30.9.09
Momentos
Há momentos difíceis, ou muito difíceis, ou o raio que os parta. E há momentos que nos fazem suspirar por eles.
Meios de transporte inteligentes
Só conheço dois: a bicicleta e um Mercedes 538504 SDD XM TA I grego Z com um bocadinho menos de zero quilómetros.
Momento gina, e assim
Borges tem uma frase curiosa, profunda, oh quão, sobre todos nos tornarmos na ideia que os outros têm de nós. Gosto dela: pressupõe ou uma enorme capacidade de mimetismo, em cada um, ou premonitória, naquele que nos rodeiam.
Feliz ou infelizmente (sinceramente não sei), sou aquilo que sou, e não me transformei naquilo que pensam de mim. Se bem a tentação seja grande, por vezes: que bom seria, deixar-me ir na corrente dos olhares; que fácil.
Há, contudo, vantagens em ser-se o que se é, ou o que sempre se foi: é ter hoje os amigos que tinha há 38 anos. Não são muitos; mas são os mesmos. Talvez seja esse o único valor, no fundo: maior do que o amor, a riqueza ou um projecto que se concretiza, uma amizade que se mantém diz mais de nós do que mil olhos recentes.
Feliz ou infelizmente (sinceramente não sei), sou aquilo que sou, e não me transformei naquilo que pensam de mim. Se bem a tentação seja grande, por vezes: que bom seria, deixar-me ir na corrente dos olhares; que fácil.
Há, contudo, vantagens em ser-se o que se é, ou o que sempre se foi: é ter hoje os amigos que tinha há 38 anos. Não são muitos; mas são os mesmos. Talvez seja esse o único valor, no fundo: maior do que o amor, a riqueza ou um projecto que se concretiza, uma amizade que se mantém diz mais de nós do que mil olhos recentes.
[Isto foi o momento gina do ano, espero. E, se bem me lembro, a expressão "momento gina" vem daqui, pelo que o link aqui fica, passe a desproporção, ou assim].
"Arrumar a casa"
Sob este título genérico Vasco Campilho publicou uma série de posts sobre a "gestão financeira" da Câmara Municipal de Lisboa. Aconselho a sua leitura - já basta termos reeleito o senhor Sócrates.
Este artigo de Gonçalo Reis (também citado por Vasco Campilho) no Jornal de Negócios deve absolutamente ser lido: "Arrumar a casa ou esconder o pó por baixo do tapete?"
Este artigo de Gonçalo Reis (também citado por Vasco Campilho) no Jornal de Negócios deve absolutamente ser lido: "Arrumar a casa ou esconder o pó por baixo do tapete?"
Devastação; mariquices
I
Quando um homem está devastado é porque a sua metade feminina a pris le dessus?
II
Quando um homem está devastado é porque é maricas, ou porque não passa de um homem?
III
O que melhor define um homem: nunca se deixar devastar, ou recuperar da devastação?
Quando um homem está devastado é porque a sua metade feminina a pris le dessus?
II
Quando um homem está devastado é porque é maricas, ou porque não passa de um homem?
III
O que melhor define um homem: nunca se deixar devastar, ou recuperar da devastação?
29.9.09
Flagrantes - ou incompreensíveis? - injustiças
Se se pode deduzir dos impostos o dinheiro gasto em anti-depressivos, porque não o - muito mais nobre e sensato - que se gasta em vinho, ou whisky?
O sentido e o dito
Há coisas que sentidas fazem sentido; e ditas perdem-no, todo. Ou ridicularizam-se. A questão é saber qual dessas esferas é a mais verdadeira: a sentida, ou a dita?
28.9.09
Legislativas 09
A campanha foi péssima; e o mercado não está para rookies. Esperemos que o PSD saiba recompor-se - sob pena de um dia termos o PS de um lado e do outro o CDS. O que talvez nem fosse assim tão mau, vistas bem as coisas.
Prémios de consolação: pelo menos os alemães deram provas de bom senso; o CDS teve mais votos do que o Bloco.
27.9.09
26.9.09
Aliterações, rimas e linearidades
Homem felado, homem feliz.
Homem felado, homem melado.
Homem felado, homem domado.
Homem felado, homem melado.
Homem felado, homem domado.
25.9.09
O lavar dos cestos
Uma regata termina quando se passa a linha de chegada. As eleições terminam quando fecham as urnas.
24.9.09
Distinção
A tendência natural seria dizer "tive que lutar arduamente pelo estatuto de troglodita", mas não é verdade: adquiri-o muito facilmente; e não me é sequer difícil mantê-lo. Portanto, essa história do beijinho versus dois beijinhos está resolvida: tenho direito a dois porque não sou dos "delas".
Excepto duas ou três, que pensam conhecer-me melhor - não conhecem, antes pelo contrário - e me dão um, seco. Gosto dessas. Às vezes até me apetece dizer-lhe que também li Bourdieu; e se não li, devia ter lido.
Excepto duas ou três, que pensam conhecer-me melhor - não conhecem, antes pelo contrário - e me dão um, seco. Gosto dessas. Às vezes até me apetece dizer-lhe que também li Bourdieu; e se não li, devia ter lido.
35 anos
Aos 35 anos acreditamos em estereótipos, e acreditamos na espécie; somos lindos e frescos como uma noite de verão no outono; pensamos que a complexidade não passa de um conceito inventado pelo Morin e que Watzlawick é uma personagem da ficção científica.
Aos 35 anos ainda temos 5 anos disso tudo, mas não o sabemos, em geral; e aproveitamo-lo mal, infelizmente.
Aos 35 anos ainda temos 5 anos disso tudo, mas não o sabemos, em geral; e aproveitamo-lo mal, infelizmente.
Boa educação, cavalheirismo
Convidar uma senhora para dormir connosco mesmo não estando para aí muito virados é, frequentemente, uma questão de boa-educação. Convidá-la esperando que ela recuse é, isso sim, uma irrefutável prova de cavalheirismo.
O Hamas no Minho
O PS está, aparentemente, a importar os métodos do Hamas para a comunicação social. Estão bem um para o outro, se me é permitido pedir emprestada a expressão.
21.9.09
Serviço público - vinhos
Quinta do Perdigão, Touriga Nacional Rosé, 2008.
