Por respeito por aqueles a quem damos cartões de visita, estes devem ser suficientemente sólidos, mas não demasiado espessos para que se possa palitar os dentes com eles.
28.9.08
ALA, que se faz tarde
Não sou, é com uma certa mágoa que o reconheço, grande fã de António Lobo Antunes. Mas por vezes acontecem coisas destas: "Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas." É verdade, é uma bela, luminosa e iniludível verdade: a inteligência não será, talvez, insubstituível - mas só muito, muito dificilmente se pode substituir por outra coisa qualquer.
(Por alguma razão será tão difícil esquecermo-nos das mulheres inteligentes que conhecemos como lembrarmo-nos das estúpidas, não é?)
(Por alguma razão será tão difícil esquecermo-nos das mulheres inteligentes que conhecemos como lembrarmo-nos das estúpidas, não é?)
Casas à cunha
"É a minha casa de reserva. Se amanhã tiver que me separar outra vez, para onde vou?" Se tivéssemos que seleccionar uma frase, uma só frase, para resumir esta história das casas de CML, eu proporia esta. É sublime. É de um Senhor chamado José Bastos, director do departamento de apoio da Câmara (assim, mesmo, "departamento de apoio" e com minúsculas).
Vem no Expresso desta semana (sem link).
Vem no Expresso desta semana (sem link).
Hierarquias afrodisíacas
- Em primeiro lugar a inteligência, depois a sensualidade. Uma cara larocas (ou um corpo) vem em terceiro lugar - explicava ele, num tom um bocadinho fátuo.
- Se fosse ao contrário serias o melhor amante do mundo - replicou, conformada.
- Se fosse ao contrário serias o melhor amante do mundo - replicou, conformada.
O franciscano
Ele era tão mau a fazer amor, tão pobre, que a mulher deixou de utilizar a expressão "posição do missionário" e a substituiu por "posição de S. Francisco".
Como se chamava Francisco e era um nadinha burro, ele interpretou erradamente a expressão. Estiveram casados a vida toda; ela nunca o deixou: "sozinho, este homem não é viável", explicava às amigas - mas não aos amantes que, de vez em quando, se oferecia. Escolhia-os ou sensuais, ou inteligentes: "Não resisto a uma tentação", dizia, "e já que posso escolher, resguardo-me". Com excepção dos superiores hierárquicos do marido, mas esses eram antecipada e fortemente avisados de que a coisa só duraria se o marido fosse promovido - promessa que não seria, todos eles o sabiam mas todos queriam tentar a sorte, respeitada.
Assim, o senhor foi subindo na hierarquia da empresa, sem nunca suspeitar fosse do que fosse. Aos 50 anos, quando a conheci, ainda era uma bela mulher, alta, loira, com uns olhos azuis imponentes e umas mamas que, dizia-se na cidade, tinham valido uma incalculável quantidade de punhetas a todos os adolescentes que com ela se cruzaram entre os 17 e os 40 anos. Ele chegou a administrador e aí ficou, porque não havia mais ninguém com quem ela pudesse ir para a cama para o fazer subir.
Como se chamava Francisco e era um nadinha burro, ele interpretou erradamente a expressão. Estiveram casados a vida toda; ela nunca o deixou: "sozinho, este homem não é viável", explicava às amigas - mas não aos amantes que, de vez em quando, se oferecia. Escolhia-os ou sensuais, ou inteligentes: "Não resisto a uma tentação", dizia, "e já que posso escolher, resguardo-me". Com excepção dos superiores hierárquicos do marido, mas esses eram antecipada e fortemente avisados de que a coisa só duraria se o marido fosse promovido - promessa que não seria, todos eles o sabiam mas todos queriam tentar a sorte, respeitada.
Assim, o senhor foi subindo na hierarquia da empresa, sem nunca suspeitar fosse do que fosse. Aos 50 anos, quando a conheci, ainda era uma bela mulher, alta, loira, com uns olhos azuis imponentes e umas mamas que, dizia-se na cidade, tinham valido uma incalculável quantidade de punhetas a todos os adolescentes que com ela se cruzaram entre os 17 e os 40 anos. Ele chegou a administrador e aí ficou, porque não havia mais ninguém com quem ela pudesse ir para a cama para o fazer subir.
27.9.08
Dvorák, Clairefontaine et al.
Oiço a 9ª Sinfonia de Dvorák enquanto tento decifrar o que garatujei no caderno Clairefontaine que há tantos anos trago no bolso das calças e que para nada serve; penso que a sinfonia é muito mais improvável do que o bloco; e lembro-me que o impossível sempre me atraiu mais do que o provável.
É preciso regular os reguladores
Hoje estava a falar com um antigo primeiro-ministro de Moçambique que me jurou a pés juntos que o FMI recusou um programa para reduzir o quadro de funcionários públicos (que já tinha o apoio financeiro da Suécia), argumentando que o plano previa o aumento de salários para os funcionários que ficassem.
O pior é que não me custa acreditar nesta história.
O pior é que não me custa acreditar nesta história.
26.9.08
Uma vida
A miúda era feia e estava, infelizmente, longe de ser muito inteligente. Ou mesmo de só um bocadinho, mais que não fosse. A verdade é que por uma razão qualquer conseguiu engatar o mais rico de entre nós todos - e Deus sabe se éramos um grupo de "desenrascados", como se diz no nosso país.
Durante muitos anos ele trabalhou muito, ganhou muito dinheiro, tentou (e conseguiu) fechar os olhos. Ela fez-lhe dois filhos insuportáveis; mantinha uma casa que era, até hoje, o que de mais perto de uma pocilga me foi dado ver; e dava de beber aos amigos, como uma indesmentível e indecifrável generosidade. A verdade é que tinham uma cave sublime, só de grandes crus e colheitas excepcionais, e ir "beber um copo" a casa deles, à tarde, transformava-se numa prova dos melhores vinhos do mundo em quantidades incontroladas.
Aos poucos, ela foi ficando religiosa, cada vez mais. Ao princípio ninguém levava aquilo a sério. Mas a verdade é que se foi embrenhando naquela igreja (ortodoxa, porque um dos avôs era russo, ou coisa que o valha). Um dia fugiu com o chefe do coro, ou com o sacristão, nunca percebi muito bem.
Assim que resolveu o divórcio o marido, o nosso amigo, um dos pilares - havia anos desaparecido, desvanecido, evaporado - do grupo casou-se de novo. Desta vez com uma esplêndida loira, infinitamente mais estúpida (não há relação de causalidade) do que a anterior e menos generosa. Esta punha-lhe a casa num brinco e os cornos, todas as tardes com o jardineiro, que ele pagava a peso de ouro porque ela lhe explicava que era muito penoso podar a sebe alcandorada num escadote.
Entretanto ele envelhecia, ganhava dinheiro fazendo túneis, pontes e linhas de caminho de ferro e fechava os olhos. Os filhos cresceram idiotas da quinta casa, coitados, coitado. Quando ele morreu dilapidaram-lhe a fortuna nas tascas de tango para turistas de Buenos Aires, para onde tinham emigrado para fugir aos rigores da tropa no país deles. Da mãe esqueceram até a existência. Muito brevemente já nem do nome dela se lembravam.
