30.8.09

Programas

Andou por aí muito palavreado por causa da "ausência" de programa do PSD. Como se o PS tivesse um programa. Como se "promessas" fosse sinónimo de "programa".

O futurismo e a cultura

Não sei se estou enganado, mas este senhor não foi um dos que o (ainda) nosso primeiro-Ministro chamou para uma conversa sobre cultura?

(Via Blasfémias)

O país real - II

Um amigo meu estava a escrever um livro sobre a fauna e a flora de um determinado concelho. Oito meses antes da publicação apercebeu-se de que não teria dinheiro para terminar a obra e pediu "apoio" à respectiva Câmara Municipal. "A Câmara Municipal de... não está vocacionada para prestar esse tipo de apoios", foi a resposta, lesta (ao menos isso).

O M., que também é de ir à luta, telefonou a um amigo dele, administrador de uma grande cadeia de jornais. Pouco tempo depois, uma reportagem de seis-páginas-seis aparece no suplemento dominical de um dos jornais do grupo.

Na segunda-feira seguinte (não é uma força de expressão: foi realmente na segunda-feira seguinte à publicação) recebe um telefonema da Câmara Municipal: gostariam de marcar uma reunião com ele, por causa do pedido de apoio. "O senhor presidente da Câmara quer absolutamente estar envolvido e ajudá-lo a completar essa obra, fundamental para o nosso Concelho", diz-lhe a senhora que assinara a carta a recusar-lhe o apoio.

E ainda falam em modernização, qualidade e assim: a qualidade intrínseca de um projecto vale zero, no nosso país. O que vale é a qualidade da agenda telefónica. Só.

O país real

Nesta história da ampliação do Terminal de Contentores de Alcântara - que está longe de terminada - uma coisa que me surpreendeu foi o silêncio quase absoluto dos outros operadores do porto de Lisboa. Sobretudo porque os conheço, e sei que não são pessoas para se ficarem sem ir à luta.

Recentemente encontrei um deles, um dos poucos que se manifestou. Felicitei-o pelo artigo e perguntei-lhe a razão do silêncio.

"Adivinha porquê", respondeu-me. "Depois daquele artigo, a Secretária de Estado deixou de nos atender o telefone. E as ameaças de que nos tirariam as outras concessões foram inúmeras".



(Também publicado no CidadaniaLx)

PS - Deve ser a isto que eles chamam "progresso", "século XXI", etc.

Um post aberto

"If you want to be happy / living a king's life", diz um tradicional calypso, "never make a pretty woman your wife / ... Therefore from a logical point of view / better marry a woman uglier than you".

Não posso estar mais de acordo com a teoria, mas a prática revela-se uma complicação: por um lado é praticamente impossível encontrar uma mulher mais feia do que eu; por outro, imagina-se facilmente o surto de ataques cardíacos que um casal formado por mim e por uma senhora (ainda) mais feia causaria por essas ruas fora.

Por uma simples questão humanitária, portanto, e contra o que manda o bom-senso, tenho uma certa tendência para escolher senhoras bonitas, elegantes, inteligentes e divertidas. O equilíbrio fica restabelecido e o resto da humanidade grata. E a lógica que vá às batatas.



27.8.09

Colonel, suite et fin

Não sei qual a relação entre a tua distância e o meu colonel. Espero que não exista; não porque seja ciumento, mas porque abomino relações in absentia.

Post semi-privado

Se eu quisesse escrevia-te, subitamente. Se tu quisesses.

Crenças

A esquerda está, é sabido, protegida do real por uma espessa gabardine ideológica. É por isso que - infelizmente - ideias como esta de pouco servirão.

Simples,

não é?

Perdido

Perdia-se nas palavras como nos campos, planícies floridas ou montanhas estúpidas como o granito de que eram feitas.

Simplex

SeewhatImean?

Um artigo interessante,

hoje no i (não consegui encontrar o link): "Loucuras da adolescência são sinal de maturidade". O lead diz: "Estudo controverso: os jovens impulsivos têm o cérebro mais desenvolvido do que os conservadores".

