Ideias vagas, pouco claras, difusas, como fotografias desfocadas. Chuva, mas pouca; frio; vou a pé, não me apetece levar a bicicleta para tão perto; na Portugália já se comeu bem, mas foi há séculos; já esteve pior, verdade seja dita; vou ao bar do hostel de que A. me falou recentemente e onde estive com ela; descubro que têm Alexander; D., a miúda que trabalha no hostel vem ter comigo; é gira e simpática. O Alexander está entre o medíocre mais e o suficiente menos. Decido-me por este último. Suficiente menos. Têm vários runs, Plantation. Bebo um shot, pergunto-me que amamos quando amamos? Amo mamas mas não são mamas o que amo; e ventres, olhos. Cabelos. Amo tudo, mas o que amo não está nesse tudo que vejo e que por vezes me acontece beijar, tocar, amar. Hoje fui a uma entrevista para um trabalho. Ontem fui a outra. Nada disto encaixa em nada disto: puzzles diferentes cujas peças se misturaram. Chove. Amanhã talvez haja nevoeiro no Tejo, talvez o meu levante. Gosto de conversar com a D., penso na chuva, no frio, nas fotografias desfocadas, na dor no cotovelo que quase desapareceu, quase não o sinto, quase o esqueço, quase. Talvez seja este o termo que procuro: quase. No outro dia escrevi que quase e meio são sinónimos, a partir e uma certa idade: meio dia; meia vida.
Meio amor. Apaixonar-se e ser correspondido, como naquelas fotografias turísticas, banais, chatas do sol sobre a relva verde ou o mar azul, uma rua "very typical". Indeed. Um supremo amor, no saxofone do outro: ser amado pela pessoa que nos ama.
Ser meio-amado pela pessoa que se meio-ama. Meio-viver a meia-vida. Meias perguntas: o quê? em vez de porquê?, por exemplo.
(Por isso gosto de estar com jovens: mais perguntas e menos explicações.)
Meio corpo, meia noite, quase um dia - que se recompõe agora, em palavras vagas, difusas, desfocadas -. Quase uma vida, quase feliz.
Quase te amo; quando me amares amar-te-ei completamente. Quase te vivo, quase te toco e te olho e te digo.
Quase.
........
(Por isso gosto tanto das cidades. No campo não há quase).