Contudo, foi a última a morrer nesta história. Até o sacristão que, soubémo-lo depois, era mais novo e roubava as esmolas da igreja morreu antes dela, logo que estas manigâncias se descobriram todas. Ela lembrava-se dos filhos, queria revê-los, sentir-lhes o cheiro, as peles frescas e os sorrisos confiantes, cheios, inteiros. Mas perdera completamente o contacto com eles, não sabia sequer por onde andavam.
Passava os dias numa tasca do centro histórico da cidade a cantar cânticos da liturgia eslava. Fazia-se chorar a si própria e a todos os que a vinham escutar, para além das pedras da calçada e de um outro wattman dos eléctricos que por lá calhava passar.
Quando morreu ainda era feia, talvez mesmo mais do que em nova. Fui vê-la à morgue porque, por uma razão que ainda hoje estou por perceber, ela deixou o meu nome como contacto para emergências. Pela primeira vez, vi-lhe uma expressão feliz: não tinha que lutar contra o que sabia ser o seu tremendo, tremendo inimigo: ela mesma.
Durante muitos anos ele trabalhou muito, ganhou muito dinheiro, tentou (e conseguiu) fechar os olhos. Ela fez-lhe dois filhos insuportáveis; mantinha uma casa que era, até hoje, o que de mais perto de uma pocilga me foi dado ver; e dava de beber aos amigos, como uma indesmentível e indecifrável generosidade. A verdade é que tinham uma cave sublime, só de grandes crus e colheitas excepcionais, e ir "beber um copo" a casa deles, à tarde, transformava-se numa prova dos melhores vinhos do mundo em quantidades incontroladas.
Aos poucos, ela foi ficando religiosa, cada vez mais. Ao princípio ninguém levava aquilo a sério. Mas a verdade é que se foi embrenhando naquela igreja (ortodoxa, porque um dos avôs era russo, ou coisa que o valha). Um dia fugiu com o chefe do coro, ou com o sacristão, nunca percebi muito bem.
Assim que resolveu o divórcio o marido, o nosso amigo, um dos pilares - havia anos desaparecido, desvanecido, evaporado - do grupo casou-se de novo. Desta vez com uma esplêndida loira, infinitamente mais estúpida (não há relação de causalidade) do que a anterior e menos generosa. Esta punha-lhe a casa num brinco e os cornos, todas as tardes com o jardineiro, que ele pagava a peso de ouro porque ela lhe explicava que era muito penoso podar a sebe alcandorada num escadote.
Entretanto ele envelhecia, ganhava dinheiro fazendo túneis, pontes e linhas de caminho de ferro e fechava os olhos. Os filhos cresceram idiotas da quinta casa, coitados, coitado. Quando ele morreu dilapidaram-lhe a fortuna nas tascas de tango para turistas de Buenos Aires, para onde tinham emigrado para fugir aos rigores da tropa no país deles. Da mãe esqueceram até a existência. Muito brevemente já nem do nome dela se lembravam.
Contudo, foi a última a morrer nesta história. Até o sacristão que, soubémo-lo depois, era mais novo e roubava as esmolas da igreja morreu antes dela, logo que estas manigâncias se descobriram todas. Ela lembrava-se dos filhos, queria revê-los, sentir-lhes o cheiro, as peles frescas e os sorrisos confiantes, cheios, inteiros. Mas perdera completamente o contacto com eles, não sabia sequer por onde andavam.
Passava os dias numa tasca do centro histórico da cidade a cantar cânticos da liturgia eslava. Fazia-se chorar a si própria e a todos os que a vinham escutar, para além das pedras da calçada e de um outro wattman dos eléctricos que por lá calhava passar.
Quando morreu ainda era feia, talvez mesmo mais do que em nova. Fui vê-la à morgue porque, por uma razão que ainda hoje estou por perceber, ela deixou o meu nome como contacto para emergências. Pela primeira vez, vi-lhe uma expressão feliz: não tinha que lutar contra o que sabia ser o seu tremendo, tremendo inimigo: ela mesma.
Serviço Público - Caves à Vins
O sítio é pequeno, muito pequeno (se não contarmos com a esplanada, no jardim, que também é pequena mas enfim, sempre aumenta a área disponível); tem música a cair para o folk, ou para uma mistura de folk-cigano-provençal-medieval-n'importe quoi, que não é má de todo, é só cansativa, às vezes; o queijo de Azeitão não é mau, antes pelo contrário, nem a tortilha, ou a morcela no forno. Tem Sidónio de Sousa Reserva 2001 a oito euros e cinquenta a garrafa - ou antes, deveria ter; e o empregado tem um penteado ridículo.
Acreditem ou não, merece uma visita. Ainda por cima, está pertíssimo de casa.
Os Goliardos, rua da Mãe d'Água, 9.
Abre às quintas, sextas e sábados.
Tel.: 213 462 156
Acreditem ou não, merece uma visita. Ainda por cima, está pertíssimo de casa.
Os Goliardos, rua da Mãe d'Água, 9.
Abre às quintas, sextas e sábados.
Tel.: 213 462 156
25.9.08
Solar do Vinho do Porto
Assisti à transformação do Instituto do Vinho do Porto (ou Solar do dito, como alguns, mais avessos à passagem do tempo, insistem em chamar-lhe) naquilo que ele é hoje - se bem seja incapaz de me lembrar de como era antes disso.
O que não compreendo é: aquilo ainda está assim por escolha, ou por fatalidade? Tendo para a segunda, por razões históricas, estéticas e estatísticas; preferiria a primeira, por obscuras e indecifráveis razões.
O que não compreendo é: aquilo ainda está assim por escolha, ou por fatalidade? Tendo para a segunda, por razões históricas, estéticas e estatísticas; preferiria a primeira, por obscuras e indecifráveis razões.
Física
Àquilo que antigamente se chamava "inércia" chama-se hoje "quantidade de movimento". Por mim tudo bem - gostava da palavra inércia, mas suponho que haverá razões poderosas para a troca.
A única dúvida é: de um conservador, deve dizer-se que tem uma grande "quantidade de movimento"?
A única dúvida é: de um conservador, deve dizer-se que tem uma grande "quantidade de movimento"?
A vida nas cidades
São seis da tarde e o mendigo que, quotidianamente, exibe um repugnante coto de perna na esquina da 1º de Dezembro com os Restauradores dá por terminado o dia de trabalho. Ajeita o cabelo e a camisa, coloca a prótese (bonita, moderna) e vai-se embora, a coxear.
Banalidades de base
Sonha. Sonha sempre. Muitos dos teus sonhos tornar-se-ão num longo, interminável pesadelo; mas sonha. Tudo o que é bom nasceu de um sonho, ou de um pesadelo.
24.9.08
Organização
Hoje tinha previsto embebedar-me (posso ser alcoólico, mas sou organizado, isso ninguém me tira).
