Deixa-me dizer-te a verdade. É inútil, eu sei: não há verdade que não tenha sido dita já.
31.5.08
Questões importantes
La fellation est-elle permise par l'islam ? La demande d'un certificat de virginité est-elle hallal (licite) ? Quels contraceptifs sont religieusement légaux ?
Não sou religioso, infelizmente. Mas gosto de religiões que fazem perguntas destas. Pena que não faça outras, como: "Pôr bombas à volta da cintura de crianças, adolescentes e doentes mentais e rebentá-las nos autocarros, é permitido? Mandar aviões contra prédios, é Hallal? Excisar mulheres, é correcto? Matar apóstatas, é justo?"
Não sou religioso, infelizmente. Mas gosto de religiões que fazem perguntas destas. Pena que não faça outras, como: "Pôr bombas à volta da cintura de crianças, adolescentes e doentes mentais e rebentá-las nos autocarros, é permitido? Mandar aviões contra prédios, é Hallal? Excisar mulheres, é correcto? Matar apóstatas, é justo?"
30.5.08
29.5.08
28.5.08
Le Marchand de Sable
O Marchand de Sable (tradução francesa de João Pestana - o nome vinha-lhe das cabeceiras de cama que ornamentavam a parede do bar) era um café - bar - restaurante (ao meio-dia, só. Depois parou completamente) em Carouge, o bairro católico, e por conseguinte o do "pecado", de Genève.
Era um lugar peculiar. Foi, creio, o meu primeiro emprego naquela cidade, e encontrei-o porque a minha vizinha, uma actriz de teatro obesa, lá trabalhava. Um dia foi preciso uma pessoa para lavar os copos e ela avisou-me. Por minha causa a malta da vela começou a frequentar o sítio, e o bar, que sempre teve características especiais, tornou-se um lugar mágico, para mim.
Já aqui contei uma história que se passou com a dona do bar, comigo e um jarro de Piña Colada - mas essa é quase das mais inocentes. Às sextas aquilo enchia de tal maneira que frequentemente eu tinha que andar por cima das mesas (que eram grandes, pesadas, antigas, em madeira maciça). Um dia, preparava-me para saltar de uma delas para o chão com o tabuleiro cheio de copos e de garrafas vazias, e alguém gozou comigo "olh'ós copos, malta". Imediatamente organizei um concurso, entre os clientes: saltar de cima da mesa, com um determinado nº de copos e garrafas (o mesmo para todos, claro). Quem partisse mais pagava uma rodada aos participantes.
Partiram-se muitos copos, é certo, e fez-se uma quantidade de cacos indescrítivel; mas a receita compensou-os largamente - e durante muito, muito tempo falou-se naquela noite.
Aquilo servia também de Job Center para trabalhos na vela - transportes, regatas - e eu tinha um acordo com a Daisy, a proprietária: ia-me embora quando quisesse; no regresso haveria sempre um lugar para mim - podia era não ser o mesmo que tinha à saída. Por isso lá me aguentei durante quase três anos: ia, vinha, ficava, partia, bebia, amava, repartia. Por vezes ficava fora três e quatro meses de seguida, mas quando voltava era inevitavelmente ao Marchand que regressava. Trabalhar ali dava, nos meios "artísticos" (nos dois sentidos) de Genève um status que imagino equivalente ao de trabalhar no Frágil, ou num bar assim, em Lisboa.
Depois acabou, claro: durante alguns anos continuou o bar da malta da vela, e quando esse grupo se dispersou ficou o ponto de encontro de tudo o que havia como adolescente naquela cidade. A minha vizinha (ela própria um carácter especial, por vezes insultava os clientes de tal forma que a certa altura lhe chamavam a Capitã Hadock) deixou de ser actriz - "esses parvalhões desses encenadores só querem magrichonas", explicava ela, com uma quantidade de má-fé muitas vezes superior à sua massa corporal - e foi trabalhar para um tribunal.
Passei muito tempo sem lá ir, e de repente nunca mais lá fui.
O Marchand era pequeno, mas tinha uma acústica fenomenal, e nós púnhamos todo o tipo de música - desde ópera a free jazz, tudo por ali passava, tudo. Hoje lembrei-me daquilo, quando ouvia um disco do Rao Kyao que era um hit, o Fado Bailado. Rivalizava com os blues, quando se tornava necessário aumentar um bocadinho a facturação.
Gosto muito desse disco - por vezes pensava que o saxofone tinha sido inventado para o fado, e que fado era, realmente, digno de rivalizar com os melhores blues. Mas não é: podia passar uma noite a pôr discos de blues, mas não podia fazer a mesma coisa com o fado. Para além do Fado Bailado, só a Amália a cantar o Barco Negro,
um fado que ainda hoje me faz chorar, e sempre fez.
Era um lugar peculiar. Foi, creio, o meu primeiro emprego naquela cidade, e encontrei-o porque a minha vizinha, uma actriz de teatro obesa, lá trabalhava. Um dia foi preciso uma pessoa para lavar os copos e ela avisou-me. Por minha causa a malta da vela começou a frequentar o sítio, e o bar, que sempre teve características especiais, tornou-se um lugar mágico, para mim.
Já aqui contei uma história que se passou com a dona do bar, comigo e um jarro de Piña Colada - mas essa é quase das mais inocentes. Às sextas aquilo enchia de tal maneira que frequentemente eu tinha que andar por cima das mesas (que eram grandes, pesadas, antigas, em madeira maciça). Um dia, preparava-me para saltar de uma delas para o chão com o tabuleiro cheio de copos e de garrafas vazias, e alguém gozou comigo "olh'ós copos, malta". Imediatamente organizei um concurso, entre os clientes: saltar de cima da mesa, com um determinado nº de copos e garrafas (o mesmo para todos, claro). Quem partisse mais pagava uma rodada aos participantes.
Partiram-se muitos copos, é certo, e fez-se uma quantidade de cacos indescrítivel; mas a receita compensou-os largamente - e durante muito, muito tempo falou-se naquela noite.
Aquilo servia também de Job Center para trabalhos na vela - transportes, regatas - e eu tinha um acordo com a Daisy, a proprietária: ia-me embora quando quisesse; no regresso haveria sempre um lugar para mim - podia era não ser o mesmo que tinha à saída. Por isso lá me aguentei durante quase três anos: ia, vinha, ficava, partia, bebia, amava, repartia. Por vezes ficava fora três e quatro meses de seguida, mas quando voltava era inevitavelmente ao Marchand que regressava. Trabalhar ali dava, nos meios "artísticos" (nos dois sentidos) de Genève um status que imagino equivalente ao de trabalhar no Frágil, ou num bar assim, em Lisboa.
Depois acabou, claro: durante alguns anos continuou o bar da malta da vela, e quando esse grupo se dispersou ficou o ponto de encontro de tudo o que havia como adolescente naquela cidade. A minha vizinha (ela própria um carácter especial, por vezes insultava os clientes de tal forma que a certa altura lhe chamavam a Capitã Hadock) deixou de ser actriz - "esses parvalhões desses encenadores só querem magrichonas", explicava ela, com uma quantidade de má-fé muitas vezes superior à sua massa corporal - e foi trabalhar para um tribunal.
Passei muito tempo sem lá ir, e de repente nunca mais lá fui.
O Marchand era pequeno, mas tinha uma acústica fenomenal, e nós púnhamos todo o tipo de música - desde ópera a free jazz, tudo por ali passava, tudo. Hoje lembrei-me daquilo, quando ouvia um disco do Rao Kyao que era um hit, o Fado Bailado. Rivalizava com os blues, quando se tornava necessário aumentar um bocadinho a facturação.
Gosto muito desse disco - por vezes pensava que o saxofone tinha sido inventado para o fado, e que fado era, realmente, digno de rivalizar com os melhores blues. Mas não é: podia passar uma noite a pôr discos de blues, mas não podia fazer a mesma coisa com o fado. Para além do Fado Bailado, só a Amália a cantar o Barco Negro,
um fado que ainda hoje me faz chorar, e sempre fez.
27.5.08
Fotografia
Às vezes, fotografar num lugar público é tão embaraçoso como fazer uma declaração de amor à frente de toda a gente.
Optimismo, versão jornalística
"Embellie confirmée pour l'économie allemand, mais ce renouveau peut-il durer?"