Merdosos, medrosos

"Portugal é um país de merdosos", disse um dia José Miguel Júdice. Tem a razão toda, todos os dias. Ou de medrosos, o que é a mesma coisa, para almas sensíveis, sensatas, coitadas.

Marquises

A campanha é bem-vinda, sem dúvida. Mas não responde a uma pergunta que me persegue vai para alguns anos: porque raio de carga de água insistem os arquitectos em desenhar varandas, se sabem que a primeira coisa que as pessoas vão fazer é fechá-las com marquises hediondas?

26.8.09

Repentes

Nada leva mais tempo a construir do que um repente.

Noite

As coisas e as pessoas (esse conjunto a que chamamos vida) são o que são. E agora, às dez da noite, é demasiado tarde para as mudar.

Destruição

O processo destrutivo é pelo menos tão interessante - quiçá mais - do que o criativo; mas é, injustamente, menos reconhecido.

Vida

A vida é um mistério que só o mar torna inteligível.

Coisas

Que uma coisa destas fale na televisão é surpreendente. Que ande envolvida em política é siderante. Que seja "mandatária" - não sei o que faz um mandatário, mas isso é irrelevante - excede o vocabulário de um pobre marinheiro perdido na terra.




(Via Blasfémias)

PS - uso "coisa" propositadamente, para distinguir de "mulher", outro termo recorrente neste blogue.

Fernet-Branca

É insuportável, amarga, irresistível (viciante) e faz bem. Toquei-lhe pela primeira vez há mais de vinte anos e nunca mais a larguei. Não, não é uma mulher. É uma bebida.

25.8.09

Palavras II

Como ratos atrás de um flautista. [Paralisado].

Palavras

O mar tem palavras suas: ferro, e não âncora; agulha, em vez de bússola; camarote, proa, popa, por ante-a-vante (ou por ante-a-ré); bombordo e estibordo; garrar, fundear, atracar; galope do mastro; amarra, cabos, través, amuras, springs (regeiras, em português); lançantes, travezes; vigia, escotilha, gaiuta, paiol; beliche; balaústre. Um barco (isto é, uma embarcação, ou um navio: no mar não há barcos) tem um vocabulário.

O mar é uma língua, um país: a vida.

Universos (fragmentos possíveis)

...ou: cada mulher é um universo, separada das outras por outro universo. Ou um abismo, separada das outras por um abismo.

...um universo no qual se entra (ou se cai: um abismo).

24.8.09

Mundo

Num mundo onde cada vez há menos liberdade - não há quem não se preocupe com a nossa saúde, a nossa segurança, a nossa velhice, a nossa educação (e pior ainda, a dos nossos filhos); num mundo cada vez mais incompreensível as únicas saídas são o mar e a solidão. Juntas, se possível.

Viagens, vida

Uma viagem é o que dela fica, quando acaba. Como a vida.

Viagens, regressos

Não sei que dizer, estes dias. Por um lado tanto para dizer; por outro, tão pouco. Não que o mar me roube as palavras. Mas de que é uma viagem feita?

Os relatos tornam-se factuais: o cabo no hélice, o poniente antes, e a chegada a Gibraltar mais morto do que vivo; os dias na cidade a pensar que não seria capaz - mesmo que quisesse - de reencontrar um único dos sítios que tanto me marcaram, há tanto tempo (e a nota de que a livraria ainda está na mesma esquina). A saída à meia-noite, depois de um jantar medíocre; a vaga horrível e desencontrada na primeira metade do Golfo de Cádiz; fundear em Cascais com uma nortada desfeita...Nada disso conta o que aconteceu realmente: o regresso ao mar; o regresso às palavras do mar.

É desse regresso que devo falar, um dia.

22.8.09

Ausências

O Don Vivo anda ausente, pelos mares. Feliz, e com saudades do Don Vivo.