De cor, parece um clarete, mais do que um rosé; tem um ataque vivo, um corpo daqueles que se deixa mastigar, um fim de boca longo, arrastado. Alguma adstringência, pouca; e taninos para as curvas, daqui a alguns anos. Um excelente, magnífico, soberbo vinho, que ganha prémios "lá fora" sem precisar de vender a alma: é um vinho português.
Sabedorias
Os pobres sabem coisas que os ricos não sabem; os mais velhos outras que os novos desconhecem; e quem já passou por muitas mais do que os arrumadinhos. Agora imaginem um velho, pobre e com mais vidas em cima das costas do que um regimento de cavalaria.
O sentido e os sentidos
Anda por aí muita gente à procura de quecas com "sentido". É uma asneira: o que interessa nas quecas são os sentidos. O "sentido" só provoca dores, chatices e algumas reflexões mais ou menos interessantes sobre o sentido da vida, o outro (que muitos, erradamente, confundem).
Pequeno glossário afectivo para uso das novas gerações
As novas gerações deveriam reflectir atentamente no breve glossário que a seguir apresento. E, sobretudo, lembrarem-se que tanto pode ser utilizado da esquerda para a direita como da direita para a esquerda.
Amo-te = quero amar-te;
Quero amar-te = gosto de ti;
Gosto de ti = És simpática (o);
És simpático (a) = Quando é que isto acaba?
Amo-te = quero amar-te;
Quero amar-te = gosto de ti;
Gosto de ti = És simpática (o);
És simpático (a) = Quando é que isto acaba?
20.9.09
O fim e o princípio
Nunca se deve começar uma relação da qual se anteveja o fim desde o início; porquê, quando e como.
Ou será ao contrário?
Ou será ao contrário?
Erros, dúvidas
Joshua Slocum, o primeiro homem a dar a volta ao mundo à vela em solitário (e, incidentalmente, um grande marinheiro) disse: "são os capitães que têm muitas certezas que perdem os seus navios. Aqueles que têm dúvidas nunca encalham".
Que bom seria se este preceito se aplicasse a todos os outros domínios da vida de um homem.
Que bom seria se este preceito se aplicasse a todos os outros domínios da vida de um homem.
19.9.09
Hargne
Este post de Joana Carvalho Dias parece-me bastante interessante, a vários títulos. Um deles é a impressão de que, para um certo sector do PSD, tudo se joga agora: se MFL ganhar, essa parte do PSD deve sentir que algo está a mudar, definitivamente. Creio que é isso que explica a hargne dos ataques.
Ou então, pelo contrário, sentem que a hora deles (este deles devia ir entre aspas, é uma forma de expressão, não é pejorativo) chegou, e não querem esperar mais. Afinal, Pedro Passos Coelho e José Sócrates não são assim tão diferentes - é mais o que os une do que separa; e se no PS há Sócrates, porque haveria o PSD de ter uma pessoa séria à frente? ( - "Séria" no sentido de "com envergadura", não estou a pôr em causa a honestidade de PPC, que - contrariamente a Sócrates - nunca testei).
Ou então, pelo contrário, sentem que a hora deles (este deles devia ir entre aspas, é uma forma de expressão, não é pejorativo) chegou, e não querem esperar mais. Afinal, Pedro Passos Coelho e José Sócrates não são assim tão diferentes - é mais o que os une do que separa; e se no PS há Sócrates, porque haveria o PSD de ter uma pessoa séria à frente? ( - "Séria" no sentido de "com envergadura", não estou a pôr em causa a honestidade de PPC, que - contrariamente a Sócrates - nunca testei).
18.9.09
Mulheres, amizade
A única forma de manter a amizade de uma mulher depois de ela nos ter mandado passear é sofrer. Sofrer; e não - dizer que sofremos: elas sabem distinguir. Sofrer, realmente.
E mesmo assim nem sempre funciona.
E mesmo assim nem sempre funciona.
Perigos
Se Manuela Ferreira Leite não ganhar estas eleições, os perigos para o país são dois: mais quatro anos de Sócrates, e o PSD entregue a Pedro Passos Coelho. Qualquer deles, isoladamente, é mau. Juntos são uma tragédia.
Luta de classes
Dada a qualidade dos nossos ricos, não é de espantar que Portugal tenha um partido tão arcaico como o PCP.
17.9.09
Frases lindas, lindas de morrer
Bon, franchement, je suis d'avis de passer Francisco "le carbone c'est has been" Lobato au scanner : ce soir il est toujours en tête au scratch de la Transat 6.50 ! Comment il fait ? Je ne sais pas ! L'autre question, c'est : son matos va-t-il tenir ? Im-pres-sion-nant !
Francisco, toujours : réflexion récente d'un figariste de haut vol : "J'espère qu'il ne compte pas venir faire du Figaro !" J'ai bien peur que si... ;-)
16.9.09
Fotografia - um conselho
Quem gosta de fotografia devia ver este blog. Todos os dias, várias vezes ao dia.
Complicações
Sei que as coisas estão complicadas quando dou por mim a olhar para a televisão dos restaurantes. Hoje era futebol. É um jogo que consiste em correr atrás de uma bola e mandar-se para o chão o mais histrionicamente possível. Ao lado do campo há uns senhores sentados, a gesticular muito, pateticamente - devem ser os treinadores, ou os donos dos clubes. Acho-lhes piada porque estão vestidos de casaco e gravata, como se fizessem um trabalho a sério.
Dizer
Está a tinta quase a acabar-se e eu com tantas coisas para dizer. Ou dizer-te, não sei: ainda não aprendi a distinguir o que dizer do que te dizer. E talvez nunca aprenda, se Deus quiser. Inch'Allah.
Insultos
Não tens sonho por onde se te pegue!
Não tens onde cair a sonhar!
Filho de uma p... sem sonhos!
Não tens onde cair a sonhar!
Filho de uma p... sem sonhos!
Apelo
O motor de busca do blog deixou de funcionar. Isto é, quando procuro um termo e faço "Search blog" nunca há resultados, quaisquer que sejam os termos que procuro. Alguém sabe se isto tem cura? Obrigado.
It's about time
"It's about time" é o tema do Experimenta Design deste ano; adapta-se bem, infelizmente todos o sabemos, à vida quotidiana no nosso país: tudo demora uma eternidade.
