Para se ver a importância relativa das coisas para quem governa, nada como comparar os respectivos orçamentos. A RTP tem um orçamento diário de quase 400 mil euros (386 mil, para ser mais preciso). A CP tem 87 mil. E ainda diz que não deu suficiente atenção à cultura.
27.7.09
Asqueroso
O homem é asqueroso, não há nada a fazer.
"ANF diz que "tragédia" em Santa Maria não surpreende"
(Via Jugular)
"ANF diz que "tragédia" em Santa Maria não surpreende"
(Via Jugular)
24.7.09
Modernidade, modernices e saloiices
A modernidade em Portugal é curiosa, às vezes. Em Cascais há uma passadeira para peões à frente daquela linda judiaria que é o Cascais Villa. Essa passadeira gerava inúmeros protestos porque o verde para peões estava aberto muito pouco tempo - o que de certa forma se compreende porque é a saída da vila para a marginal, e porque há uma passagem subterrânea não muito longe. Acontece que a maioria das pessoas prefere - eu faço parte dessa maioria, devo dizer - atravessar os dez metros de rua a ir dar uma enorme volta para a passagem subterrânea. A preferência parece-me legítima: porque haverão os automóveis de ter, sempre, prioridade sobre os peões?
Há muito que ando para ver se a duração do verde aumenta; mas hoje apercebi-me definitivamente de que não vale a pena: o que a Câmara Municipal fez foi pôr um contador de segundos no lugar da luz verde. O tempo continua curto demais - mas pelo menos sabemos quanto falta. Claro que para um velhote, ou qualquer pessoa de mobilidade reduzida, é utilíssimo saber o tempo de que ainda dispõe, antes de correr o risco de ser atropelada.
Um outro aspecto interessante desse sinal tem a ver com os táxis que saem da estação. Mas isso é outra história.
Há muito que ando para ver se a duração do verde aumenta; mas hoje apercebi-me definitivamente de que não vale a pena: o que a Câmara Municipal fez foi pôr um contador de segundos no lugar da luz verde. O tempo continua curto demais - mas pelo menos sabemos quanto falta. Claro que para um velhote, ou qualquer pessoa de mobilidade reduzida, é utilíssimo saber o tempo de que ainda dispõe, antes de correr o risco de ser atropelada.
Um outro aspecto interessante desse sinal tem a ver com os táxis que saem da estação. Mas isso é outra história.
150.000 empregos
José Sócrates está a caminho de cumprir a sua promessa de criar 150.000 empregos - se os que os nossos emigrantes arranjam no estrangeiro contarem, claro.
"Há muito mais gente a abandonar Portugal"
"Há muito mais gente a abandonar Portugal"
Blogs
Apareceram dois novos blogues na paisagem bloguística portuguesa, universalmente conhecida como PBP: o Simplex, pró-Sócrates, e o Jamais, anti. Escusado será dizer que o Don Vivo alinha por este último.
Mas não posso impedir-me de pensar que tanto um como o outro nome foram mal escolhidos: o Simplex é uma dessas inúmeras reformas de Sócrates que ficou a meio (se bem, significativo é reconhecê-lo, uma das que foi mais longe). O menor dos falhanços não deixa de ser um falhanço. E enquanto me lembrar da quantidade de coisas que ficou por fazer nessa área o Simplex far-me-á, amargamente, rir.
"Jamais" tão-pouco é uma designação muito feliz - afinal, o novo aeroporto mesmo acabou por passar para a margem sul, apesar das interjeições francófonas do nosso Lino, o senhor que assinou aquele magnífico acordo com a Mota-Engil.
Mas não posso impedir-me de pensar que tanto um como o outro nome foram mal escolhidos: o Simplex é uma dessas inúmeras reformas de Sócrates que ficou a meio (se bem, significativo é reconhecê-lo, uma das que foi mais longe). O menor dos falhanços não deixa de ser um falhanço. E enquanto me lembrar da quantidade de coisas que ficou por fazer nessa área o Simplex far-me-á, amargamente, rir.
"Jamais" tão-pouco é uma designação muito feliz - afinal, o novo aeroporto mesmo acabou por passar para a margem sul, apesar das interjeições francófonas do nosso Lino, o senhor que assinou aquele magnífico acordo com a Mota-Engil.
23.7.09
Família (cont. e fim)
Como podem ver venho de boas famílias, com história e histórias. Claro que não sou perfeito, ninguém é; mas - digo-o sem falsa modéstia - sou a prova viva de que os genes não degeneram: evoluem.
Trabalho, como disse, num talho - o que desgostava bastante o avô Fachadas e faz rir a avó Feliciana; mas, apesar do meu magro salário, tenho um sonho (deixem-me esclarecer que ganho pouco: uma vez e meia o salário mínimo "até morreres ou te ires embora, o que acontecer primeiro", diz o meu patrão - a meu ver de uma forma pouco simpática para quem trabalha num talho). Mas tenho um sonho que me preenche a vida e isso é que conta.
Os meus primos e os poucos amigos que tenho riem-se de mim quando lhes conto este sonho, este projecto: fazer uma empresa de observação de baleias na Costa da Caparica. Uns dizem "não há baleias na Costa". Outros acrescentam "e em breve não haverá Costa". Pois bem, eu mantenho-me firme e mando-os passear. É verdade que hoje não há baleias nas nossas águas. Mas com o aquecimento global estou certo de que começarão a passar por cá, os grandes cetáceos. E quanto a essa balela da Costa ser levada pela erosão: que Governo o permitirá? Que Governo será suficientemente irresponsável para deixar uma zona tão bonita ir, literalmente, por água abaixo? Basta atentar no benefício que representa para a economia despejar areia na Costa para depois a ir dragar ao canal de acesso ao porto de Lisboa. Está em linha com as ancestrais tradições da governação portuguesa - e ainda nos permite dar uma lição àquele americano que dizia "em tempos de crise até cavar buracos e tapá-los a seguir é defensável": nós começamos por tapá-los, e escavamo-los depois. O que é muito mais complexo e rico (como vêem não me interesso apenas por genética e por baleias).
A verdade é: desde que este projecto se apropriou de mim a minha vida mudou radicalmente. A primeira preocupação foi, claro, assegurar a parte financeira. Fui a vários bancos e organismos, mas nenhum achou a ideia viável. Falta de visão, é outra pecha nacional. Pouco importa: desde que o avô morreu (e uma vez passado o choque, claro, e o desgosto) comecei a pôr rigorosamente metade de cada salário que ganho no banco, numa conta intocável. Ou seja: vivo com 0,75 (três quartos) do salário mínimo nacional. Actualmente isto representa aproximadamente 300 euros por mês (posso assegurar-vos que votarei no primeiro partido que prometer aumentar o salário mínimo, venha ele de onde vier).
Com este montante vivo: isto é, pago a renda e alimento-me. No fundo viver é isso, não é? Tudo o mais é supérfluo. Os meu primos - às vezes, não posso escondê-lo sempre, aborrecem-me um bocado - perguntam-me como é que eu faço. Eles, que têm uma boa vida e salários óptimos - um até trabalha numa ONG, dessas que paga salários mirambulantes - não têm projectos, nem sonhos. Eu fui o único a quem a fortuna do velho Fachadas teria servido para dar corpo a uma visão. Eles não: só pensam em automóveis e casas na praia, viagens a Londres e à China (meu Deus, à China! Fazer o quê? Que interesse tem aquilo?). Enfim, para eles a desilusão foi grande, mas a vida continuou. Para mim não: a mudança foi radical, violenta.
Comecei por negociar com os meus pais a renda do quarto (desde que comecei a trabalhar eles fazem-me pagar uma renda - a meu ver muito justamente). Prometi-lhes que começava a tomar banho de água fria, sempre; e em vez de o tomar todos os dias, passaria a um ritmo "dia sim dia não". O pai concordou imediatamente (ele não está muito de acordo com o projecto, e pensou que uns duches de água fria me fariam pô-lo de lado). A mãe opôs-se. Mas enfim, quem manda lá em casa é o pai, e a proposta foi aceite. A verdade é que tomar banho de água fria não custa nada: basta não ser friorento, e eu não sou (se fosse, como poderia trabalhar num talho?). Além disso, um duche de água fria espevita o sangue e as ideias. Já duchar-me em dias alternados é mais difícil, mas uma pessoa habitua-se - mesmo que levante alguns protestos dos colegas e dos primos e dos amigos (poucos, felizmente). Ando a tentar descobrir maneira de me lavar mais ou menos no talho - mesmo sofrendo a troça dos colegas, mas a isso estou habituado.
O mais difícil foi a parte da comida. Deixar de comprar discos, livros, viagens, flores para o quarto ou para oferecer, ou telefonar quando me apetece não foi difícil - de qualquer forma eram coisas que fazia muito raramente. Realmente penoso foi ajustar a alimentação (devo dizer que gozo de uma saúde de ferro, felizmente, e não preciso de remédios nem de médicos). Mas também a isso me habituei. Felizmente, suporto bem a disciplina férrea que um projecto desta envergadura exige. Comecei por reduzir a quantidade de cervejas que bebia quotidianamente (de 17 passei para 8); e a ir comer a supermercados: no máximo, 3 euros por refeição; estou a falar com a minha mãe sobre um almoço feito em casa e levado para o trabalho. Se conseguir, ganho um euro e meio, pelo que posso beber mais uma imperial por dia e ainda aumentar a poupança. E tive uma ideia genial: às segundas e sextas-feiras não almoço. Compenso aos sábados e domingos. No fundo, é uma espécie de mini-ramadan: só volto a comer ao jantar. É um regime óptimo, que até já me fez perder algum peso (pouco, infelizmente).
Outra fonte de poupança foram os transportes. Deixei-me de transportes públicos, passes e tudo isso. Desencantei uma velha bicicleta que o meu pai guarda desde os tempos da sua juventude. É antiga, mas em muito bom estado, que o pai sempre foi cuidadoso com o material. Emprestou-ma sem dificuldades: "pagas-ma com o dinheiro dos teus primeiros clientes", disse-me, com um orgulhozinho indisfarçável nos olhos (achei estranho, porque ele sempre se opôs ferozmente àquilo que chama "uma aventura sem futuro"). Afinal, estava a ver a sua city bike (como ele lhe chama. Os estúpidos dos meus primos chamam-lhe pastry bike) ser de novo utilizada. A bicicleta é, diga-se de passagem, muito bonita, se bem um pouco pesada. É nela que vou todos os dias para o meu trabalho: uma gloriosa descida de manhã, que à tarde se transforma em penosa subida. E é também nela que aos domingos vou ver o local da minha futura empresa.
Não o escolhi por acaso. A Costa da Caparica é dos sítios mais bonitos que conheço. É uma zona linda, semelhante àquilo que imagino ser Cannes ou St. Tropez - os prédios de um lado, o mar imponente do outro, e no meio uma longa promenade (só que lá ela é dos ingleses, parece, e cá é nossa e bem nossa). Lindo, moderno, os cafés todos iguais alinhados ao longo da promenade ("um bocadinho como em Londres, não é?" ouvi ontem um inglês dizer. Como se em Londres houvesse mar); as pessoas, lindas: famílias inteiras, dos avôs aos netos; os parques de campismo, tantos - fizeram-me pensar que assim deveriam ser os bairros da lata ou as favelas: é muito mais bonito do que aquelas barracas em chapa ondulada que vemos na televisão. E ainda dizem que um governo seria capaz de deixar aquilo ir por água abaixo! Aliás, é tão parecido com o Sul de França que anda-se um pouco e lá estão os pinheiros; e até tem uma praia chamada Riviera. Essa é que é essa.
Uma vida que a alguns pode parecer estúpida e sem sentido; não é. Pobre sim, indubitavelmente. Mas não estúpida ou sem sentido. E cada vez que vou à Costa da Caparica, montado na minha city bike, e vejo o futuro local do "Observatório de Baleias Gastão da Costa" (da Costa não é o meu apelido - é apenas uma singela homenagem ao local) compreendo finalmente o sentido daquele verso de Fernando Pessoa: "O sonho é ver as formas invisíveis" ("das baleias", acrescento eu comovidamente).