20.8.09

À maneira do Arcebispo

Os golfinhos, quando se zangam, engolfinham-se.

14.8.09

Simplex

O Simplex (o programa do Governo, claro, não o blogue) é um exemplo magnífico da actuação deste governo: uma boa ideia que não resolve nem um terço do problema que pretendia resolver e que - não é só neste caso - é apresentada como sendo uma magnífica vitória da sanha reformista do nosso Primeiro-Ministro.

Não é: a burocracia em Portugal continua omnipotente, ubíqua e omnívora e vai, decerto, reorganizar-se para que os efeitos do Simplex, se o programa não for consolidado e aprofundado, sejam diluídos em mais uma quantidade de papéis, inércia e resistência à mudança. Afinal, para que serviriam as legiões de funcionários públicos que temos, se a burocracia desaparecesse?

Ainda ontem tive mais uma prova disso: quis mudar a minha área de recenseamento. Pensei, com a habitual ingenuidade, que estando tudo, como está, informatizado não seria complicado. É: tal como no tempo em que não havia computadores, o recenseamento "fecha" (sic) 60 dias antes de cada acto eleitoral.

Este Governo - e, reconheça-se, muitos outros antes dele - é um especialista em reformar a superfície das coisas.

Vazio de ideias

É sempre bom e instrutivo ler Carlos Manuel Castro. Mas quando ele fala do "vazio de ideias" de bom e instrutivo passa a imprescindível. Não deve haver ninguém no universo político português que saiba tão bem o que é o "vazio de ideias".

12.8.09

Limoncello

Ou isso. Fresco. Como se não houvesse ontens.

Colonels

No plural: alguém sabe onde se podem comer Colonels decentes, nesta cidade, neste verão?

Serviço público - restaurantes

Chama-se Tentações de Goa, e é na rua de S. Pedro Mártir, ali ao Martim Moniz. Sem ser o melhor goês da cidade não é mau, de todo. Mas tem uma clientela de betinhos (para quem está mal-disposto) ou BCBG (caso contrário). Não sei de onde me vem a aversão que tenho à espécie: afinal nunca me fez mal nenhum. Mas não gosto dos sítios "deles", pronto.

R. de S. Pedro Mártir 23; tel.: 218 875 824. Fecha aos Domingos e Feriados.

Masculino plural

Dessincronia

Ou polifonia coreográfica.



(Via Clube das Repúblicas Mortas)

Inelutável

Como o desejo feminino.

Mina

Pensava que já aqui tinha falado de Mina, mas aparentemente não. Aqui fica a primeira fala:



E a segunda:




E a terceira:

E disto,

por outras razões.

Hoje lembrei-me disto

Vá lá saber-se porquê.

Um blog meritório

Este: Cartas Abertas.

Analogias

a) de "Sem sentido": acordar sem ti;
b) de "Sem objectivo": uma cama sem ti.

ASAE

Outro ponto que merece uma intervenção musculada (metralhadoras, máscaras, coletes anti-bala, etc.) da ASAE: o fim dos talheres de peixe nos nossos restaurantes. Sublinho o nosso, just for the fun of it.

Perseguição

O raio da memória não me larga. Se ao menos fosse bonita e boa...

11.8.09

Retratos sucintos - Desconhecida I

É pequena, e magra. Tem cabelos compridos, amarrados num carrapito improvisado por causa do calor. Vestido estampado, fora de moda (parece-me, não percebo nada de modas. Talvez seja intemporal).

Seios pequenos. Acariciar-lhos-ia com dois dedos - não há lugar para mais; como se estivesse a sintonizar uma SSB ou um gónio num dia de má recepção. Senta-se com as pernas abertas e vejo-lhe aquilo a que antigamente se chamava uma combinação. Hoje deve ter outro nome, mas a função é a mesma.

As pernas são desproporcionadamente grandes para o corpo; mas o conjunto, mesmo assim, é elegante, harmonioso, bonito.