Mas tive que pagar a electricidade, porque tinha uma conta atrasada que surgiu não sei de onde; e a renda de casa, porque estamos na data limite; e a mulher a dias, coitada, que é uma santa; e o telefone, porque estar sem telefone deve ser como estar sem oxigénio; e a água; e o IVA, os salários, tudo, tudo. Fiquei sem dinheiro para me embebedar.
Nem bêbado a sério consigo ser.
Mas tive que pagar a electricidade, porque tinha uma conta atrasada que surgiu não sei de onde; e a renda de casa, porque estamos na data limite; e a mulher a dias, coitada, que é uma santa; e o telefone, porque estar sem telefone deve ser como estar sem oxigénio; e a água; e o IVA, os salários, tudo, tudo. Fiquei sem dinheiro para me embebedar.
Nem bêbado a sério consigo ser.
Sequências, ciclos
Divorciámo-nos antes de nos casarmos, casámo-nos antes de nos amarmos, amámo-nos antes de nos conhecermos. Um dia encontrámo-nos, no Pavilhão Chinês, se a memória não me trai. E o ciclo recomeçou, no outro sentido.
Matemática e geografia
A ginginha é o menor denominador comum de factores dos quais o whisky é o maior múltiplo comum.
(O universo está delimitado pela Ginginha da rua de Sto. Antão, pelo British Bar, pelo Pavilhão Chinês e pelo Hot Clube - com uma ligeiríssima extensão até ao Cabaret Maxime, às vezes, porque o Universo não é estável, nada é.)
(O universo está delimitado pela Ginginha da rua de Sto. Antão, pelo British Bar, pelo Pavilhão Chinês e pelo Hot Clube - com uma ligeiríssima extensão até ao Cabaret Maxime, às vezes, porque o Universo não é estável, nada é.)
Cidade
Naqueles dias eu vadiava pela cidade como um toxicómano em busca de tóxicos, como um amante inquieto, como uma bola fugindo dos braços possessivos de uma criança, como poeira que assenta depois da passagem do carro do lixo: a cidade era minha, mas eu não era dela.
A mulher, os braços
Vi-a pela primeira vez num restaurante nepalês, fracote, da rua de S. José. Estava sentada à mesa, era pequenina, morena, muito bonita e tinha oito braços, com os quais comia um Tikka Masala sofrível, folheava um livro e - mais tarde, muito mais tarde - me acariciava.
Tinha uma vagina só, pelo que não foi muito difícil fazer-lhe amor. Difícil foi libertar-me - cada braço era, apercebi-me depois, comandado por um cérebro diferente e foi preciso convencê-los a todos, com argumentos que fizessem face àquele exército de mentes potentes e membros poderosos. Cada um deles procurava uma coisa diferente e, pior ainda, temia outra: era preciso encontrar um argumento que não fizesse medo a nenhum e os convencesse a todos.
Foi há muito tempo. Não me lembro do que lhes disse. Não sei sequer se me libertou: por vezes parece-me sentir a leve carícia de um daqueles tentáculos, ligeira e reptícia, sensual como o tempo que passa, como a luz de um fim de tarde depois da chuva, como as vagas que, nas manhãs sem vento, se desfazem na areia e nem um grão tiram do sítio.
Tinha uma vagina só, pelo que não foi muito difícil fazer-lhe amor. Difícil foi libertar-me - cada braço era, apercebi-me depois, comandado por um cérebro diferente e foi preciso convencê-los a todos, com argumentos que fizessem face àquele exército de mentes potentes e membros poderosos. Cada um deles procurava uma coisa diferente e, pior ainda, temia outra: era preciso encontrar um argumento que não fizesse medo a nenhum e os convencesse a todos.
Foi há muito tempo. Não me lembro do que lhes disse. Não sei sequer se me libertou: por vezes parece-me sentir a leve carícia de um daqueles tentáculos, ligeira e reptícia, sensual como o tempo que passa, como a luz de um fim de tarde depois da chuva, como as vagas que, nas manhãs sem vento, se desfazem na areia e nem um grão tiram do sítio.
Tiro no pé
O mercado dá mais um tiro no pé: "Warren Buffet injecta 5 mil milhões de dólares no Goldman Sachs".
Aritmética
Se caíres levanta-te; se voltares a cair, torna a levantar-te; e se caíres outra vez ainda, levanta-te outra vez ainda. A vida é uma aritmética simples: basta levantares-te tantas vezes quantas as que caíste.
(O resultado é sempre menos um.)
(O resultado é sempre menos um.)
Passados longínquos, melancolias de hoje
Hoje, em conversa com uma amiga que me é querida, lembrei-me de L'Homme Neuronal, um livro que, se não mudou a minha vida, teve o mérito enorme de consolidar uma mudança que tinha começado com O Acaso e a Necessidade, A Lógica da Vida (La Logique du Vivant) , La Nouvelle Grille e o Éloge de la Fuite, de Henri Laborit, ou, o primeiro e mais importante deles todos (para mim, claro), o Paradigma Perdido, de Edgar Morin. Daqui conheci Paul Watzlawick, Gregory Bateson, Edward Hall, a Sociobiologia, de Wilson (desculpem a falta de links - ou melhor, a falta de paciência para os procurar).
Meu Deus, que longe estão esses tempos, e que perto, ainda. As camadas sedimentam-se, mas misturam-se, uma parte delas passa para a que lhe vem a seguir. Mudamos de vida, mas não mudamos a vida.
PS - ao contrário do que possa parecer, o verdadeiro tema deste post é a melancolia.
PS2 - Nesta altura li também um dos livros que me marcou e definiu a forma das camadas de sedimentos que se lhe seguiriam, o Eloge du Cosmopolitisme, de Guy Scarpetta.
Meu Deus, que longe estão esses tempos, e que perto, ainda. As camadas sedimentam-se, mas misturam-se, uma parte delas passa para a que lhe vem a seguir. Mudamos de vida, mas não mudamos a vida.
PS - ao contrário do que possa parecer, o verdadeiro tema deste post é a melancolia.
PS2 - Nesta altura li também um dos livros que me marcou e definiu a forma das camadas de sedimentos que se lhe seguiriam, o Eloge du Cosmopolitisme, de Guy Scarpetta.
Serviço Público - Teatro
A peça é pouco interessante, cheira a déjà vu à légua (porque é que em Portugal se insiste em seleccionar peças deste género é para mim um doloroso mistério) mas a performance de Beatriz Batarda em Homem a Homem deve ser vista, desfrutada, aplaudida.
Imagino que a senhora saia desta peça exausta: durante hora e meia (que vem e vai sem se dar por ela) passa por todos os registos da representação com uma facilidade desconcertante e é boa em todos eles. Gostaria de a ver um dia numa peça mais interessante.
Teatro da Cornucópia
Rua Tenente Raúl Cascais, 1-A
1250-268 LISBOA
Tel.: 21 396 15 15
Em cena até dia 5 de Outubro.
Imagino que a senhora saia desta peça exausta: durante hora e meia (que vem e vai sem se dar por ela) passa por todos os registos da representação com uma facilidade desconcertante e é boa em todos eles. Gostaria de a ver um dia numa peça mais interessante.