Trabalho, como disse, num talho - o que desgostava bastante o avô Fachadas e faz rir a avó Feliciana; mas, apesar do meu magro salário, tenho um sonho (deixem-me esclarecer que ganho pouco: uma vez e meia o salário mínimo "até morreres ou te ires embora, o que acontecer primeiro", diz o meu patrão - a meu ver de uma forma pouco simpática para quem trabalha num talho). Mas tenho um sonho que me preenche a vida e isso é que conta.
Os meus primos e os poucos amigos que tenho riem-se de mim quando lhes conto este sonho, este projecto: fazer uma empresa de observação de baleias na Costa da Caparica. Uns dizem "não há baleias na Costa". Outros acrescentam "e em breve não haverá Costa". Pois bem, eu mantenho-me firme e mando-os passear. É verdade que hoje não há baleias nas nossas águas. Mas com o aquecimento global estou certo de que começarão a passar por cá, os grandes cetáceos. E quanto a essa balela da Costa ser levada pela erosão: que Governo o permitirá? Que Governo será suficientemente irresponsável para deixar uma zona tão bonita ir, literalmente, por água abaixo? Basta atentar no benefício que representa para a economia despejar areia na Costa para depois a ir dragar ao canal de acesso ao porto de Lisboa. Está em linha com as ancestrais tradições da governação portuguesa - e ainda nos permite dar uma lição àquele americano que dizia "em tempos de crise até cavar buracos e tapá-los a seguir é defensável": nós começamos por tapá-los, e escavamo-los depois. O que é muito mais complexo e rico (como vêem não me interesso apenas por genética e por baleias).
A verdade é: desde que este projecto se apropriou de mim a minha vida mudou radicalmente. A primeira preocupação foi, claro, assegurar a parte financeira. Fui a vários bancos e organismos, mas nenhum achou a ideia viável. Falta de visão, é outra pecha nacional. Pouco importa: desde que o avô morreu (e uma vez passado o choque, claro, e o desgosto) comecei a pôr rigorosamente metade de cada salário que ganho no banco, numa conta intocável. Ou seja: vivo com 0,75 (três quartos) do salário mínimo nacional. Actualmente isto representa aproximadamente 300 euros por mês (posso assegurar-vos que votarei no primeiro partido que prometer aumentar o salário mínimo, venha ele de onde vier).
Com este montante vivo: isto é, pago a renda e alimento-me. No fundo viver é isso, não é? Tudo o mais é supérfluo. Os meu primos - às vezes, não posso escondê-lo sempre, aborrecem-me um bocado - perguntam-me como é que eu faço. Eles, que têm uma boa vida e salários óptimos - um até trabalha numa ONG, dessas que paga salários mirambulantes - não têm projectos, nem sonhos. Eu fui o único a quem a fortuna do velho Fachadas teria servido para dar corpo a uma visão. Eles não: só pensam em automóveis e casas na praia, viagens a Londres e à China (meu Deus, à China! Fazer o quê? Que interesse tem aquilo?). Enfim, para eles a desilusão foi grande, mas a vida continuou. Para mim não: a mudança foi radical, violenta.
Comecei por negociar com os meus pais a renda do quarto (desde que comecei a trabalhar eles fazem-me pagar uma renda - a meu ver muito justamente). Prometi-lhes que começava a tomar banho de água fria, sempre; e em vez de o tomar todos os dias, passaria a um ritmo "dia sim dia não". O pai concordou imediatamente (ele não está muito de acordo com o projecto, e pensou que uns duches de água fria me fariam pô-lo de lado). A mãe opôs-se. Mas enfim, quem manda lá em casa é o pai, e a proposta foi aceite. A verdade é que tomar banho de água fria não custa nada: basta não ser friorento, e eu não sou (se fosse, como poderia trabalhar num talho?). Além disso, um duche de água fria espevita o sangue e as ideias. Já duchar-me em dias alternados é mais difícil, mas uma pessoa habitua-se - mesmo que levante alguns protestos dos colegas e dos primos e dos amigos (poucos, felizmente). Ando a tentar descobrir maneira de me lavar mais ou menos no talho - mesmo sofrendo a troça dos colegas, mas a isso estou habituado.
O mais difícil foi a parte da comida. Deixar de comprar discos, livros, viagens, flores para o quarto ou para oferecer, ou telefonar quando me apetece não foi difícil - de qualquer forma eram coisas que fazia muito raramente. Realmente penoso foi ajustar a alimentação (devo dizer que gozo de uma saúde de ferro, felizmente, e não preciso de remédios nem de médicos). Mas também a isso me habituei. Felizmente, suporto bem a disciplina férrea que um projecto desta envergadura exige. Comecei por reduzir a quantidade de cervejas que bebia quotidianamente (de 17 passei para 8); e a ir comer a supermercados: no máximo, 3 euros por refeição; estou a falar com a minha mãe sobre um almoço feito em casa e levado para o trabalho. Se conseguir, ganho um euro e meio, pelo que posso beber mais uma imperial por dia e ainda aumentar a poupança. E tive uma ideia genial: às segundas e sextas-feiras não almoço. Compenso aos sábados e domingos. No fundo, é uma espécie de mini-ramadan: só volto a comer ao jantar. É um regime óptimo, que até já me fez perder algum peso (pouco, infelizmente).
Outra fonte de poupança foram os transportes. Deixei-me de transportes públicos, passes e tudo isso. Desencantei uma velha bicicleta que o meu pai guarda desde os tempos da sua juventude. É antiga, mas em muito bom estado, que o pai sempre foi cuidadoso com o material. Emprestou-ma sem dificuldades: "pagas-ma com o dinheiro dos teus primeiros clientes", disse-me, com um orgulhozinho indisfarçável nos olhos (achei estranho, porque ele sempre se opôs ferozmente àquilo que chama "uma aventura sem futuro"). Afinal, estava a ver a sua city bike (como ele lhe chama. Os estúpidos dos meus primos chamam-lhe pastry bike) ser de novo utilizada. A bicicleta é, diga-se de passagem, muito bonita, se bem um pouco pesada. É nela que vou todos os dias para o meu trabalho: uma gloriosa descida de manhã, que à tarde se transforma em penosa subida. E é também nela que aos domingos vou ver o local da minha futura empresa.
Não o escolhi por acaso. A Costa da Caparica é dos sítios mais bonitos que conheço. É uma zona linda, semelhante àquilo que imagino ser Cannes ou St. Tropez - os prédios de um lado, o mar imponente do outro, e no meio uma longa promenade (só que lá ela é dos ingleses, parece, e cá é nossa e bem nossa). Lindo, moderno, os cafés todos iguais alinhados ao longo da promenade ("um bocadinho como em Londres, não é?" ouvi ontem um inglês dizer. Como se em Londres houvesse mar); as pessoas, lindas: famílias inteiras, dos avôs aos netos; os parques de campismo, tantos - fizeram-me pensar que assim deveriam ser os bairros da lata ou as favelas: é muito mais bonito do que aquelas barracas em chapa ondulada que vemos na televisão. E ainda dizem que um governo seria capaz de deixar aquilo ir por água abaixo! Aliás, é tão parecido com o Sul de França que anda-se um pouco e lá estão os pinheiros; e até tem uma praia chamada Riviera. Essa é que é essa.
Uma vida que a alguns pode parecer estúpida e sem sentido; não é. Pobre sim, indubitavelmente. Mas não estúpida ou sem sentido. E cada vez que vou à Costa da Caparica, montado na minha city bike, e vejo o futuro local do "Observatório de Baleias Gastão da Costa" (da Costa não é o meu apelido - é apenas uma singela homenagem ao local) compreendo finalmente o sentido daquele verso de Fernando Pessoa: "O sonho é ver as formas invisíveis" ("das baleias", acrescento eu comovidamente).
22.7.09
Ouve-se e fica-se na dúvida
"Digo desde sempre que uma correcção virtuosa das contas só é feita pelo lado da despesa", afirmou Teixeira dos Santos.
O coitado do senhor é Ministro das Finanças há quatro anos e está há quatro anos a fazer uma coisa com a qual não concorda, é isso? Por muito menos o seu antecessor demitiu-se. Ou será que é só para eleitor ver?
PS - Por exemplo: "Toda a oposição apoiou hoje no Parlamento uma petição que pede que o IVA passe a ser pago ao Estado após o recebimento e não após a emissão da factura, alteração que o PS contestou". Imagino que a esta hora o Senhor Ministro das Finanças esteja no seu gabinete zangadíssimo com os deputados do PS que recusaram uma medida da mais elementar justiça.
O coitado do senhor é Ministro das Finanças há quatro anos e está há quatro anos a fazer uma coisa com a qual não concorda, é isso? Por muito menos o seu antecessor demitiu-se. Ou será que é só para eleitor ver?
PS - Por exemplo: "Toda a oposição apoiou hoje no Parlamento uma petição que pede que o IVA passe a ser pago ao Estado após o recebimento e não após a emissão da factura, alteração que o PS contestou". Imagino que a esta hora o Senhor Ministro das Finanças esteja no seu gabinete zangadíssimo com os deputados do PS que recusaram uma medida da mais elementar justiça.
Compreensões
-Quero um homem que me compreenda.
Um homem que me compreenda?! Tou-me bem lixando para isso... Quero um homem que me ame mesmo sem me compreender! Quando precisar de compreensão vou rasgar dinheiro em psicanálise.
Este post diz tão tudo que um gajo não sabe bem o que lhe acrescentar. Talvez só dizer que a recíproca também é verdade, não sei.
Um homem que me compreenda?! Tou-me bem lixando para isso... Quero um homem que me ame mesmo sem me compreender! Quando precisar de compreensão vou rasgar dinheiro em psicanálise.
Este post diz tão tudo que um gajo não sabe bem o que lhe acrescentar. Talvez só dizer que a recíproca também é verdade, não sei.
21.7.09
Serviço público - Tascas
A Ginginha Popular, sita na Rua das Portas de Sto. Antão - esse concentrado de Lisboa e de Lisboa no mundo - apresenta várias vantagens; entre as quais: bifanas excelentes a um preço bastante convidativo e um empregado que não sabe falar inglês. Isto é, digo-o sem qualquer ironia, notável. Não foge, infelizmente, a essa praga que são os menus babélicos, em trinta e oito línguas, regra geral com traduções aleatórias. Não se pode ter tudo. Mas é um prazer poder traduzir "peanuts" para ajudar os clientes da mesa ao lado, e não ouvir frases balbuciadas numa algaraviada qualquer. Não há melhor sítio em Lisboa para se estar em Lisboa, no mundo.
Rua das Portas de Sta. Antão, 61 - não confundir com a popular Ginginha da mesma rua, que não serve outra coisa senão a melhor ginginha do mundo, a Espinheira.
Rua das Portas de Sta. Antão, 61 - não confundir com a popular Ginginha da mesma rua, que não serve outra coisa senão a melhor ginginha do mundo, a Espinheira.
Pouco a pouco
Pouco a pouco as palavras encontram o seu caminho: tu. Pouco a pouco o mundo destrói-se, reconstrói-se, desaba, desfaz-se em poeira de palavras que não foram ditas, que querem ser ditas. Palavras simples: um verbo e um pronome reflexo, por exemplo.
Caminho com um saco delas: vogais, consoantes, vírgulas, pontos, reticências, pontos de exclamação; e de interrogação - a maioria. Um saco inútil: há "talvez" e "não"; pontos de interrogação; reticências. Tudo o mais é a mais.
Pouco a pouco entro no porto do teu corpo, como um navio numa doca, ave cansada numa gaiola, ou palavras no fim da noite. Como o sol a descarregar luz em cima dos nossos corpos abertos para a receber, numa prece resignada ao Deus da inevitabilidade. Como uma súplica em linguagem gestual para cegos.