Há meses alertei a Junta de Freguesia de S. José para o estacionamento no alto das escadas da Rua da Mãe d'Água: os automóveis frequentemente impedem, ou dificultam, a passagem aos peões. Sugeri que se pusessem uns pilaretes no local. Os meses foram passando; fiquei a saber que o estacionamento naquele local é legal (!!!!). Mas havia a possibilidade de se alargarem os passeios, colocar sinalização ou instalar uma passagem de peões, e o Presidente de Junta de Freguesia enviou o respectivo ofício à CML (em data de 18 de Agosto). Deixando de lado o que me parece uma aberração - ser permitido estacionar naquele local - repito a pergunta que já aqui fiz: alguém me pode dizer qual o conjunto de actos necessários para pintar uma passagem de peões, por exemplo? Ou instalar um sinal de proibição de estacionar? Isto, claro, enquanto não se alarga o passeio - soluções estas que, como todos nós sabemos, são de uma eficácia todos os dias verificável na nossa cidade.
Hoje, mais de quatro meses passados, tudo continua como dantes: os carros continuam a estacionar como muito bem lhes dá na telha, os pilaretes continuam no Paris dos pilaretes e os peões continuam a ter que fazer malabarismos - os que podem - para passar ali.
Posts anteriores: I, II, III e IV.
(Também aqui).
Há meses alertei a Junta de Freguesia de S. José para o estacionamento no alto das escadas da Rua da Mãe d'Água: os automóveis frequentemente impedem, ou dificultam, a passagem aos peões. Sugeri que se pusessem uns pilaretes no local. Os meses foram passando; fiquei a saber que o estacionamento naquele local é legal (!!!!). Mas havia a possibilidade de se alargarem os passeios, colocar sinalização ou instalar uma passagem de peões, e o Presidente de Junta de Freguesia enviou o respectivo ofício à CML (em data de 18 de Agosto). Deixando de lado o que me parece uma aberração - ser permitido estacionar naquele local - repito a pergunta que já aqui fiz: alguém me pode dizer qual o conjunto de actos necessários para pintar uma passagem de peões, por exemplo? Ou instalar um sinal de proibição de estacionar? Isto, claro, enquanto não se alarga o passeio - soluções estas que, como todos nós sabemos, são de uma eficácia todos os dias verificável na nossa cidade.
Hoje, mais de quatro meses passados, tudo continua como dantes: os carros continuam a estacionar como muito bem lhes dá na telha, os pilaretes continuam no Paris dos pilaretes e os peões continuam a ter que fazer malabarismos - os que podem - para passar ali.
Posts anteriores: I, II, III e IV.
(Também aqui).
José Silva, Ninguém
Não deve haver adolescente da minha geração que não tenha tido sonhos misturados com o "Ninguém!" de Almeida Garrett e o "O meu nome é Ninguém" de Terence Hill, que surgiram, se não me falha a memória, mais ou menos ao mesmo tempo (nas nossas vidas, claro. Nas deles há um lapso de tempo relativamente grande).
Curto prólogo para dizer que não vou contar histórias, coisas inventadas que só serviram para desviar as palavras da sua nobre função: dizer a verdade. E é a verdade que vou dizer: o meu nome não é Ninguém. É de uma banalidade semelhante à do sol ao meio dia ou lá perto: chamo-me José Silva. Ando pelos 50 anos - o que qualquer leitor da mesma idade deduziria, por causa dos Ninguéns - e não acredito no D. Sebastião. Mais depressa acreditaria no Terence Hill.
Aliás acho lamentável que um povo tenha tido que inventar o sebastiânico mito para poder decair em paz, tranquilamente, num canto. Eu não alinho. Para mim D. Sebastião morreu na praia, as manhãs de nevoeiro são uma chatice - sobretudo para quem vive em Cascais perto do farol de Sta. Marta - e os portugueses um povo de cobardolas que, para apodrecer calmamente, inventou um futuro risonho avant la lettre. Eu prefiro a verdade nua e crua (não poderia ser de outra forma, aliás: a verdade vestida ou cozinhada é mentira, não é?)
Por isso digo, orgulhosamente, só: o meu nome é José Silva. Todos os dias. E numa manhã de sol a pátria acolher-me-á montado num cavalo branco, fácies inexpressivo (que eu sei como se deve comportar o vencedor). Já daqui vejo a cena: o sol, os faróis todos do país a roncar em uníssono as sirenes de nevoeiro, eu a entrar pela praia do Guincho adentro, o cavalo altivo entre filas de papalvos admirativos a murmurarem: "Não é o D. Sebastião. É o José Silva".
Que idade terei, nessa altura? Não sei. Mas dada a tendência longeva dos genes familiares, talvez 100 anos, não é impossível. Ou seja, terei que viver mais uma vida como a que vivi até agora. Venha: sei esperar.
Curto prólogo para dizer que não vou contar histórias, coisas inventadas que só serviram para desviar as palavras da sua nobre função: dizer a verdade. E é a verdade que vou dizer: o meu nome não é Ninguém. É de uma banalidade semelhante à do sol ao meio dia ou lá perto: chamo-me José Silva. Ando pelos 50 anos - o que qualquer leitor da mesma idade deduziria, por causa dos Ninguéns - e não acredito no D. Sebastião. Mais depressa acreditaria no Terence Hill.
Aliás acho lamentável que um povo tenha tido que inventar o sebastiânico mito para poder decair em paz, tranquilamente, num canto. Eu não alinho. Para mim D. Sebastião morreu na praia, as manhãs de nevoeiro são uma chatice - sobretudo para quem vive em Cascais perto do farol de Sta. Marta - e os portugueses um povo de cobardolas que, para apodrecer calmamente, inventou um futuro risonho avant la lettre. Eu prefiro a verdade nua e crua (não poderia ser de outra forma, aliás: a verdade vestida ou cozinhada é mentira, não é?)
Por isso digo, orgulhosamente, só: o meu nome é José Silva. Todos os dias. E numa manhã de sol a pátria acolher-me-á montado num cavalo branco, fácies inexpressivo (que eu sei como se deve comportar o vencedor). Já daqui vejo a cena: o sol, os faróis todos do país a roncar em uníssono as sirenes de nevoeiro, eu a entrar pela praia do Guincho adentro, o cavalo altivo entre filas de papalvos admirativos a murmurarem: "Não é o D. Sebastião. É o José Silva".
Que idade terei, nessa altura? Não sei. Mas dada a tendência longeva dos genes familiares, talvez 100 anos, não é impossível. Ou seja, terei que viver mais uma vida como a que vivi até agora. Venha: sei esperar.