Teatro da Cornucópia
Rua Tenente Raúl Cascais, 1-A
1250-268 LISBOA
Tel.: 21 396 15 15
Em cena até dia 5 de Outubro.
23.9.08
Crise
O actual governo norte-americano ajuda a resolver uma crise que foi, em grande parte, criada por vários governos norte-americanos (incluindo o actual). Há quem veja nisto a prova de que os mercados não funcionam.
Uma grande mentira
Há mentiras que devem ser desmascaradas, todos os dias, todas as horas, sempre. Este post devia ser lido e repetido até à exaustão (tanto mais que ajuda a perceber muito, ou quase tudo, da nossa descolonização):
"Em Moçambique, Samora Machel possuía mil guerrilheiros moçambicanos, numa Frelimo de 4000 efectivos recrutados na Zâmbia e Tanzânia. Em Angola, o MPLA já nem lutava, a FNLA confinava-se a uma ténue linha sobre a fronteira do Zaire e a UNITA tinha, contas feitas, cem guerrilheiros."
"Em Moçambique, Samora Machel possuía mil guerrilheiros moçambicanos, numa Frelimo de 4000 efectivos recrutados na Zâmbia e Tanzânia. Em Angola, o MPLA já nem lutava, a FNLA confinava-se a uma ténue linha sobre a fronteira do Zaire e a UNITA tinha, contas feitas, cem guerrilheiros."
22.9.08
Liberdade
"Liberdade é poder assinar uma carta Tua A." disse-me uma vez, e eu acreditei, porque ela era livre e eu também. Não há maior prisão do que o encontro de dois seres livres, nem maior liberdade do que uma prisão livremente escolhida.
20.9.08
Uma boa notícia...
...para que gosta de poesia e vive na zona do Princípe Real:
"Sem grande tempo ou saúde para as lides cibernéticas, venho aqui só a correr para avisar que brevemente, muito brevemente, abrirei na Rua Cecílio de Sousa, 11, entre a Praça das Flores e o Príncipe Real, em Lisboa, a Poesia Incompleta. Apesar do nome não indiciar será uma livraria exclusivamente dedicada à poesia. Livros novos e esgotados, portugueses e estrangeiros, em edições luxuosas ou mais poupadinhas.
Por ora deixo o mail poesia.incompleta@gmail.com e a morada do blogue que nos próximos tempos iniciará actividade www.poesia-incompleta.blogspot.com"
"Sem grande tempo ou saúde para as lides cibernéticas, venho aqui só a correr para avisar que brevemente, muito brevemente, abrirei na Rua Cecílio de Sousa, 11, entre a Praça das Flores e o Príncipe Real, em Lisboa, a Poesia Incompleta. Apesar do nome não indiciar será uma livraria exclusivamente dedicada à poesia. Livros novos e esgotados, portugueses e estrangeiros, em edições luxuosas ou mais poupadinhas.
Por ora deixo o mail poesia.incompleta@gmail.com e a morada do blogue que nos próximos tempos iniciará actividade www.poesia-incompleta.blogspot.com"
19.9.08
Aleluia
Finalmente, começa a haver vozes que se levantam contra um crime, um absurdo, ou uma incompetência crassa (escolha a sua opção). A ler aqui: Zona Ribeirinha - Crimes, Posições e Silêncios.
16.9.08
Um bom conselho
Warre's LBV 1999. Dois euros e noventa cêntimos o cálice no Instituto do Vinho do Porto. A melhor relação preço - felicidade de que há memória (não incluindo o Noval LBV 1997, que Deus me perdoe - esse é único).
Figura de estilo ( hipérbole - a saudade)
Tu és a a cidade à qual regresso hoje, à qual regressarei sempre.
15.9.08
Saoufé
Antigamente, o Saoufé era uma instituição, em La Rochelle. Era um bar especializado em rum, que não tinha nada dessas "Rumeries" de plástico. Agora está uma porcaria, cheia de punks e de miúdos à procura de emoções fortes.
Hoje bebi lá o melhor mojito que me foi dado beber na meia dúzia de anos que levo de experiência de mojitos.
Hoje bebi lá o melhor mojito que me foi dado beber na meia dúzia de anos que levo de experiência de mojitos.
O suplício da esperança
"Le malheur est que, parfois, des souhaits s'accomplissent, afin que se perpétue le supplice de l'espérance."
M. Yourcenar.
M.
Hoje encontrei uma jovem, e muito bonita, senhora. Conheci-a há muitos anos, aqui em La Rochelle. Era a namorada de um tipo que eu detesto, sempre detestei, e ainda mais desde que trabalhei com ele numa regata.
Um dia tive a impressão que ela me perseguia, um pouco; não dei seguimento, para – forçoso é reconhecê-lo - meu grande espanto e insatisfação, a posteriori, quando penso nisso.
Depois, muito depois vim a saber que ela tinha uma “relação aberta” com o namorado. Não gosto de “relações abertas”; gosto de regras – seja de as seguir, seja de as infringir. Mas detesto a ausência de regras. Já me aconteceu (cough cough cough) ter uma ou outra relação adúltera. Já tive algumas (poucas, apresso-me a esclarecer), relações livres, voluntárias, simétricas, inevitáveis (imperiosas, mesmo, algumas delas); mas “abertas”, não. As relações são, por natureza, definição e tradição coisas fechadas. Não são abertas.
M. hoje estava mais bonita do que a última vez que a vi, mais redonda, madura, como um bom vinho que envelheceu calmamente, ao abrigo de grandes tremores de terra, excessos de calor e frios calamitosos.
Pediu-me para lhe telefonar quando cá voltasse – mas não me disse para ir jantar com ela. Não é só o desejo que tem um prazo de validade. A abertura das relações também, provavelmente.
Um dia tive a impressão que ela me perseguia, um pouco; não dei seguimento, para – forçoso é reconhecê-lo - meu grande espanto e insatisfação, a posteriori, quando penso nisso.
Depois, muito depois vim a saber que ela tinha uma “relação aberta” com o namorado. Não gosto de “relações abertas”; gosto de regras – seja de as seguir, seja de as infringir. Mas detesto a ausência de regras. Já me aconteceu (cough cough cough) ter uma ou outra relação adúltera. Já tive algumas (poucas, apresso-me a esclarecer), relações livres, voluntárias, simétricas, inevitáveis (imperiosas, mesmo, algumas delas); mas “abertas”, não. As relações são, por natureza, definição e tradição coisas fechadas. Não são abertas.
M. hoje estava mais bonita do que a última vez que a vi, mais redonda, madura, como um bom vinho que envelheceu calmamente, ao abrigo de grandes tremores de terra, excessos de calor e frios calamitosos.
Pediu-me para lhe telefonar quando cá voltasse – mas não me disse para ir jantar com ela. Não é só o desejo que tem um prazo de validade. A abertura das relações também, provavelmente.
14.9.08
Jantar
Paradoxalmente, escolher um restaurante numa cidade que conhecemos é mais difícil do que numa que não conhecemos. Estas não estão cheias de memórias, e não lhes conhecemos as armadilhas.