Caminho com um saco delas: vogais, consoantes, vírgulas, pontos, reticências, pontos de exclamação; e de interrogação - a maioria. Um saco inútil: há "talvez" e "não"; pontos de interrogação; reticências. Tudo o mais é a mais.
Pouco a pouco entro no porto do teu corpo, como um navio numa doca, ave cansada numa gaiola, ou palavras no fim da noite. Como o sol a descarregar luz em cima dos nossos corpos abertos para a receber, numa prece resignada ao Deus da inevitabilidade. Como uma súplica em linguagem gestual para cegos.
Contratos
Ele há contratos e contratos. No da ampliação do Terminal de Contentores de Alcântara, por exemplo, o Governo responsabiliza-se pelas restrições, entre outras, meteorológicas.
"Lisboa/Contentores: Contrato prevê indemnização à Liscont por restrições técnicas, ambientais e meteorológicas".
"Lisboa/Contentores: Contrato prevê indemnização à Liscont por restrições técnicas, ambientais e meteorológicas".
Escândalos e vergonha
«O negócio dos contentores de Alcântara, feito entre o Estado e o grupo Mota-Engil, seria um escândalo de dimensões nacionais em qualquer lugar do planeta com alguma vergonha na cara. Mas aqui, neste sítio pobre, deprimido, manhoso, cheio de larápios e cada vez mais mal frequentado, a coisa passa com umas tantas notícias, umas tantas declarações piedosas e uma idas à praia em tempo de Verão. A verdade é que a história cheirou mal desde o início. E não era só pelo facto de os indígenas ficarem separados do rio Tejo por uma barreira de contentores. Era desde logo pelo facto de um grupo privado ver uma concessão prorrogada por mais 27 anos, sem concurso público, e com cláusulas altamente lesivas para os cofres do Estado. É evidente também que a coisa da vista serviu para esconder os milhões de estavam em jogo, como o Tribunal de Contas do insuspeito socialista Oliveira Martins fez saber sem margens para dúvidas. O negócio é uma escandaleira imensa e só beneficia o grupo Mota-Engil. É evidente também que a sempre atenta Maria José Morgado fez saber logo que a coisa estava debaixo de olho e que o Ministério Público estava a preparar uma investigação. Outra coisa extraordinária quando um Tribunal de Contas vem dizer que o negócio em causa é, de facto, uma roubalheira dos dinheiros dos contribuintes e dá o nome aos bois. É claro que no meio desta desbunda socialista ninguém se lembrou de que este escândalo obrigava o ministro Lino a sair do Governo do senhor presidente do Conselho a alta velocidade. Mas não. Neste sítio um ministro pode ir para a rua por um par de cornos infantis ou por uma piada de mau gosto. As roubalheiras, os negócios escuros, os compadrios, a corrupção a céu aberto e o tráfico de influências, não só são tolerados como premiados nas urnas. É por isso que, mais do que nunca, era importante uma palavra de Cavaco Silva.»
António Ribeiro Ferreira, Correio da Manhã
(Via Portugal dos Pequeninos)
Vanguardas
«que o Partido Socialista ganhe as eleições de 27 de Setembro próximo, de preferência com maioria absoluta. Só ele pode contribuir decisivamente para que Portugal se mantenha na vanguarda política do século XXI.»
Se isto é a vanguarda, eu quero ir para a retaguarda. Já.
Se isto é a vanguarda, eu quero ir para a retaguarda. Já.
Impenetrável
«Não há candidatura de esquerda em apuros que não amanheça, um dia, rodeada de um colorido grupinho de entusiastas prontos a mostrar que a intelligentsia nacional é um exclusivo de uns tantos. António Costa, como seria de esperar, não fugiu à regra: pouco depois de se recandidatar a Lisboa, lá recebeu o apoio de 120 (de acordo com as primeiras expectativas) ‘intelectuais’ de serviço que, mais do que se reflectirem no seu programa de acção, se sentem genuinamente incomodados com uma hipotética vitória de Pedro Santana Lopes. É verdade que Santana Lopes tem este condão: sempre que aparece – e ele aparece constantemente – consegue reunir, contra si, um coro apocalíptico que anuncia, com inexcedível zelo, um incalculável número de catástrofes associadas à sua eleição. Em última análise, a intelligentsia portuguesa devia agradecer-lhe. Só ele, com o seu proverbial ‘mel’, consegue fazê-la sair da toca e exibir-se florescente nos mais extravagantes manifestos. Com ele, como dizia a canção, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que se junta, com ar grave e circunspecto, no Martinho da Arcádia, à sombra de Fernando Pessoa, disposto a denunciar os perigos que se escondem por trás das suas imprevisíveis aventuras políticas. Sem ele, este saudável exercício estaria condenado ao fracasso e rastejaria, por aí, sem brilho, entregue às qualidades clandestinas do actual presidente da Câmara de Lisboa. Como é óbvio, António Costa, por si só, não mereceria as honras de um manifesto nem os cuidados especiais que lhe dedica a intelectualidade indígena. A sua permanência à frente da Câmara salda-se, por junto, num enorme ponto de interrogação. É difícil qualificar a sua obra porque, em última análise, a sua obra é um mistério mais ou menos impenetrável. Só agora, no momento da recandidatura, entre conversinhas amenas com Manuel Alegre, acordos ‘coligatórios’ com Helena Roseta e o apoio de dois ou três comunistas, se percebe que a sua força política não desapareceu e que se prepara, do fundo do seu apagado mandato, para suceder a José Sócrates, caso este perca as legislativas e ele consiga sobreviver às autárquicas. Mais do que Lisboa, sente-se na sua recandidatura o embrião de um PS que se prepara para os dias da sucessão. Talvez este quadro, este cheiro a pós qualquer coisa, anime alguns dos 120 signatários. Mas não anima, com certeza, quem perca algum tempo a ler os nomes que constituem este florido grupinho. Os intelectuais que nós temos! 120, para quem não saiba.»
Constança Cunha e Sá. Correio da Manhã
(Via Portugal dos Pequeninos)
20.7.09
Razões
- Não te quero amar pelas razões erradas.
- Quais são as razões certas para amar alguém, sabes?
19.7.09
Brincar às raças
Estes debates sobre as qualidades dos portugueses são enfadonhos, fastidiosos. A patriótica ideia de que os portugueses são "diferentes" não resiste a uma análise de 5 micro-segundos. O que não me impede, por vezes, de me perguntar se a Raça é má e teve um bom momento, ou boa e atravessa um mau.
Vizinhança
No outro dia bateram-me à porta. Era a vizinha, a pedir-me para pôr a música mais baixo. Disse-lhe:
- Entre.
- Não posso. Tenho o namorado em casa.
- Diga-lhe para se ir embora. Diga-lhe que encontrou o homem da sua vida. Melhor: que encontrou a sua vida num homem, e que esse homem sou eu.
Ela entrou, despiu-se, pôs-se na cama.
- Diga-lhe você. E despache-se.
- Entre.
- Não posso. Tenho o namorado em casa.
- Diga-lhe para se ir embora. Diga-lhe que encontrou o homem da sua vida. Melhor: que encontrou a sua vida num homem, e que esse homem sou eu.
Ela entrou, despiu-se, pôs-se na cama.
- Diga-lhe você. E despache-se.
Aleatórias et al.
I
Hoje, por exemplo, fumei um cigarro. Apaguei-o cuidadosamente e pu-lo no caixote do lixo. Minutos depois o caixote começou a arder. E eu que fiz? Fugi. Fugi, como tenho fugido de tudo, sempre. De ti, do teu corpo tão bonito, do teu amor, tão leve. Vou chamar-te pelo nome: Fátima; Isabel; Maria; Ângela; Susana; Helena; Rita; Anabela; Hélène. (Hélène. C'est à toi que je dédie ces mots dépourvus de sens). Francisca; Joana; Mariana.
Tantos nomes, tantas noites, tantas fugas, tantos vazios. (Il n'y a que des vides, Hélène; que des vides). É a noite, que queres? Tão vazia, tão sem ti, tão. Tu percebes decerto: uma noite sem ti não é; e contigo tão-pouco. Se bem não aceites, provavelmente; ou sofras. Talvez. Um "talvez" pronunciado letra a letra, mícron a mícron para que dure uma eternidade infinita.
Tantos nomes, tantas noites, tantas fugas, tantos vazios. (Il n'y a que des vides, Hélène; que des vides). É a noite, que queres? Tão vazia, tão sem ti, tão. Tu percebes decerto: uma noite sem ti não é; e contigo tão-pouco. Se bem não aceites, provavelmente; ou sofras. Talvez. Um "talvez" pronunciado letra a letra, mícron a mícron para que dure uma eternidade infinita.
Porque depois do "talvez" vem sempre, inevitável, inelutavelmente um não, uma fuga, um cigarro cuidadosamente apagado, mal.
II
A noite está escura e as estrelas penduram-se nela como brincos. Nós somos as faces, os olhos da noite.
Somos os brincos de uma noite escura, opaca, impenetrável. Não sei se há noites algarvias, minhotas, alentejanas, oceânicas. Há noites, vidas e noites e vidas que o não são. E noites sorrisos, olhares, mamas, ventres, coxas, desejo. Nessas noites, nessas vidas, há sons como pedras na superfície de um lago de montanha; há peles quietas como esses lagos, profundas, nocturnas, tão perto e distantes.
É uma noite distante, Patrícia; Natália; foi uma noite, Luísa, uma só; um noite elíptica, críptica, obscura, da qual só mais tarde adivinhámos os contornos, muito mais tarde. E ainda hoje os sentimos, como se a pedra se tivesse eternizado na superfície do lago.
Sequência lancinante de notas, estrelas, urros e espirais - linhas que se enrolam como se se desejassem e nunca se tocam. Como se se desejassem. Pois bem: vou dizer-te: são duas, as espirais, Martine, tão enrodilhadas uma na outra que acabaram por se querer. Tal como a nossa noite, Dora.
III
Uma questão de acasos e da maneira como se articulam: um acaso a seguir a outro não é nada. Um dentro de outro pode ser uma vida, ou duas.
Lembro-me mal de ti: uma figura longilínea, espiral antes de o ser, oiço-te o respirar irregular, vejo-te os seios, que acaricias como se não fossem teus.
IV
Imagino-te na praia, de dia. O sol jorrava calor como se de uma agulheta de bombeiro. A tua pele quase da cor da areia, os mamilos duas conchas hesitantes. Não ouvíamos o sol, nem o calor, nem o mar, nem o vento. Não ouvíamos nada porque os nossos 5 sentidos tinham-se reduzido a um só: nós. Foi nesse dia que descobrimos a eternidade e nela o nosso lugar.
V
Estávamos a caminho, um dia. De uma cidade, ou uma luz, ou um oceano. Na impossibilidade de uma decisão, escolhemos os três: Lisboa.
II
A noite está escura e as estrelas penduram-se nela como brincos. Nós somos as faces, os olhos da noite.
Somos os brincos de uma noite escura, opaca, impenetrável. Não sei se há noites algarvias, minhotas, alentejanas, oceânicas. Há noites, vidas e noites e vidas que o não são. E noites sorrisos, olhares, mamas, ventres, coxas, desejo. Nessas noites, nessas vidas, há sons como pedras na superfície de um lago de montanha; há peles quietas como esses lagos, profundas, nocturnas, tão perto e distantes.
É uma noite distante, Patrícia; Natália; foi uma noite, Luísa, uma só; um noite elíptica, críptica, obscura, da qual só mais tarde adivinhámos os contornos, muito mais tarde. E ainda hoje os sentimos, como se a pedra se tivesse eternizado na superfície do lago.