Coragem!
"Jornalista do sapato exige desculpas pela tortura".
Agora vai poder talvez atirar uns sapatos a esses faróis da democracia e dos direitos humanos que são os líderes árabes, não?
15.9.09
Ele há frases que, ditas por um francês...
...são ainda mais bonitas. Leiam isto e perceberão o que quero dizer.
Miscelânea
A luz, a vista, a música, a luz, tu, a música, a imperial, a voz da senhora da mesa ao lado, a vista, tu, o fim do dia, amanhã, a luz, tu, a música, os prédios em frente, caóticos e como que a tomar banho numa piscina de luz, os olhos da senhora da mesa ao lado, a ponte, o rio, que quase parece a fonte da luz toda na qual tudo se enrosca como um gato num regaço, tu, o Cristo-Rei que de repente parece sustentar a base que o suporta e não o contrário, como se se preparasse para levantar voo; a tua ausência, a brisa, que me parece Norte mas que há pouco era Oeste, ou mesmo Sudoeste (prefiro o Norte - pelo menos não haverá chuva, amanhã), o pátio, onde tu não estás e tanta falta fazes, desorganizado e provocante, desorganizada e provocante de tão belo, tão bela, tão bela que és. Os barcos à vela no rio - os barcos todos, à vela e os navios - parecem brinquedos empurrados pela mão traquinas de uma criança submersa no azul-roxo da água, a música, outra vez, tu, tu, sempre tu, a tua ausência. És a ordem e o caos, a luz e a música, a beleza deste fim de dia onde não estás e que és. Tu. Toda tu. Onde estás, onde és.
Serviço público - bistrots
O nome diz tudo, claro: chama-se Le Marais. É na rua de Sta. Catarina. Quando entrei estive quase para cometer uma das habituais gaffes: ia perguntar ao senhor do bar se o local é seguro para heterosexuais. Claro que era (seria, teria sido) uma brincadeira: ao lado há um backpackers e o sítio está cheio de jovens senhoras (das quais a esmagadora maioria é bonita, o que não estraga nada; antes pelo contrário. Os maricas levar-nos-ão sempre a palma, nessa área. Injustamente, forçoso é reconhecê-lo). Felizmente não perguntei: o senhor do balcão teria decerto interpretado mal - a menos que seja possuidor de um colossal sentido de humor.
A lasagna é esplêndida; as rillettes boas; a escolha de vinhos (e de comes também) escassa, mas aceitável; a decoração - bem a decoração é, naturalmente, linda, fina, cosy, exquise (mais um campo no qual ficamos a perder, como ursos numa mercearia gourmet). E tem acesso à net, gratuito.
Além de tudo isto, tem uma incomensurável vantagem: pode comer-se a qualquer hora. Os horários são:
Abertura:
De 2ª a 6ª - 12h00;
Sábado e Domingo - 17h00.
Fecho:
De 2ª a 5ª - 02h00;
6ª e Sábado - 04h00;
Domigo: Meia-noite.
Le Marais, rua de Sta. Catarina 28. Tel.: 213 467 355
A lasagna é esplêndida; as rillettes boas; a escolha de vinhos (e de comes também) escassa, mas aceitável; a decoração - bem a decoração é, naturalmente, linda, fina, cosy, exquise (mais um campo no qual ficamos a perder, como ursos numa mercearia gourmet). E tem acesso à net, gratuito.
Além de tudo isto, tem uma incomensurável vantagem: pode comer-se a qualquer hora. Os horários são:
Abertura:
De 2ª a 6ª - 12h00;
Sábado e Domingo - 17h00.
Fecho:
De 2ª a 5ª - 02h00;
6ª e Sábado - 04h00;
Domigo: Meia-noite.
Le Marais, rua de Sta. Catarina 28. Tel.: 213 467 355
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Restaurantes Lisboa
Imagens bonitas
Ele há imagens comoventes, de tão bonitas. Vejam a de baixo, por favor. E se não a entenderem leiam a legenda.
Ou melhor, eu explico: "proto" é a abreviatura de "protótipo", barcos construídos "à medida", muito mais rápidos dos que os de série (os de Fulano, Beltrano e Sicrano). Francisco Lobato tem um "série".
PS - vejam também aqui e aqui.
PPS - Atenção, isto não se vai manter assim: houve alguma confusão à partida e a maior parte dos protos "cabeça de série" teve que voltar a trás. Mas lá que é bonito de ser ver, é. Bonito às lágrimas.
Ou melhor, eu explico: "proto" é a abreviatura de "protótipo", barcos construídos "à medida", muito mais rápidos dos que os de série (os de Fulano, Beltrano e Sicrano). Francisco Lobato tem um "série".
PS - vejam também aqui e aqui.
PPS - Atenção, isto não se vai manter assim: houve alguma confusão à partida e a maior parte dos protos "cabeça de série" teve que voltar a trás. Mas lá que é bonito de ser ver, é. Bonito às lágrimas.
Desconcertante Lisboa - peça em três actos
Lisboa é desconcertante, por vezes. Ou a vida, seja onde for. Uma pessoa passeia pela cidade com amigos estrangeiros. De esquerda, claro - não sei porquê, não conheço estrangeiros de direita. Explico-lhes que a causa da ruína e decrepitude dos prédios que vemos é a lei de protecção ao inquilino. Ao que eles respondem que não claro, etc., e a minha má fé é conhecida em todo o mundo e tal e na terra deles também há protecção ao inquilino e os prédios não caem (não, mas as rendas ou são altíssimas ou são para insiders, mas isso é outra história).
Depois acabo dizendo-lhes, como quem não quer a coisa, que a lei vem do tempo de Salazar, o temível - ou será terrível? Não sei - ditador.
Depois faço uma longa pausa, a ver emperrar os mecanismos nos cérebros deles.
Depois acabo dizendo-lhes, como quem não quer a coisa, que a lei vem do tempo de Salazar, o temível - ou será terrível? Não sei - ditador.
Depois faço uma longa pausa, a ver emperrar os mecanismos nos cérebros deles.
Retratos sucintos - G.