O sorriso é sensual - ri-se com a alma, ou mostra-a, quando sorri. Fala com energia e entusiasmo. Gesticula, mas não demasiadamente.

Faz fotografia com uma Rolleiflex ainda mais antiga do que a minha. Se eu quisesse, apaixonar-me-ia por ela. Chama-se Margarida, quase de certeza; no Verão dar-lhe-ia a mão, por cima dos ombros. O meu braço aflorar-lhe-ia um dos seios (o direito, claro); no bar pedir-lhe-ia para cruzar as pernas. Ninguém imagina o poder sedutor de uma combinação.

Fragmentos possíveis

"...de maneira vim para o Noobai. É preciso espaço e beleza para pensar em ti. Ou melhor: só o espaço e a beleza se coadunam contigo..."

"...O lugar é bonito, por dentro e por fora. É verdade que chegar cá é feio e penoso; mas uma vez cá dentro estamos numa concha de beleza."

"...uma concha trivalve: o rio, o céu, a luz".

Xenofobia, ASAE, livre escolha et alia

A primeira vez que tive um lampejo, fugaz - a sombra de um lampejo fugaz - de simpatia, compreensão pelos xenófobos foi em Marselha. Estava a descer a Canebière (nome que vem de canabis, das plantações de cânhamo que havia naquela área e com o qual se faziam cabos para os navios) e não vi um único restaurante "francês": era tudo tascas rascas, magrebinas, turcas, gregas. Todas elas feias e sujas. A Canebière (e as escadas St. Charles, logo antes para quem vem de comboio) são o Rossio e o Terreiro do Paço de Marselha; não gostaria, apercebi-me então e confesso-o agora, de ver a nossa Baixa inundada de tascas magrebinas a vender kebabs que mesmo eu achei, naquele dia, duvidosos.

A crise passou depressa e muito rapidamente me habituei aos kebabs, aos raki, aos ouzo, aos cheiros, sons e cores que conhecia de outras latitudes, outras histórias; à simpatia escondida atrás de uma sisudez enganadora, não sei porquê.

Hoje tive o segundo lampejo de antipatia pelos estrangeiros da minha vida. Um bocadinho menos fugaz: procurem um restaurante português em certas zonas da cidade e vão ver que não há um que não esteja submerso numa vaga de bifes, invadido por cardumes deles.

Resultado: os preços disparam; os empregados deixam de olhar para nós como amigos (ou, vá lá, cúmplices) e só nos vêem como porta-moedas pernados; as nossas mulheres, tão bonitas, desaparecem, substituídas por uma massa loira-azulada esbranquiçada.

A ASAE, sempre tão activa, devia fazer qualquer coisa rapidamente.

Devia, por exemplo, proibir doses de sardinha com 5 (cinco!) sardinhas; postas de espadarte com menos de dois centímetros e meio de espessura; menus em 54 línguas; mais de - sei lá - 10% de estrangeiros num restaurante; sim, isso: devia haver uma quota de estrangeiros por casa.

A ASAE devia ser útil e não contribuir para que os nossos restaurantes se transformem, a uma velocidade vertiginosa, em restaurantes suíços, quando os nossos salários se mantêm, eles, togoleses.

Já agora, uma ligeira pergunta: porque não me dá a legislação a possibilidade de escolher, num restaurante, se bebo aguardente caseira (e no frigorífico, por Zeus) ou "embalada", como eles dizem? Porque não posso escolher, em conhecimento de causa, entre azeite da quinta ou azeite do senhor Fulano-ou-Sicrano? porque é que o dono do restaurante onde vou comer todos os dias não me pode vender couves ou frangos ou o raio que o parta da sua criação? Desde que o cliente saiba a proveniência das coisas e assim o decida, porque há-de um monte de imbecis investidos de uma missão lixar-me o gosto e o prazer?

Texto para o grafólogo

Devo falar de coisas que conheço, ou antes do que ignoro? Daquelas em que acredito ou das de que duvido (como a grafologia, por exemplo)? Devo incluir palavras com "z" - Zulu, Zâmbia, aqui jaz alguém que não gostava de jazz? Ou "j": Joaquim, jamais (em francês, claro), jaz, outra vez?

