horrível com ela. Um dia disse-me:
- Tu ajudas-me muito, mas fazes-me pagar caro a tua ajuda. Até por isso te estou grata.
- Tu ajudas-me muito, mas fazes-me pagar caro a tua ajuda. Até por isso te estou grata.
Definição - Noite Improvisada
Uma noite improvisada é uma noite em que - tens idade para o saber - jantas com ausências.
Mas depois olhas para a mesa do lado, e pensas que mais vale uma ausência giraça, inteligente e sensual a um estafermo presente.
Mas depois olhas para a mesa do lado, e pensas que mais vale uma ausência giraça, inteligente e sensual a um estafermo presente.
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