G. era muito pequena e muito loira. Tinha os cabelos da cor de algumas folhas no Outono, dois tons antes do castanho, mas sem traço de encarnado. Não sei como explicar: isto é difícil, quase impossível. Mas os cabelos dela também o eram. Creio que nem com uma máquina fotográfica conseguiria, agora que o Kodachrome 25 acabou. Eu gostava dela porque tudo era intenso, exagerado: até a sua pequenez era exagerada. Tudo: a beleza, o sorriso, a doçura, sob a qual se escondia uma vontade de árvore no deserto - refiro-me àquelas fotografias de extensões e extensões de areia e dunas no meio das quais se vê, perdida, solitária, imóvel uma árvore. Não que ela vivesse num deserto, longe disso. Mas o sobressalto que tanta força debaixo de tanta beleza e suavidade provocavam era o mesmo.
A única diferença entre essas árvores e G. era que nela essa indomável, extraordinária força não eram imediatamente visíveis. Escondiam-se atrás de uma ombreira de cabelos loiros-quase-castanhos que lhe enquadrava os olhos azuis-quase-verdes e os traços finos, delicados, quase frágeis.
Era este "quase" que se esgueirava pelo olhar dela e me fazia ver o fundo das estrelas.
(Lembro, para o que der e vier, que estes retratos - como de resto muito do que neste blog se escreve - são ficcionados. Irremediavelmente.)
A única diferença entre essas árvores e G. era que nela essa indomável, extraordinária força não eram imediatamente visíveis. Escondiam-se atrás de uma ombreira de cabelos loiros-quase-castanhos que lhe enquadrava os olhos azuis-quase-verdes e os traços finos, delicados, quase frágeis.
Era este "quase" que se esgueirava pelo olhar dela e me fazia ver o fundo das estrelas.
(Lembro, para o que der e vier, que estes retratos - como de resto muito do que neste blog se escreve - são ficcionados. Irremediavelmente.)
A Rosa e as rosas
Rosa era uma vendedora de flores do Mercado da Ribeira. Já por aqui devo ter falado dela: era muito bonita e muito malcriada; ou melhor: excepcionalmente bonita e excepcionalmente malcriada. Costumávamos comprar-lhe flores nas madrugadas de borga que terminavam no Cacau da Ribeira. O meu gosto por flores (por comprá-las e oferecê-las, que infelizmente continuo a desconhecer a maior parte delas) vem desses tempos. Por vezes perguntava-me se lá íamos por causa das flores se por outras razões, mais antropológicas, etnológicas, linguísticas, psicológicas (ou estéticas - afinal éramos jovens sensíveis à beleza). Ou masoquista, vá saber-se, de tal forma o chorrilho de impropérios e palavrões que daquela boca saía cada vez que a jovem senhora falava era chocante - mais ainda devido ao contraste com a sua inocente e campestre beleza.
Um dia, comprei um montão de rosas e em vez de ir para casa fui para a Baixa, que na altura ainda tinha bastantes escritórios e movimento matinal, oferecê-las a algumas (seleccionadas) senhoras que passassem. O critério, devo dizer desde já, não era a beleza delas. Era o olhar. O olhar - quando via um que me seduzia, intrigava, interessava, fazia sorrir ou sonhar oferecia uma rosa à sua invariavelmente jovem portadora.
Devo desde já dizer que a - ou as - rosas não iam acompanhadas de nenhum número de telefone, nem de sombra de qualquer espécie de intenção: o objectivo era apenas, expliquei-o algumas dezenas de vezes, tão-só alegrar o dia de algumas pessoas, escolhendo para isso as que tivessem particularmente bonito aquilo que sempre me atraiu, mais do que tudo o mais, nas senhoras: o olhar.
Uma vontade súbita (ligeiramente etilizada, sem dúvida; mas isso não lhe retira o valor: in vino veritas) de ver um sorriso, testar um caracter, desafiar, surpreender... Não sei. Isto já foi há muito tempo. Desde aí, tenho tido outras vontades súbitas, claro - mas fui aprendendo a controlá-las, seleccioná-las, domá-las. Sabendo contudo que é um erro: são provavelmente as únicas que valem a pena. Sem intenções, sejam elas quais forem (amor, amizade, conquista, negócio, viagem, sei lá) não há insucesso nem frustração nem dor. E os resultados são por definição inesperados, supreendentes.
Um dia, comprei um montão de rosas e em vez de ir para casa fui para a Baixa, que na altura ainda tinha bastantes escritórios e movimento matinal, oferecê-las a algumas (seleccionadas) senhoras que passassem. O critério, devo dizer desde já, não era a beleza delas. Era o olhar. O olhar - quando via um que me seduzia, intrigava, interessava, fazia sorrir ou sonhar oferecia uma rosa à sua invariavelmente jovem portadora.
Devo desde já dizer que a - ou as - rosas não iam acompanhadas de nenhum número de telefone, nem de sombra de qualquer espécie de intenção: o objectivo era apenas, expliquei-o algumas dezenas de vezes, tão-só alegrar o dia de algumas pessoas, escolhendo para isso as que tivessem particularmente bonito aquilo que sempre me atraiu, mais do que tudo o mais, nas senhoras: o olhar.
Uma vontade súbita (ligeiramente etilizada, sem dúvida; mas isso não lhe retira o valor: in vino veritas) de ver um sorriso, testar um caracter, desafiar, surpreender... Não sei. Isto já foi há muito tempo. Desde aí, tenho tido outras vontades súbitas, claro - mas fui aprendendo a controlá-las, seleccioná-las, domá-las. Sabendo contudo que é um erro: são provavelmente as únicas que valem a pena. Sem intenções, sejam elas quais forem (amor, amizade, conquista, negócio, viagem, sei lá) não há insucesso nem frustração nem dor. E os resultados são por definição inesperados, supreendentes.
14.9.09
Empobrecimento, direitos
"O empobrecimento lento sem grandes maçadas é um direito colectivo. Se for esse o desejo da maioria, teremos que o aceitar."
Isto é indubitavelmente uma grande verdade, aplicável tanto a Portugal como a outros países. Há só um pormenor: é que as pessoas que escolhem o "empobrecimento lento sem grandes maçadas" deviam fazê-lo em conhecimento de causa e ab ante; a posteriori pode ser demasiado tarde.
Isto é indubitavelmente uma grande verdade, aplicável tanto a Portugal como a outros países. Há só um pormenor: é que as pessoas que escolhem o "empobrecimento lento sem grandes maçadas" deviam fazê-lo em conhecimento de causa e ab ante; a posteriori pode ser demasiado tarde.
Controle de admissões
"Controlo de admissões já gerou poupança de mais de 3 mil milhões".