Sequência lancinante de notas, estrelas, urros e espirais - linhas que se enrolam como se se desejassem e nunca se tocam. Como se se desejassem. Pois bem: vou dizer-te: são duas, as espirais, Martine, tão enrodilhadas uma na outra que acabaram por se querer. Tal como a nossa noite, Dora.
III
Uma questão de acasos e da maneira como se articulam: um acaso a seguir a outro não é nada. Um dentro de outro pode ser uma vida, ou duas.
Lembro-me mal de ti: uma figura longilínea, espiral antes de o ser, oiço-te o respirar irregular, vejo-te os seios, que acaricias como se não fossem teus.
IV
Imagino-te na praia, de dia. O sol jorrava calor como se de uma agulheta de bombeiro. A tua pele quase da cor da areia, os mamilos duas conchas hesitantes. Não ouvíamos o sol, nem o calor, nem o mar, nem o vento. Não ouvíamos nada porque os nossos 5 sentidos tinham-se reduzido a um só: nós. Foi nesse dia que descobrimos a eternidade e nela o nosso lugar.
V
Estávamos a caminho, um dia. De uma cidade, ou uma luz, ou um oceano. Na impossibilidade de uma decisão, escolhemos os três: Lisboa.
17.7.09
"Os filhos da mãe"
Um artigo de Pedro Santos Guerreiro a ler absolutamente: "Vão trabalhar, malandros".
(Via Delito de Opinião)
(Via Delito de Opinião)
Família (cont.)
Ou seja, de um lado temos a avó Feliciana e o avô Fachadas; do outro, a avó Vitória e o avô Gabriel. De um lado a minha mãe, a Mamã, Gabriela; do outro o meu pai - chama-se Vítor, ainda aqui o não tinha dito (Vítor, Vitória vem daqui). Os dois lados não gostam muito um do outro (gostavam: tenho de me habituar à ideia de que o avô Fachadas já morreu); ou pelo menos não gostam aos pares: a avó Feliciana não gosta do avô Gabriel, que acha um "chato mais chato do que as linhas dos eléctricos todos do mundo"; e o avô Gabriel acha a avó Feliciana uma desavergonhada e quase proibiu a família toda de lhe falar - enfim, isto só depois da morte do avô Fachadas, não sei bem porquê. De qualquer forma ninguém lhe ligou nenhuma, e a avó é sem dúvida a (como ela gosta de dizer) "estrela da companhia".
Os meus primos, filhos da Tia Rosa, são cinco; damo-nos todos muito bem, quando nos vemos pelo Natal - tirando aquele hábito deles de me tratarem sempre por "estúpido", que, confesso, por muito carinhoso seja começa a fatigar-me. Mas enfim, fora isso são uns pândegos, e não ficaram minimamente chateados por causa da herança do velho Fachadas - excepto, claro, no que respeita aos planos que já tinham feitos e "prontos para arrancar".
Foi neste meio que cresci: um meio saudável, uma família unida (enfim, mais ou menos. Não acredito muito nisso de famílias unidas como antigamente. Mas a minha era-o, à sua maneira. E ainda somos, muito mais do que tantas outras, com todas as zangas e rivalidades). Tenho uma certa inveja dos meus primos, pois sou filho único e gostava de ter irmãos; aliás, acho que cinco é o número correcto. Do lado do meu pai também há primos, mas sempre viveram longe de nós, e o pai deles (meu tio, irmão do meu pai) era aparentemente um artista, ou pelo menos alguém muito irresponsável. Nunca os conheci. A nossa família é unida, mas está cheia de pessoas sem nome e nomes sem pessoas.
Eu acho que tive imensa sorte. O meu pai é um grande especialista na condução de eléctricos, e a mamã uma dona de casa modelo - não fora uma ligeiríssima tendência para a Ginginha, que aliás partilha com a avó Gabriela (desde que ela veio viver cá para casa nota-se ligeiramente mais, mas enfim, nada do outro mundo). Aliás a mamã tem uma grande qualidade: sabe beber. Quando se apercebe de que bebeu um copinho a mais vai para a cama (os meus primos dizem-me muitas vezes que nem sempre é para a dela, mas isso são brincadeiras de primos, está bem de ver).
Eu trabalho num talho - daí o meu interesse pela genética. Há pouco disse que tinha sorte, mas não em todos os aspectos. Fisicamente deixo um pouco a desejar. Sou baixinho e, por uma razão que sinceramente não percebo, tenho excesso de peso. Não como nem bebo demais, e na minha família só o avô Fachadas era gordo. Se calhar herdei dele a única coisa que não queria herdar: o peso. A avó Feliciana ri-se muito, e quando me vê chegar do talho (sou o responsável pela limpeza da sala onde cortamos as peças: limpo o chão, esvazio os caixotes de lixo, etc.) faz-me sempre um sorriso e uma festa terna.
A maior parte das minhas namoradas não o são - ou melhor, nunca chegam a sê-lo. Só consigo atrair mulheres casadas e fiéis. Bem, quase fiéis. Eu explico; por exemplo: uma mulher está descontente com o seu casamento, mas tem fortes resistências morais (ou financeiras; já me aconteceu conhecer uma senhora que só estava com o marido por causa do dinheiro). Está na dúvida. Não quer enganar o marido; por outro lado, o casamento já não a satisfaz. Pois bem, qual a melhor solução? Está bem de ver: sair com um homem que não seja, de forma alguma, um risco para o marido e para o casamento. Digo isto friamente: é o resultado de uma análise aprofundada da minha vida afectiva dos últimos 5 anos. Comigo, ela pode dizer-se (ou ao marido, também já ocorreu): "Eu, enganar-te com um homem daqueles? Estás doido?" E assim lá faz as primeiras experiências extra-conjugais sem, no seu espírito, pôr em risco o matrimónio. (Devo dizer que isto me foi explicado por uma delas, mas parece-me que faz sentido, e concorda com os resultados da análise que eu próprio fiz e há pouco mencionei). De maneira tenho uma vida afectiva variada. Demais, mesmo: não devemos esquecer-nos que entre "variada" e "avariada" há uma letra de diferença, apenas.
(No outro dia foi a luz; hoje, é o barulho: o meu vizinho é um padre que treina os seus sermões na sala; nós ouvimos tudo - aliás, até comentamos algumas passagens, por vezes. Mas a verdade é que me é impossível continuar. O senhor Padre ainda vai demorar, eu conheço-o. Desculpem-me. Juro que não é uma técnica, ou um artifício.
PS - não devia dizer isto, mas não resisto: às vezes também o ouvimos com uma paroquiana. E a avó Feliciana garante que já o ouviu com um paroquiano, mas ninguém acredita.)
Os meus primos, filhos da Tia Rosa, são cinco; damo-nos todos muito bem, quando nos vemos pelo Natal - tirando aquele hábito deles de me tratarem sempre por "estúpido", que, confesso, por muito carinhoso seja começa a fatigar-me. Mas enfim, fora isso são uns pândegos, e não ficaram minimamente chateados por causa da herança do velho Fachadas - excepto, claro, no que respeita aos planos que já tinham feitos e "prontos para arrancar".
Foi neste meio que cresci: um meio saudável, uma família unida (enfim, mais ou menos. Não acredito muito nisso de famílias unidas como antigamente. Mas a minha era-o, à sua maneira. E ainda somos, muito mais do que tantas outras, com todas as zangas e rivalidades). Tenho uma certa inveja dos meus primos, pois sou filho único e gostava de ter irmãos; aliás, acho que cinco é o número correcto. Do lado do meu pai também há primos, mas sempre viveram longe de nós, e o pai deles (meu tio, irmão do meu pai) era aparentemente um artista, ou pelo menos alguém muito irresponsável. Nunca os conheci. A nossa família é unida, mas está cheia de pessoas sem nome e nomes sem pessoas.
Eu acho que tive imensa sorte. O meu pai é um grande especialista na condução de eléctricos, e a mamã uma dona de casa modelo - não fora uma ligeiríssima tendência para a Ginginha, que aliás partilha com a avó Gabriela (desde que ela veio viver cá para casa nota-se ligeiramente mais, mas enfim, nada do outro mundo). Aliás a mamã tem uma grande qualidade: sabe beber. Quando se apercebe de que bebeu um copinho a mais vai para a cama (os meus primos dizem-me muitas vezes que nem sempre é para a dela, mas isso são brincadeiras de primos, está bem de ver).
Eu trabalho num talho - daí o meu interesse pela genética. Há pouco disse que tinha sorte, mas não em todos os aspectos. Fisicamente deixo um pouco a desejar. Sou baixinho e, por uma razão que sinceramente não percebo, tenho excesso de peso. Não como nem bebo demais, e na minha família só o avô Fachadas era gordo. Se calhar herdei dele a única coisa que não queria herdar: o peso. A avó Feliciana ri-se muito, e quando me vê chegar do talho (sou o responsável pela limpeza da sala onde cortamos as peças: limpo o chão, esvazio os caixotes de lixo, etc.) faz-me sempre um sorriso e uma festa terna.
A maior parte das minhas namoradas não o são - ou melhor, nunca chegam a sê-lo. Só consigo atrair mulheres casadas e fiéis. Bem, quase fiéis. Eu explico; por exemplo: uma mulher está descontente com o seu casamento, mas tem fortes resistências morais (ou financeiras; já me aconteceu conhecer uma senhora que só estava com o marido por causa do dinheiro). Está na dúvida. Não quer enganar o marido; por outro lado, o casamento já não a satisfaz. Pois bem, qual a melhor solução? Está bem de ver: sair com um homem que não seja, de forma alguma, um risco para o marido e para o casamento. Digo isto friamente: é o resultado de uma análise aprofundada da minha vida afectiva dos últimos 5 anos. Comigo, ela pode dizer-se (ou ao marido, também já ocorreu): "Eu, enganar-te com um homem daqueles? Estás doido?" E assim lá faz as primeiras experiências extra-conjugais sem, no seu espírito, pôr em risco o matrimónio. (Devo dizer que isto me foi explicado por uma delas, mas parece-me que faz sentido, e concorda com os resultados da análise que eu próprio fiz e há pouco mencionei). De maneira tenho uma vida afectiva variada. Demais, mesmo: não devemos esquecer-nos que entre "variada" e "avariada" há uma letra de diferença, apenas.
(No outro dia foi a luz; hoje, é o barulho: o meu vizinho é um padre que treina os seus sermões na sala; nós ouvimos tudo - aliás, até comentamos algumas passagens, por vezes. Mas a verdade é que me é impossível continuar. O senhor Padre ainda vai demorar, eu conheço-o. Desculpem-me. Juro que não é uma técnica, ou um artifício.
PS - não devia dizer isto, mas não resisto: às vezes também o ouvimos com uma paroquiana. E a avó Feliciana garante que já o ouviu com um paroquiano, mas ninguém acredita.)
Repetições
A estúpida mania que algumas semanas têm de se repetir deveria ser castigada. Talvez com a expulsão das semanas faltosas, não sei. Tudo menos chumbá-las, claro.
Fotografias
Seguem-se algumas fotografias, algumas já aqui mostradas. Não há razão nenhuma para a repetição, que merece um pedido de desculpa a quem já as viu.
Arrumar a casa
"O plenário dos juízes da 2.ª secção do TC, depois de ouvidos os argumentos quer da APL quer do Ministério das Obras Públicas, manteve a posição inicial de que o contrato feito com a Liscont – sem concurso público e alargando a concessão por mais 27 anos – é ruinoso para o Estado e não acautela o interesse público. E nem sequer faz uma previsão realista do negócio que serve de base ao modelo financeiro e no qual assenta todo o contrato.
«Foi um negócio ruinoso para o Estado», que «só serviu os interesses do promotor», confirmou uma fonte do Tribunal de Contas, sobre as conclusões desta auditoria."