A verdade é que me encontro frequentemente na situação, cansativa, de procurar um lugar para jantar. Deambulo pelas ruas, espreito um, rejeito outro, deixo-me finalmente tentar pelo restaurante que me envia os melhores sinais subliminares.
Os critérios são vagos, subjectivos, variáveis. Excepto hoje: entrei num bar agradável (velho estratagema) e pedi conselho. O primeiro restaurante que o senhor mencionou estava fechado; do segundo, não gostei: loufoque, com os empregados e o patrão vestidos com batas do tempo das avós (chamava-se Chez Mémé), uma música demasiado alta e uma decoração original, caótica, desestruturada - numa palavra, desadequado.
Optei pelo do lado, apesar de o nome não pressagiar nada de bom. Felizmente, o nome é um monumental erro de branding, e o jantar foi magnífico.
Na realidade, queria ir jantar ao chinês (vietnamita) que me ensinou a beber Mei Kuey Lu; ou ao Perroquet, a minha tasca baba-cool; ou ao 4 Sergents, o restaurante chic mais barato que jamais vi (abençoado seja o protestantismo). O chinês já não existe, tal como o Perroquet. O 4 Sergents está transformado numa armadilha para turistas; e os outros, todos os outros, estão demasiado marcados.
O Lopain'Kess é uma cave à vins que pertence a Fanny (uma senhora muito parecida com uma imagem de geometria descritiva) e a Laurent (exactamente o contrário). É um pequeno restaurante cheio de habitués, com uma música que a certa altura estava muito alta mas que alguém na mesa ao lado pediu para baixar - pedido esse prontamente atendido.
Alguns dos pratos (incluindo o que pedi) eram servidos em tábuas de madeira, o que me levou a pensar (o diabo espreita sempre, não descansa) na ASAE. Eu pensava que a ASAE fazia a fiscalização de normas da União Europeia, mas apercebo-me que deve haver países mais europeus do que outros; e que o nosso está, infelizmente, na vanguarda da Europa.
Excelente endereço para quem esteja de passagem em La Rochelle, a cidade mais protestante, burguesa e underrated de França (tudo o que é protestante é underrated. Porquê?)
Restaurant Le Lopain'Kess
6 rue Chef de Ville
La Rochelle
+33 546 410 1114
A verdade é que me encontro frequentemente na situação, cansativa, de procurar um lugar para jantar. Deambulo pelas ruas, espreito um, rejeito outro, deixo-me finalmente tentar pelo restaurante que me envia os melhores sinais subliminares.
Os critérios são vagos, subjectivos, variáveis. Excepto hoje: entrei num bar agradável (velho estratagema) e pedi conselho. O primeiro restaurante que o senhor mencionou estava fechado; do segundo, não gostei: loufoque, com os empregados e o patrão vestidos com batas do tempo das avós (chamava-se Chez Mémé), uma música demasiado alta e uma decoração original, caótica, desestruturada - numa palavra, desadequado.
Optei pelo do lado, apesar de o nome não pressagiar nada de bom. Felizmente, o nome é um monumental erro de branding, e o jantar foi magnífico.
Na realidade, queria ir jantar ao chinês (vietnamita) que me ensinou a beber Mei Kuey Lu; ou ao Perroquet, a minha tasca baba-cool; ou ao 4 Sergents, o restaurante chic mais barato que jamais vi (abençoado seja o protestantismo). O chinês já não existe, tal como o Perroquet. O 4 Sergents está transformado numa armadilha para turistas; e os outros, todos os outros, estão demasiado marcados.
O Lopain'Kess é uma cave à vins que pertence a Fanny (uma senhora muito parecida com uma imagem de geometria descritiva) e a Laurent (exactamente o contrário). É um pequeno restaurante cheio de habitués, com uma música que a certa altura estava muito alta mas que alguém na mesa ao lado pediu para baixar - pedido esse prontamente atendido.
Alguns dos pratos (incluindo o que pedi) eram servidos em tábuas de madeira, o que me levou a pensar (o diabo espreita sempre, não descansa) na ASAE. Eu pensava que a ASAE fazia a fiscalização de normas da União Europeia, mas apercebo-me que deve haver países mais europeus do que outros; e que o nosso está, infelizmente, na vanguarda da Europa.
Excelente endereço para quem esteja de passagem em La Rochelle, a cidade mais protestante, burguesa e underrated de França (tudo o que é protestante é underrated. Porquê?)
Restaurant Le Lopain'Kess
6 rue Chef de Ville
La Rochelle
+33 546 410 1114
Labels:
Restaurantes La Rochelle
Imanências
Certas coisas, pura e simplesmente, não mudam, não podem mudar e não mudarão. Habituemo-nos.
Comentários
Ganharam (e eu também, certamente). A partir de hoje, o Don Vivo aceita comentários. Nem todos serão respondidos, e não sei por quanto tempo, mas a caixa de comentários está aberta. Agradeço sensibilizado a todas as pessoas que têm, ao longo destes anos, insistido para que eu aceite comentários, e reconheço a superior qualidade estratégica de algumas delas, ultimamente - que, por sinal, me são muito queridas e a quem aqui deixo um obrigado especial.
Notas
1 - Os comentários serão publicados apenas após filtragem;
2 - Comentários off topic, publicitários, spam, insultuosos (o que não é sinónimo de críticos), não serão publicados;
3 - O mailto na fotografia "Lettres", em cima à direita continua activo;
4 - Obrigado antecipado a todas as pessoas que lêem e comentam o Don Vivo.
Notas
1 - Os comentários serão publicados apenas após filtragem;
2 - Comentários off topic, publicitários, spam, insultuosos (o que não é sinónimo de críticos), não serão publicados;
3 - O mailto na fotografia "Lettres", em cima à direita continua activo;
4 - Obrigado antecipado a todas as pessoas que lêem e comentam o Don Vivo.
Altruísmos
Se eu fosse altruísta organizaria viagens pela Flandres francesa, grandes almoços de mexilhões com batatas fritas servidos em tigelas do tamanho de alguidares, acompanhados por cervejas espessas em pequenos restaurantes ao bordo de canais cobertos de nevoeiro. Fá-lo-ia na primavera quando o verão é às vezes uma esperança e outras uma traição; ou no Outono, quando o vermelho das folhas ajuda a esquecer os dias quentes e ensolarados que passaram e os de inverno que aí vêm, e inunda o nevoeiro de cores que não são cores, são tentações.
Se eu fosse altruísta falaria nisto a toda a gente, gritá-lo-ia nos telhados, agora que o outono está à porta e com ele o nevoeiro em chamas, as cervejas encorpadas e a vontade de dias muito frios e muito quietos, no sofá à frente da lareira.
Mas não sou altruísta, e quero isto tudo só para ti, e para mim.
Se eu fosse altruísta falaria nisto a toda a gente, gritá-lo-ia nos telhados, agora que o outono está à porta e com ele o nevoeiro em chamas, as cervejas encorpadas e a vontade de dias muito frios e muito quietos, no sofá à frente da lareira.