O ano passado fui operado num hospital público. Depois da alta jantei com um dos administradores do hospital, que me perguntou o que tinha eu pensado do pessoal. "Médicos, muito bom; enfermagem, entre o suficiente mais e o bom; auxiliares de enfermagem, entre o medíocre e o suficiente menos", respondi.
"Pois", retorquiu. "Não podemos contratar pessoal, pelo que os auxiliares só cá estão seis meses. Depois têm que ir para outro hospital, onde voltam a ficar seis meses. Vão rodando, percebe? Todos os seis meses mudam. É difícil motivar e formar pessoas nestas condições - alguns já andam assim há anos".
O ano passado fui operado num hospital público. Depois da alta jantei com um dos administradores do hospital, que me perguntou o que tinha eu pensado do pessoal. "Médicos, muito bom; enfermagem, entre o suficiente mais e o bom; auxiliares de enfermagem, entre o medíocre e o suficiente menos", respondi.
"Pois", retorquiu. "Não podemos contratar pessoal, pelo que os auxiliares só cá estão seis meses. Depois têm que ir para outro hospital, onde voltam a ficar seis meses. Vão rodando, percebe? Todos os seis meses mudam. É difícil motivar e formar pessoas nestas condições - alguns já andam assim há anos".
ASAEices
Acho muito bem. Não é por serem pobres que devem correr riscos desnecessários com a saúde.
Espero que a ASAE inspeccione também os cartões dos sem abrigo, bem como os caixotes de lixo onde todos os dias vejo pessoas a procurar comida - e onde algumas das pessoas atingidas por esta higiénica medida irão, decerto. E as garrafas pelas quais eles bebem, Santa Mãe de Deus. E as beatas que apanham na rua. Porque isto de fechar um refeitório e deixar as outras coisas como estão serve de pouco, ou nada.
Espero que a ASAE inspeccione também os cartões dos sem abrigo, bem como os caixotes de lixo onde todos os dias vejo pessoas a procurar comida - e onde algumas das pessoas atingidas por esta higiénica medida irão, decerto. E as garrafas pelas quais eles bebem, Santa Mãe de Deus. E as beatas que apanham na rua. Porque isto de fechar um refeitório e deixar as outras coisas como estão serve de pouco, ou nada.
12.9.09
Patrocínio inábil
A mandatária para a juventude de José Sócrates - ou, mais provavelmente, quem lhe escreveu o guião - foi inábil. Esperemos que faça batota de uma forma mais hábil nas outras coisas; se não não só perde como ainda fica com o ónus - será um ónus, para ela? - de batoteira.
Pertença
Aos sábados compro o Expresso e o Público; vou ao mercado biológico comprar metade de meia-dúzia de coisas que levarei uma semana a consumir; bebo um café na Esplanada. Ou então vou comer um brunch ao café da Praça, um bocadinho mais abaixo. Digo, como todos os dias, à jovem toxicómana "não". Digo-o delicadamente, com um sorriso; ela também sorri para mim. É - ou podia ser - bonita e tem uma expressão inteligente no olhar (às tardes começa a ficar triste e fechado, mas nunca perde o ar inteligente). O jardim é lindo e está cheio de crianças com cães e pais que também foram às compras. Conheço-o de cor. Por baixo há um reservatório de água onde uma vez dei um primeiro e quase último beijo; muitas vezes sento-me à sombra de uma das suas árvores.
Levo as compras no cesto da bicicleta, ou num dos que me sobraram dos muitos que trouxe de África. Aquele de que gosto mais é grande, redondo, lindo e atrai o olhar das pessoas como atraiu o meu. Alguns dos vendedores já me conhecem, como os empregados do café onde todos os dias começo o dia. A caminho do escritório o polícia sinaleiro arranja sempre maneira de não me fazer parar - "para não perder a embalagem" - beneficiando assim, de passagem, o trânsito que vai no mesmo sentido. Quando não consegue, seja porque não me viu ou porque as bichas do outro lado se estão a avolumar, pede desculpa.
A senhora da farmácia não me conhece - é raro entrar lá; mas os vendedores de jornais das redondezas, os cafés e restaurantes conhecem-me todos. Digo-lhes "bom dia" com um aceno de cabeça e um insondável espanto: pertenço finalmente a um lugar.
Levo as compras no cesto da bicicleta, ou num dos que me sobraram dos muitos que trouxe de África. Aquele de que gosto mais é grande, redondo, lindo e atrai o olhar das pessoas como atraiu o meu. Alguns dos vendedores já me conhecem, como os empregados do café onde todos os dias começo o dia. A caminho do escritório o polícia sinaleiro arranja sempre maneira de não me fazer parar - "para não perder a embalagem" - beneficiando assim, de passagem, o trânsito que vai no mesmo sentido. Quando não consegue, seja porque não me viu ou porque as bichas do outro lado se estão a avolumar, pede desculpa.
A senhora da farmácia não me conhece - é raro entrar lá; mas os vendedores de jornais das redondezas, os cafés e restaurantes conhecem-me todos. Digo-lhes "bom dia" com um aceno de cabeça e um insondável espanto: pertenço finalmente a um lugar.
11.9.09
Os bois pelos nomes
E se alguém se lembrasse de chamar cobarde a quem tem medo de dar a cara? Só um país de cobardolas e merdosos é que se deixa asfixiar.
(Via Jamais)
Dúvidas
Se algumas dúvidas tivesse ainda, a entrevista de António Costa dissipou-mas todas. Não é nele que vou votar.
PS - sou insuspeito de simpatias pelos automóveis, e não me parece que um túnel no Campo Grande seja uma urgência por aí além. Mas se contribuir para tirar carros da superfície, antes isso.
PPS - Já que se está a fazer um estudo "à viabilidade do nó rodo-ferroviário", não se poderia encomendar outro para saber se haveria alternativas à expansão do terminal de contentores?
PS - sou insuspeito de simpatias pelos automóveis, e não me parece que um túnel no Campo Grande seja uma urgência por aí além. Mas se contribuir para tirar carros da superfície, antes isso.
PPS - Já que se está a fazer um estudo "à viabilidade do nó rodo-ferroviário", não se poderia encomendar outro para saber se haveria alternativas à expansão do terminal de contentores?
10.9.09
O nome da Rosa...
...é um florista no Príncipe Real que tem, normalmente, montras magníficas. A de hoje é sublime.