Mais:
Vida Breve:
"O tribunal de contas concluiu que o negócio do terminal de contentores em Alcântara é ruinoso para o Estado. Afinal foi baseado em projecções erradas e decorreu sem transparência. Ainda estou para ver se há clausulas leoninas a favor da Mota-Engil. Quem lesse há tempos a esganiçada blogosfera socialista era capaz de jurar que a obra ia salvar a nossa cidade de ruina certa, e que apenas o desinteressado amor por Lisboa justificava a sua atribuição por ajuste directo à empresa de um amigalhaço, ex-ministro deste Governo. Fico à espera das retractações, que não devem tardar."
Geração de 60:
"Ou quem agiu em nome do Estado estava de boa fé e delegou nos advogados que negociaram a seu bel prazer, com os resultados ruinosos que agora se conhecem; ou estava de má fé e propositadamente lesou o interesse público, com a complacência dos juristas que intervieram na negociação e feitura do contrato.
Qualquer um destes comportamentos tem um nome e acarreta consequências políticas, civis, disciplinares e criminais.
Isto já não é um rio, é um mar de corrupção. Tão denso, que se por azar os contentores nele caíssem, eram capazes de flutuar."
«Foi um negócio ruinoso para o Estado», que «só serviu os interesses do promotor», confirmou uma fonte do Tribunal de Contas, sobre as conclusões desta auditoria."
Mais:
Vida Breve:
"O tribunal de contas concluiu que o negócio do terminal de contentores em Alcântara é ruinoso para o Estado. Afinal foi baseado em projecções erradas e decorreu sem transparência. Ainda estou para ver se há clausulas leoninas a favor da Mota-Engil. Quem lesse há tempos a esganiçada blogosfera socialista era capaz de jurar que a obra ia salvar a nossa cidade de ruina certa, e que apenas o desinteressado amor por Lisboa justificava a sua atribuição por ajuste directo à empresa de um amigalhaço, ex-ministro deste Governo. Fico à espera das retractações, que não devem tardar."
Geração de 60:
"Ou quem agiu em nome do Estado estava de boa fé e delegou nos advogados que negociaram a seu bel prazer, com os resultados ruinosos que agora se conhecem; ou estava de má fé e propositadamente lesou o interesse público, com a complacência dos juristas que intervieram na negociação e feitura do contrato.
Qualquer um destes comportamentos tem um nome e acarreta consequências políticas, civis, disciplinares e criminais.
Isto já não é um rio, é um mar de corrupção. Tão denso, que se por azar os contentores nele caíssem, eram capazes de flutuar."
Poder-se-á talvez fazer uma paráfrase de ocasião* e dizer que depois de casa arrumada, trancas à porta.
* - Com a devida vénia.
Risco Contínuo:
"A fórmula correcta - ou a tradução, se quiserem - é a seguinte: o governo socialista, que durante o seu mandato aumentou todos os 9 impostos, entregou à Liscont, do grupo Mota-Engil, presidido pelo antigo ministro socialista Jorge Coelho, o terminal de contentores de Alcântara, num negócio ruinoso para os contribuintes. Os quais ainda, nos termos do contrato celebrado por um ministro socialista, terão que indemnizar a empresa de um antigo ministro socialista caso as coisas não correrem bem.
Se ninguém vê nisto um escândalo, então em Portugal não há escândalos."
* - Com a devida vénia.
Risco Contínuo:
"A fórmula correcta - ou a tradução, se quiserem - é a seguinte: o governo socialista, que durante o seu mandato aumentou todos os 9 impostos, entregou à Liscont, do grupo Mota-Engil, presidido pelo antigo ministro socialista Jorge Coelho, o terminal de contentores de Alcântara, num negócio ruinoso para os contribuintes. Os quais ainda, nos termos do contrato celebrado por um ministro socialista, terão que indemnizar a empresa de um antigo ministro socialista caso as coisas não correrem bem.
Se ninguém vê nisto um escândalo, então em Portugal não há escândalos."
Família (cont.)
Estava a falar dos genes, e da mistura destes com Baileys e Jameson. A minha ideia era fazer a ligação com a Mãe (a quem trato familiarmente por mamã). Infelizmente apagou-se a luz, e tudo o que me vem à memória é gosto dela (mamã) pela Ginginha da avó Vitória (não que ela bebesse às escuras, muito longe disso - os meus primos, quando querem aborrecer-me, dizem "quem seduziu a tua mãe não foi o teu pai, estúpido. Foi a ginginha da tua avó." - Reproduzo o estúpido porque na nossa família é um sinal de afecto.)
Enfim, tudo isto para chegar ao ponto: sou filho único, o que me faz, ainda hoje, muita pena. Sempre quis ter irmãos. Os meus primos, apesar de serem quase da minha idade cedo se afastaram. Isto das famílias é uma grande confusão, mas sem luz não posso contar nada porque só me vêm ao espírito ideias esquisitas. No fundo acho que é uma consequência de uma certa má-formação (ou deformação, se preferirem) minha. Vou, infelizmente, ter que deixar esta descrição da minha família para amanhã, ou depois.
Enfim, tudo isto para chegar ao ponto: sou filho único, o que me faz, ainda hoje, muita pena. Sempre quis ter irmãos. Os meus primos, apesar de serem quase da minha idade cedo se afastaram. Isto das famílias é uma grande confusão, mas sem luz não posso contar nada porque só me vêm ao espírito ideias esquisitas. No fundo acho que é uma consequência de uma certa má-formação (ou deformação, se preferirem) minha. Vou, infelizmente, ter que deixar esta descrição da minha família para amanhã, ou depois.
Château du Marais
Gostaria de dedicar esta fotografia a uma jovem e talentosa senhora que gosta muito dela. Se ela aceitar, claro, que os jovens figurantes são o meu filho Tomás e a minha filha Helena, ele com 11 ou 12 anos e ela com menos 4.
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Fotografia
16.7.09
Conspiração
Um dos temas recorrentes na literatura que trata do amor e assim é o de "A que ama B que ama C que ama D que ama A" e assim de seguida até ao Z (de Zulu, suponho). Está visto que tudo não passa de uma vasta conspiração de editores, livreiros, vendedores de papel e escritores: todos nós sabemos que A ama B e B ama A pela razão irrefutável e simples (não é uma redundância) de que amamos quem nos ama, porque nos ama.
Compreensível
"Salários pagos pelo Estado "claramente acima" dos privados". É compreensível. Com os horários, a carga de trabalho, a insegurança de emprego de que eles sofrem, por algum lado devem ser compensados.
Pacto
Um gajo pensa que tem um deal com uma senhora, uma instituição, a vida. Qualquer um, simples, dois termos de cada lado, três. Um gajo pode, até, basear toda a sua vida neste deal, ou noutro qualquer; ou um dia só, uma hora. Pouco importa. E a senhora, a instituição, a vida falham. Um gajo fica perdido, claro. À deriva. À deriva nos sentimentos, nos afectos, nos amores, nos futuros. Não. Um gajo não é feito para andar à deriva. Não é um pau, um madeiro, um tronco. Não é verde, nem castanho. É encarnado, ou preto, azul, branco. [À deriva nas cores].
Claro que não. Um gajo não deriva, não se pinta, não muda de côr. Mantém o rumo e a compostura; a atitude, como eles dizem nos aviões. E segue em frente, como um quebra-gelo, percebes? Que se foda o deal - de qualquer forma o único pacto que conta é o que um gajo faz consigo próprio. Chato, claro. Mas inevitável, se um gajo quer ser um gajo.
É como ir para a arena sabendo que se vai ser comido vivo: um gajo tem que ir, porque se não fôr é pior. Pode viver-se sem um braço, mas não com a eterna companhia da cobardia; ou com o falhanço, mas não com o medo de falhar. E não se pode fugir.
Claro que não. Um gajo não deriva, não se pinta, não muda de côr. Mantém o rumo e a compostura; a atitude, como eles dizem nos aviões. E segue em frente, como um quebra-gelo, percebes? Que se foda o deal - de qualquer forma o único pacto que conta é o que um gajo faz consigo próprio. Chato, claro. Mas inevitável, se um gajo quer ser um gajo.
É como ir para a arena sabendo que se vai ser comido vivo: um gajo tem que ir, porque se não fôr é pior. Pode viver-se sem um braço, mas não com a eterna companhia da cobardia; ou com o falhanço, mas não com o medo de falhar. E não se pode fugir.
Continuar
I
"Se continuas assim ainda acabo a gostar de ti", disse-me. Respondi: "Não, não acabas. Não começas sequer. Mas não te preocupes com isso: prefiro assim. Ainda acabavas a fazer uma coisa que eu próprio não faço".
II
Depois do pequeno-almoço já tinha, claro, mudado de opinião. Disse-lhe: "Não sei se te amo ou não. Não quero saber. Não quero amar-te. Talvez o amor seja como um duche quente num dia quente de verão: dispensável; ou como um duche frio no inverno. Não sei."
Não sabemos nunca. Não se aprende. O amor é como um dia no oceano: tudo parece igual ao que o precedeu ou ao que está para vir, e não é. Cada dia, como cada corpo, cada pele, olhar, desejo, gesto são diferentes do outro.
Não sabemos nunca. Não se aprende. O amor é como um dia no oceano: tudo parece igual ao que o precedeu ou ao que está para vir, e não é. Cada dia, como cada corpo, cada pele, olhar, desejo, gesto são diferentes do outro.
III
É uma porra. Quem me matasse o desejo ganharia o Nobel da Paz. Ou o meu amor eterno, vá saber-se.
15.7.09
Família (cont.)
Já dos meus pais não há muito a dizer (também não posso: cortam-me a mesada por tudo e por nada. Digo qualquer coisa? Lá se vai a massa; fico calado? Já foi. O ideal é um meio termo entre o silêncio e as palavras, qualquer coisa como um silêncio de entendidos, if you see what I mean).
O meu pai era condutor de eléctricos na Carris (ele vai aos arames, quando lhe chamam "condutor de eléctricos": "Wattman", corrige imediatamente, com um grito feroz). Foi-o toda a sua vida activa (agora está na reforma). Era um senhor muito competente no seu trabalho - não era só ele a dizê-lo: a minha mãe também o diz; e mesmo muitos colegas, na festa de despedida (trabalhou na empresa 47 anos, dos 18 aos 65. E mesmo assim não queria vir-se embora. Ainda tentou ficar como consultor, mas não quiseram). Era muito conservador e não gostava de mudanças: várias vezes quiseram promovê-lo a condutor de autocarros - ou mesmo a condutor daqueles eléctricos modernos, horríveis - e não quis. Toda a sua vida conduziu os mesmos veículos - e se pudesse e a empresa lhe tivesse dado ouvidos, sempre o mesmo. - Não deram, claro. É um dos grandes problemas do nosso país: toda a gente pensa que sabe tudo e ninguém dá ouvidos a quem realmente sabe. Cultura livresca, é o que é.
O meu pai tinha uma admiração enorme (misturada com um bocadinho de medo, creio) pelo meu avô. A tal ponto que decidiu, muito jovem ainda, que só se casaria com uma senhora cujo nome fosse Gabriela. Por isso casou tão tarde: na altura não havia muitas Gabrielas - aliás ele confidenciou-me um dia que esteve quase a ir ao Brasil à procura de uma Gabriela. Felizmente não foi preciso. Encontrou a minha mãe numa festarola dessas dos bairros populares e nunca mais a largou. Era terrível, o meu pai. Tinha um jeito para mulheres que só visto. Ao fim de dois anos de namoro a minha mãe caiu-lhe nos braços e aceitou casar com ele. (Ela defende-se: diz que tinha bebido mais do que o habitual. Mas isso é daquelas coisas que todas as senhoras dizem, não é?).
O meu pai tinha - tem. Graças a Deus ainda é vivo - um piadão. Fazia humor com qualquer coisa. Um passageiro mais estranho, uma linha que não fosse trocada a tempo, qualquer coisa o fazia rir. Ainda é assim, mas os motivos são menos, claro. Afinal está na reforma, não é?