Do mesmo artigo: "Elles engrangent les fruits d'années de restructurations et de modération salariale. "L'Allemagne était l'homme malade de l'Europe. Nous avons été obligés de nous réformer et nous en goûtons les fruits". Destes dois remédios, Portugal só precisa de um. Algo me diz que o outro, em vigor há tanto tempo, se vai manter.
Do mesmo artigo: "Elles engrangent les fruits d'années de restructurations et de modération salariale. "L'Allemagne était l'homme malade de l'Europe. Nous avons été obligés de nous réformer et nous en goûtons les fruits". Destes dois remédios, Portugal só precisa de um. Algo me diz que o outro, em vigor há tanto tempo, se vai manter.
26.5.08
Haiku do séc. XX
"Au clair de lune
la porte du temple
s'ouvre vers l'intérieur"
Takada Masako
in Le poème court japonais d'aujourd'hui, col. NRF, Poésie / Gallimard
la porte du temple
s'ouvre vers l'intérieur"
Takada Masako
in Le poème court japonais d'aujourd'hui, col. NRF, Poésie / Gallimard
Chuva
Chove a cântaros. O anticiclone dos Açores anda a fazer gazeta, a passear pelo Atlântico (deve andar muito lá para sul, que não aparece sequer nas minhas cartas). Patrão fora, dia santo na loja: as depressões aparecem, anárquicas. Olha-se para uma carta de tempo e parece que um bando de garotos andou a entornar depressões como se fizesse um concurso, a ver quem cospe pastilhas elásticas mais longe, cada um para seu lado.
É curioso que um desses direitistas adepto das personagens fortes não tenha ainda aproveitado a meteorologia para fazer analogias com a política: onde há altas pressões não há mau tempo (claro que a realidade se encarregaria logo de o desmentir: nos Açores chove todos os dias).
Enfim, não sou pelos regimes autoritários. Mas se a zona de altas pressões fizesse o obséquio de vir para onde devia poderia contar com a minha eterna gratidão (ou pelo menos até ao fim do verão).
É curioso que um desses direitistas adepto das personagens fortes não tenha ainda aproveitado a meteorologia para fazer analogias com a política: onde há altas pressões não há mau tempo (claro que a realidade se encarregaria logo de o desmentir: nos Açores chove todos os dias).
Enfim, não sou pelos regimes autoritários. Mas se a zona de altas pressões fizesse o obséquio de vir para onde devia poderia contar com a minha eterna gratidão (ou pelo menos até ao fim do verão).
Serviço Público - Vinhos
Mosteiro de Cister Reserva 2006.
Não é, previno desde já, um grande vinho. Mas é provavelmente o melhor que 2,20 euros (dois euros e vinte cêntimos, para afogar as dúvidas, no supermercado das Amoreiras) podem comprar. No nariz sobressaem as madeiras, e na boca também (não devia ser grande coisa, à saída das cubas de fermentação). Tem garra, é ligeiramente adstringente, não muito - só o suficiente para deixar um traço - tem um ataque agradável e um final de boca longo. 13º, que se fazem sentir claramente, ou não fosse do Douro. Duas tintas (a Roriz e a Barroca) e duas Tourigas ( a Nacional, claro, e a Franca). Cada com 30%, menos a Nacional, com 10.
Não sei se é o preço habitual. A Casa de Ventozelo faz bons vinhos com uma excelente relação qualidade-preço, mas 2,20 parece-me realmente uma magnífica compra, na minha humilde e subjectiva opinião, claro (e fascinada, cada vez que consegue fazer uma boa compra).
Não sei se é o preço habitual. A Casa de Ventozelo faz bons vinhos com uma excelente relação qualidade-preço, mas 2,20 parece-me realmente uma magnífica compra, na minha humilde e subjectiva opinião, claro (e fascinada, cada vez que consegue fazer uma boa compra).
Voam os dias
Em breve começarei a colaborar no Dias que Voam, como fotógrafo de interiores (lato sensu). Quero aqui deixar o meu obrigado àquela equipa que tão generosamente me acolhe no seu seio.
Uma boa piada
"Hassan Nasrallah assure que le Hezbollah n'utilisera pas ses armes à des fins politiques". Só as utilizará para brincar aos cowboys.
Incompreensão
Num post abaixo faço uma lista das coisas de que não gosto (a pedido). Não incluí a ordinarice, a vulgaridade: aprendi a lidar com elas muito cedo, e se bem não goste (quem gosta?), suporto-as, mais ou menos - apesar de muitas vezes ficar confrangido. O que não consigo de todo perceber é a aliança de pessoas educadas e bem formadas com a mais rasca das ordinarices.
É sinal de muita classe, ou de uma fina camada, só?
É sinal de muita classe, ou de uma fina camada, só?
Regresso
Aqui está um artigo que não se aplica a Portugal: "Appetite for risk returns". Como pode regressar o que nunca existiu?
25.5.08
Televisão
Não tenho televisão, e quando tenho uma (nos hotéis, por exemplo) não a vejo - as queixas contra a duração dos telejornais ou o futebol deixam-me mais ou menos indiferente; o remédio é fácil e eficaz. Mas há coisas que por vezes lamento não ver. Como esta, por exemplo.
Que vale uma vida, quando se tem razão?
Que vale uma vida, quando se tem razão?
Luto
"Les FARC confirment la mort de leur chef Manuel Marulanda."
O PCP vai pôr as bandeiras a meia-haste, suponho.
O PCP vai pôr as bandeiras a meia-haste, suponho.
"Nós gostamos de si"...
... diz a publicidade a um novo hospital pivado do grupo Caixa Geral de Depósitos. Recentemente perguntei-lhes o preço de uma consulta. "90 euros a primeira, 80 as seguintes". Quanto seria, se não gostassem?
Uma pergunta; ou: Misturas
Se, como dizem alguns, o sexo só serve para a reprodução, porque é que se lhe misturam sentimentos? Esta coisa de pôr afectos onde só o físico devia estar dá quase sempre maus resultados.
PS - forçoso é reconhecer que, quando os resultados são bons, são muito bons.
PS - forçoso é reconhecer que, quando os resultados são bons, são muito bons.
Acreditar
A quem não acredita nem em teorias da conspiração, nem na estupidez (ou incompetência) generalizadas, resta acreditar em quê? Na fatalidade? No acaso? Numa mistura de todos estes ingredientes (receita à qual seria necessário acrescentar um pouco de voluntarismo - tanto altruísta como egoísta, claro - para que a fotografia ficasse completa)?
E que fazer? Resignar-se? Indignar-se? Resistir? Lutar? Um pouco de cada, também, suponho. Talvez não sirva de muito, mas tudo o que seja acima de zero vale a pena.
E que fazer? Resignar-se? Indignar-se? Resistir? Lutar? Um pouco de cada, também, suponho. Talvez não sirva de muito, mas tudo o que seja acima de zero vale a pena.
24.5.08
"Como se não tivesse onde ficar"
Cais
Um navio parte, para onde
não se sabe; e outro chega, de onde
não se sabe. É onde se está, no chão
que se pisa, que a terra oferece
um centro a quem não tem
para onde ir. Porém, quando
um braço acena ao navio que parte,
é como se não houvesse cais
nem destino. O centro desloca-se
para o fundo do horizonte,
e é como se o vento do largo
empurrasse o corpo para onde
não se sabe, como se não
tivesse onde ficar.
Nuno Júdice, aqui.
Um navio parte, para onde
não se sabe; e outro chega, de onde
não se sabe. É onde se está, no chão
que se pisa, que a terra oferece
um centro a quem não tem
para onde ir. Porém, quando
um braço acena ao navio que parte,
é como se não houvesse cais
nem destino. O centro desloca-se
para o fundo do horizonte,
e é como se o vento do largo
empurrasse o corpo para onde
não se sabe, como se não
tivesse onde ficar.
Nuno Júdice, aqui.
La vraie vie est ailleurs
Uma trágica tragédia ocorreu ontem na blogosfera. A catástrofe, que passou despercebida à maioria dos frequentadores dessa esfera, teve contudo repercussões catastróficas na catastrosfera. De momento não temos acesso a informações informadas por fidedignas e dignas fontes, mas tudo indica que a titânica luta entre o desprezo, o perdão, a memória e a esperança fez pelo menos uma vítima; tudo indica que poderão aparecer mais, mas o blackout é total.