Mas não sou altruísta, e quero isto tudo só para ti, e para mim.
12.9.08
Analogias
Caíram duas árvores enormes, no largo à frente de minha casa. Esmagaram uma data de carros. Estão a ser cortadas aos bocadinhos pelos bombeiros. O barulho das moto-serras, do engarrafamento na rua e das exclamações dos mirones é insuportável.
Em breve, tudo isto será passado; o largo terá perdido duas árvores. Nunca mais será o mesmo, mas só ele, largo, e meia dúzia de pessoas o sabe.
Em breve, tudo isto será passado; o largo terá perdido duas árvores. Nunca mais será o mesmo, mas só ele, largo, e meia dúzia de pessoas o sabe.
11.9.08
Recreios
É difícil: Miles, um bom vinho, algum whisky, Borges, Yourcenar, Knut Hamsun (seria talvez útil lembrar-te que a minha cultura não é cultura; é curiosidade.)
Não há desculpa: Jeanne Lee.
Não há desculpa: Jeanne Lee.
Duas ou três coisas que se devem saber antes de morrer
A quantidade de coisas que se deve conhecer antes de morrer é, claro, infinita. Mas já que não podemos esgotá-la, devemos pelo menos tentar.
Na área do vinho, por exemplo e só para não mencionar outra qualquer, o Sidónio de Sousa Reserva Tinto 2001, Bairrada, monovarietal Baga, 14% é um dos vinhos que, realmente, penso devem ser conhecidos antes de irmos desta para melhor (ou pior, vá saber-se).
Tem um ataque incisivo, directo, enche-nos o palato desde o início - como se já lá estivesse há muito tempo (private joke). Ligeiramente adstringente, qualidade indispensável num vinho, como nas pessoas (e nas mulheres, provocative joke).
Um vinho esplêndido, que justificaria quase não irmos, já, desta para pior - e ficarmos cá, perto dos copos, e dos corpos.
Na área do vinho, por exemplo e só para não mencionar outra qualquer, o Sidónio de Sousa Reserva Tinto 2001, Bairrada, monovarietal Baga, 14% é um dos vinhos que, realmente, penso devem ser conhecidos antes de irmos desta para melhor (ou pior, vá saber-se).
Tem um ataque incisivo, directo, enche-nos o palato desde o início - como se já lá estivesse há muito tempo (private joke). Ligeiramente adstringente, qualidade indispensável num vinho, como nas pessoas (e nas mulheres, provocative joke).
Um vinho esplêndido, que justificaria quase não irmos, já, desta para pior - e ficarmos cá, perto dos copos, e dos corpos.
Reinaldo Ferreira - IV e último
Há que morrer no convés
Há que morrer no convés
Do seu previsto naufrágio.
Tremem-lhe as tábuas aos pés,
Cheira a presságio.
Negros augúrios com asas
Cruzam agoiros nos mastros.
Os ventos sabem a brasas.
Recusam-se astros.
Já o Piloto que ruma
A proa dos embaraços,
Pressentiu que além da bruma
Esperam sargaços.
A agulha mentiu o norte,
Mas o Piloto sabia.
Quem busca as rotas da Morte
Não de desvia!
Não de desvia!
Há que morrer no convés
Do seu previsto naufrágio.
Tremem-lhe as tábuas aos pés,
Cheira a presságio.
Negros augúrios com asas
Cruzam agoiros nos mastros.
Os ventos sabem a brasas.
Recusam-se astros.
Já o Piloto que ruma
A proa dos embaraços,
Pressentiu que além da bruma
Esperam sargaços.
A agulha mentiu o norte,
Mas o Piloto sabia.
Quem busca as rotas da Morte
Não de desvia!
Não de desvia!
Reinaldo Ferreira - III
O essencial é ter o vento
O essencial é ter o vento.
Compra-o; compra-o depressa,
A qualquer preço.
Dá por ele um princípio, uma ideia,
Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia
Dos teus melhores amigos, mas compra-o.
Outros, menos sagazes
E mais convencionais,
Te dirão que o preciso, o urgente,
É ser o jogador mais influente
Dum trust de petróleo ou de carvão.
Eu não:
O essencial é ter o vento.
E agora que o Outono se insinua
No cadáver das folhas
Que atapeta a rua
E o grande vento afina a voz
Para requiem do Verão,
A baixa é certa.
Compra-o; mas compra-o todo,
De modo
Que não fique sopro ou brisa
Nas mãos de um concorrente
Incompetente.
O essencial é ter o vento.
Compra-o; compra-o depressa,
A qualquer preço.
Dá por ele um princípio, uma ideia,
Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia
Dos teus melhores amigos, mas compra-o.
Outros, menos sagazes
E mais convencionais,
Te dirão que o preciso, o urgente,
É ser o jogador mais influente
Dum trust de petróleo ou de carvão.
Eu não:
O essencial é ter o vento.
E agora que o Outono se insinua
No cadáver das folhas
Que atapeta a rua
E o grande vento afina a voz
Para requiem do Verão,
A baixa é certa.
Compra-o; mas compra-o todo,
De modo
Que não fique sopro ou brisa
Nas mãos de um concorrente
Incompetente.
Reinaldo Ferreira - II
Vivo na esperança de um gesto
Vivo na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...
Vivo na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...
Reinaldo Ferreira
Há um poema de Reinaldo Ferreira que termina com "teve a sorte que quis / teve o fim que escolheu". Não há, ou há poucas, melhores definições de soberania.
PS - A internet é uma coisa fantástica:
A que morreu às portas de Madrid
PS - A internet é uma coisa fantástica:
A que morreu às portas de Madrid
A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quis,
Teve o fim que escolheu.
Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois de um saque - antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.
Não quis na retaguarda aligeirar,
Entre «champagne», aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quis, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
No sossego dum lar.
Não sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.
Uma noite, às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.
Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.
10.9.08
Bartók - II
O problema é que Bartók nos impede de escrever, ou de fazer seja o que fôr que não ouvir.
9.9.08
Diálogos improváveis
- Se tivesse dinheiro, enchia uma banheira de whisky e ficava lá dentro até os ossos se dissolverem.
- Vais ter que trabalhar muito.
- Vais ter que trabalhar muito.
Lições da idade
Uma das coisas que aprendi com a idade é a apaixonar-me só quando sou correspondido.
Os tremoços e os passados
Perto do escritório havia uma esplanadazita muito agradável; vendia cervejas a copo e oferecia tremoços, sol a rodos e variados - mas sempre agradáveis - grupos de miúdas jovens e bonitas, alunas de uma escola de design das redondezas.
Ia lá muitas vezes, quando saía cedo, beber uma imperial ou duas, comer tremoços, apanhar sol e pensar nos tempos em que a vida era uma vasta e aberta colecção de futuros, e não um inútil conjunto de passados.
Ia lá muitas vezes, quando saía cedo, beber uma imperial ou duas, comer tremoços, apanhar sol e pensar nos tempos em que a vida era uma vasta e aberta colecção de futuros, e não um inútil conjunto de passados.