O chato
Não sei bem por onde começar; o princípio nem sempre é o melhor ponto de partida. E a verdade é que eu já ia quase no meio da refeição, num restaurante indiano da Rua da Palma que tem, quanto a mim, a decoração mais original, e gira, de todos os restaurantes étnicos que conheço em Lisboa: imita um pátio alfacinha, com eléctrico - verdadeiro e de época - a servir de balcão.
O pé direito é alto (a gastronomia nem tanto, mas isso fica para depois) e no tecto estão três ventoinhas, felizmente paradas. A refrigeração do local é assegurada por um ar condicionado que funciona mezzo mezzo. Em resumo, o sítio é agradável.
Ele (digo ele porque num grupo de seis pessoas só ele se via: pequeno, rechonchudo, careca emoldurada por cabelos brancos curtos e uma expressão que me fez pensar imediatamente "este gajo é um chato"). Não sou grande fisionomista, o que demonstra que ele o era realmente. Ainda não tinha passado da soleira da porta e já estava a apontar para as ventoinhas e a gritar para a empregada, que estava no outro canto da sala "pode ligar as ventoinhas, por favor? Ligar ventoinhas" - repetia em pidgin; naturalmente, num restaurante indiano as pessoas não podem falar português.
Quando me fui embora, a coisa continuava, no mesmo registo. Que importa o princípio?
O pé direito é alto (a gastronomia nem tanto, mas isso fica para depois) e no tecto estão três ventoinhas, felizmente paradas. A refrigeração do local é assegurada por um ar condicionado que funciona mezzo mezzo. Em resumo, o sítio é agradável.
Ele (digo ele porque num grupo de seis pessoas só ele se via: pequeno, rechonchudo, careca emoldurada por cabelos brancos curtos e uma expressão que me fez pensar imediatamente "este gajo é um chato"). Não sou grande fisionomista, o que demonstra que ele o era realmente. Ainda não tinha passado da soleira da porta e já estava a apontar para as ventoinhas e a gritar para a empregada, que estava no outro canto da sala "pode ligar as ventoinhas, por favor? Ligar ventoinhas" - repetia em pidgin; naturalmente, num restaurante indiano as pessoas não podem falar português.
Quando me fui embora, a coisa continuava, no mesmo registo. Que importa o princípio?
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Restaurantes Lisboa
Realismo, timidez
Ontem abriu, perto de minha casa, um local da Experimenta Design. Fui ver: o sítio é magnífico, e estava cheio de pessoas, e de mulheres bonitas. Vim-me embora; não sei se por timidez, se por realismo.
9.9.09
Bem feito
Os pilotos da TAP marcam uma greve para 24 e 25 de Setembro. Uma pessoa lembra-se das intervenções de Mário Lino na Groundforce (e na TAP, noutras ocasiões) e tem vontade de dizer "é bem feito!"
Diálogos possíveis
- Não sei o que vês de mal na Ressurreição.
- Há dois anos que não ouves outra coisa.
- Claro. Cada dia é uma ressurreição.
- Há dois anos que não ouves outra coisa.
- Claro. Cada dia é uma ressurreição.
A gravidade dos factos
Post retirado: o erro foi do jornal de onde transcrevi o excerto (Diário Económico). Hoje fui à procura do texto para fazer o link e encontrei isto: "O juiz de instrução criminal sublinha, porém, que "a natureza e a gravidade dos crimes imputados" aos arguidos "não fundamentam, nem podem fundamentar..."
O que é grave, também; mas infelizmente habitual.
Erros: navegação, política
A relação da nevegação com o erro é antiga, poderosa. "Navegar é gerir os erros", já por aqui algures o devo ter dito; "ganha uma regata não quem navega melhor, mas quem faz menos erros".
Não sei se é assim também em política; espero que não. Gostaria muito que Manuela Ferreira Leite considerasse já ter feito os erros todos que podia fazer e parasse de dar tiros no pé.
Não sei se é assim também em política; espero que não. Gostaria muito que Manuela Ferreira Leite considerasse já ter feito os erros todos que podia fazer e parasse de dar tiros no pé.
Juízes
As pessoas são mais lestas a julgar os outros do que a si próprias. Uma inversão de prioridades nessa área revelar-lhes-ia coisas surpreendentes, époustouflantes.
7.9.09
Avançar Portugal: juntos desconseguimos
(Antes de mais nada, uma explicação: "desconseguir" é um termo moçambicano que tem - para mim - mais beleza e mais força do que o nacional "não conseguir". Não sei porquê: talvez seja tão-só um efeito da novidade).
Há algumas semanas soube por um amigo, proprietário de uma escola de navegação, que a nova legislação sobre as "Cartas de Navegação" (Local, de Marinheiro, Patrão de Costa e Patrão de Alto Mar, na sua forma actual) ia finalmente ser publicada. Acompanhei de perto a sua feitura; era magnífica, leve, desburocratizada, sensata, adequada.
Boa demais, claro. Hoje voltei a falar com o meu amigo, para lhe perguntar quando é que o decreto-lei entrava em vigor. "Para já não entra", respondeu-me, alegre e contente. "Foi travado". "Travado? Porquê?" "Não sei. Foi travado. Quem mo disse foi um senhor da Marinha, muito influente. Eu prefiro assim: no longo prazo talvez tu tenhas razão; mas no curto prazo a nova legislação far-me-ia perder muito dinheiro"; "X., hoje é o longo prazo de ontem. Se a legislação tivesse sido bem feita de princípio, ou mudada a tempo, se calhar hoje estavas a ganhar mais dinheiro" (poupo aos leitores pormenores dos debates que mantenho com ele. Obviamente as escolas ganham bastante com o estúpido e inadequado regime actual. Ainda mais obviamente, as melhores escolas do mundo, as mais procuradas, reconhecidas e caras estão em países onde nem sequer existem "cartas", ou não são obrigatórias).
É claro que só um ingénuo como eu acreditava que as coisas iam realmente mudar. Mas a pergunta que não cessa de me vir à mente é: por que raio de carga de água um governo (e socialista, ainda por cima) mantém um regime cujos únicos beneficiários são os proprietários das escolas? Não haverá mais alunos do que escolas - isto é, mais votos a procurar nos alunos do que nos proprietários?
Efeitos decerto do poderosíssimo lobby das escolas de navegação.