Pois. Morreu o homem do "pois", provavelmente a melhor contribuição para determinado tipo de vocábulos em que a nossa língua (ou o nosso país? Ou a nossa cidade?) são prolixos. É pena: morreu demasiado cedo. As pessoas como ele morrem sempre demasiado cedo. Ou então morrem na China, vá saber-se (só tinha um "h").

Bom. Tenho todas as letras em duplicado. Não: falta o "x" (táxi), o "y" (yankee) e o "w" (whisky, quilowatts).

Faltam todas. O meu abecedário só tem duas letras: "t" e "u", ao infinito.

Écrire

Enfin, toujours faut-il croire encore que ce que je fais puisse être appelé "écrire". J'en doute. Plutôt "un monstre avance petit à petit dans le noir. Il sait que j'ai un abysse tout près et ne sais pas où est-il, le gouffre. Je ne puis donc pas fuir précipitamment. Il avance, le monstre, sous le couvert de l'obscurité totale. J'essaye donc de m'échapper en palpant le sol de mes pieds et mes mains; ce qui inévitablement me ralenti. Mes pas sont minuscules; je n'avance pas. Le monstre va bientôt me rattraper - déjà son souffle m'effleure le cou".

Mar

Como faria, se não?

10.8.09

Importações

A primeira vez que ouvi alguém reclamar contra o uso de pontos de exclamação foi em Genève, há cerca de 20 anos. Que essa idiotice só agora esteja a chegar a Portugal é duplamente lamentável.

A ver - a estética da Monarquia



Confirmo: a ser monárquico, sê-lo-ia porque - e só porque - acho a bandeira infinitamente mais bonita.

PS - Infelizmente, não estou de acordo com este post: a incompetência, o desleixo, a negligência são transversais e independentes dos partidos. Mas lá que dá gozo citá-lo, isso dá.

(Via Portugal dos Pequeninos)

Pergunta

Alguém sabe dizer-me qual é o mecanismo de defesa que a lesma descobriu e o caracol não?

Retratos sucintos* - M.

Pés
Costumava beijar-lhos, quando estávamos os dois na banheira. Os banhos acabavam invariavelmente com ela a dizer-me "estou pronta para receber-te", como se eu fosse um hóspede que tivesse chegado demasiado cedo ao jantar e estivesse à espera no café da esquina. Eu fazia-a esperar. Tinha uns pés muito grandes, com a pele espessa de quem anda frequentemente descalço. Brincava com a água ensaboada, com a mangueira do duche, com o espelho que estava inclinado e nos reflectia, duas cabeças loiras perdidas num mar de espuma.

Ventre
Era mais alta do que uns quatro centímetros. Tinha um ventre liso, infinito, que eu percorria com os olhos, os dedos, os lábios, os dedos dos pés, os joelhos, o meu próprio ventre. Era mãe de três filhos, mas nadava quase todos os dias, andava de bicicleta e a pé, fazia ginástica. O ventre era liso e musculado como o de uma adolescente. Era coquette. Não usava bikini; só fatos de banho de uma peça.

Coxas
Apertava-me com elas como se quisesse esmagar-me, ou prender-me para sempre. Mas foi ela que me deixou.

Cabelos
Ruivos, encaracolados. Punha-lhe as mãos no alto da testa e percorria-lhe a cabeça para trás. Era preciso um quebra-gelos, para lhe chegar à nuca.

Olhos
Verdes, alegres (a maioria dos olhos verdes são verde-triste). Foi por eles que descobri que me ia deixar. Um dia ficaram mais leves, soltos. Mais bonitos.

* e ficcionados, cela va sans dire.

Diálogos possíveis; ou: Atitude

- Um avião pode descer, mesmo com uma atitude positiva.
- Sim. Mas não pode subir, com uma negativa.