Estamos, caros leitores, na mais completa escuridão, 100% negra; suspeita-se que há vida fora da área da tragédia, mas também daí as notícias que nos chegam vêm em branco. Não podemos dizer mais: estamos, literalmente, sem palavras - o que para um serviço noticioso é, convenhamos, aborrecido. "On s'en fout. De toute façon on n'est pas d'ici. Demain on s'en va."
Estamos, caros leitores, na mais completa escuridão, 100% negra; suspeita-se que há vida fora da área da tragédia, mas também daí as notícias que nos chegam vêm em branco. Não podemos dizer mais: estamos, literalmente, sem palavras - o que para um serviço noticioso é, convenhamos, aborrecido. "On s'en fout. De toute façon on n'est pas d'ici. Demain on s'en va."
A ler
Esta história é magnífica. Gosto especialmente disto: "a Direcção de Finanças de Leiria deixou de considerar válido esse mesmo atestado, sugeriu que a Palmira pedisse uma nova Junta Médica de avaliação, com nova Tabela de Incapacidades, muito mais restritiva a partir de 2008 e, pasmem, que voluntariamente substituísse os mod. 3 do IRS, de 2004 a 2006, pagando coimas e juros compensatórios como se tivesse prestado falsas declarações".
VPV explica que esta relação do Estado português com os seus cidadãos já vem de longe. Mas não deixa de ser desesperante.
PS - e destes também, claro.
VPV explica que esta relação do Estado português com os seus cidadãos já vem de longe. Mas não deixa de ser desesperante.
PS - e destes também, claro.
Eu????
What philosophy do you follow? (v1.03) created with QuizFarm.com | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||
You scored as Existentialism Your life is guided by the concept of Existentialism: You choose the meaning and purpose of your life.
|
Via Tradução Simultânea.
Transat inglesa
Tive o prazer de conhecer Loïck Peyron (mais aqui) em Portimão em 2006, e de o reencontrar em Salvador o ano passado. É com alegria que celebro a sua vitória na "Transat Inglesa", este ano Artemis Transat . Gentlemanship forever.
PS - Um post bonito.
PS - Um post bonito.
Publicidade interessada
No próximo sábado, dia 31 de Maio, começa o próximo curso de vela. Ainda há algumas vagas. Informações em Lserpa@make-fast.com.
23.5.08
Correntes
A Luísa, do Nocturno, teve a amabilidade de querer saber quais as coisas de que eu não gosto. São poucas, felizmente: sou uma pessoa simples, a raiar o troglodita, e são muitas mais as que me entusiasmam, coitadas.
Não gosto da estupidez, não a suporto e não sei lidar com ela - o que é uma sorte, porque é recíproco;
Não gosto da pedantice - também é uma sorte, porque também é recíproco;
Não gosto de moda - se bem isto releve mais do "estão verdes";
Não gosto da hipocrisa - apesar de saber que é necessária, deve ter limites;
Não gosto de formalismos - os "você", "V. Exa", e salamaleques diversos são-me incompreensíveis, a partir de um certo ponto;
Não gosto de dias sem vento - prefiro uma tempestade a um dia de calma podre.
E, se me é permitido ultrapassar o número de "não-gostos" prescrito: não gosto da falta de pontualidade, é a mais penosa de todas as faltas de educação.
Infelizmente, não sei a quem passar a corrente.
Não gosto da estupidez, não a suporto e não sei lidar com ela - o que é uma sorte, porque é recíproco;
Não gosto da pedantice - também é uma sorte, porque também é recíproco;
Não gosto de moda - se bem isto releve mais do "estão verdes";
Não gosto da hipocrisa - apesar de saber que é necessária, deve ter limites;
Não gosto de formalismos - os "você", "V. Exa", e salamaleques diversos são-me incompreensíveis, a partir de um certo ponto;
Não gosto de dias sem vento - prefiro uma tempestade a um dia de calma podre.
E, se me é permitido ultrapassar o número de "não-gostos" prescrito: não gosto da falta de pontualidade, é a mais penosa de todas as faltas de educação.
Infelizmente, não sei a quem passar a corrente.
A transcendência intelectual no cinema
Num post ali mais abaixo lamento a necessidade que os cineastas portugueses têm de fazer filmes "intelectualmente transcendentes" (ou, para ser mais rigoroso, com "uma certa transcendência intelectual"); e acrescento "deviam preocupar-se mais com a eficácia narrativa, e alguns pormenores técnicos, que a transcendência virá de per si".
Não é totalmente verdade, claro: hoje fui ver o Indiana Jones, e se a eficácia narrativa versus transcendência intelectual fosse um jogo de futebol, o resultado seria 1000 a 0.
Tenho que reconhecer que esse resultado é uma benção. A haver transcendência intelectual, ela só me apareceu agora: estou a tentar rememorar o filme todo outra vez, plano a plano, para espremer até ao fim cada gota da serotonina e dopamina que se espalharam pelos espaços inter-sinápticos durante cada segundo da hora e pouco mais de meia que o filme durou.
Não é totalmente verdade, claro: hoje fui ver o Indiana Jones, e se a eficácia narrativa versus transcendência intelectual fosse um jogo de futebol, o resultado seria 1000 a 0.
Tenho que reconhecer que esse resultado é uma benção. A haver transcendência intelectual, ela só me apareceu agora: estou a tentar rememorar o filme todo outra vez, plano a plano, para espremer até ao fim cada gota da serotonina e dopamina que se espalharam pelos espaços inter-sinápticos durante cada segundo da hora e pouco mais de meia que o filme durou.
Idiossincrasias, pseudo-intelectuais e tascas lisboetas
Um dia propus a uma senhora, dona de uma empresa de formação, o Público, que tinha acabado de ler. Disse-me "não, obrigada. Eu só leio o Diário de Notícias, não leio jornais para pseudo-intelectuais".
Fiquei um bocadinho supreendido, na altura (foi há dois anos, mais ou menos). Por um lado, porque achei rude; por outro, porque nunca me passara pela cabeça que alguém pudesse considerar o Público um jornal para "pseudo-intelectuais". Hoje teria ficado muito menos surpreso. Por exemplo: recentemente, num fórum da net, um português do estrangeiro pediu que lhe aconselhassem "tascas lisboetas", que o senhor dizia "adorar". Uma senhora respondeu-lhe "a minha tasca favorita em Lisboa é o Pap'açorda".
Não me surpreendeu muito, confesso - mas devo dizer que me entristece, esta falta de surpresa.
Fiquei um bocadinho supreendido, na altura (foi há dois anos, mais ou menos). Por um lado, porque achei rude; por outro, porque nunca me passara pela cabeça que alguém pudesse considerar o Público um jornal para "pseudo-intelectuais". Hoje teria ficado muito menos surpreso. Por exemplo: recentemente, num fórum da net, um português do estrangeiro pediu que lhe aconselhassem "tascas lisboetas", que o senhor dizia "adorar". Uma senhora respondeu-lhe "a minha tasca favorita em Lisboa é o Pap'açorda".
Não me surpreendeu muito, confesso - mas devo dizer que me entristece, esta falta de surpresa.
Uma candidatura inclusiva
"PSD: Jardim é quem materializa visão de Sá Carneiro, diz líder distrital Porto" - quer cá parecer-me que os esforços de Pedro Passos Coelho para fazer uma renovação do partido que inclua "todos" estão a dar resultados estranhos.
Pode ser que me engane, claro. Na verdade, gostaria de me enganar, não ter razão, e que Marco António Costa dissesse aquelas coisas só por estupidez, ou incompetência. Infelizmente, não acredito nisso.
Pode ser que me engane, claro. Na verdade, gostaria de me enganar, não ter razão, e que Marco António Costa dissesse aquelas coisas só por estupidez, ou incompetência. Infelizmente, não acredito nisso.
Educação
Talvez seja altura de revermos o nosso sistema de ensino: "Katharina Von Schnurbein explicou que cerca de 47 por cento dos portugueses estudaram apenas até ao nível de escola primária ". (Só não percebo, com números destes, de onde é que vêm tantos doutores. Não se dá um passo sem que um miúdo de 25 anos nos seja apresentado como o Dr., ou Dra., Qualquer Coisa de Coiso e Coisas.)
Crédito
"Crédito a empresas cresce 12% em Março e atinge valor recorde". Haverá alguma relação entre esta notícia e a crise do imobiliário? - (Se bem valhesse a pena esmiuçar um bocadinho a distribuição do crédito: em 2005 79% do crédito comercial estava concentrado em 6% das empresas).