O pai atribui imensa importância à sua ascendência: ser neto do filho bastardo de um conde atesta, quanto a ele, a excelência da nossa linhagem. Tem razão, claro; os genes não sabem o que é o casamento, a aliança, a fidelidade e essas coisas todas. Aos genes só lhes interessa reproduzirem-se - e como toda a gente sabe, só os melhores o conseguem.
(Interrompo aqui o meu relato. Ali ao lado há uma loja que vende bebidas a um preço incomparável - enfim, o preço é comparável. Mas sai a ganhar da comparação. É isso que quero dizer com "incomparável". E têm Baileys, um licor que misturado com uma pedra de gelo e duas gotas de whisky Jameson vale muito mais do que o preço que por ele eles me pedem. Já volto, se não se importam.
PS - este foi um truque que aprendi na Irlanda. Um dia contarei a história. É muito gira.)
O meu pai era condutor de eléctricos na Carris (ele vai aos arames, quando lhe chamam "condutor de eléctricos": "Wattman", corrige imediatamente, com um grito feroz). Foi-o toda a sua vida activa (agora está na reforma). Era um senhor muito competente no seu trabalho - não era só ele a dizê-lo: a minha mãe também o diz; e mesmo muitos colegas, na festa de despedida (trabalhou na empresa 47 anos, dos 18 aos 65. E mesmo assim não queria vir-se embora. Ainda tentou ficar como consultor, mas não quiseram). Era muito conservador e não gostava de mudanças: várias vezes quiseram promovê-lo a condutor de autocarros - ou mesmo a condutor daqueles eléctricos modernos, horríveis - e não quis. Toda a sua vida conduziu os mesmos veículos - e se pudesse e a empresa lhe tivesse dado ouvidos, sempre o mesmo. - Não deram, claro. É um dos grandes problemas do nosso país: toda a gente pensa que sabe tudo e ninguém dá ouvidos a quem realmente sabe. Cultura livresca, é o que é.
O meu pai tinha uma admiração enorme (misturada com um bocadinho de medo, creio) pelo meu avô. A tal ponto que decidiu, muito jovem ainda, que só se casaria com uma senhora cujo nome fosse Gabriela. Por isso casou tão tarde: na altura não havia muitas Gabrielas - aliás ele confidenciou-me um dia que esteve quase a ir ao Brasil à procura de uma Gabriela. Felizmente não foi preciso. Encontrou a minha mãe numa festarola dessas dos bairros populares e nunca mais a largou. Era terrível, o meu pai. Tinha um jeito para mulheres que só visto. Ao fim de dois anos de namoro a minha mãe caiu-lhe nos braços e aceitou casar com ele. (Ela defende-se: diz que tinha bebido mais do que o habitual. Mas isso é daquelas coisas que todas as senhoras dizem, não é?).
O meu pai tinha - tem. Graças a Deus ainda é vivo - um piadão. Fazia humor com qualquer coisa. Um passageiro mais estranho, uma linha que não fosse trocada a tempo, qualquer coisa o fazia rir. Ainda é assim, mas os motivos são menos, claro. Afinal está na reforma, não é?
O pai atribui imensa importância à sua ascendência: ser neto do filho bastardo de um conde atesta, quanto a ele, a excelência da nossa linhagem. Tem razão, claro; os genes não sabem o que é o casamento, a aliança, a fidelidade e essas coisas todas. Aos genes só lhes interessa reproduzirem-se - e como toda a gente sabe, só os melhores o conseguem.
(Interrompo aqui o meu relato. Ali ao lado há uma loja que vende bebidas a um preço incomparável - enfim, o preço é comparável. Mas sai a ganhar da comparação. É isso que quero dizer com "incomparável". E têm Baileys, um licor que misturado com uma pedra de gelo e duas gotas de whisky Jameson vale muito mais do que o preço que por ele eles me pedem. Já volto, se não se importam.
PS - este foi um truque que aprendi na Irlanda. Um dia contarei a história. É muito gira.)
KK
Não é preciso confirmar, mas todos os dias o confirmo: sou mais sensível ao olhar do que aos olhos, ao que diz a boca do que à boca que o diz, ao gesto do que à mão.
14.7.09
13.7.09
Família
As coisas devem ser contextualizadas: tudo acontece por acaso, mas não no acaso. Por exemplo: o conjunto de genes que faz de nós o que somos é fruto da combinação aleatória de vários códigos genéticos que são, eles mesmos, fruto de outras combinações aleatórias. Mas é esse código genético que vai determinar a maneira como lidamos com o conjunto de acasos que se nos vão deparando ao longo da vida; é ele que determina, mesmo, se esse conjunto de acasos deve manter-se ou se a nossa vida vai ser um percurso tão linear e previsível como o de um comboio suíço, ou alemão. Por isso, e não por ter particular orgulho nela - não tenho, como tão pouco tenho vergonha - começo por vos falar da minha família.
A minha avó materna chamava-se Feliciana. Nasceu e viveu na província. Vinha de uma família de grandes proprietários e casou com um banqueiro muito rico. Em casa tinha um cozinheiro francês e um chauffeur americano (o único povo, segundo o marido dela, que percebia os automóveis). Sabia tocar piano, declamar poesia, organizar banquetes. Teve duas filhas: a minha tia Rosa e a minha Mãe; e dois filhos, que morreram novos. Pouco importa. Devia ser sensual, pois ao que parece enganava o banqueiro de todas as formas e feitios. Um dia, fugiu com um artista de circo (enfim, "artista" é um exagero: o homem, 15 anos mais novo do que ela, era o palhaço pobre de um circo paupérrimo). Só a conheci quando o palhaço - o senhor tinha nome, mas não em nossa casa - morreu.
Para ajudar a economia doméstica a avó Feliciana tinha entretanto aprendido a fazer malabarismos com garrafas e bolas. Mais tarde, aproveitaria a sua experiência no circo para dar aulas de ginástica nos colégios privados da cidade, onde afrontava a direito, de cabeça erguida e com um ocasional manguito os olhares reprovadores das mães que a conheciam, ou lhe conheciam a história. Aliás, foi dela que vi o meu primeiro manguito; gesto que nunca deixou, desde esse dia, de me encantar.
O meu avô, marido dela, era um pedante de merda, podre de rico, banqueiro de caricatura: chapéu alto, barriga e charuto. Chamávamos-lhe "Avô Fachadas", porque vivia para ser visto. Queixava-se-nos frequentemente da minha avó, não por ela o ter deixado, mas por ter fugido com um palhaço pobre. "Se ao menos tivesse sido com o domador de leões" - (o circo nem gatos tinha, quanto mais leões) - "ou com o dono do circo... Mas com um palhaço! Que desgraça". Morreu muito velho, pendurado num charuto (apagado, porque estava no hospital).
Foi aliás nesse hospital que o primeiro de uma longa série de acasos e erros que iriam marcar a minha vida aconteceu: estávamos os primos todos (éramos seis) a comentar a fuga da avó. Éramos-lhe favoráveis, claro. Pensávamos que ele estava em coma. Não estava. A certa altura largou um rugido de besta ferida, pôs-nos a todos na rua e chamou o advogado. Refez o testamento e não nos deixou nada. Nem a nós, nem às duas filhas, porque calculava que delas o dinheiro viria para nós (nessa altura ainda era possível; hoje já não é). Morreu pouco depois. Deixou o dinheiro todo a uma instituição de caridade da qual, viémos a descobrir mais tarde, um dos administradores era o advogado. Os nossos pais ainda tentaram impugnar o testamento, mas sem sucesso. Deve ter sido a única vez na vida que fez qualquer coisa sem se preocupar com o que se diria dele.
A fortuna do avô Fachadas cresceu bastante quando, nos últimos vinte ou trinta anos da sua vida se dedicou a comprar e vender políticos. Era uma forma, explicava, de estar "no imobiliário, indirectamente". Aos políticos que ele corrompeu se devem muitas das obras inúteis, estapafúrdias e caríssimas de que o nosso país está pejado. Foi mais ou menos por essa altura que reencontrámos a Avó Feliciana: o palhaço morreu pouco depois do Fachadas. Teve uma morte chata: tinha decidido deixar de ser palhaço e tornara-se trapezista. Aspirava a voos mais altos, suponho. Um dia escorregou e, como os circos nessa altura não tinham redes, estatelou-se no chão.
A avó apareceu-nos lá em casa e acabou por ficar connosco: a minha tia Rosa não tinha lugar para ela. Ria-se, ria-se muito cada vez que se falava na fortuna que "perdêramos". A verdade é que cada um de nós estava a preparar-se para dilapidar a sua parte, cada um à sua maneira.
A minha avó materna chamava-se Feliciana. Nasceu e viveu na província. Vinha de uma família de grandes proprietários e casou com um banqueiro muito rico. Em casa tinha um cozinheiro francês e um chauffeur americano (o único povo, segundo o marido dela, que percebia os automóveis). Sabia tocar piano, declamar poesia, organizar banquetes. Teve duas filhas: a minha tia Rosa e a minha Mãe; e dois filhos, que morreram novos. Pouco importa. Devia ser sensual, pois ao que parece enganava o banqueiro de todas as formas e feitios. Um dia, fugiu com um artista de circo (enfim, "artista" é um exagero: o homem, 15 anos mais novo do que ela, era o palhaço pobre de um circo paupérrimo). Só a conheci quando o palhaço - o senhor tinha nome, mas não em nossa casa - morreu.
Para ajudar a economia doméstica a avó Feliciana tinha entretanto aprendido a fazer malabarismos com garrafas e bolas. Mais tarde, aproveitaria a sua experiência no circo para dar aulas de ginástica nos colégios privados da cidade, onde afrontava a direito, de cabeça erguida e com um ocasional manguito os olhares reprovadores das mães que a conheciam, ou lhe conheciam a história. Aliás, foi dela que vi o meu primeiro manguito; gesto que nunca deixou, desde esse dia, de me encantar.
O meu avô, marido dela, era um pedante de merda, podre de rico, banqueiro de caricatura: chapéu alto, barriga e charuto. Chamávamos-lhe "Avô Fachadas", porque vivia para ser visto. Queixava-se-nos frequentemente da minha avó, não por ela o ter deixado, mas por ter fugido com um palhaço pobre. "Se ao menos tivesse sido com o domador de leões" - (o circo nem gatos tinha, quanto mais leões) - "ou com o dono do circo... Mas com um palhaço! Que desgraça". Morreu muito velho, pendurado num charuto (apagado, porque estava no hospital).
Foi aliás nesse hospital que o primeiro de uma longa série de acasos e erros que iriam marcar a minha vida aconteceu: estávamos os primos todos (éramos seis) a comentar a fuga da avó. Éramos-lhe favoráveis, claro. Pensávamos que ele estava em coma. Não estava. A certa altura largou um rugido de besta ferida, pôs-nos a todos na rua e chamou o advogado. Refez o testamento e não nos deixou nada. Nem a nós, nem às duas filhas, porque calculava que delas o dinheiro viria para nós (nessa altura ainda era possível; hoje já não é). Morreu pouco depois. Deixou o dinheiro todo a uma instituição de caridade da qual, viémos a descobrir mais tarde, um dos administradores era o advogado. Os nossos pais ainda tentaram impugnar o testamento, mas sem sucesso. Deve ter sido a única vez na vida que fez qualquer coisa sem se preocupar com o que se diria dele.
A fortuna do avô Fachadas cresceu bastante quando, nos últimos vinte ou trinta anos da sua vida se dedicou a comprar e vender políticos. Era uma forma, explicava, de estar "no imobiliário, indirectamente". Aos políticos que ele corrompeu se devem muitas das obras inúteis, estapafúrdias e caríssimas de que o nosso país está pejado. Foi mais ou menos por essa altura que reencontrámos a Avó Feliciana: o palhaço morreu pouco depois do Fachadas. Teve uma morte chata: tinha decidido deixar de ser palhaço e tornara-se trapezista. Aspirava a voos mais altos, suponho. Um dia escorregou e, como os circos nessa altura não tinham redes, estatelou-se no chão.