Hábitos repugnantes

Há um hábito nojento, asqueroso, abjecto, cobardola em Portugal: é a incapacidade que muitos responsáveis têm de dizer "não". Acham o silêncio uma opção preferível; escondem-se, como se precisassem de fugir de alguém que lhes faz uma proposta profissional; não respondem aos telefones (por vezes com mentiras patéticas) nem aos mails, escudam-se em muralhas de secretárias. Pensam que é sinal de poder e autoridade. Não é. É indigno, mal-educado, cobarde. Repugnante.

9.8.09

Parabéns atrasados

Ao Combustões e à Miss Pearls.

Serviço público - vinhos

Quinta das Bageiras (perdão, não retive o ano; perdão outra vez, o site está "em construção") - um vinho leve, fresco, "minimalista". Ideal para o princípio de uma tarde quente, imóvel, pesada de domingo.

Há gaspachos e gaspachos

Porque é que os nossos restauraudores, que finalmente descobriram o gaspacho andaluz, não descobrem igualmente o gaspacho alentejano - a meu ver muito melhor? E porque não incluem outras sopas frias nos menus - sopa fria de pepino, por exemplo, ou de pera-abacate, tão boas?

Serviço público - Cafés, restaurantes

O Café Noobai tem uma vista soberba. Isso é fácil: basta escolher o local. Tem um serviço óptimo, uma tapenade que podia ser melhor, vinho bom. Hoje provei uma salada, boa; tem empregadas bonitas, coisa que as nossas namoradas apreciam e a que dão o devido valor, passe a cacofonia. Está aberto todos os dias, o que é louvável. E os preços são razoáveis, o que ainda é mais louvável.

Miradouro do Adamastor
Tel.: 213 465 014

O restaurante As Chaminés do Palácio abriu há seis meses. É gerido pelo Paulo Saraiva de Reffóios, o que só por si garante bom gosto e saber. O gaspacho é excelente, o local bonito, a simpatia irradiante. Está perto da Ginginha (agora, infelizmente, fechada para férias).

Palácio da Independência
Largo de S. Domingos 11
99 450 754

Inspiração

Porque é que a inspiração dá tanto trabalho? Se ao menos desse frutos proporcionais ao esforço.

Saber, sabores

Não percebo nada de flores, nem de cereais: não sei se és uma rosa, uma tulipa ou um girassol; não sei se os teus cabelos são de palha, feno, milho ou trigo. Sei de cores e formas, de nuvens, vento e mar, de dias e noites, sol e incêndios (de como é difícil extingui-los uma vez ateados. E de como nos iluminam, tantas vezes).

Sei que o vento caiu, e o mar lhe agradece a calma, ainda que passageira; e que sem ti não há cores, nem vento, nem mar. Sei que na verdade os incêndios nunca se apagam - pelo menos alguns deles. Sei a tua pele, que é da cor do sol e tem o gosto de um dia ventoso. Sabes a vida, e disso eu sei.

7.8.09

Gramática, orografia

É uma planície, vasta. Alta? Seja: um planalto. Arde, brandamente. O fogo ateia-se pouco a pouco, palmo a palmo. As labaredas mal se vêem; o vento que as empurra é subterrâneo, como os rios, o sol. Há palavras espalhadas: ventre: verbos; seios: sílabas; pronomes: um nome, o teu. Tempos verbais: passados imperfeitos, futuros condicionais. Há substantivos: desejo; amor; dúvidas.

Olhos miram as labaredas, e as montanhas para lá delas. Mãos ateiam-nas nos corpos. Rios estancam sedes. Outras palavras vêm à mente: exacto; inevitável. Sim. Arde.

5.8.09

Cais

Para terminar: Cais, de Milton Nascimento.



Ou

Dilúvio

Vou afogar-me num dilúvio de ti.

Gracias

Gracias a la vida, que me deu o mar, que me deu amar.