22.5.08
Boa noite, Irene
"Raros são os filmes nacionais que conseguem conjugar aquilo que é atractivo para o grande público com uma certa transcendência intelectual."
Esta frase, tirada do Cineblog, resume o que está, geralmente, errado com o cinema português - a "transcendência intelectual", claro. Se os nossos cineastas se preocupassem mais com a eficácia narrativa (e com alguns aspectos técnicos), a "transcendência" viria de per si. Isto dito, o filme é bom - e com menos 20 minutos ficaria ainda melhor, o que já é bastante animador (aliás, associei-lhe os defeitos muito mais aos de uma primeira obra do que aos de um filme português, o que ainda é mais animador).
Há, claro, os problemas de dicção - que, ao lado do excelente actor que é Robert Pugh se notam mais (apesar de serem muito menos do que o habitual) - e algumas fraquezas de argumento; mas o filme é bom, os diálogos são bons, a fotografia e a música boas são: a ver, e não por altruísmo ou patriotismo cinematográfico.
Esta frase, tirada do Cineblog, resume o que está, geralmente, errado com o cinema português - a "transcendência intelectual", claro. Se os nossos cineastas se preocupassem mais com a eficácia narrativa (e com alguns aspectos técnicos), a "transcendência" viria de per si. Isto dito, o filme é bom - e com menos 20 minutos ficaria ainda melhor, o que já é bastante animador (aliás, associei-lhe os defeitos muito mais aos de uma primeira obra do que aos de um filme português, o que ainda é mais animador).
Há, claro, os problemas de dicção - que, ao lado do excelente actor que é Robert Pugh se notam mais (apesar de serem muito menos do que o habitual) - e algumas fraquezas de argumento; mas o filme é bom, os diálogos são bons, a fotografia e a música boas são: a ver, e não por altruísmo ou patriotismo cinematográfico.
Cinema
Gostava de ir ao cinema contigo, amanhã, sentir-te a mão nas coxas, pôr-te a minha nas tuas, bem lá no meio e lá em cima, onde elas se encontram e tu, eu e a vida tantas vezes nos encontrámos. E gostava de te ouvir dizer, à saída, "que grande porcaria de filme. Vamos para a cama?" "Vamos para a cama?", respondia-te. "Claro que sim, se puderes esperar até lá". Às vezes não, ias o caminho todo no carro a masturbar-te e quando chegávamos a casa mal me davas tempo de fechar a porta, tinha que ser "já, aqui, assim". Eu obedecia, claro - que outra coisa poderia fazer?
Queres ir ao cinema, amanhã?
Queres ir ao cinema, amanhã?
Centro comercial
O homem é pequeníssimo - entroncado, musculado, magro, mas baixinho. A senhora que o acompanha, gorducha, com um rabo e uns seios muito salientes, é ainda mais baixa do que ele, apesar dos saltos e do penteado, altíssimos.
"Ultrapassando mesmo os Estados Unidos..."
Trinta e quatro anos de mecanismos para diminuir a desigualdade dão nisto: "Portugal apresenta a maior desigualdade na repartição de rendimentos da UE"?
Talvez seja altura de começarmos a repensar os mecanismos de redistribuição da riqueza - e da sua criação, claro, o problema não é só a distribuição.
Talvez seja altura de começarmos a repensar os mecanismos de redistribuição da riqueza - e da sua criação, claro, o problema não é só a distribuição.
Solidão
Ela queixava-se-me muito da solidão, era-lhe difícil suportá-la. Não sabia que as solidões se adicionam, raramente se anulam.
21.5.08
Novidade
Ora aqui está uma novidade:
"O Estado português é um dos piores pagadores em toda a Europa. Demora, em média, 137 dias para acertar as contas. Mais do dobro do tempo do que se demora na Europa. O sector público paga bem mais tarde em comparação com as empresas e com as famílias.
Felizmente, quando se trata de receber massa, o equilíbrio fica restabelecido:
"A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) penhorou e colocou à venda dois imóveis, cujo valor patrimonial é superior a 38 mil euros, a um contribuinte com uma dívida de 235,88 euros."
A eficácia do Estado não se fica, porém (graças a Deus!), por aqui:
"Deste montante, no entanto, apenas 75,43 euros correspondem ao não pagamento da contribuição autárquica e o restante diz respeito a acréscimos legais, como juros de mora e custas do processo."
Sempre gostaria de ouvir os comentários - tanto no café da esquina como no bar da Assembleia da República - se isto se tivesse passado num país africano.
"O Estado português é um dos piores pagadores em toda a Europa. Demora, em média, 137 dias para acertar as contas. Mais do dobro do tempo do que se demora na Europa. O sector público paga bem mais tarde em comparação com as empresas e com as famílias.
Felizmente, quando se trata de receber massa, o equilíbrio fica restabelecido:
"A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) penhorou e colocou à venda dois imóveis, cujo valor patrimonial é superior a 38 mil euros, a um contribuinte com uma dívida de 235,88 euros."
A eficácia do Estado não se fica, porém (graças a Deus!), por aqui:
"Deste montante, no entanto, apenas 75,43 euros correspondem ao não pagamento da contribuição autárquica e o restante diz respeito a acréscimos legais, como juros de mora e custas do processo."
Sempre gostaria de ouvir os comentários - tanto no café da esquina como no bar da Assembleia da República - se isto se tivesse passado num país africano.
20.5.08
Perguntas e respostas
Se a pergunta fosse "como?" encontrava por vezes a resposta; se fosse "porquê?", encontrava-a raramente; "para quê?" - nunca.
19.5.08
Passo
"PSD: Líder distrital de Lisboa [Carlos Carreiras] apoia candidatura de Pedro Passos Coelho" - antes de PPC, apoiava Alberto João Jardim. Ou CC é coerente, e isto é preocupante, ou o líder da distrital de Lisboa não é coerente - e é preocupante.
Ide, IDE
O Investimento Directo Externo, vulgo IDE, está a baixar; e a emigração a aumentar. Quer parecer-me que o grupo de pessoas que acha Portugal um país fantástico vai diminuir - e que o recorrente argumento de que Portugal "está a mudar" vai ter que ser repensado: está realmente a mudar, mas não sei se para melhor.
Incompetência
Pouco tempo depois de chegar a Portugal, um amigo disse-me que eu ficaria surpreendido com a quantidade de incompetência que viria a encontrar. Disse-lhe que não, claro: os portugueses não são mais incompetentes - nem menos - do que os outros.
Esqueci-me, naturalmente, de uma coisa: em Portugal pode ser-se incompetente.
Esqueci-me, naturalmente, de uma coisa: em Portugal pode ser-se incompetente.
Diálogos banais
- Acaba sempre por chegar o momento em que temos mais vida para trás do que para a frente.
- Sim: é quando estamos quase a morrer.
- Sim: é quando estamos quase a morrer.
18.5.08
Um jantar quase improvisado (Carbonnade flammande)
Carbonnade Flamande: basicamente, um guisado de carne de vaca em cerveja (de preferência belga) - e um bocadinho menos salgado do que o que ficou (que não foi muito, estava comestível: a amizade torna tudo apetecível).
Quase segui esta receita (com batatas, e não com spätzle). Não sei se é a melhor, mas é suficientemente próxima de memória que tenho deste prato convivial, pesado, hivernal; provei-o pela primeira vez em Dunkerque quando partilhava os meus dias, noites e um futuro que não se materializou com uma jovem e bonita senhora que vendia livros pró-independência da Flandres francesa e com quem percorri essa magnífica região de lés a lés.
Há muito não o fazia (lembrei-me devido à receita do Público, creio, "Carbonnade argentina"). Nunca mais voltei a Dunkerque. Mas as memórias e a culpa acumulam-se, como pires no Gambrinus, e ao contrário deles não se vão embora.
Quase segui esta receita (com batatas, e não com spätzle). Não sei se é a melhor, mas é suficientemente próxima de memória que tenho deste prato convivial, pesado, hivernal; provei-o pela primeira vez em Dunkerque quando partilhava os meus dias, noites e um futuro que não se materializou com uma jovem e bonita senhora que vendia livros pró-independência da Flandres francesa e com quem percorri essa magnífica região de lés a lés.