A avó apareceu-nos lá em casa e acabou por ficar connosco: a minha tia Rosa não tinha lugar para ela. Ria-se, ria-se muito cada vez que se falava na fortuna que "perdêramos". A verdade é que cada um de nós estava a preparar-se para dilapidar a sua parte, cada um à sua maneira.
Enfim, agora é irrelevante. Do avô Fachadas dizíamos na família que tinha duas sombras: a dele e a de quem ele pensava que era. Muito maior, claro. As duas raramente se encontravam. Era incapaz de citar o nome de uma pessoa sem mencionar o lugar que ocupava na hierarquia da empresa e as suas posses: "Fulano de tal - administrador da Coisas e Loisas; tem uma casa no Algarve com 5,000 metros quadrados e 20 quartos". Ou "Sicrana (é a mulher do Coiso de Loiso e Poiso. Acabou de mandar fazer uma casa toda em cristal, no Minho)" - quando as posições hierárquicas ou as posses não coincidiam totalmente com a verdade ele não se importava; tal como nós, de resto. Pouco a pouco foi-se-lhe tornando cada vez mais difícil mencionar pessoas que não tivessem um lugar importante ou um grande património. Um dia disse-me "Eu só fumo Cohibas", o que me chateou porque nunca mais fui capaz de os apreciar devidamente. E não se demoveu nem quando lhe disse que o Fidel Castro também: "Ora aí está. Eu bem te dizia. Um gajo que é dono de Cuba sabe decerto do que fala".
Esta era a família pelo lado da minha Mãe. Do lado do Pai eram mais simples. Aliás, eram simples. A avó chamava-se Vitória; gostava dela que me fartava: aos seis anos deu-me a provar Ginginha pela primeira vez - uma ginginha caseira, boa, que ela começava a beber pouco depois do pequeno almoço; e o avô, Gabriel, que era filho do filho bastardo de um conde (se bem me lembro. Por razões que não percebo esta parte da família sempre me foi um bocadinho obscura) e foi para o Alentejo (eram do Norte) vender leite. Foi preso uma vez ou duas porque misturava o leite com mijo; acto esse que justificava com a seca: "As vacas não dão leite, senhor agente. Quer quer que eu faça?"
Não sei onde conheceu a minha avó Vitória, assim chamada em homenagem à sua homónima inglesa. Algures no seu passado havia um inglês que tinha trabalhado nos navios, e desembarcara em Portugal. Nunca soubemos se à força se de livre vontade.
(Cont.)
12.7.09
World Music Festival Lx'09
Stewart Sukuma, um cantor moçambicano, é um dos músicos que vai actuar. Podem ouvir algumas das suas músicas aqui.
Generosidades
Há vários tipos e formas de generosidade. Algumas até são desinteressadas, genuínas. Mas nenhuma é gratuita: todas se fazem pagar, de uma maneira ou de outra.
F I N A L M E N T E
"O Ministério Público deverá lançar uma investigação à extensão do contrato de exploração do Terminal de Contentores de Alcântara, concedida à Liscont pelo Ministério das Obras Públicas de Mário Lino, por haver suspeitas de que o interesse do Estado tenha sido prejudicado".
Não estamos completamente nas mãos dos bichos.
Adenda:
"António Costa defende que "é uma questão estranha à Câmara".
Quer parecer-me que quem é estranho à cidade é a dupla António Costa / José Sá Fernandes. Não fazem falta nenhuma.
Não estamos completamente nas mãos dos bichos.
Adenda:
"António Costa defende que "é uma questão estranha à Câmara".
Quer parecer-me que quem é estranho à cidade é a dupla António Costa / José Sá Fernandes. Não fazem falta nenhuma.
11.7.09
10.7.09
Memorandum
Nunca é de mais lembrar que de 14 a 19 de Julho vai haver um Festival de música do mundo na Ler Devagar da Lx Factory (em Alcântara, para um ou outro extra-terrestre), e que durante esses dias não deve haver melhor maneira de gastar 15 euros.
"Mais do que a música do mundo em Alcântara é pensar Alcântara como um sítio do mundo."
"Mais do que a música do mundo em Alcântara é pensar Alcântara como um sítio do mundo."
Deprimente
É realmente deprimente ter de lembrar isto: "Despite Russia's protests, Stalin was no less villainous than Hitler"
Cidadãos cumpridores da lei
"Motorists seem to feel they can violate traffic laws a little without damaging their self-image as law-abiding citizens." O problema é saber se a "auto-imagem de cidadãos cumpridores da lei" é valorizada de todo.
Demais
Em Maio deste ano enviei um e-mail à Junta da Freguesia na qual habito para lhes pedir a colocação de uns pilaretes no topo de uma escada frequentemente impedida pelo estacionamento selvagem de automóveis (ou pelo estacionamento de selvagens, se preferirem).
Eu gostaria que alguém me explicasse em que consiste o conjunto de operações necessárias para que dois pilaretes sejam colocados num determinado local. É que dois meses parece-me, sinceramente, demais.
Cenas da vida quotidiana
Sei que a senhora se chama Maria do Céu (ou Céu, tout court), e é de Valpaços - ela disse-o várias vezes. Sei também que é pequena, e que deve ter pouco menos de 70 anos, porque estou a vê-la. Coxeia, agarrada a uma muleta; é a custo que sobe para o autocarro que apanho para o escritório quando a bicicleta resolve lembrar-me quão barata foi.
O autocarro - um daqueles pequenos veículos com os quais a Carris treina os seus condutores para a Fórmula 1 (ou para o Paris - Dakar, dado o estado das ruas pelas quais os senhores evoluem a velocidades alucinantes) poderia ser muito mais do que um meio de transporte. É um verdadeiro laboratório social - a média de idades dos passageiros deve andar à volta dos 65 anos, e o estrato social pelos D - E.
Maria do Céu interrompeu a conversa de outros passageiros para contar a sua história: exploravam a habitual teoria xenófoba do perigo que os estrangeiros representam. Passo os argumentos, são conhecidos. Céu interrompeu-os com um "eu tenho estado aqui caladinha, mas estou a ouvi-los" que deu o tom. E continuou com uma história que mais ou menos resumida (enfim, muito resumida) dá isto:
Maria do Céu foi operada à perna direita, recentemente. E andava ainda de canadianas e com um aparelho exterior - "seis parafusos" - quando foi assaltada na rua depois de ter ido ao Multibanco. "Portugueses, eram Portugueses" - a ligação à conversa dos outros passageiros estava feita. "Pois bem", continua, "eram três: dois à minha frente e um um bocadinho mais afastado". Olha para a assistência, que começa a estar cansada com a quantidade de pormenores - o meu relato está mais do que reduzido: está amputado. "E o que é que a Céu fez?" - A pergunta retórica fez renascer o interesse; "pois dei-lhe um pontapé entre as pernas e com a canadiana parti-lhe a cabeça". O decréscimo de tensão na assistência é palpável; está pronta para o remate: "A Céu ficou com o dinheiro e o bandido foi para o Hospital".
Maria do Céu interrompeu a conversa de outros passageiros para contar a sua história: exploravam a habitual teoria xenófoba do perigo que os estrangeiros representam. Passo os argumentos, são conhecidos. Céu interrompeu-os com um "eu tenho estado aqui caladinha, mas estou a ouvi-los" que deu o tom. E continuou com uma história que mais ou menos resumida (enfim, muito resumida) dá isto:
Maria do Céu foi operada à perna direita, recentemente. E andava ainda de canadianas e com um aparelho exterior - "seis parafusos" - quando foi assaltada na rua depois de ter ido ao Multibanco. "Portugueses, eram Portugueses" - a ligação à conversa dos outros passageiros estava feita. "Pois bem", continua, "eram três: dois à minha frente e um um bocadinho mais afastado". Olha para a assistência, que começa a estar cansada com a quantidade de pormenores - o meu relato está mais do que reduzido: está amputado. "E o que é que a Céu fez?" - A pergunta retórica fez renascer o interesse; "pois dei-lhe um pontapé entre as pernas e com a canadiana parti-lhe a cabeça". O decréscimo de tensão na assistência é palpável; está pronta para o remate: "A Céu ficou com o dinheiro e o bandido foi para o Hospital".
Elevar o nível
Recentemente ouvi "elevar o nível" como explicação - ou finalidade - da actuação da ASAE. Não consigo impedir-me de ficar comovido quando oiço alguém inteligente e "de nível elevado", como foi o caso - não sei se graças a um antepassado qualquer da ASAE - caucionar uma velha e quanto a mim detestável forma portuguesa de governar: a "elite" decide, a ralé segue (ou "sobe", se preferirem).
Claro que há outras formas de "elevar o nível"; por exemplo, aumentando o poder de compra: até a ralé prefere pagar um pouco mais por um serviço melhor, mais limpo, etc.
Esta opção tem, contudo, um ligeiro senão: a não-ralé (hesito em utilizar o termo "elite" para designar aqueles que em Portugal pensam que o são) que ocupa alternadamente as cadeiras do Poder teria de desburocratizar, reformar, liberalizar; ou seja, perder um pouco desse Poder e dá-lo, justamente, à "ralé". Incluíndo, claro (entre outros) o poder de "elevar o nível".
Claro que há outras formas de "elevar o nível"; por exemplo, aumentando o poder de compra: até a ralé prefere pagar um pouco mais por um serviço melhor, mais limpo, etc.
Esta opção tem, contudo, um ligeiro senão: a não-ralé (hesito em utilizar o termo "elite" para designar aqueles que em Portugal pensam que o são) que ocupa alternadamente as cadeiras do Poder teria de desburocratizar, reformar, liberalizar; ou seja, perder um pouco desse Poder e dá-lo, justamente, à "ralé". Incluíndo, claro (entre outros) o poder de "elevar o nível".
Retratos possíveis
Era um tipo tão chato tão chato tão chato que se aborrecia a si próprio quando falava sozinho.
8.7.09
Blogues, ainda
No Miss Pearls dois posts a citar: uma belíssima canção de Gilbert Bécaud (ou uma das minhas favoritas, não sei se é a mesma coisa) e um post lapidar sobre o pequeno comércio em Portugal.
No A Ponto um post sobre a paradoxal liberdade da inevitabilidade. Ou de como as prisões nem sempre estão onde pensamos.
No Cachimbo de Magritte um post de Pedro Picoito sobre Belgais e Maria João Pires ao qual só gostaria de mudar o termo "liberais", que a meu ver não é para ali chamado. Eu pelo menos defino-me como um liberal e partilho inteiramente aquele ponto de vista.
No Combustões um post luminoso cujo título não resisto a citar: "Pelam-se por ditadores ou o que fazem as pessoas para que o comboio chegue à hora certa" ou um pequeno excerto: "não há como um bom ditador para fazer sair da casca os bons totalitários".
No A Ponto um post sobre a paradoxal liberdade da inevitabilidade. Ou de como as prisões nem sempre estão onde pensamos.
No Cachimbo de Magritte um post de Pedro Picoito sobre Belgais e Maria João Pires ao qual só gostaria de mudar o termo "liberais", que a meu ver não é para ali chamado. Eu pelo menos defino-me como um liberal e partilho inteiramente aquele ponto de vista.
No Combustões um post luminoso cujo título não resisto a citar: "Pelam-se por ditadores ou o que fazem as pessoas para que o comboio chegue à hora certa" ou um pequeno excerto: "não há como um bom ditador para fazer sair da casca os bons totalitários".
6.7.09
World Music Festival Lx'09
O World Music Festival Lx'09 vai decorrer de 14 a 19 de Julho na Lx Factory.
Agora, é importante fazê-lo chegar a todo o lado e a toda a gente - mas mais importante ainda é passar o conceito do Festival. Mais do que a música do mundo em Alcântara é pensar Alcântara como um sítio do mundo. Um local de encontros e ambientes diversificados. Com artistas de várias expressões a povoar as ruas LX entre as 7 e as 10 da noite. E esplanadas, café e restaurante com comidas do mundo e de cá. E depois concertos. Do Brasil, de Portugal e de muitas Áfricas. E livros e filmes e todas as artes... e amigos e festa até de madrugada.