A ortografia é uma ficção
Não é "advinhadas", é "adivinhadas". Não é "amanhã" é "manhã". Não é "Marte", é "Amar-te".
E não é "palavras". É "vida".
E não é "palavras". É "vida".
Preparação
Dois anos antes de morrer, deixou de fazer amor, comer bem, beber vinho, ler e passear de bicicleta, uma das suas paixões. Para ver como seria a morte. Achou-a suportável, ou mesmo melhor.
Faz de conta
Partido faz-de-conta, num país faz-de-conta:
"Conselho Nacional do CDS-PP aceita explicações de Paulo Portas."
E toda a gente faz de conta que isto importa mais do que o primeiro biberon do Groucho Marx.
E toda a gente faz de conta que isto importa mais do que o primeiro biberon do Groucho Marx.
8.9.08
Destruições
Era um tipo muito grande, com uns bigodes de pontas retorcidas e voz muito grave, que se apresentava como "construtor". Se alguém lhe perguntava o que construía, respondia "ruínas".
Equívoco
Muitos suicidas matam-se porque pensam que vão provocar dor e lágrimas nos que lhes são próximos.
Coitados. A maioria deles não provoca mais do que indiferença; os outros, alívio.
Coitados. A maioria deles não provoca mais do que indiferença; os outros, alívio.
7.9.08
Campo de minas V
O objectivo não é atravessar-te e sair incólume: é atravessar-te e sair mais forte.
Campo de minas IV
Não és um campo de minas, és um arsenal de bombas atómicas - das que, quando explodem, distribuem vida e não morte.
Campo de minas III
Debaixo de cada centímetro quadrado de pele escondia-se uma mina, pronta a rebentar ao menor toque. Mas como ver as minas, no meio de uma explosão nuclear?
Campo de minas II
- Mais vale morrer a atravessar um campo de minas do que viver a evitá-lo.
- Melhor é atravessá-lo, fazer as minas rebentar uma a uma, e sair incólume do outro lado.
- Melhor é atravessá-lo, fazer as minas rebentar uma a uma, e sair incólume do outro lado.
Campo de minas I
Preparou-se para um campo de minas, e o que encontrou foi meia-dúzia de bichas-de-rabear, metade das quais molhada.
6.9.08
Burocracias
4 anos para resolver um projecto de investimento de 125 milhões de euros? Mas estes franceses pensam que estão onde? Se não gostam, que vão para a terra deles, ora essa!
"Investimento de 125 milhões 'voa' de Évora para França".
Mas o melhor, para mim, é isto: "Skylander: Autarca «pasmado» com relocalização". É realmente de pasmar: vão-se embora porque esperaram quatro anos!
"Investimento de 125 milhões 'voa' de Évora para França".
Mas o melhor, para mim, é isto: "Skylander: Autarca «pasmado» com relocalização". É realmente de pasmar: vão-se embora porque esperaram quatro anos!
Dogma
Conseguirá o Darwinismo substituir o aquecimento global como dogma do momento? Espero que sim.
"Evolutionists Flock To Darwin-Shaped Wall Stain".
"Evolutionists Flock To Darwin-Shaped Wall Stain".
5.9.08
Asneiras ao jantar
"Só faço asneiras", diz a morena na mesa ao lado. Deve ter entornado qualquer coisa, e ri-se toda, gulosa, linda. São três: uma loira de nariz afiado como a proa de um contratorpedeiro e string "leopardo" à vista (dá-se ares de fera na cama, mas não sei o quê diz-me que não deve passar de um falso alarme); um tipo de cabelos muito curtos, barba muito curta e infinita banalidade; e a morena que "só faz asneiras", com aquele ar de santa inocência que só as morenas conseguem - e mesmo assim, depois de muitas e muitas horas de treino à frente do espelho, suponho. Oiço-a rir, vejo-lhe de soslaio os olhos e penso que sim, só deve fazer asneiras.
Regresso a casa
Se, até há meia-dúzia de tempos, alguém me tivesse dito que um dia eu escreveria qualquer coisa em favor do regresso a casa não teria acreditado.
Confissão
Não sei, minha querida, como dizer-te tudo o que tenho a dizer-te. Não sei sequer se tenho algo a dizer-te; ou se é necessário dizer-to, após estes anos todos. As nossas peles não se calam, mantêm há anos um diálogo mudo. E só se conhecem há meia dúzia de dias.
Ó tempo,
Um dia vou surpreender-me a cantar "Ó tempo, volta para trás" nu no Miradouro de Sta. Catarina. E se alguém me chamar a atenção, responder-lhe-ei "Tem razão. Desculpe, pensei que estava nos Restauradores".
Um problema clássico
Todos nós (homens. Por uma razão qualquer, vejo esta situação muito menos frequentemente nas mulheres) devemos convidar uma senhora, pela primeira vez, para jantar.
O problema é agudo: onde ir? Levá-la ao restaurante onde vamos todos os dias com as senhoras que não queremos conquistar é insultuoso: a dona do restaurante vai pensar "mais uma" (suportável quando estamos com uma prima particularmente execrável, com uma ex-qualquer coisa, ou com a mulher mais feia do escritório; inaceitável em todos os outros casos). Também não se deve ir a um restaurante onde se vai normalmente sozinho - "olha, este lá engatou uma" é a inevitável reflexão do pessoal menor (e da dona, se estiver por perto).
Hoje descobri um restaurante que pode ser, temporariamente, a resposta. Chama-se Café Buenos Aires, é nas Escadinhas do Duque, nº 31 B, fecha ao domingo e o telefone é 213 420 739.
Quero, por uma vez, fazer uma crítica não subjectiva. Quero uma crítica objectiva - como todos nós sabemos, as únicas que valem a pena. Ora bem: a favor (tendo em vista que o objectivo é convencer uma senhora, jovem e reticente, a jantar connosco):
- a decoração;
- o serviço;
- o hummous (excelente. De muito longe melhor do que o meu);
- o vinho tinto;
- a simpatia das senhoras que servem (e dos senhores, que são menos, também);
- o bife (se fôr menos passado) .
Contra:
- Todas as empregadas poderiam ser nossas mulheres, ou namoradas (mas não amantes. Espero que seja perceptível: é uma qualidade);
- Todas as clientes são excessivamente bonitas - ou a nossa acompanhante está ao nível, ou mais vale ficarmos em casa a ler livros do Henry Miller;
- É demasiado "perfeito";
- As mesas estão demasiado perto umas das outras;
- O lugar é bom demais, e corremos o risco, infeliz e inábil, de nos perdermos nele, em vez de nela;
Café Buenos Aires, Calçada (Escadinhas) do Duque, 31 B
1200-155 Lisboa
Tel.: 213 420 739 (é essencial reservar).
O problema é agudo: onde ir? Levá-la ao restaurante onde vamos todos os dias com as senhoras que não queremos conquistar é insultuoso: a dona do restaurante vai pensar "mais uma" (suportável quando estamos com uma prima particularmente execrável, com uma ex-qualquer coisa, ou com a mulher mais feia do escritório; inaceitável em todos os outros casos). Também não se deve ir a um restaurante onde se vai normalmente sozinho - "olha, este lá engatou uma" é a inevitável reflexão do pessoal menor (e da dona, se estiver por perto).