Há muito não o fazia (lembrei-me devido à receita do Público, creio, "Carbonnade argentina"). Nunca mais voltei a Dunkerque. Mas as memórias e a culpa acumulam-se, como pires no Gambrinus, e ao contrário deles não se vão embora.
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Receitas
TGV, Justiça
"Trocava o TGV por uma reforma da Justiça".
Eu também, mas infelizmente é o TGV que teremos, não a reforma da Justiça. É o pensamento concreto em acção, na sua versão portuguesa.
Eu também, mas infelizmente é o TGV que teremos, não a reforma da Justiça. É o pensamento concreto em acção, na sua versão portuguesa.
Impostos
Portugueses cumprem obrigações fiscais de 2008 na segunda-feira. Felizmente, temos um conjunto de serviços públicos que compensam largamente o que pagamos ao Estado; se não tivéssemos seria chato.
"No entanto, Pinto Barbosa refere que os suecos, apesar de trabalharem para o Fisco mais de metade do ano, não apresentam qualquer sentimento de insatisfação. A explicação está no facto de receberem do Estado contrapartidas em serviços e benefícios vistos em geral como largamente compensadores."
"No entanto, Pinto Barbosa refere que os suecos, apesar de trabalharem para o Fisco mais de metade do ano, não apresentam qualquer sentimento de insatisfação. A explicação está no facto de receberem do Estado contrapartidas em serviços e benefícios vistos em geral como largamente compensadores."
17.5.08
Ah!SAE
Não sou de acreditar em teorias da conspiração; se fosse, pensaria que a ASAE é uma ideia do Sócrates para desviar as atenções de outras coisas.
Mas às vezes tenho pena de não acreditar nelas, nas conspirações. É uma norma comunitária, dirá o Senhor Nunes quando fôr entrevistado pela comunicação social. Seria interessante a comunicação social fazer uma pesquisa para ver quantos dos 27 países a aplicam, essas norma. Aliás: seria interessante ver quantos aplicam as normas todas que a ASAE tão ferozmente faz aplicar no nosso país.
Mais, e melhor, aqui.
(Esta feliz conjunção das normas comunitárias e da tradição portuguesa do 8 ou 80 poderia, no caso específico da ASAE, levar-nos a dizer que se juntou a fome com a vontade de comer).
Mas às vezes tenho pena de não acreditar nelas, nas conspirações. É uma norma comunitária, dirá o Senhor Nunes quando fôr entrevistado pela comunicação social. Seria interessante a comunicação social fazer uma pesquisa para ver quantos dos 27 países a aplicam, essas norma. Aliás: seria interessante ver quantos aplicam as normas todas que a ASAE tão ferozmente faz aplicar no nosso país.
Mais, e melhor, aqui.
(Esta feliz conjunção das normas comunitárias e da tradição portuguesa do 8 ou 80 poderia, no caso específico da ASAE, levar-nos a dizer que se juntou a fome com a vontade de comer).
16.5.08
A subjectividade do Alexander, a objectividade e outras coisas menos importantes
É importante analizar a realidade racionalmente (por oposição a "subjectivamente"), claro. Ou seja, se por acaso - mero acaso - quiséssemos um Alexander no Pavilhão Chinês (PC) - e antes de tudo o mais devo lembrar os amáveis e generosos leitores (e leitoras, claro) de que se houvesse um concurso de Alexanders neste vasto, injusto e inóspito mundo o do PC ganharia o 1º, o 2º e o 3º lugares - enfim, se houvesse um concurso de Alexanders, dizia eu, teríamos que começar pelo princípio: "o que é um Alexander?" e eu respondo: "é o ponto de confluência do doce (das natas) e do amargo (do brandy); é o meio caminho entre o etéreo (do brandy, encore lui) e o consistente, do licor de cacau; é a divina sinergia entre o cacau (no estado licoroso), o brandy e as natas; é o ponto de encontro do passado, do presente (coisa que para um barman ou não existe ou é a única que existe) e do futuro; é a medida do tempo (sem contar com o tempo que ele, tempo, passa nos organismos públicos portugueses).
O Alexander é uma das provas da existência de Deus - e o PC é o Seu templo.
PS - quando se fala em Alexander, não nos devemos nunca esquecer do da defunta Casa do Largo, em Cascais, quando ainda era um sítio frequentável; nem do do Procópio, em Lisboa. Que os barmen de "ambos os dois" bares se chamem Luis demonstra que não há coincidências, neste vasto universo (o do PC chama-se Miguel, o que só confirma a tese - como se ela precisasse de mais confirmações ainda).
O Alexander é uma das provas da existência de Deus - e o PC é o Seu templo.
PS - quando se fala em Alexander, não nos devemos nunca esquecer do da defunta Casa do Largo, em Cascais, quando ainda era um sítio frequentável; nem do do Procópio, em Lisboa. Que os barmen de "ambos os dois" bares se chamem Luis demonstra que não há coincidências, neste vasto universo (o do PC chama-se Miguel, o que só confirma a tese - como se ela precisasse de mais confirmações ainda).
Luta de classes
Não sou pela luta de classes, antes bem pelo contrário: sou pela cooperação entre elas. Sobretudo entre a classe dos feios como eu e a das belas como tu.
Deus, os dados e o acaso
"Deus", dizia Einstein, "não joga aos dados com o Universo". Com o Universo não sei; mas com a humanidade joga de certeza - basta entrar num café da Baixa à hora do almoço para se ver isso.
Cadernos Clairefontaine
Estes cadernos deviam ter uma data. Do género "comecei hoje, dia tantos do tal, e acabei..." (vá lá saber-se quando). E deviam também ter um indíce: que nomes, que números de telefone, que tarefas apontei neste, ou nos cadernos que agora acabam - para nunca mais me lembrar deles?
Como os dias, de resto, que por aqui passaram - de quantos me lembrarei, amanhã?
Como os dias, de resto, que por aqui passaram - de quantos me lembrarei, amanhã?
Amadorismo - II
Um perfeito par de pernas prova que Deus não é amador...
...excepto se por cima estiver uma face menos do que perfeita, claro.
...excepto se por cima estiver uma face menos do que perfeita, claro.
15.5.08
A ausência e a memória
Há dias em que nem toda a memória do mundo justifica uma ausência - a tua ausência.
Tudo a desfazer-se
Um artigo magnífico no segundo melhor jornal do mundo.
"Everything Falling Apart, Reports Institute For Somehow Managing To Hold It All Together"
"Everything Falling Apart, Reports Institute For Somehow Managing To Hold It All Together"
14.5.08
Tudo muda...
...para que tudo fique na mesma. A impunidade e a irresponsabilidade vão continuar.
"Teixeira dos Santos anuncia criação de seguro para proteger funcionários da administração fiscal".
"Teixeira dos Santos anuncia criação de seguro para proteger funcionários da administração fiscal".
(Via Grande Loja do Queijo Limiano).
Palermices
Num dia, o Primeiro Ministro diz que "há muitas coisas a censurar no Governo"; pouco tempo depois fuma num avião, oh desgraça, oh vício, oh perdição. Cai-lhe metade da "opinião" em cima (enfim, mais de metade, forçoso é reconhecer: os que não fumam porque ele fumou, os que fumam porque eles não podem fumar). E o homem diz que vai deixar de fumar. Seja Deus louvado!, lá estragou ele tudo outra vez. Não podia ter acrescentado uns cigarros num avião fretado à lista das coisas a censurar? Ou, sei lá, criado uma outra lista, a das coisas a censurar nele e não no Governo?
Com tanta coisa a censurar, têm que se atirar ao cigarro como gato a bofe?
(Mais, e melhor, aqui e aqui).
Com tanta coisa a censurar, têm que se atirar ao cigarro como gato a bofe?
(Mais, e melhor, aqui e aqui).
O leite, a vida
Não sentia muito o aumento do preço do leite, porque consumia muito pouco leite; aliás, tão-pouco sentia o aumento do custo de vida: não tinha vida.
13.5.08
A beleza e o tempo
Tu eras muito mais bonita do que pensavas; mas as pessoas só te viam como tu te pensavas, e não como eras.
Angélique Ionatos, outra vez
"O Kyklos tou Nerou-Mia Thalassa".
É a única pessoa que ma faz lamentar não perceber grego (enfim, o Mia Thalassa ainda percebo, graças a Deus).