Os bilhetes já estão à venda na Ler Devagar da Cinemateca, da ZDB e da LX Factory e na Nouvelle Librairie Française (IFP): um dia custa 15€ e a caderneta de 6 dias, para todos os concertos, 75€.
Podem contactar-nos que respondemos a tudo: LER DEVAGAR - Tel. 213 259 992
Paula Coelho (Produção) - Tel. 933248011
worldmusiclx@gmail.com
Agora, é importante fazê-lo chegar a todo o lado e a toda a gente - mas mais importante ainda é passar o conceito do Festival. Mais do que a música do mundo em Alcântara é pensar Alcântara como um sítio do mundo. Um local de encontros e ambientes diversificados. Com artistas de várias expressões a povoar as ruas LX entre as 7 e as 10 da noite. E esplanadas, café e restaurante com comidas do mundo e de cá. E depois concertos. Do Brasil, de Portugal e de muitas Áfricas. E livros e filmes e todas as artes... e amigos e festa até de madrugada.
Os bilhetes já estão à venda na Ler Devagar da Cinemateca, da ZDB e da LX Factory e na Nouvelle Librairie Française (IFP): um dia custa 15€ e a caderneta de 6 dias, para todos os concertos, 75€.
Podem contactar-nos que respondemos a tudo: LER DEVAGAR - Tel. 213 259 992
Paula Coelho (Produção) - Tel. 933248011
worldmusiclx@gmail.com
TODO O PROGRAMA EM: http://www.myspace.com/worldmusicfestivallx
5.7.09
Blogues
Descobri um blog giro: chama-se A Maravilha, propõe-se "enriquecer as possibilidades de experiência do homem urbano". Se o "homem urbano" souber ver e ler sai de lá enriquecido, de verdade. Já quanto ao homem não-urbano* (isto é, rupestre, campino, campónio) tenho algumas dúvidas; mas esses já são suficientemente ricos.
E também descobri outro blogue giro: chama-se Corte na Aldeia e tem citações esplêndidas, como esta: "A única diferença entre um filme e a vida real é que um filme tem que fazer sentido" (Joseph L. Mankiewickz). Ou esta:
- Êtes-vous un homme à femmes?
- Beaucoup de femmes m'ont souvent quitté. (Jean d'Ormesson)
Ou este. O último post fala de tartarugas. Um blog que fala de tartarugas não pode ser mau.
E também descobri outro blogue giro: chama-se Corte na Aldeia e tem citações esplêndidas, como esta: "A única diferença entre um filme e a vida real é que um filme tem que fazer sentido" (Joseph L. Mankiewickz). Ou esta:
- Êtes-vous un homme à femmes?
- Beaucoup de femmes m'ont souvent quitté. (Jean d'Ormesson)
Ou este. O último post fala de tartarugas. Um blog que fala de tartarugas não pode ser mau.
* - isto é, claro, um piscar de olhos à Mad.
Fluidos
As palavras são fluidos: há que provocá-las, e deixá-las correr. Não vivem de per si. Pouco importa: há que provocá-las, lambuzá-las, deixarmo-las inundar-nos.
Porque assim elas vêm; escorregam, mal se sentem, entram por nós adentro como sol em manteiga derretida, como corpo em corpo derretido.
Porque assim elas vêm; escorregam, mal se sentem, entram por nós adentro como sol em manteiga derretida, como corpo em corpo derretido.
Deuses
«Toca, fala, joga como um deus». Não se poderia dizer «erra, perde, engana-se como um deus»? Não, não pode. Os deuses não se enganam, não erram, não perdem.
Summertime blues
"Some time I wander what I'm a gonna do
but there ain't no cure for the summertime blues".
Não é a versão mais canónica, mas é a minha favorita.
The Flying Lizards, Summertime blues
but there ain't no cure for the summertime blues".
Não é a versão mais canónica, mas é a minha favorita.
The Flying Lizards, Summertime blues
3.7.09
Maria João Pires
A senhora toca como uma deusa; e diz muitos disparates, uma coisa não impede a outra. Mas isto é uma má notícia para Portugal: Maria João Pires é grande, infinitamente maior do que os disparates que diz. Não sabe lidar com a pequenez. Ela não sonha quanto a compreendo.
"Maria João Pires renuncia à nacionalidade portuguesa"
"Maria João Pires renuncia à nacionalidade portuguesa"
2.7.09
O estranho Ministro do gesto
A próxima vez que virmos deputados sul-coreanos à pancada e tivermos vontade de troçar deles devemos lembrar-nos disto. Espero que o Bernardino (o da Coreia do Norte) tenha desafiado Manuel Pinho. Isto não devia ficar assim. À frente de toda a gente!
PS: Melhor manchete do dia: "Indicadores tramam Pinho" (via Jugular).
PS: Melhor manchete do dia: "Indicadores tramam Pinho" (via Jugular).
PPS - No fundo é pena. Este governo tem alguns maus Ministros, outros bons; alguns incompetentes, outros patetas. Mas este era o único patético.
PPS - Mais uma, genial. (Via Plúvio)
Descoberta
Até há bem pouco tempo pensava que havia no código genético português uma coisa qualquer que impedia os portugueses de fazer bons croissants. Recentemente comi um na Pão de Canela, e descobri que estava enganado. Hallelujah!
A cavaleira e a maré
Um amigo contou-me a seguinte história, que acho deliciosa:
O imediato de um pequeno navio de guerra (uma lancha, ou uma patrulha) que estava a fazer serviço na Ria de Aveiro travou conhecimento com uma senhora. A qual, um dia, foi visitá-lo a cavalo. Ou por não ter mais sítio nenhum onde amarrar o bicho, ou por ter achado exótico, ou por qualquer outra razão a senhora amarrou o cavalo à embarcação.
Pouco depois, o marinheiro de quarto bate à porta do camarote do imediato e grita-lhe lá para dentro: "Era só para saber quanto tempo é que o senhor Imediato ainda vai demorar a despachar-se. É que o cavalo já está de joelhos».
Henriette
I
Deixem-me começar por vos dizer a verdade: mal distinguia um joelho de um seio, uma narina de um umbigo. A anatomia feminina nunca foi, de todo, o meu ponto forte - aliás, poucas coisas me são (eram) mais indiferentes. E nunca comprei essa história da "ejaculação precoce". Uma ejaculação nunca é, não pode ser, precoce: ocorre quando ocorre e acabou-se. Eu, pelo menos, sempre me vim quando quero (mais ou menos quando estou farto, ou cansado). E nunca me preocupei muito com essa coisa do orgasmo feminino. Aliás, até tenho muitas dúvidas sobre a sua existência. Se em nós, homens, é tão raro, como é para elas? A mim só me aconteceu uma vez, uma senhora vir-se em cima de mim, mas ainda hoje estou na dúvida. Não sei bem o que era aquilo. Enfim, devo dizer que tão pouco me preocupava muito. No dia seguinte pu-la na rua, como sempre fiz com todas as senhoras que vieram para a cama comigo (e foram muitas, acreditem), e não liguei mais ao assunto.
Até que um dia conheci Henriette, e as minhas certezas começaram a vacilar (coisa de que não gosto nada, de passagem seja dito. Um homem vale pelas certezas que tem. Isso das dúvidas é para maricas). Porque o raio da mulher enfeitiçou-me completamente. E eu, que já vou com quase 40 anos, não tenho idade para feitiços.
Henriette não parava de me chatear com essa coisa dos orgasmos, e eu já não sabia o que lhe havia de fazer, ou dizer. Até que um dia tive de tomar uma resolução. Tínhamos acabado de copular e ela estava com o habitual ataque de raiva: «Estúpido!», gritava, enquanto me dava murros no peito (na verdade não era bem "estúpido" que ela dizia; era «connard!», mas a tradução é um bocado forte de mais). «Não podias ter esperado mais um bocadinho, imbecil?» Senti que tinha de lhe dizer alguma coisa, senão ela ia-se embora, mais certo do que eu chamar-me Augusto.
«Sabes, Henriette? Durante anos eu preocupei-me com o prazer das mulheres. Aliás só pensava nele. Fazia amor para elas, não com elas. Conhecia-lhes cada canto do corpo; não havia zona erógena que eu não estudasse, posição que não explorasse - sobretudo aquelas que vos davam mais prazer. Quando estava quase a acabar pensava na minha conta bancária, ou na última reunião com um credor, e lá conseguia continuar a coisa até muito para lá do meio-dia; esticava os preliminares até pelo menos ao segundo orgasmo. O corpo feminino não tinha segredos para mim».
Henriette olhava-me incrédula, muda - mas eu discerni uma pontinha de emoção naquele olhar e continuei o meu chorrilho. «Garanto-te, querida. Fazia tudo pelo prazer de uma mulher, e sempre deixei o meu para segundo lugar - ou terceiro, ou quarto. Mas agora, meu amor, já não quero dar prazer, percebes? Nem sequer tê-lo. Aliás, para te dizer a verdade toda, estou farto de mulheres. Farto. Agora só conta A Mulher. A (com as mãos, eu desenhava as letras em maiúsculas no ar). Tu.» Aqui fiz uma pausa. Acariciei-lhe um seio, dei-lhe um beijo na testa - tinha visto num filme e achado um bocado apaneleirado, mas enfim. Prossegui: «Só tu contas, agora. A técnica não é para aqui chamada. Tu és A Mulher. Que interessa um orgasmo, em tanto amor? Não te preocupes. Um dia ele virá. E tal como tu és A Mulher, terás O Orgasmo». Inspirei fundo e calei-me. Quase me tinha comovido a mim próprio.
Felizmente Henriette não me perguntou porque é que A Mulher não podia ter O Orgasmo (ou "um", que fosse) já, ou cada vez que copulávamos. Não: tinha os olhos baços; tremia, agarrava-se a mim e dizia «mon chéri. Mon chéri» (isto não traduzo: todos sabem o que quer dizer).
II
Ganhei alguns meses de calma. Até ela me ouvir contar o estratagema, tintim por tintim, a um colega de escritório. Nesse dia fez as malas e foi-se embora, sem uma palavra.
III
Agora não há livro erótico que não compre - livros de auto-ajuda (se assim se podem chamar); vejo programas de televisão; leio, sem me rir nem troçar, os artigos dos sexólogos nos jornais. Consigo distinguir a parte de trás de um joelho da da frente de um cotovelo; sei quando lhes mexer nas raízes dos cabelos ou mordiscar os dedos dos pés; até já sei como é o clitóris (aliás, estou convencido de que seria capaz de vencer a minha resistência a tocar-lhe com a língua. É possível). Comprei um gel para retardar a ejaculação (parece-me que funciona, mas como só o tenho experimentado sozinho não tenho a certeza - torna-se um boocadinho cansativo, aqui entre nós).
Todos os meus amigos - aqueles com quem discuto estes assuntos, claro - me dizem que é demasiado tarde. As mulheres são umas chatas: só por causa de uma mentirita inocente deixam de nos ligar e ooops, é como se desligassem um interruptor. Nunca mais. No outro dia comprei um livro chamado Cama Supra. Tem umas posições que eu nem sei, mas mandei logo um mail à Henriette, a perguntar-lhe se ela queria experimentá-las comigo. Voltou para trás, com uma mensagem de erro.
Enfim, isso são "as mulheres". A Henriette é diferente, e tenho a certeza de que voltará. Para esse dia vou-me preparando: revejo (em imaginação) todas as zonas erógenas das mulheres, refaço todos os exercícios que os livros aconselham. Aposto que a vou surpreender, quando ela voltar. Porque as outras não me interessam. Só ela. A Mulher. É a única que me compreende, que querem?
1.7.09
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