Hoje descobri um restaurante que pode ser, temporariamente, a resposta. Chama-se Café Buenos Aires, é nas Escadinhas do Duque, nº 31 B, fecha ao domingo e o telefone é 213 420 739.
Quero, por uma vez, fazer uma crítica não subjectiva. Quero uma crítica objectiva - como todos nós sabemos, as únicas que valem a pena. Ora bem: a favor (tendo em vista que o objectivo é convencer uma senhora, jovem e reticente, a jantar connosco):
- a decoração;
- o serviço;
- o hummous (excelente. De muito longe melhor do que o meu);
- o vinho tinto;
- a simpatia das senhoras que servem (e dos senhores, que são menos, também);
- o bife (se fôr menos passado) .
Contra:
- Todas as empregadas poderiam ser nossas mulheres, ou namoradas (mas não amantes. Espero que seja perceptível: é uma qualidade);
- Todas as clientes são excessivamente bonitas - ou a nossa acompanhante está ao nível, ou mais vale ficarmos em casa a ler livros do Henry Miller;
- É demasiado "perfeito";
- As mesas estão demasiado perto umas das outras;
- O lugar é bom demais, e corremos o risco, infeliz e inábil, de nos perdermos nele, em vez de nela;
Café Buenos Aires, Calçada (Escadinhas) do Duque, 31 B
1200-155 Lisboa
Tel.: 213 420 739 (é essencial reservar).
Labels:
Restaurantes Lisboa
Diálogos possíveis
- Tu, eu e o mundo.
- Tu e eu já seria um milagre, não achas?
- Não. Há santíssimas trindades, mas não há santíssimas dualidades. Ou ambiguidades, se preferires.
- Tu e eu já seria um milagre, não achas?
- Não. Há santíssimas trindades, mas não há santíssimas dualidades. Ou ambiguidades, se preferires.
Compreensões
Se quisesses perceber, perceberias. O problema é que não queres perceber - o que é, repara, perfeitamente legítimo, compreensível e até invejável, por vezes.
1.9.08
Uma dúvida
O rapaz chamou a namorada quando o banco onde estava foi assaltado porque:
a) A mãe estava muito longe?
b) Queria trocar de lugar com ela?
c) Não sabe / não responde?
a) A mãe estava muito longe?
b) Queria trocar de lugar com ela?
c) Não sabe / não responde?
Bahia de Todos os Santos
É em momentos como este que a solidão me irrita (ou entristece, não sei). O dia decorreu como o tinha imaginado, e gostaria de ter partilhado: um soberbo passeio pelo lado sul da ilha de Itaparica; almoço adorável numa casa magnífica, a meia-dúzia de metros das águas da Bahia; a doce e longa embriaguês que resultou de tudo isto.
Durante o passeio tentei lembrar-me de dois ou três sítios como o que estava a ver: vieram-me à memória a Irlanda, os Açores, alguns recantos do Norte de Moçambique, outros do Canal de Panamá (se fosse menos infeliz quando por lá passei), a pequeníssima porção de Madagáscar que conheço, o lago Tanganika. O objectivo não era estabelecer comparações, mas lembrar-me de lugares onde senti o que senti hoje, a mesma emoção, o mesmo desejo de me fundir na paisagem.
A Bahia de Todos os Santos é um dos locais mais belos que conheço, e dos poucos que tenho vontade de conhecer melhor (os outros sendo o lago Tanganika, onde morrerei, se Deus quiser, e o canal do Panamá, onde ressuscitarei).
Gostaria de ter partilhado este passeio de barco, esta orgia de floresta verde, verde e verde (não há um centímetro quadrado que não seja verde, não há tom de verde que não esteja presente, não há verdes mais sensuais, obscenos, alegres, eternos dos que os que eu vi hoje).
Seguiu-se-lhes esta suave embriaguês, o pôr-do-sol visto "do outro lado", a viagem na "lanchinha" (um ferry de madeira de 200 lugares que balançava e rangia como se o mundo fosse acabar amanhã), três quibes na Barra, uma caipirinha, meia dúzia de linhas desconchavadas e um post melancólico e solitário.
Durante o passeio tentei lembrar-me de dois ou três sítios como o que estava a ver: vieram-me à memória a Irlanda, os Açores, alguns recantos do Norte de Moçambique, outros do Canal de Panamá (se fosse menos infeliz quando por lá passei), a pequeníssima porção de Madagáscar que conheço, o lago Tanganika. O objectivo não era estabelecer comparações, mas lembrar-me de lugares onde senti o que senti hoje, a mesma emoção, o mesmo desejo de me fundir na paisagem.
A Bahia de Todos os Santos é um dos locais mais belos que conheço, e dos poucos que tenho vontade de conhecer melhor (os outros sendo o lago Tanganika, onde morrerei, se Deus quiser, e o canal do Panamá, onde ressuscitarei).
Gostaria de ter partilhado este passeio de barco, esta orgia de floresta verde, verde e verde (não há um centímetro quadrado que não seja verde, não há tom de verde que não esteja presente, não há verdes mais sensuais, obscenos, alegres, eternos dos que os que eu vi hoje).
Seguiu-se-lhes esta suave embriaguês, o pôr-do-sol visto "do outro lado", a viagem na "lanchinha" (um ferry de madeira de 200 lugares que balançava e rangia como se o mundo fosse acabar amanhã), três quibes na Barra, uma caipirinha, meia dúzia de linhas desconchavadas e um post melancólico e solitário.
Salvador, outra vez
Salvador tem o vento de Lisboa, e a luz. Isso chega para a tornar amável, mas não habitável.
A mulher do dono da Pousada onde estou foi recentemente assaltada, na rua ao lado. O ladrão era "um dos da rua" e quando a reconheceu pediu-lhe desculpa e devolveu-lhe o produto do roubo (um colar de pérolas, ou de pérola, não percebi bem). Isso não impediu o meu amigo de ir falar com o "chefe da rua" e encomendar uma punição exemplar para o "prevaricador" distraído, ou (mais provavelmente) bêbado. Fez bem: mais vale ser temido do que desprezado, e nestas latitudes ou se é um, ou outro.
(Para a Luísa)
Gosta-se de Salvador apesar da arquitectura, e não por causa dela.
A mulher do dono da Pousada onde estou foi recentemente assaltada, na rua ao lado. O ladrão era "um dos da rua" e quando a reconheceu pediu-lhe desculpa e devolveu-lhe o produto do roubo (um colar de pérolas, ou de pérola, não percebi bem). Isso não impediu o meu amigo de ir falar com o "chefe da rua" e encomendar uma punição exemplar para o "prevaricador" distraído, ou (mais provavelmente) bêbado. Fez bem: mais vale ser temido do que desprezado, e nestas latitudes ou se é um, ou outro.
(Para a Luísa)
Gosta-se de Salvador apesar da arquitectura, e não por causa dela.
Subscrever:
Mensagens (Atom)