Foi à Grécia, pela primeira vez, por causa de Angélique Ionatos; e nesse ano conheceu uma judia, americana. Deviam ter ido para Chipre, mas ele teve um acidente e não foi. Ela era loira, de cabelos lisos, mas ele achava-a parecida com Angélique Ionatos. Tudo, na Grécia, o fazia pensar nela, então. E em Leonard Cohen, mesmo antes de conhecer as ilhas.
"Pehnidia"
É a única pessoa que ma faz lamentar não perceber grego (enfim, o Mia Thalassa ainda percebo, graças a Deus).
Foi à Grécia, pela primeira vez, por causa de Angélique Ionatos; e nesse ano conheceu uma judia, americana. Deviam ter ido para Chipre, mas ele teve um acidente e não foi. Ela era loira, de cabelos lisos, mas ele achava-a parecida com Angélique Ionatos. Tudo, na Grécia, o fazia pensar nela, então. E em Leonard Cohen, mesmo antes de conhecer as ilhas.
"Pehnidia"
angélique ionatos - astéron panton
Há mais, aqui.
PS
Antes de se despedirem definitivamente, comeram um sorvete de limão; e ele continuou com a sua Negra.
(Com um agradecimento ao Porta do Vento, que me trouxe Paolo Conte à memória).
(Com um agradecimento ao Porta do Vento, que me trouxe Paolo Conte à memória).
12.5.08
Vertigem
Ela brincava a gozar com ele; e ele brincava a deixá-la pensar que estava a gozar com ele. O jogo não tinha fim, e era sistematicamente relançado, por um e por outro, cada vez que esmorecia. Às vezes resvalavam para o primeiro grau, mas recompunham-se depressa.
Lançavam-se citações de Leonard Cohen como pedras: "Ah you loved me as a loser, but now you're worried that I just might win / You know the way to stop me, but you don't have the discipline"; ou "she's rubbing half the world against her thigh / And every drinker every dancer / lifts a happy face to thank her".
Durou alguns anos, até que se viram pela primeira vez; numa ilha das Caraíbas, onde ela tinha ido a uma dessas "conferências" médicas e ele vivia, de rum e de vento. Não se reconheceram, claro, até ao dia em que ela, em vez de Leonard Cohen, usou Harry Belafonte "I wonder why nobody don't like me / Or is it the fact that I'm ugly?" e ele respondeu
"But I'm sad to say I'm on my way
Won't be back for many a day
My heart is down, my head is turning around
I had to leave a little girl in Kingston town".
Lançavam-se citações de Leonard Cohen como pedras: "Ah you loved me as a loser, but now you're worried that I just might win / You know the way to stop me, but you don't have the discipline"; ou "she's rubbing half the world against her thigh / And every drinker every dancer / lifts a happy face to thank her".
Durou alguns anos, até que se viram pela primeira vez; numa ilha das Caraíbas, onde ela tinha ido a uma dessas "conferências" médicas e ele vivia, de rum e de vento. Não se reconheceram, claro, até ao dia em que ela, em vez de Leonard Cohen, usou Harry Belafonte "I wonder why nobody don't like me / Or is it the fact that I'm ugly?" e ele respondeu
"But I'm sad to say I'm on my way
Won't be back for many a day
My heart is down, my head is turning around
I had to leave a little girl in Kingston town".
11.5.08
10.5.08
Defesa do consumidor
António Nunes, Director da ASAE, diz não sei onde (li a notícia no telefone) que a sua missão é a defesa do consumidor. Eu, por mim, agradeço, mas dispenso. E, já agora, aproveito para pedir se da próxima vez me podiam perguntar. Obrigado.
PS - mais, e melhor, aqui.
PS - mais, e melhor, aqui.
9.5.08
Alcântara
Ou eu muito me engano ou desta vez a APL não vai conseguir levar a sua avante pelo habitual método do facto consumado.
O mínimo é que a população saiba o que se vai fazer; é necessário melhorar a capacidade do porto de Lisboa, indubitavelmente, mas a Doca do Espanhol é um lugar histórico, central para Lisboa - imagine-se que o organismo que explora a torre Eiffel a usava para resolver o problema do estacionamento em Paris; e que se deve procurar, quando muito, uma solução transitória. E fazer um estudo sobre a necessidade de um porto em Lisboa (espero que chegue à conclusão que sim, é necessário); e que haja um debate público, e não decisões tomadas à socapa como se estavam a preparar para fazer.
O mínimo é que a população saiba o que se vai fazer; é necessário melhorar a capacidade do porto de Lisboa, indubitavelmente, mas a Doca do Espanhol é um lugar histórico, central para Lisboa - imagine-se que o organismo que explora a torre Eiffel a usava para resolver o problema do estacionamento em Paris; e que se deve procurar, quando muito, uma solução transitória. E fazer um estudo sobre a necessidade de um porto em Lisboa (espero que chegue à conclusão que sim, é necessário); e que haja um debate público, e não decisões tomadas à socapa como se estavam a preparar para fazer.
Esgotos
Hoje ouvi o vereador Sá Fernandes garantir que em Junho ou Julho iam começar as obras para ligar - hallelujah - todos os esgotos de Lisboa às ETAR. Vai ficar pronto daqui a um ano.
Devia haver eleições todos os anos.
Devia haver eleições todos os anos.
Construção
Manhã numa conferência sobre frentes ribeirinhas. No meio de muita conversa e muito debate, lá vem, inevitavelmente, o problema da construção na rente ribeirinha.
Estou farto da conversa da construção: não é necessariamente má. Sem construção Veneza seria um pântano.
Estou farto da conversa da construção: não é necessariamente má. Sem construção Veneza seria um pântano.
8.5.08
Parabéns
O Estado de Israel faz 60 anos no próximo dia 14 e deixo aqui uma menção simples, um "parabéns" honesto, sentido. (Uma jovem senhora que não conheço mas sei chamar-se Marta faz anos nesse dia também. Ignoro quantos, mas são menos do que 60. Aproveito para agradecer à sua simpática e diligente tia).
Um dos inúmeros mistérios que povoam o meu universo é o da hostilidade que a esquerda actual tem contra um país que é uma democracia, onde as mulheres têm direitos e os homossexuais são reconhecidos, e onde há menos desigualdade, menos miséria do que em tantos outros que lhe são vizinhos; e como é que essa mesma esquerda lhe prefere as ditaduras árabes, arcaicas, corruptas, homofóbicas, machistas. Não sei. Mas há muito que me resignei à impossibilidade de (ou à minha incapacidade para) decifrar todos os mistérios. E à falta de paciência, mas isso é outra história.
Claro que há um teste; mas é, receio, simples demais. Roça o simplista e o demagógico. Consiste em perguntar a algumas pessoas (ocorre-me assim de repente um nome ou dois, mas não faz mal) onde prefeririam viver, se tivessem que viver no Médio Oriente.
Os meus primeiros (e infelizmente quase únicos) contactos afectivos com o povo judeu foram feitos através de duas ou três namoradas com quem tive a sorte de namorar (passe a redundância, devida sem dúvida à profunda emoção do momento e da lembrança) e devo dizer que a minha admiração por aquele país contém uma fortíssima e inconfessável dose de inveja.
Um dos inúmeros mistérios que povoam o meu universo é o da hostilidade que a esquerda actual tem contra um país que é uma democracia, onde as mulheres têm direitos e os homossexuais são reconhecidos, e onde há menos desigualdade, menos miséria do que em tantos outros que lhe são vizinhos; e como é que essa mesma esquerda lhe prefere as ditaduras árabes, arcaicas, corruptas, homofóbicas, machistas. Não sei. Mas há muito que me resignei à impossibilidade de (ou à minha incapacidade para) decifrar todos os mistérios. E à falta de paciência, mas isso é outra história.
Claro que há um teste; mas é, receio, simples demais. Roça o simplista e o demagógico. Consiste em perguntar a algumas pessoas (ocorre-me assim de repente um nome ou dois, mas não faz mal) onde prefeririam viver, se tivessem que viver no Médio Oriente.
Os meus primeiros (e infelizmente quase únicos) contactos afectivos com o povo judeu foram feitos através de duas ou três namoradas com quem tive a sorte de namorar (passe a redundância, devida sem dúvida à profunda emoção do momento e da lembrança) e devo dizer que a minha admiração por aquele país contém uma fortíssima e inconfessável dose de inveja.