This has often been here before

Leonard Cohen - Hallelujah

Só falta um

The Pogues - Thousands Are Sailing

Nem pensar nisso

The Pogues - Streams of Whiskey

Fiesta

"Spending money like a drunken sailor" não se aplica, neste caso, pois não?

Uma miúda gira

Ou mais: ela é bonita.

Ibiza

Em Ibiza eu vi, de meus olhos visto, como trabalha e para que serve a polícia de fronteiras: filtrar as mulheres bonitas. O que é uma injustiça para as feias, obesas ou com borbulhas; reconheço.

Mas é a única explicação.

4.8.09

Duas grandes canções

Boney M. - Rivers of Babylon



Da outra escapa-me agora o nome.

Mar; amar

Tal como é possível navegar em vários mares e gostar deles todos.

Família

Às vezes penso que o meu primo Gastão não é um imbecil. Mas são, felizmente, cada vez mais raros, esses momentos que me fazem duvidar da minha própria sanidade mental.

Link

Não sei porque é que este post me interpela tanto. Ou melhor: gostaria de não saber.

"Passatempo"

Este post é formidável.

Diálogos possíveis

- Quero ir para a cama contigo. Aquilo a que eufemisticamente se chama "fazer amor", se preferires.
- O pior é que deixa de ser "eufemisticamente" muito depressa, não é?

Incompreensão, ou incapacidade

Há muito desisti de compreender Portugal: para começar não é pior do que muitos outros países do mundo (perguntem a qualquer togolês, por exemplo, ou moldavo); e para acabar não leva a lado nenhum.

Enfim, isto pensava eu. Mas acabo de saber que há no nosso país profissionais de andebol. Leram bem: profissionais de andebol. Um deles, de 19 anos - leram bem: 19 anos - é guarda-redes. Ganha três mil euros por mês. Três mil euros por mês.

Não sei bem como deduzir prioridades a partir deste caso. Ou melhor, sei; mas não são alegres.

3.8.09

Ou: ainda os há pior que os meus?

Nunca percebi - e sem dúvida continuarei assim, a culpa é toda minha - porque há pessoas que vão passar férias ao Algarve (quem diz Allgarve diz Ibiza, de onde acabo de sair, ou St. Tropez). Gente, confusão, bichas até para respirar, trânsito infernal, serviço péssimo e praias: como serão os dias dessas pessoas quando não estão em férias?

Cansaço

Estou tão cansado que por vezes oiço o coração bater em seco. A sério: a coisa bate, mas não sai sangue.

Mar

Gosto do mar; e ele de mim. Enfim, um amor correspondido. Não sei se é o melhor.

Mistura

Uma senhora bonita, inteligente, engraçada, dinâmica, sensual; infelizmente casada. Envia-me um SMS: "a pior mistura é a da lassidão com a resignação e o cansaço".

2.8.09

907

907 milhas em 24 horas. Eu repito (para mim): 907 milhas em 24 horas.

A Suiça, esse país de marinheiros

http://destremausailing.blogspot.com/2009/08/alinghi-5-lhonneur-sur-le-lac-leman.html

Mar

Amanhã vou passar por um dos sítios favoritos: o Estreito de Gibraltar. E depois vou atravessar o Golfo de Cadiz. Sozinho. Há momentos de graça inexplicável. Ou incompreensível.

Gibraltar

Gibraltar é uma tensão permanente: entre a claustrofobia e as maneiras de lhe fugir; entre a beleza e a fealdade; entre o desejo de cá estar e o de me ir embora já. Gosto de Gibraltar, e nunca, sei-o há muito tempo, resolverei estas tensões. O "Grande Cerco" está presente como o terramoto de 1755 em Lisboa. Mas há mil maneiras de lhe fugir: para cima, para a montanha ou com o rum; para os lados, pelo mar; para baixo, com os bares sórdidos que ainda devem estar por aí.

Gosto de Gibraltar como se cá tivesse nascido e soubesse que só aqui se fica por militantismo, ou resignação. E estou contente, porque me vou embora amanhã. De manhã.

Uma boa pergunta

Aqui.