Há algumas semanas soube por um amigo, proprietário de uma escola de navegação, que a nova legislação sobre as "Cartas de Navegação" (Local, de Marinheiro, Patrão de Costa e Patrão de Alto Mar, na sua forma actual) ia finalmente ser publicada. Acompanhei de perto a sua feitura; era magnífica, leve, desburocratizada, sensata, adequada.
Boa demais, claro. Hoje voltei a falar com o meu amigo, para lhe perguntar quando é que o decreto-lei entrava em vigor. "Para já não entra", respondeu-me, alegre e contente. "Foi travado". "Travado? Porquê?" "Não sei. Foi travado. Quem mo disse foi um senhor da Marinha, muito influente. Eu prefiro assim: no longo prazo talvez tu tenhas razão; mas no curto prazo a nova legislação far-me-ia perder muito dinheiro"; "X., hoje é o longo prazo de ontem. Se a legislação tivesse sido bem feita de princípio, ou mudada a tempo, se calhar hoje estavas a ganhar mais dinheiro" (poupo aos leitores pormenores dos debates que mantenho com ele. Obviamente as escolas ganham bastante com o estúpido e inadequado regime actual. Ainda mais obviamente, as melhores escolas do mundo, as mais procuradas, reconhecidas e caras estão em países onde nem sequer existem "cartas", ou não são obrigatórias).
É claro que só um ingénuo como eu acreditava que as coisas iam realmente mudar. Mas a pergunta que não cessa de me vir à mente é: por que raio de carga de água um governo (e socialista, ainda por cima) mantém um regime cujos únicos beneficiários são os proprietários das escolas? Não haverá mais alunos do que escolas - isto é, mais votos a procurar nos alunos do que nos proprietários?
Efeitos decerto do poderosíssimo lobby das escolas de navegação.
50' pas morts
Se o topo da escada passar para os 70', os 50 fazem de novo sentido.
PS - Um grande marinheiro e uma excelente pessoa (andam sempre juntas, estas características. Não sei porquê). Dura mais de meia-hora, mas aconselho todos os que se interessam pela vela de competição a ver até ao fim.
PS - Um grande marinheiro e uma excelente pessoa (andam sempre juntas, estas características. Não sei porquê). Dura mais de meia-hora, mas aconselho todos os que se interessam pela vela de competição a ver até ao fim.
6.9.09
Solidão
Era, fundamental, radicalmente um solitário. Sentia-se só, mesmo quando acompanhado. Sobretudo quando acompanhado.
Memória
Há cerca de 250 anos tive que vir a Portimão. Não me lembro do motivo: a única coisa que me ficou dessa estadia foi um bar pequenino, na Praia da Rocha, cujo barman fazia uns cocktails divinos. Estava sempre vazio - devia ser no Outono, ou no Inverno. Ia lá muitas vezes - enfim, enquanto por cá estive.
Passei muitos anos sem cá voltar; por vezes, aquando das raras escalas, procurava o tal bar, mas nunca o encontrei. Até que o varri, naturalmente, da memória. Ontem passei à frente dele e reconheci-o (até ouvi o clic nos circuitos neuronais). A memória tem destas coisas: ora parece um disco riscado, ora faz lembrar um potro aos saltos numa pastagem orvalhada de Primavera.
Fui atendido pelo filho do dito senhor, que ainda lá está e em cujo rosto consegui ver os traços de há tantos anos (nutro por um bom barman a admiração sem limites que outros têm por jogadores de futebol, ou actrizes de telenovela). Os cocktails - pelo menos o que bebi - continuam bons.
Passei muitos anos sem cá voltar; por vezes, aquando das raras escalas, procurava o tal bar, mas nunca o encontrei. Até que o varri, naturalmente, da memória. Ontem passei à frente dele e reconheci-o (até ouvi o clic nos circuitos neuronais). A memória tem destas coisas: ora parece um disco riscado, ora faz lembrar um potro aos saltos numa pastagem orvalhada de Primavera.
Fui atendido pelo filho do dito senhor, que ainda lá está e em cujo rosto consegui ver os traços de há tantos anos (nutro por um bom barman a admiração sem limites que outros têm por jogadores de futebol, ou actrizes de telenovela). Os cocktails - pelo menos o que bebi - continuam bons.
Modas
Há modas feias, ou patéticas; outras são confrangedoras; algumas são ridículas, ou mesmo lamentáveis. A actual de andar com a cintura das calças pelo meio das nádegas consegue o prodígio de ser isto tudo simultaneamente.
(Hoje vi um melhoramento: a cintura estava no sítio consagrado - mas era de um fato de banho e não havia nada por baixo. Chama-se a isto turismo de luxo, qualificação da oferta, etc.)
(Hoje vi um melhoramento: a cintura estava no sítio consagrado - mas era de um fato de banho e não havia nada por baixo. Chama-se a isto turismo de luxo, qualificação da oferta, etc.)
5.9.09
Hallelujah
As sardinhas são um vector crucial da nossa identidade. Hoje comi as melhores sardinhas assadas desde há muito tempo. No restaurante Forte e Feio, em Portimão. Ich bin ein Algarvier.
Meia-noite
É meia-noite; o barco* quer ir-se embora. Eu não: fundeado na baía de Cascais, parece que estou noutro mundo. Estamos em negociações cerradas. Tenho a lua e um whisky do meu lado: desta vez, contrariamente ao habitual, acho que vou ganhar [PS - ganhei; só saí hoje de manhã.]
* - No mar não há "barcos": há navios, e embarcações. Mas ambos são demasiado grandes - um como objecto, a outra como palavra.
* - No mar não há "barcos": há navios, e embarcações. Mas ambos são demasiado grandes - um como objecto, a outra como palavra.
Cabo de S. Vicente
Hoje passei, pela quinquagésima milésima vez, o Cabo de S. Vicente. E apercebi-me de que há muito não o passo de dia. Fiquei tão emocionado que fui limpar os óculos.
4.9.09
Factos e estratagemas
Uma maneira de tornar mais fácil, a uma senhora, um anúncio de separação iminente é dizer-lhe que estamos desvairadamente apaixonados por ela.
Claro que este facto singelo e irrefutável não legitima que o usemos para provocar a separação.
Claro que este facto singelo e irrefutável não legitima que o usemos para provocar a separação.
3.9.09
Rostos, paisagens
"As pessoas ligadas ao mar têm rostos que são paisagens". A pessoa que disse isto ganhou um lugar ad aeternum na minha galeria de grandes autores.
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