Serviço público - música; ou Repetição
Já aqui falei das Vésperas de Rachmaninov, do estranho poder que elas têm, da sua profunda beleza. (Só o fiz cerca de 237 vezes, o que é nitidamente insuficiente).
Não percebo a exaltação mística, não percebo a fé. A leitura de uma recente (e belíssima) tradução das Confissões de Santo Agostinho só acentuou essas incompreensões (ainda mais devido à profunda racionalidade e inteligência do senhor, mas isso é outro debate). Só lhes consigo, vagamente, entrever a natureza quando oiço estes cânticos.
Aconselho duas versões: a da Naxos, 8.555908, pelo Coro da Ópera Nacional Finslandesa dirigido por Eric-Olof Söderström (de quem nunca ouvi falar, mas não sou uma referência) e a do Coro da Câmara Filarmónica Estoniana dirigido por Paul Hillier (Harmonia Mundi, 907384), mais calma, menos exaltada (passe o exagero).
Não percebo a exaltação mística, não percebo a fé. A leitura de uma recente (e belíssima) tradução das Confissões de Santo Agostinho só acentuou essas incompreensões (ainda mais devido à profunda racionalidade e inteligência do senhor, mas isso é outro debate). Só lhes consigo, vagamente, entrever a natureza quando oiço estes cânticos.
Aconselho duas versões: a da Naxos, 8.555908, pelo Coro da Ópera Nacional Finslandesa dirigido por Eric-Olof Söderström (de quem nunca ouvi falar, mas não sou uma referência) e a do Coro da Câmara Filarmónica Estoniana dirigido por Paul Hillier (Harmonia Mundi, 907384), mais calma, menos exaltada (passe o exagero).
Serviço público - restaurantes
A música é boa; a decoração, apesar de medíocre, ou suficiente menos, não choca; a lista tem algumas sugestões interessantes a par de outras perfeitamente dispensáveis, de tão banais (as banalidades de base têm pelo menos o mérito de ser indispensáveis. Estas nem isso); a falta de copos de vinho imperdoável; o amadorismo inexcedível - às vezes é irritante, outras adorável e, sempre, incompreensível; a simpatia das empregadas / proprietárias / cozinheiras (pelo menos de uma delas) é mais eficaz do que uma tonelada de Prozac, e o sorriso (da mesma) mais apaziguante do que muitos dias sem destino, ou algumas noites.
Refiro-me à cafeteria do Teatro da Politécnica, onde se podem comer refeições ligeiras, ouvir boa música e olhar para um bela colecção de cactos.
Refiro-me à cafeteria do Teatro da Politécnica, onde se podem comer refeições ligeiras, ouvir boa música e olhar para um bela colecção de cactos.
Cactos
Cactos, cactos e mais cactos: só vejo cactos à frente.
Isto não é uma metáfora: estou a jantar virado para o Jardim Botânico.
Isto não é uma metáfora: estou a jantar virado para o Jardim Botânico.
De tristeza, e de raiva impotente...
... enfim, de tudo menos de resignação: o artigo de Miguel Sousa Tavares é excelente. O problema é que o mar, e os assuntos do mar, não têm uma grande capacidade de mobilização na sociedade portuguesa. Imaginem o que se passaria se alguém pensasse em deitar abaixo um estádio de futebol para fazer uma horta.
Em todos os países civilizados e desenvolvidos que conheço estão a tirar os portos dos centros das cidades. Portugal, país rico, está a aumentar o que lá está.
Em todos os países civilizados e desenvolvidos que conheço estão a tirar os portos dos centros das cidades. Portugal, país rico, está a aumentar o que lá está.
7.5.08
MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA
MANIFESTO EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTRA O ACORDO ORTOGRÁFICO(Ao abrigo do disposto nos Artigos n.os 52.º da Constituição da República Portuguesa, 247.º a 249.º do Regimento da Assembleia da República, 1.º n.º 1, 2.º n.º 1, 4.º, 5.º, 6.º e seguintes da Lei que regula o exercício do Direito de Petição)
Ex.mo Senhor Presidente da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Primeiro-Ministro
1 – O uso oral e escrito da língua portuguesa degradou-se a um ponto de aviltamento inaceitável, porque fere irremediavelmente a nossa identidade multissecular e o riquíssimo legado civilizacional e histórico que recebemos e nos cumpre transmitir aos vindouros. Por culpa dos que a falam e escrevem, em particular os meios de comunicação social; mas ao Estado incumbem as maiores responsabilidades porque desagregou o sistema educacional, hoje sem qualidade, nomeadamente impondo programas da disciplina de Português nos graus básico e secundário sem valor científico nem pedagógico e desprezando o valor da História.Se queremos um Portugal condigno no difícil mundo de hoje, impõe-se que para o seu desenvolvimento sob todos os aspectos se ponha termo a esta situação com a maior urgência e lucidez.
2 – A agravar esta situação, sob o falso pretexto pedagógico de que a simplificação e uniformização linguística favoreceriam o combate ao analfabetismo (o que é historicamente errado) e estreitariam os laços culturais (nada o demonstra), lançou-se o chamado Acordo Ortográfico, pretendendo impor uma reforma da maneira de escrever mal concebida, desconchavada, sem critério de rigor, e nas suas prescrições atentatória da essência da língua e do nosso modelo de cultura. Reforma não só desnecessária mas perniciosa e de custos financeiros não calculados. Quando o que se impunha era recompor essa herança e enriquecê-la, atendendo ao princípio da diversidade, um dos vectores da União Europeia.Lamenta-se que as entidades que assim se arrogam autoridade para manipular a língua (sem que para tal gozem de legitimidade ou tenham competência) não tenham ponderado cuidadosamente os pareceres científicos e técnicos, como, por exemplo, o do Prof. Doutor Óscar Lopes, e avancem atabalhoadamente sem consultar escritores, cientistas, historiadores e organizações de criação cultural e investigação científica. Não há uma instituição única que possa substituir-se a toda esta comunidade, e só ampla discussão pública poderia justificar a aprovação de orientações a sugerir aos povos de língua portuguesa.
3 – O Ministério da Educação, porque organiza os diferentes graus de ensino, adopta programas das matérias, forma os professores, não pode limitar-se a aceitar injunções sem legitimidade, baseadas em "acordos" mais do que contestáveis. Tem de assumir uma posição clara de respeito pelas correntes de pensamento que representam a continuidade de um património de tanto valor e para ele contribuam com o progresso da língua dentro dos padrões da lógica, da instrumentalidade e do bom gosto. Sem delongas deve repor o estudo da literatura portuguesa na sua dignidade formativa.O Ministério da Cultura pode facilitar os encontros de escritores, linguistas, historiadores e outros criadores de cultura, e o trabalho de reflexão crítica e construtiva no sentido da maior eficácia instrumental e do aperfeiçoamento formal.
4 – O texto do chamado Acordo sofre de inúmeras imprecisões, erros e ambiguidades – não tem condições para servir de base a qualquer proposta normativa.É inaceitável a supressão da acentuação, bem como das impropriamente chamadas consoantes "mudas" – muitas das quais se lêem ou têm valor etimológico indispensável à boa compreensão das palavras.Não faz sentido o carácter facultativo que no texto do Acordo se prevê em numerosos casos, gerando-se a confusão.Convém que se estudem regras claras para a integração das palavras de outras línguas dos PALOP, de Timor e de outras zonas do mundo onde se fala o Português, na grafia da língua portuguesa.A transcrição de palavras de outras línguas e a sua eventual adaptação ao português devem fazer-se segundo as normas científicas internacionais (caso do árabe, por exemplo).Recusamos deixar-nos enredar em jogos de interesses, que nada leva a crer de proveito para a língua portuguesa. Para o desenvolvimento civilizacional por que os nossos povos anseiam é imperativa a formação de ampla base cultural (e não apenas a erradicação do analfabetismo), solidamente assente na herança que nos coube e construída segundo as linhas mestras do pensamento científico e dos valores da cidadania.Os signatários,
Ana Isabel Buescu
António Emiliano
António Lobo Xavier
Eduardo Lourenço
Helena Buescu
Jorge Morais Barbosa
José Pacheco Pereira
José da Silva Peneda
Laura Bulger
Luís Fagundes Duarte
Maria Alzira Seixo
Mário Cláudio
Miguel Veiga
Paulo Teixeira Pinto
Raul Miguel Rosado Fernandes
Vasco Graça Moura
Vítor Manuel Aguiar e Silva
Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho
Zita Seabra...
A Petição pode ser assinada aqui.
Serviço público - restaurantes
Há um restaurante em Lisboa ao qual se deve ir quando se tem fome, mas onde se pode ir caso contrário; um restaurante ao qual se deve ir acompanhado - mas onde se pode ir sozinho; um restaurante onde se deve comer caro - mas onde se pode pagar uma soma acessível por um magnífico, sublime, excelente jantar.
Esse restaurante chama-se Mãe d'Água, fica na Travessa das Amoreiras nº 10, e tem um ou dois defeitos (a televisão, por exemplo) e inúmeras, inexcedíveis, qualidades.
A partir de agora, e (espero) durante muito tempo, fica no podium dos restaurantes de Lisboa, de Portugal, do mundo.
Mãe d'Água, Travessa das Amoreiras 10, Tel. 213 882 82. Fecha aos sábados e domingos (é o outro defeito).
PS - viva a crítica subjectiva.
Esse restaurante chama-se Mãe d'Água, fica na Travessa das Amoreiras nº 10, e tem um ou dois defeitos (a televisão, por exemplo) e inúmeras, inexcedíveis, qualidades.
A partir de agora, e (espero) durante muito tempo, fica no podium dos restaurantes de Lisboa, de Portugal, do mundo.
Mãe d'Água, Travessa das Amoreiras 10, Tel. 213 882 82. Fecha aos sábados e domingos (é o outro defeito).
PS - viva a crítica subjectiva.
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Restaurantes Lisboa
Deus, e a sombra de Deus
Mas Deus não existe: o que existe é a sombra Dele; e é à sombra da sombra Dele que por vezes nos acolhemos. Eu, queimado do sol; e tu, alva como a sombra que nos acolhe.
Um dia, ou dois
Um dia os dois aqui viveremos e um dia os dois nos afundaremos, aqui, na vida, no cheiro da vida (que é o teu) um dia - ou mesmo dois; os dois.
Vida
Aquelas florestas que vemos por vezes na televisão, agarradas a impossíveis flancos de montanha, ou inacessíveis buracos nas rochas, fazem-me pensar. Como é possível haver vida ali? Como é possível haver vida em mim?
Ordinais
Nunca me interessei muito pela primeira, ou segunda: as coisas (e as pessoas) só me interessam depois.
4.5.08
As finanças do PSD (e do PS, já agora)
O que é verdadeiramente aborrecido nesta história das finanças do PSD é que assim que chegar ao Governo vai fazer tudo para lhes restabelecer a saúde. E como o PS (quando na oposição) não está provavelmente em melhor forma, fica explicado porque é que a luta contra a corrupção é Portugal não passa de voeux pieux.
3.5.08
Negritude
Alguém me fez hoje pensar em ti: tinha os cabelos negros, negros como os dias que vivi sem te conhecer.
1.5.08
Irrealismo, esquizofrenia, impotência?
"Este projecto tem pisos a mais. Tem 30 metros de altura ou dez pisos"
Como é que num país onde se constrói como em Portugal há tanta aversão à construção?
Como é que num país onde se constrói como em Portugal há tanta aversão à construção?
Realismo
Há um realismo saudável, alegre, céptico, quase niilista:
"- Não quero ter filhos já, mas tenho de começar a pensar nisso. Não quero ser mãe aos 50. Mas também não quero ter um filho só por ter: quero ter uma família feliz, ou pelo menos aparentemente feliz."
É o único que interessa.
"- Não quero ter filhos já, mas tenho de começar a pensar nisso. Não quero ser mãe aos 50. Mas também não quero ter um filho só por ter: quero ter uma família feliz, ou pelo menos aparentemente feliz."
É o único que interessa.
Precários
Na Suiça não há recibos verdes: as pessoas são contratadas para uma missão específica ou indeterminada e podem ser despedidas sem qualquer razão a qualquer momento - estando este pré-definido ou não.
De uma certa forma, são todos "precários". Curiosamente, a taxa de desemprego é muito baixa, e a média de permanência nos empregos é, por exemplo, superior à francesa, cuja rigidez do mercado de trabalho pouco (ou nada) deve à nossa.
Pergunto a mim mesmo o que diria um sindicalista português em conversa com um sindicalista suíço. Será que este quereria trocar?
De uma certa forma, são todos "precários". Curiosamente, a taxa de desemprego é muito baixa, e a média de permanência nos empregos é, por exemplo, superior à francesa, cuja rigidez do mercado de trabalho pouco (ou nada) deve à nossa.
Pergunto a mim mesmo o que diria um sindicalista português em conversa com um sindicalista suíço. Será que este quereria trocar?
Sunday morning
Esta série de posts João Miranda é bastante ilustrativa da capacidade que a esquerda tem de se impermeabilizar ao real.
É uma das formas do pensamento mágico - as coisas são o que nós queremos que elas sejam, mesmo que isso não tenha nenhuma relação com o real. É uma atitude que pode ser construtiva - mas leva frequentemente a grandes catástrofes.
No segundo post há um comentário que faz pensar, de Tina: "Um dia serão os nossos filhos a emigrar para a Ucrânia". Não seria a primeira vez na nossa história: quando os ingleses receberam Hong Kong, Macau era a capital do Oriente - e Hong Kong uma rocha deserta. Menos de 100 anos depois, Macau era o prostíbulo (barato) do Oriente, e Hong Kong o que se sabe.
Não é, claro, por sermos mais "burros", ou mais "estúpidos", ou mais seja o que for do que os outros: basta viver-se meia dúzia de meses no estrangeiro para se ver que não vimos de outro planeta. È pela maneira como nos organizamos, pela maneira como aceitamos as desigualdades - absorvêmo-la através da inveja, e não por qualquer coisa de positivo - pela aversão ao risco e à mudança (veja-se o clamor que tem sido com as "reformas" do presente Governo: como se fossem mais do que o primeiro passo numa viagem que conta mil - como se fossem reformas...)
Enfim, tudo isto para chegar à conclusão que se fosse do PSD não saberia em quem votar. Provavelmente em Passos Coelho. Não sei; estou farto do passado, mas até hoje o futuro nunca passou de mais do mesmo. E que ao fim de 5 anos em Portugal sou, finalmente, vítima desta irritante mania de andar sempre à procura de uma explicação para o que somos, ou porquê.
É uma das formas do pensamento mágico - as coisas são o que nós queremos que elas sejam, mesmo que isso não tenha nenhuma relação com o real. É uma atitude que pode ser construtiva - mas leva frequentemente a grandes catástrofes.
No segundo post há um comentário que faz pensar, de Tina: "Um dia serão os nossos filhos a emigrar para a Ucrânia". Não seria a primeira vez na nossa história: quando os ingleses receberam Hong Kong, Macau era a capital do Oriente - e Hong Kong uma rocha deserta. Menos de 100 anos depois, Macau era o prostíbulo (barato) do Oriente, e Hong Kong o que se sabe.
Não é, claro, por sermos mais "burros", ou mais "estúpidos", ou mais seja o que for do que os outros: basta viver-se meia dúzia de meses no estrangeiro para se ver que não vimos de outro planeta. È pela maneira como nos organizamos, pela maneira como aceitamos as desigualdades - absorvêmo-la através da inveja, e não por qualquer coisa de positivo - pela aversão ao risco e à mudança (veja-se o clamor que tem sido com as "reformas" do presente Governo: como se fossem mais do que o primeiro passo numa viagem que conta mil - como se fossem reformas...)
Enfim, tudo isto para chegar à conclusão que se fosse do PSD não saberia em quem votar. Provavelmente em Passos Coelho. Não sei; estou farto do passado, mas até hoje o futuro nunca passou de mais do mesmo. E que ao fim de 5 anos em Portugal sou, finalmente, vítima desta irritante mania de andar sempre à procura de uma explicação para o que somos, ou porquê.
Só um especialista pode lidar com o problema, claro
Laurie Anderson, outra e pela última vez (primeira, para o leitor).
Vozes
Gosto da voz feminina: Nico, Jeanne Lee, Patti Smith, Rickie Lee Jones, Pietra Montecorvino (o som é horrível); ou, perdoem-me o diacronismo, Santa Teresa d'Ávila, Hildegarde von Bingen.
Ou Laurie Anderson:
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